Até que enfim, "Billy Elliot" chegou à Cidade da Dança, na única filial do Bolshoi fora da Rússia – Joinville (o coro da torcida é vi-lê, vi-lê). Não tenho certeza se a estréia modificou a rotina da Manchester Catarinense. Fui ao cinema e contei dez pessoas, mas eu não sei contar mesmo. Podiam ser mais.
E daí, você que não sabe do que se trata "Billy" está pensando. Vou contar tudo. Em 1984, num vilarejo da Inglaterra, um garoto de 11 anos, filho de um mineiro (sabe, aquela profissão dos sete anões), se apaixona por balé. O pai não gosta nadinha, prefere que o meninote faça boxe, e o proíbe de dançar. Mas, como disse meu maridão, já que o ator que faz o pai do menino se parece com o capitão de "Jornada nas Estrelas, A Nova Geração", ele sabia que tudo ia acabar bem. Até o final, o pai vai se convencer que as chances do guri sair daquele buraco residem no seu talento pro balé. "Billy" é mais um filme edificante sobre como vencer preconceitos num mundo duro e estúpido.
Epa, tá soando como se eu não tivesse apreciado este drama inglês que concorreu a três Oscars (diretor, atriz coadjuvante e roteiro original) e não levou nenhum. Não é verdade: chorei, me emocionei, torci pelo rapaz. Só que tinha consciência o tempo inteiro que estava sendo manipulada. "Billy" é o típico "feel good movie", ou produção que te faz sair livre, leve e solto da sala de exibição. Quer dizer, isso pra mim. Imagino que, pros adolescentes do sexo masculino, "Billy" seja um filme de terror. Não há meio d’eles acompanharem a trajetória de um protagonista que usa sapatilhas e tem um melhor amigo gay sem pensarem que ele, também, seja gay. Eu nem sabia que a gente era obrigada a se definir sexualmente aos 11 anos...
É muito fácil condenar teens e hooligans por não entenderem que dança é arte. Vai me dizer que você não conhece montes de profissionais liberais que não teriam um chilique se o filho quisesse ser bailarino? Pessoalmente, nunca achei que balé fosse coisa de menina. Quem acha isso crê que futebol seja coisa de menino, e, bem, eu joguei bastante futebol na minha badalada juventude. Era a única moça na pelada de praia no meio dos marmanjos, o que me rendeu um ou dois boatos maldosos acerca da minha sexualidade e uns cinco namorados; então, no balanço geral, acho que saí ganhando. Vamos ser honestos. Entre o Schwarzza ou o Stallone e o Baryshnikov ou o Nureyev, não conheço uma só mulher que opte pelos brutamontes. Gene Kelly ou Van Damme? Faça-me rir. Bailarinos têm corpos esculturais e usam collants que destacam certas anatomias... Olha, não sei quanto a você, mas eu gosto. Parece bem macho pra mim.
"Billy Elliot" às vezes aparenta ser o "Rocky" do balé. Tem inúmeros videoclips e cenas do garoto se aprimorando na dança. Aliás, a sequência do teste na academia me remeteu imediatamente a um clássico indiscutível – "Flashdance", você se recorda, aquele da operária de dia que vira dançarina sensual à noite (puro trash). Porém, o que torna "Billy" mais que um musical padrão é o pano de fundo histórico. Em meados da década de 80, houve uma série de greves naquele paisinho europeu que chama Malvinas de Falklands. E o filme mostra direitinho a luta dos mineiros contra a política repressora da Margaret Thatcher. Lembra da Dama de Ferro? Argh, ainda bem que ela morreu. Como assim, não morreu? É só uma questão de tempo.
Jamie Bell, o ator mirim que protagoniza a produção, está nada menos que sensacional. E a Julie Walters, sua professora de dança, indicada ao Oscar, faz uma ótima instrutora rabugenta, dessas que mandam o pianista tocar "Tomorrow" ("O sol sairá amanhã") e, no mesmo suspiro, acrescentam um "até parece". Mas a cena que me ganhou é quando a menininha passa na frente de um pelotão de choque da polícia, ignorando-o completamente.
"Billy Elliot" dá vontade de sair do cinema na ponta dos pés. Eu até ia tentar isso, mas toda vez que me visualizo dançando penso na coreografia dos hipopótamos em "Fantasia". O balé fica em melhores mãos com homens de calça justa, né?
Epa, tá soando como se eu não tivesse apreciado este drama inglês que concorreu a três Oscars (diretor, atriz coadjuvante e roteiro original) e não levou nenhum. Não é verdade: chorei, me emocionei, torci pelo rapaz. Só que tinha consciência o tempo inteiro que estava sendo manipulada. "Billy" é o típico "feel good movie", ou produção que te faz sair livre, leve e solto da sala de exibição. Quer dizer, isso pra mim. Imagino que, pros adolescentes do sexo masculino, "Billy" seja um filme de terror. Não há meio d’eles acompanharem a trajetória de um protagonista que usa sapatilhas e tem um melhor amigo gay sem pensarem que ele, também, seja gay. Eu nem sabia que a gente era obrigada a se definir sexualmente aos 11 anos...
É muito fácil condenar teens e hooligans por não entenderem que dança é arte. Vai me dizer que você não conhece montes de profissionais liberais que não teriam um chilique se o filho quisesse ser bailarino? Pessoalmente, nunca achei que balé fosse coisa de menina. Quem acha isso crê que futebol seja coisa de menino, e, bem, eu joguei bastante futebol na minha badalada juventude. Era a única moça na pelada de praia no meio dos marmanjos, o que me rendeu um ou dois boatos maldosos acerca da minha sexualidade e uns cinco namorados; então, no balanço geral, acho que saí ganhando. Vamos ser honestos. Entre o Schwarzza ou o Stallone e o Baryshnikov ou o Nureyev, não conheço uma só mulher que opte pelos brutamontes. Gene Kelly ou Van Damme? Faça-me rir. Bailarinos têm corpos esculturais e usam collants que destacam certas anatomias... Olha, não sei quanto a você, mas eu gosto. Parece bem macho pra mim.
"Billy Elliot" às vezes aparenta ser o "Rocky" do balé. Tem inúmeros videoclips e cenas do garoto se aprimorando na dança. Aliás, a sequência do teste na academia me remeteu imediatamente a um clássico indiscutível – "Flashdance", você se recorda, aquele da operária de dia que vira dançarina sensual à noite (puro trash). Porém, o que torna "Billy" mais que um musical padrão é o pano de fundo histórico. Em meados da década de 80, houve uma série de greves naquele paisinho europeu que chama Malvinas de Falklands. E o filme mostra direitinho a luta dos mineiros contra a política repressora da Margaret Thatcher. Lembra da Dama de Ferro? Argh, ainda bem que ela morreu. Como assim, não morreu? É só uma questão de tempo.
Jamie Bell, o ator mirim que protagoniza a produção, está nada menos que sensacional. E a Julie Walters, sua professora de dança, indicada ao Oscar, faz uma ótima instrutora rabugenta, dessas que mandam o pianista tocar "Tomorrow" ("O sol sairá amanhã") e, no mesmo suspiro, acrescentam um "até parece". Mas a cena que me ganhou é quando a menininha passa na frente de um pelotão de choque da polícia, ignorando-o completamente.
"Billy Elliot" dá vontade de sair do cinema na ponta dos pés. Eu até ia tentar isso, mas toda vez que me visualizo dançando penso na coreografia dos hipopótamos em "Fantasia". O balé fica em melhores mãos com homens de calça justa, né?
Um comentário:
Meu, luta livre é bem mais gay que balé, enquanto o lutador põe a cara na bunda do outro lutador, o bailarino tá pondo a mão na bunda da bailarina.
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