terça-feira, 13 de julho de 2021

POLÍCIA FAZ TOCAIA PARA PRENDER MULHERES QUE QUEREM ABORTAR NO PARANÁ

Imagina a cena: você é uma mulher que engravidou sem querer e decidiu que não pode ter esse filho. Como infelizmente aborto é proibido no Brasil, você recorre ao mercado clandestino, torcendo para não ser enganada, e compra misoprostol online. O carteiro chega a sua casa para te entregar a tão esperada encomenda. Três policiais de tocaia aparecem do nada e te levam à delegacia.

Calma, tem mais. Os policiais fazem o maior auê na sua rua, pra todos os vizinhos saberem o que está acontecendo. Mandam você abrir o pacote ali mesmo. Na delegacia, o delegado te ameaça: diz que você pegar 10 a 15 anos de prisão caso não o convença de que os comprimidos são pro seu uso pessoal. Tipo: você tem de provar que não é traficante. O delegado ainda te dá sermão, mandando que você repense sua vida.

Tudo isso aconteceu no dia 6 de julho em Apucarana, Paraná. Pior: foi o terceiro caso em menos de um mês naquele estado. Os outros foram em São João do Caiuá e em Mariluz. Em ambos os casos, as mulheres podem ter que responder por tráfico de drogas, como explica esta excelente reportagem de Paula Guimarães para o Portal Catarinas.  

A polícia não explicou como ficou sabendo da compra (quem denunciou?). Também não explicou se não tem nada mais importante pra fazer do que aterrorizar mulheres que ousam decidir intervir no próprio corpo, como fazem quase 600 milhões de mulheres em idade reprodutiva que vivem em países (67 ao todo) com legislação que permite o aborto sob a solicitação delas até os primeiros três meses de gestação. 

É simplesmente absurdo que a polícia gaste seu tempo atormentando e prendendo mulheres grávidas. A moça de Apucarana contou ao Catarinas sobre sua reação ao sermão do delegado: "Eu não aceito esse julgamento, sou uma mulher de 28 anos, me sustento, dou meus pulos para sustentar meu filho, aí vem um homem de meia idade dizer o que eu tenho que fazer ou não da minha vida".

Não houve crime, porque ela não tomou o medicamento. Mas ela ainda pode responder por tráfico. O delegado suspeitou da quantidade dos medicamentos. Eram seis comprimidos, uau! Ele nunca tinha visto mais do que um ou dois. A reportagem teve que instruí-lo que a Organização Mundial de Saúde recomenda doze comprimidos para a realização do procedimento. 

Até 1998 o misoprostol era vendido nas farmácias brasileiras. Aí descobriram que um de seus efeitos colaterais é que ele é abortivo, e a turma "pró-vida" correu pra tirá-lo das prateleiras. Nos países que respeitam o direito das mulheres sobre seu próprio corpo, um comprimido custa um dólar. Aqui, chega a R$ 200 no mercado clandestino. A mesma coisa com uma operação: um aborto clandestino custa mais de R$ 5 mil numa clínica. No SUS, o procedimento custa R$ 150 (incluindo médico, hospital e equipamento). 

"Espero estar viva para ver a legalização do aborto no Brasil, para a gente ter o direito, o domínio sobre o próprio corpo", disse a moça de Apucarana. Pois é, eu também.

8 comentários:

Luise Mior disse...

infelizmente, a polícia na maior parte do tempo serve mesmo para causar medo na população e especialmente às mulheres e população negra. Abraços Lola, obrigada por postar esta história.

Anônimo disse...

Lola eu sou sua seguidora e lhe respeito muito, não acredito que esses policiais não tenham mais o que fazer e fiquem andando atrás de mulheres grávidas, infelizmente como até diz na reportagem, foi lhes colocada essa ideia que o medicamento é um perigo, e que o aborto é um crime gravíssimo. Não tirando deles é claro, e por isso sim TODOS deveriam ser punidos nessa "operação", que de serviço de inteligência e investigação, depois os atos na DP, evidenciaram ainda mais passou longe. É aí que mora o problema, não tem punição adequada, os maus funcionários ficam, quem é funcionário público sabe dessa realidade. Isso sim teria que mudar, fez uma coisa errada nesse nivel? RUA. Corrupto? RUA. Cometeu QUALQUER CRIME? RUA. O que tem que acabar, na minha opinião, é com esse machismo, essa enorme hipocrisia em que vivemos, porque o pai não foi procurado? Para dar conta então do seu futuro herdeiro? Quem dos pró-vida vai ajudar essa mulher a sustentar seus 2 filhos? Eles jogam a sua bomba ideológica e a sociedade que se vire para resolver o resto. Gostaria de sugerir um post com as informações sobre o aborto além com as questões sobre medicação que tem lá na reportagem, achei interessante ver por esse lado que esses traficantes de remédio também não querem o fim do aborto. Nem os donos de clínicas clandestinas. O debate seria muito informativo e além desses "religiosos"

Anônimo disse...

a) Lola sou sua fã adoro o seu blog. Lança outro livro sobre o feminismo.

b) Casos como.este tem que servir de combustível para tomarmos as ruas dia 24 de julho vamos mostrar força. E ano que vem eleger de preferência deputadas progressistas para lutar por nossos direitos. Os coletivos feministas são muito bons.

c) Vc viu o caso do Dj que agrediu a esposa ? Que nojo

Pili disse...

:(

titia disse...

É por isso que quando a polícia se ferra minha reação é "Meh" ou, no máximo "Foi tarde". A polícia é pura e simplesmente o esquadrão de extermínio a serviço da burguesia, os policais antifascistas e honestos são um mínimo e são os únicos que merecem respeito, o resto - literal e figurativamente falando - tem mais é que se fuder.

Ah, e meninas, misoprostol é o mais conhecido mas existem outros medicamentos abortivos que os pró-morte-pra-vadia-que-transa não conhecem nem sabem que são abortivos, e que dá pra achar na farmácia. E muita gente não confia nos chás, mas os médicos mesmos dizem que não se deve tomar determinados chás durante a gravidez porque são abortivos. É relativamente fácil descobrir quais são esses remédios e chás, basta fazer uma pesquisa em qualquer site de busca.

Anônimo disse...

Quanto a parte de quanto custa o procedimento pelo SUS, o valor é irrisório porque a tabela de procedimentos pagos pelo SUS é totalmente defasada. Esse valor não paga nem metade dos custos. Isso explica, em parte, o porque a saúde pública está sucateada, já que os repasses federais estão muito aquém dos custos que os estados e municípios arcam com a saúde

titia disse...

04:49 manter o aborto ilegal é lucrativo, exatamente como a tal "guerra às drogas". As mulheres que procuram o mercado clandestino pagam valores altos por remédios e procedimentos, muito mais do que esses remédios e procedimentos custam aos hospitais. Os vendedores clandestinos de misoprostol só tem lucro se continuarem mantendo o aborto ilegal, afinal, o remédio em si é barato. E com o aborto ilegal e um monte de não planejados e indesejados nascendo pela mãe não conseguir abortar, a burguesia e as igrejas sempre vão ter um imenso exército de reserva e um monte de ovelhinhas pra explorar, respectivamente.

Sem contar que manter o aborto ilegal permite a essa sociedade nojenta que temos exercer sua misoginia e seu ódio de classe livremente. Se uma mulher morre em aborto clandestino, bom, é porque não podia pagar, né? Era pobre, né? Então deixa pra lá, é menos uma pobre no mundo, é até uma limpeza na opinião da burguesia e dos seus capachos (a imbecil classe merdia). E, além de ser pobre, era uma mulher que FEZ SEXO, olha só que abominação! Mulheres que gozam devem ser punidas por isso, se a vadia não aceitar a punição da maternidade indesejada vai ter que morrer, porque mulher não deve gozar e que absurdo, uma mulher querer ser livre dos cabrestos da maternidade! Não pode!

É por isso que eu defendo que as mulheres larguem os homens sozinhos e se recusem a parir. Mulheres não ganham nada casando e parindo numa sociedade machista, só problemas e dores de cabeça. Aliás, uma das bases fundamentais tanto do patriarcado quanto do capitalismo é a exploração do trabalho não remunerado e da capacidade reprodutiva da mulher. Se as mulheres se recusassem a casar (pra trabalhar de graça) e parir, esse sistema abominável em que vivemos hoje entraria em colapso em alguns anos.

Como já disse uma comentarista aqui, as mulheres não sabem o poder que tem. Bom, esse é um dos nossos poderes: podemos destruir sistemas de séculos que parecem invencíveis apenas nos recusando a casar e parir. Será que somos mesmo o sexo frágil?

Anônimo disse...

Sou ex- aluna do Insttituto Federal São Paulo, cursei Ciências Biológicas, lembro do meu professor de Genética comentando sobre a desordem que a gravidez traz para o organismo feminino, mais tarde numa aula de taxonomia outro professor disse que o ideal é não recorrer aos chás, eles intoxicam o feto, mas acabam intoxicando a mulher tbm e pode leva-las a morte, em minha pequenez opinião, o ideal é utilizar misoprostol, existem cartilhas disponíveis na Internet, no mercado obscuro saí em média 100,00 cada comprimido, ser mulher no Brasil é um fardo muito grande, todo santo dia eu penso sobre isso...