Foi uma cerimônia do Oscar das mais chatas, e que deve ter sido a menos vista. Pra se ter uma ideia, alguma tag referente ao Oscar 2021 nem chegou a se fixar entre os assuntos mais comentados do Twitter.
Não houve apresentador, shows de música, piadas, aplausos de pé, praticamente nada. Teve um momento que eu pensei, bom, pelo menos será uma cerimônia curta, talvez acabe antes da meia noite (começou às 21h), mas bem aí um sujeito que eu nunca vi começou a fazer testes com canções indicadas, o que levou a Glenn Close (que ontem alcançou a marca do Peter O'Toole de ser o ator que mais foi indicado -- oito vezes -- sem nunca ganhar) a dançar "Da Boot". Ou algo assim.
Pelo menos os prêmios foram bem distribuídos. Nomadland foi o grande vencedor da noite, com três estatuetas: melhor filme, direção e atriz. Meu Pai ficou com duas (ator e roteiro adaptado), assim como Judas e o Messias Negro, Mank, A Voz Suprema do Blues, Soul, O Som do Silêncio. Minari ficou com uma, Bela Vingança também. O único dos oito indicados a melhor filme que saiu de mãos abanando foi Os Sete de Chicago.
Foi um Oscar da diversidade. Cinco anos depois do #OscarSoWhite, nove pessoas não brancas foram indicadas nas quatro categorias de atuação. Duas ganharam: melhor ator coadjuvante para Daniel Kaluuya, por Judas, e melhor atriz coadjuvante para Yuh-Jung Youn, por Minari. Yuh-Jung fez o discurso mais fofo da noite, dando uma indireta a Brad Pitt, que apresentou a categoria: "Fico feliz em finalmente te conhecer".
70 mulheres foram indicadas em 23 categorias, um recorde. 32% dos indicados eram mulheres. Parece (e é) pouco, mas é um avanço. Emerald Fennell ganhou o Oscar de melhor roteiro original por Bela Vingança. Fazia 13 anos que uma mulher não vencia esta categoria (desde Diablo Cody por Juno). Esperava-se que Chloé Zhao ganhasse roteiro adaptado, mas este prêmio foi para o (também excelente) Meu Pai.
Mia Neal e Jamica Wilson foram as primeiras mulheres negras a vencer na categoria Maquiagem e Penteado, por A Voz Suprema do Blues. Ann Roth, de 89 anos, se tornou a mulher mais velha a ganhar um Oscar (de figurino, também por Voz Suprema).
A chinesa Chloé fez história ao ser a segunda mulher em 93 anos a levar melhor direção. Foi a primeira mulher não branca a ser indicada e a vencer nessa categoria. E Nomadland é realmente um filme importante, sensível, belo, com protagonismo feminino, que faz uma denúncia do capitalismo. Ao subir ao palco para receber o Oscar de melhor filme, Frances McDormand deu um urro de lobo em homenagem ao mixador de som do filme, que tem Wolf no nome e morreu em março. Um dos poucos instantes memoráveis da cerimônia.
Uma das missões da premiação parecia ser mostrar que o cinema (cinema? O que é isso?) continua respirando, mesmo que por aparelhos.
Globalmente, os cinemas tiveram queda de 72% na bilheteria no ano passado. O mercado de streaming, claro, cresceu. Mas muitas salas fecharam com a pandemia, e a dúvida é se voltarão à ativa, e quando, o que levou Frances a discursar: “Veja o nosso filme na maior tela possível. E, quando vocês puderem, coloquem o máximo de pessoas possíveis em uma sala escura para compartilhar essa experiência”.
O discurso mais emocionante da noite foi logo no começo, vindo do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, cujo Druk - Mais uma rodada ganhou Melhor Filme Internacional. Após agradecer as pessoas de costume, ele compartilhou o que poucos sabem: que sua filha de 19 anos morreu num acidente de trânsito quatro dias depois do início das filmagens. O carro dirigido por Maria, ex-esposa de Thomas, foi atingido pelo carro de um motorista que se distraiu enquanto falava no celular. Maria sobreviveu, mas a filha, não. O filme é dedicado a ela, Ida.
Thomas discursou: "Queríamos fazer um filme que celebra a vida. Quatro dias de filmagem e o impossível aconteceu. Um acidente na rodovia tirou a minha filha. Alguém olhando pro celular. Eu sinto sua falta e a amo. Acabamos fazendo este filme pra ela como um monumento. Ida, este é um milagre que aconteceu, e você é parte desse milagre. Talvez você esteja puxando as cordinhas em algum lugar". Muito triste.
As maiores surpresas ficaram mais pro fim da noite. A fotografia de Nomadland parecia mais cotada para ganhar que a de Mank, e não foi o que aconteceu. "Hear my voice", canção original de Os 7 de Chicago, perdeu para a menos cotada "Fight for You", de Judas.
Pra melhor atriz, como eu havia previsto, podia ser qualquer uma. Mas, talvez por ela ter ganhado recentemente, em 2019, por Três Anúncios para um Crime, poucos esperavam que Frances McDormand ganhasse de novo tão cedo. Agora ela é a única atriz a ter três Oscars (Katherine Hepburn segue sendo a recordista, com quatro estatuetas; Meryl Streep tem três, mas um deles é por atriz coadjuvante).
Porém, uma das maiores barbadas da cerimônia não se concretizou: a esperada premiação póstuma de Chadwick Boseman (que morreu de câncer em agosto). Tanto que os organizadores mudaram a ordem da entrega das estatuetas. Melhor Filme sempre fica pro final. Desta vez deixaram Melhor Ator pro fim, imaginando que a viúva de Chadwick discursasse e a noite acabasse em grande emoção. Mas aí Joaquin Phoenix abriu o envelope e anunciou o vencedor: Anthony Hopkins, por Meu Pai (que, aos 83 anos, se tornou o ator mais velho a ganhar um Oscar).
Anthony não estava lá, mas dormindo, no país de Gales, onde tinha ido visitar o túmulo de seu pai (depois ele fez um vídeo elogiando Chadwick). Então foi um fim de noite muito anticlimático, com ecos de 2017, quando deram o envelope errado para Faye Dunaway e Warren Beatty e eles anunciaram melhor filme para La La Land, sendo que o vencedor era Moonlight. Alguém brincou ontem que foi o encerramento do Oscar 2021 foi o pior fim pra um show na TV desde o final de Game of Thrones.
Lamento dizer que o meu tradicional bolão do Oscar não foi tão mais emocionante que a cerimônia. Na quarta estatueta eu já vi que não poderia mais ganhar o bolão pago. Cinco rapazes (Romário, Rafael, Claudemir, Pedro e Júlio César) permaneceram empatados com 100% de acertos no bolão durante várias categorias. Mais pro fim, Ávila, Douglas e Janaína se aproximaram.
Mas, quando Claudemir fez 13, vimos que ninguém mais poderia passá-lo. No máximo podiam empatar com ele, dependendo do resultado pra atriz, que estava mais entre Viola Davis e Carey Mulligan. Claudemir acabou ganhando sozinho o bolão pago, com 15 acertos em 19 categorias.
Parabéns, Claudemir querido! É um dos participantes mais antigos do meu bolão. E já ganhou em 2008 e em 2019. Fico no aguardo de um textinho pra descrever essa emoção de receber R$ 450.
Graças à competência do Júlio César, que organiza o bolão desde 2009, fiquei sabendo dos resultados do bolão grátis ontem mesmo. A grande vencedora foi Janaina Lira, que não apenas acertou inacreditáveis 17 categorias, como todas as principais (veja na tabela). Parabéns, Janaina! Quero um texto seu também.
Bom, o importante pra todo mundo continua sendo sobreviver à pandemia (e, no Brasil, ao vírus Bolsonaro). Vamos torcer para que o cinema, a gente, o Oscar, o bolão do Oscar, possam voltar ano que vem -- e em melhor estilo!
2 comentários:
*"Mas, talvez por ela ter ganhado recentemente, em 2019, por Três Anúncios para um Crime"
Em 2018, Lola
Lola, vc ainda não corrigiu o seu post
o último Óscar da Frances foi em 2018
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