segunda-feira, 5 de abril de 2021

GRADUAÇÃO NO MESMO DIA

Ficou tarde para um post então vou só compartilhar este cartum do genial Quino (ou, como disse um troll um dia desses, "esse tal de Quino"). 

Eu vejo esse cartum quase todo dia. Dei um ímã de geladeira grandão (comprado em Buenos Aires) pra minha mãe que reproduz a tirinha. E não é que faz sentido?

27 comentários:

Luise Mior disse...

Quino gênio. E até que a argumentação faz sentido. Mafalda sempre é bom.

Anônimo disse...

Lola, please escreva sobre o caso da atleta de badminton, punida por ser mãe - https://observatorioracialfutebol.com.br/confederacao-barra-viagem-e-dificulta-vaga-olimpica-de-atleta-que-teve-bebe/ - muito obrigada, AMO o teu site!

Anônimo disse...

Ah! Eu que tenho uma Mafaldinha em casa, me sinto vivendo 24 horas dentro de uma revista em quadrinhos de Quino.
Fabi.

Kasturba disse...

Adoro essa tirinha. Me leva a pensar muito sobre o que esperamos das crianças, e como nós, adultos, somos tiranos com elas.
Ninguém considera "obediente" um elogio para adultos. Ninguém se orgulha de obedecer o marido/esposa, o chefe, os pais, ou quem quer que seja... Obediência é o contrário de senso crítico, de liberdade, de autonomia, de iniciativa...
Mas esperamos isso das crianças o tempo todo. Que sejam submissas, sem autonomia, sem curiosidade, e que obedeçam cegamente aos adultos sem contestar. E isso vai de encontro com a natureza de qualquer criança. Toda criança é naturalmente curiosa, cheia de iniciativa e energia. Podando e punindo a criança para que ela se encaixe nos padrões de "criança boazinha", podemos chegar a dois resultados: ou a criança vai se submeter a isso e acreditar que deve ser assim, e se transformar em um adulto apático, que não sabe se impor e exigir seus direitos, ou a criança vai se revoltar, e se transformar em um adulto que subjulga os outros.

Anônimo disse...

Triste época, por isso essa geração de hoje é tão mole! Uma pessoa que se diz militar de carreira é contra a hierarquia!! Como é possível achar que entre adultos não se deve obedecer aos superiores? Que crianças não precisam respeitar, obedecer aos pais?? Tomara que se esse vírus não acabar com a humanidade, venha outra coisa e acabe, já passou da hora.

Kasturba disse...

Anônimo, você misturou alhos com bugalhos.

1 - quando vc diz "por isso essa geração é tão mole", a que geração especificamente você está se referindo? Porque a minha geração (casa dos 30 anos) foi criada embaixo de surras e castigos - eu inclusive. Se você acha essa geração "mole", então certamente não é pela forma de educar respeitosa que eu defendo. Inclusive, minha geração é a que mais sofre de transtornos psiquiátricos (depressão, pânico, ansiedade)

2 - Eu não falei em momento algum que sou contra hierarquia. Entendo perfeitamente a importância da hierarquia em instituições como as FFAA, principalmente na área combatente. Apesar de também ver como o exagero na noção de hierarquia é prejudicial. Como engenheira, já tive que optar por soluções tecnicamente inferiores porque meu chefe na época que não era engenheiro, disse que queria assim e ponto final. Inclusive é notável no meio técnico que quanto mais inteligente e capacitado é o chefe, mais abertura ele dá para seus subalternos, mais liberdade e mais atenção a sugestões de todos. Aquele milicão caricato, que fala gritando com seus subordinados e dá ordens tiradas do cu, sem ouvir opinião de mais ninguém (temos um capitão assim bem conhecido no Planalto hoje em dia) é o exemplo típico de pessoa burra e profissional despreparado, que tem medo que sua mediocridade seja descoberta, e por isso se esconde atrás do posto.

3 - Apesar de entender a importância e respeitar a hierarquia funcional, não acredito em hierarquia entre relações pessoais. Nem entre cônjuges, nem entre pais e filhos, nem entre crianças e adultos. Acredito em relações horizontais, baseadas no respeito mútuo.

Kasturba disse...

...continuando

4 - Onde eu falei que filhos não devem respeitar os pais?? Eu acredito tanto em respeito, que defendo piamente que filhos devem respeitar os pais, ASSIM COMO pais devem respeitar os filhos. Todas as pessoas devem se respeitar. As pessoas confundem demais medo com respeito. E são coisas quase antagônicas. Criança que tem medo dos pais (por punições, castigos), fazem o que são ordenadas sem entenderem o motivo para tal. E se tiverem certeza que não serão descobertas, vão fazer diferente do ordenado, mentir e esconder. Isso não é respeito. Já uma criança que não tem medo de represálias, vai fazer o que deve porque entende a importância daquela ação. E por entender a importância, vai fazer mesmo se não estiver sendo observada. É a diferença da criança que faz a tarefa de casa porque se não vai ficar de castigo, e a criança que faz a tarefa porque sabe da importância em aprender.

5 - Para ter o respeito da criança, primeiramente é necessário ter sua admiração. E para ter sua admiração, é necessário ter coerência entre suas ações e seus discursos. Dizer "não pode gritar com o coleguinha" mas gritar com a crianca, é totalmente incoerente, e elas percebem.
Adultos em geral preferem a criança obediente, porque é muito mais fácil inspirar medo (basta ameaçar) do que inspirar admiração (aí você precisa realmente dar o exemplo do que você espera que a criança faça). Seria muito mais fácil eu me entupir de besteiras e falar pro meu filho "se não comer a verdura, não vai ter sobremesa" do que dar o exemplo, me alimentando de maneira saudável, e deixar ele livre pra comer o que quiser (exemplo real aqui de casa: não obrigo meu filho a comer nada e ele come maravilhosamente bem, ama legumes e frutas, porque esse é o exemplo que damos).

Kasturba disse...

...continuando

6 - E, por fim, para não ficar só no achismo, se você se interessa realmente pelo assunto, pesquise o material de Maria Montessori. Veja o relato de suas experiências com crianças criadas e ensinadas com respeito e com liberdade para serem quem são, sem a expectativa que fossem robôs obedientes que acatam ordens de adultos sem questionar. É um dos pilares de Montessori que a criança só seja proibida de fazer algo se sua ação colocar a si ou a outro ser vivo em risco, ou se for causar danos permanentes ao ambiente. Fora isso, ela deve ser autorizada a fazer o que quiser, tendo adultos preparados verdadeiramente para serem guias exemplares para elas. E o resultado são crianças calmas, respeitosas, independente, com iniciativa e curiosidade. Se quiser ver na prática, vá a uma escola montessoriana, e com certeza você vai se surpreender com o comportamento das crianças, totalmente diverso das crianças de escolas tradicionais. São crianças colaborativas, auto-críticas, autônomas e, pasme, muito mais disciplinadas.

Anônimo disse...

Perfeito, Kasturba. Concordo com tudo.
A única coisa que discordo é sobre a geração dos 30 ser a que mais sofre de transtornos psiquiátrico. Acho que esses atravessam gerações. O que acontece é que agora se fala mais abertamente sobre eles, o que é muito bom. No século passado, ou sei lá, de 2015 para trás infelizmente não era tão discutido abertamente como é agora, e era menos diagnosticado e reportado, havia menos estudos, métodos de diagnóstico menos precisos etc. E também o estigma era muito maior, havia muito medo sobre transtornos psiquiátricos.

Anônimo disse...

Fui eu que escrevi o comentário, vamos por parte.

1. Essa geração mole é na que nasceu de 1990 pra cá, justamente qdo saiu o ECA e essas teorias modernas que não pode bater em crianças, eu nasci na década de 1970 e acredite a gente apanhava bem mais, era obrigado a pedir benção prós adultos antes de dormir e não podia responder feio ou contrariar os pais senão a surra era feia e, como você mesmo reconhece, não tinha esses mimos de hoje, depressão, TDAH, TOD, tudo traumatiza, é desculpa pro mal comportamento.

2. O problema é ter dado cargo de chefia pra um não engenheiro, ou seja, o problema é no chefe né não na hierarquia em si, que continua necessária em toda organização para haver ordem e disciplina.

3. Não acredita porque sofreu lavagem cerebral de pessoas alienadas, como vc, que acham que tudo se resolve com conversando.

4. E qdo isso não funciona, o cinto dá conta.

6. Essas escolas tem as piores notas nas avaliações externas, seja OBMEP, Pisa, ENEM, vestibular ou qualquer outra que mede a qualidade dos conteúdos, não a "socialização" ou outra besteira paulofreriana qualquer.

Anônimo disse...

Você é só um ressentido, anon das 12:14.
Que bom que muita coisa mudou para melhor, infelizmente quem tem mais de 30 anos não pôde usufruir na infância desses avanços, mas que bom que as gerações novas, nascidos de 1990 em diante tenham sido e sejam criados dentro de uma mentalidade totalmente nova.
E é pra frente que se anda, não tem volta. Não adianta se ressentir ou querer que as coisas voltem a ser como antes, só para as gerações mais novas terem que sofrer, só porque as gerações Y, X e para trás sofreram. A gente luta para que as coisas melhorem e que cada vez mais ninguém precise sofrer ou passar perrengue para nada. É assim que tem que ser. É preciso dar um basta, acabar com essa cultura de valorização do sofrimento, de ter que comer o pão que o diabo amassou só para depois sim poder ter direito a felicidade ou merecer qualquer coisa. Tem que acabar essa coisa de ter que ser sofrido, que isso forma caráter ou se dá mais valor ou respeito. Isso é falácia, só gera ódio, ressentimento, culpa, medo, pessoas doentes e só.

Kasturba disse...

Engraçado você falando sobre lavagem cerebral...

Fui criada na base de punições (humilhações, castigos ou surras) quando fazia algo que algum adulto - normalmente minha mãe - considerava inadequado. E cresci ouvindo que aquilo era pro meu próprio bem, que assim eu iria aprender a ser uma pessoa boa. Estudei em escola particular tradicional até os 10 anos, onde quem não entregasse a tarefa não podia ir pro recreio. Dos 11 aos 17, em colégio militar, onde também haviam punições: se fizesse algo errado como me atrasar ou conversar durante a aula, tinha que ir passar a manhã de sábado no colégio, no que era chamado de "estudo obrigatório". Dos 18 aos 22, estudei em faculdade militar, onde também haviam punições, como por exemplo se deixasse a roupa de cama amarrotada ou me atrasasse para alguma atividade, não poderia sair do quartel no final de semana. E sempre ouvi que isso era uma forma de me disciplinar, para que eu me tornasse uma adulta íntegra.
Passei mais de 30 anos da minha vida somente recebendo e consumindo a informação que humilhações, castigos e violência verbal (e até mesmo física) é a forma certa de educar uma criança. E por muito tempo acreditei nisso.
Somente nos últimos anos, depois que engravidei do meu primeiro filho, já adulta formada, "burra velha", comecei a pesquisar e tive acesso a materiais (diga-se de passagem, baseados em estudos sérios de psicólogos, psiquiatras, pedagogos, médicos e outros especialistas em comportamento infantil, e não no achismo da dona Maria que criou 5 filhos e nenhum foi preso - como se isso fosse um termômetro pra medir caráter de um adulto) falando sobre criação respeitosa, criação com apego, montessori e mais uma gama de informações que se opõem à punição durante o desenvolvimento do ser humano. Considerei o que li e vi que tudo aquilo fazia muito sentido, e por isso comecei a me informar mais e tentar aplicar tudo aquilo na criação do meu filho.

Então, eu concordo com você quando diz que sofri lavagem cerebral. Mas a lavagem cerebral que sofri não foi em relação às informações que tive acesso, por conta própria, depois de adulta. A lavagem cerebral que sofri foi durante toda minha infância e adolescência, quando me enfiaram goela abaixo a ideia absurda que as punições que eu estava recebendo eram pro meu próprio bem, que eu merecia, e que sem passar por tudo aquilo eu me tornaria uma pessoa ruim. Essa mesma lavagem cerebral que praticamente todas as pessoas da minha idade ou mais velhas passaram (provavelmente você também passou). E muitas crianças até hoje ainda passam. Sorte que eu consegui perceber e sair desse ciclo de violência a tempo de não reproduzir tudo isso com meu filho.

Kasturba disse...

E hoje isso tudo é algo tão claro pra mim... Todo mundo sabe que crianças aprendem muito mais pelo exemplo do que por qualquer outro método. Crianças absorvem e imitam o que vêem à sua volta. É só conviver um pouco com uma criança e você vê que ela vai estar reproduzindo seus trejeitos, seu vocabulário e até mesmo sua forma de andar.
Então a conclusão mais óbvia que se chega, é que para ensinar respeito a uma criança, é preciso respeitá-la. E gritar, punir, castigar não são e nunca foram formas de demonstrar respeito. Ninguém admite um marido bater em uma esposa porque o jantar está salgado demais, como forma de ensiná-los. É desrespeitoso ao extremo. Não faz sentido nenhum achar então que está correto bater em uma criança porque ela não arrumou o quarto, ou qualquer outro "erro" que ela possa ter cometido.

Tratar uma criança com violência é ensiná-los que a violência é um meio lícito para alcançar seus objetivos. Por isso somos uma sociedade tão violenta. Desde brigas de trânsito, brigas no bar, brigas entre cônjuges, brigas entre torcidas de times, até as brigas entre nações, que culminam em guerras. É somente quebrando o ciclo da violência onde ele nasce, na infância, que teremos uma sociedade menos violenta.

Ps.: Maria Montessori nasceu mais de 50 anos ANTES de Paulo Freire. Muito provavelmente viveu e morreu sem nunca ter ouvido falar o nome dele.

Anônimo disse...

Concordo com o comentário da colega das 12:14, e DISCORDO totalmente da "Kasturba". Uma militar esquerdinha, que ñ sabe mandar, que ñ educa seus filhos corretamente na base da autoridade pais》filhos, ñ serve pra ser Militar. É a tipo que vai querer mandar flores ao inimigo... patética!

Kasturba disse...

1 - Ainda bem que não dependo de você ou da sua opinião pra nada. Já sou militar há mais de 15 anos, com uma carreira bastante respeitável e promissora, por sinal.

2 - Mesmo sendo corriqueiro, ainda me surpreende quando vejo Fulano chamando Cicrano de "esquerdinha", "esquerdista" ou similares, mesmo quando Cicrano não emitiu nenhuma opinião política, somente pelo fato de Cicrano estar defendendo a não-violência. Fica ainda mais claro o quanto a violência faz parte das pautas defendidas pela direita, e o quanto seus defensores estão cientes disso, embora na maioria das vezes não assumam e tentem vender a falácia de "meritocracia", "multiplicar capital para acabar com a pobreza" e outras balelas que eles sabem que são mentiras contadas só pra disfarçar q crueldade dos seus discursos.

Anônimo disse...

" estar defendendo a não-violência... " Ninguém aqui defende a violência dos pais contra os filhos. Defendemos a AUTORIDADE dos pais x os filhos. Vc está misturando alhos com bugalhos, minha cara. Vc quer tratar os filhos como coleguinhas. Não é assim que funciona. Os pais olham seus filhos de cima pra baixo, e os filhos de baixo pra cima. Novamente, vc falha como militar, que ñ sabe o que é hierarquia, autoridade e obediência. Patética 2x.

Kasturba disse...

E quem é você mesmo, pra estar fazendo essas afirmações?
" Você quer tratar filhos como coleguinhas. Não é assim que funciona" - disse o responsável por determinar regras sociais e de conduta.
"Novamente, vc falha como militar" - diz o cara que nunca me viu na vida, baseado em um comentário que eu fiz na internet. Engraçado que todos os chefes que eu tive até hoje sempre me avaliaram com o grau excepcional ou ótimo, inclusive no aspecto "disciplina". Mas deve ser o Sr. Anônimo que sabe mesmo o tipo de profissional que eu sou.
Hahahaha... E sou eu quem sou patética.

Anônimo disse...

E o que vc sabe de vida militar, otario(a)? E estamos falando de família, não de quartéis. A vida não funciona como quartel, hierarquia militar não é modelo para nada fora do quartel.

Jane Doe disse...

Eu concordo com a Kasturba. Queria eu ter tido na minha vida o respeito da minha mãe. Pelo menos recebi mais afeto do meu pai. Ele sempre foi firme, nos passou valores MAS NUNCA VIOLENTO. Ele nem precisa brigar, ele só dava seu olhar de reprovação e imediatamente percebíamos que passamos dos limites.
Minha mãe porém nunca nos poupou - eu especialmente por ter tido a infelicidade de ter nascido mulher - de humilhações e violência física e emocional. Nada nunca nada era bom, nunca fomos perfeitos suficiente.
Eu entendo entretanto a frustração de muita gente com a "criação com apego". O problema é que existe uma imensa ignorância do que isso significa. Por um lado temos os pais que entendem que isso significa JAMAIS dizer não, dar limites ou ensinar consequência. Aí vem o desentendimento de que criar com respeito tornou as crianças incapazes de viver em sociedade.
Crianças que não aprendem em casa os 3 pilares da civilização - resumidos nas palavras "por favor, com licença, obrigado" - muito dificilmente serão membros funcionais da sociedade.

Kasturba disse...

Concordo, Jane Doe.

Grande parte das pessoas acredita que só existem dois extremos: pais autoritários ou pais negligentes. Sendo que, na realidade, esses dois extremos estão bem longe do que significa "criação com apego" ou "criação respeitosa".
Negligência inclusive é considerada também uma forma de violência, segundo o próprio ECA.

Anônimo disse...

A prova que a educação tradicional funciona, a própria Kasturba que é contra deu o depoimento: "Fui criada na base de punições (humilhações, castigos ou surras) quando fazia algo que algum adulto - normalmente minha mãe - considerava inadequado.", graças a isso, e o ensino de boas escolas militares, passou no Vestibular mais concorrido do país, das escolas de Engenharia Militar, sem precisar de cota nenhuma e com o próprio esforço, se tornou uma boa profissional e tem sido avalaida como excelente ou ótima pelos seus superiores, é casada e tem uma família estável.

Nenhum adolescente vai querer acordar 5 hrs pra estudar se não for mandato, muito menos deixar de ir na festa com amigos nos fim de semana pra se preparar pra provas de seleção, diminuir a cobrança vai baixar o nível das instituições, fato.

Como é fato o que eu disse na outra respostas, as melhores notas em qualquer avaliação externa e das escolas que cobram mais, as outras (que chamei de método paulofreriano porque ele é o expoente mais conhecido) que deixam os alunos livres, podem ter mais aceitação, mas os resultados práticos são bem diferentes.

Então, os pais que amam os seus filhos mesmo cobram muito deles, fazem se esforçar mais que os outros porque sabe que eles devem produzir mais pra conseguir os melhores cargos, ensinam disciplina e, se for necessário, batem para eles entenderem que suas ações tem consequências, às vezes só os discursos não bastam.

Lola Aronovich disse...

Foi exatamente isso q o Dr. Jairinho fez com Henry, com a conivência da mãe, anon das 16:17: "ensinam disciplina e, se for necessário, batem para eles entenderem que suas ações tem consequências, às vezes só os discursos não bastam".
Ou vc acha q o cidadão de bem queria matar o enteado? Só queria discipliná-lo!

Kasturba disse...

Engano seu, Anônimo. Eu nunca fui obrigada a estudar, nem apanhei, nem fiquei de castigo por isso. E, sinceramente, não acho que esse método fosse surtir efeito. Já vi, sim, muitos colegas que só estudavam porque os pais obrigavam, mas suas notas eram sempre medianas. Faziam o mínimo pra evitar a punição, e só. Todos os colegas com resultados acima da média, como os meus sempre foram, estudavam por iniciativa própria.
Parte disso acredito ser pela minha personalidade mesmo: desde bem nova sempre fui uma menina introspectiva e sempre gostei de estudar. Pra você ter uma ideia, quando meus pais compravam o material escolar no início do ano, eu lia todos os livros de literatura ainda nas férias, antes das aulas começarem, porque eu queria (minha irmã não tinha o mesmo interesse, nunca leu durante as férias, e nunca foi punida por isso). E parte disso certamente se deve aos meus pais (principalmente meu pai). Primeiro, por sempre priorizarem nossos estudos; sempre tivemos uma condição de vida muito boa, mas tenho certeza que se precisasse, meus pais não pensariam duas vezes antes de abrir mão de seu conforto para manter a mim e à minha irmã em uma boa escola. Mas, principalmente, por sempre CONVERSAR comigo, de maneira calma, atenciosa, me dizendo a importância do estudo e como isso iria determinar meu futuro. Meu pai sempre deixou muito claro pra mim que a decisão de estudar ou não era minha, e que o fato das minhas notas serem boas ou ruins, não impactaria em nada a vida dele, somente a minha. E também sempre me deu reforço positivo: mandava emoldurar e colocava na parede do meu quarto todos os "diplomas de bom desempenho" que a escola dava bimestralmente para alguns alunos (mas nunca me criticava quando eu não era uma das alunas agraciadas) e fazia questão de no final do ano nos levar para viajar, e dizer que só estávamos viajando porque não tínhamos ficado de recuperação na escola (veja a diferença: ele nunca ameaçou que se ficássemos de recuperação não iríamos viajar, mas ele sempre destacava que estávamos viajando porque não havíamos ficado de recuperação) Lembro bem uma época em que minha irmã começou a ter mau desempenho escolar, e meu pai só falou calmamente pra ela que ela estava fazendo uma escolha pra vida dela; que o salário dele não alteraria em nada com as notas baixas dela, e somente ela iria sentir as consequências disso no futuro. Rapidinho ela começou a se preocupar, pegou um contato de aulas de reforço com uma colega, e meus pais, como sempre, pagaram as aulas pra ela.
Em relação aos meus estudos, meus pais sempre fizeram exatamente o que eu defendo em relação a educar crianças: conversavam honestamente e repetidamente sobre o assunto, em um vocabulário adequado ao grau de entendimento para a idade, mostravam as consequências de cada uma das escolhas e me deixavam livre para escolher. Era meu direito optar por ser uma aluna mediana ou péssima, e eu não seria punida por isso. Mas justamente por ter consciencia das consequências, liberdade de escolha e bom exemplo em casa (meus pais sempre leram muito e sempre contavam histórias de como eles próprios eram bons alunos quando crianças, relacionando isso ao bom nível de vida que eles sempre tiveram), sempre me esforcei para ser boa também. Sem necessidade de sofrer ameaças, de ter medo ou sofrer punições.

Kasturba disse...

Mas no que tange às punições (relacionadas a outros aspectos, que não meus estudos), o único resultado que eles conseguiram foi meu afastamento, principalmente minha mãe, que era quem acreditava que punir e humilhar era um bom método (meu pai nunca gostou que ela nos batesse, mas pra evitar conflitos no relacionamento, nunca interferiu). Eu não confiava neles para contar meus dilemas de adolescente (eu tinha medo da minha mãe e não tinha intimidade com meu pai). A Lola já publicou um guest post aqui no blog em que eu contei como essa falta de confiança e medo dos meus pais culminou em uma gravidez aos 17 anos. E como, por pavor em falar sobre isso pra eles, acabei sendo coagida a realizar um aborto sem o mínimo de segurança pelo pai do meu namorado à época (meus pais até hoje não sabem sobre essa gravidez). Se meus pais fossem meus amigos, eles seriam os primeiros a saberem que eu estava grávida e muito provavelmente eu nem teria abortado, ou se tivesse feito, seria de uma forma segura (hoje acho que foi melhor ter abortado do que ter sido mãe adolescente, mas na época eu era bem religiosa, foi péssimo pra mim e passei muitos anos me culpando. Fora o risco sério de vida que eu corri). Na realidade, se eles fossem meus amigos, provavelmente eu nem teria ficado grávida, porque eu iria me sentir segura para conversar com eles quando decidi iniciar minha vida sexual, e eles iriam me aconselhar sobre métodos contraceptivos (eu sabia que AC existia, mas não tomava porque tinha medo de comprar, minha mãe encontrar nas minhas coisas e descobrir que eu não era mais virgem).

Hoje me relaciono relativamente bem com meus pais, mas o relacionamento é muito aquém do que poderia ser, principalmente com minha mãe. Não recorro a eles pra conversar sobre meus problemas (novamente, com meu pai não tenho intimidade pra isso, e com minha mãe, sei que em vez de me acolher, ela iria me fazer críticas em tom de deboche ou humilhação, independente do tema). Não confio em deixar meu filho sozinho com minha mãe (não que eu ache que ela iria maltratá-lo propositalmente, mas não quero que ela repita com o neto algumas coisas que fazia comigo, como ridicularizar ou bater para "corrigir" certos comportamentos). Não me sinto confortável em passar muito tempo junto dela. É um relacionamento pacífico, mas frio e superficial.
O tipo de relacionamento que não quero ter com meu filho de modo algum.
Tudo que eu busco com meu filho é que ele tenha sempre a certeza que pode contar comigo em qualquer situação. Não que eu vá me fazer de cega para seus erros (isso seria negligência e omissão da minha parte, principalmente ocupando o papel de mãe), mas que ele saiba que mesmo estando errado, eu vou tratá-lo sempre com respeito e acolhimento, me colocando à disposição para auxiliá-lo no que ele precisar.

Kasturba disse...

Sobre a questão das escolas, não posso discordar de você que fizeram, sim, diferença na minha vida. O fato de eu ter estudado em uma boa escola particular até os 10 anos foi decisivo para eu conseguir ingressar em um colégio militar (o acesso para filhos de civis é por meio de um concurso bem difícil, praticamente um vestibular para crianças). E o fato de eu ter estudado em um colégio militar, com excelente ensino formal, certamente foi decisivo para o êxito que eu obtive em todos os vestibulares que eu fiz.

Mas a questão que eu levantei sobre Montessori não foi especificamente sobre o nível das matérias formais aplicadas nas escolas que seguem o método. Sobre isso, sinceramente não posso argumentar, pois não me informei profundamente a esse respeito ainda. Pretendo que meu filho curse toda educação infantil seguindo esse método, pois vejo inúmeras vantagens para crianças. Mas não tenho certeza se em determinado momento não vou preferir migrá-lo para uma escola formal, justamente por essa questão do conteúdo. Ainda não me aprofundei sobre a qualidade do conteúdo no ensino fundamental e médio porque meu filho ainda não chegou nessa fase.
O aspecto que eu ressalte foi sobre a diferença entre o método tradicional de educação (não necessariamente somente educação formal), baseado na cobrança e punição da criança caso não corresponda às expectativas estabelecidas, e na liberdade dada a uma criança que Maria Montessori propõe como modelo de educação e como isso altera a percepção da criança em relação a si e à sua participação na comunidade.
Levando para a questão das disciplinas escolares, seria a diferença entre uma escola que exige que as crianças façam o dever de casa, castigando as que não fizerem, e a escola que propõe tarefas para fixação do conteúdo, deixando a critério da criança fazer ou não. Ao contrário do que você falou - que um adolescente nunca acordaria cedo para estudar se não fosse obrigado -, uma criança/adolescente que seja criada desde sempre com liberdade para fazer suas próprias escolhas (dentro do seu grau de maturidade, obviamente: meu filho pode escolher se quer lanchar banana ou maçã, mas não pode escolher se vai ou não tomar vacina pois ele não tem maturidade pra tomar esse tipo de decisão) desenvolve um senso crítico muito mais avançado do que aquelas que são sempre obrigadas a fazerem o que foi ordenado por um adulto. Então, no exemplo que eu dei, a criança logo entenderia que nas matérias que ela tem mais dificuldade, as tarefas de fixação não são um castigo, e sim uma ajuda, pois fazê -las vai possibilitar que ela obtenha êxito nas provas, não fique de recuperação e possa curtir melhor suas férias, por exemplo.

Mas montessori é muito mais do que um método de ensino escolar; é uma forma de educar baseada no respeito do adulto em relação à criança, o que as torna seres humanos mais respeitosos, empáticos, colaborativos e confiantes. E essa forma de criar vai muito além dos muros escolares: ele abrange as famílias e a forma como os pais tratam e educam seus filhos.

Anônimo disse...

"Já vi, sim, muitos colegas que só estudavam porque os pais obrigavam, mas suas notas eram sempre medianas." Eram medianas porque os pais mandavam estudar, senão eram péssimas. O que vc não percebeu é que não dá pra contar com a sorte do filho gostar de estudar, é preciso fazer eles sempre darem o seu máximo e na maioria das vezes só conversa não adianta.

E Lola, acho engraçado que vcs gostam de tratar exceção como regra qdo convém, mas qdo um caso de pessoa que veio do nada e venceu pela meritocracia é apontado, ficam falando que é generalização.

Kasturba disse...

"Eram medianas porque os pais mandavam estudar, senão eram péssimas". Isso é o que você acha, baseado no senso comum que crianças são naturalmente preguiçosas, manipuladoras, cruéis e precisam ser tratadas na rédea curta para virarem pessoas decentes.

O que eu acho é que se fossem estimuladas da maneira correta, entendendo o impacto que a escolha entre estudar ou não provocariam em seu futuro, escolheriam estudar. E eu me baseio não no senso comum, mas na experiência narrada por Maria Montessori com centenas de crianças.

"Não dá pra contar com a sorte do filho gostar de estudar, é preciso fazer eles sempre darem seu máximo e na.maioria das vezes só conversa não adianta." Taí um ponto que concordamos. Também não acho que devemos contar com a sorte, e também não acho que só falar adianta.
Mas aí discordamos na forma que deveria ser feito esse "além da conversa". Você acha que a melhor forma seria fazendo ameaças e punindo a criança.
Eu acredito em outra forma, proposta por Montessori (falo muito dela.porque tem sido meu foco de.leituras/estudos atualmente, e estou encantada com tudo o que ela diz, principalmente por ver os resultados na prática, com meu filho). Montessori fala muito sobre "ambiente preparado" e "adulto preparado". Para esse caso específico de incentivo aos estudos, entendo o seguinte: para termos crianças interessadas em estudar, temos que criar um ambiente propício para isso. Aqui em casa o que fazemos é: desde sempre meu filho teve livros para manusear e brincar (antes eram livros próprios pra bebês, daqueles de banho, agora já são livros de papel de verdade, ilustrados). Desde sempre lemos para ele, e também desde sempre fazemos nossas próprias leituras na frente dele. Evitamos bastante telas (celular, tablet, TV). Evitamos tanto colocar programação infantil para ele assistir, quanto evitamos usar na frente dele (óbvio que não somos de ferro, e durante a quarentena, principalmente, o uso de telas aumentou aqui em casa. Mas sempre evitamos). E com tudo isso, ele já é apaixonado por livros. E com o passar do tempo e a manutenção dos estímulos certos, a paixão pelos livros vai naturalmente virar paixão pela leitura, pelo saber, pelos estudos. Esse é o caminho natural da criança (e não a exceção), assim como é natural que toda criança vai aprender a caminhar, sem necessidade dos pais ameaçaram ou colocarem o bebê de castigo pra que ele pare de engatinhar e comece a andar.
O que acontece é que infelizmente grande parte dos pais acha mais fácil deixar a criança hipnotizada na frente da TV, tablet ou celular, ao invés de ler pra ela. Ou os próprios pais passam o dia enfiados em seus próprios celulares, sem ao menos olhar pra criança quando são chamados. Crianças aprendem pelo exemplo, e é pelo exemplo que vão começar a seguir esse comportamento. E com o tempo toda a paixão pela descoberta e pelo saber vai ser substituída por informação pronta e mastigada, entregue em telas barulhentas e coloridas.
São os pais que aleijam a criança, e depois reclamam que ela "não gosta de estudar" e além que precisam colocar de castigo ou até mesmo bater para que a criança se interesse por ler um livro...