quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

MORRE BELL HOOKS, ÍCONE FEMINISTA E ANTIRRACISTA

Por causa da confusão que está a minha vida, só fiquei sabendo hoje da morte (ontem) da maravilhosa e apaixonante afro-americana bell hooks, uma inspiração para mim e para tantas outras mulheres (e muitos homens também, e para o movimento negro em geral). Quem vê minhas palestras e entrevistas percebe que eu sempre cito a hooks, principalmente na sua definição do que é feminismo: uma luta contra todas as opressões. Não me conformo que ela tenha morrido tão jovem, antes de completar 70 anos. 

Reproduzo aqui o texto da Juntos! 

O legado de bell hooks para a construção de uma luta antirracista: em defesa de uma educação emancipadora e feminista!

Uma perda irreparável ecoa entre os militantes da causa antirracista: a grande teórica feminista negra bell hooks nos deixa um legado histórico!

Autora de mais de 40 obras de temáticas distintas, como racismo, feminismo e educação, bell hooks faleceu nesta tarde de 15 de dezembro de 2021, devido a complicações de saúde nos Estados Unidos, mas rodeada de familiares e amigos. Glória Jean Watkins (seu famoso pseudônimo bell hooks homenageia sua bisavó materna) nos deixa aos 69 anos, porém com grandes contribuições à luta antirracista.

A teórica, dentre suas diversas colaborações, mostrou por meio de seus escritos a importância de uma educação libertadora, a qual coloca no centro a perspectiva de um ensino voltado para os estudantes e que este processo não seja apenas uma transmissão de conhecimento. Pelo contrário, hooks acreditava que a educação poderia ser um processo divertido e emancipatório, porém sem perder o rigor e o compromisso com o aprendizado.

No movimento feminista, bell hooks se destacou pela forma de escrita didática que tinha como objetivo, para além de compartilhar seus acúmulos teóricos, contribuir para a construção de um movimento que abordasse a realidade das mulheres negras e trabalhadoras. A luta antiracista e antissexista passa obrigatoriamente pela luta pelo fim do capitalismo.

Além disso, bell hooks deixa um legado histórico com suas obras, que ensinavam sobre a potência dos afetos nas lutas que travamos. Se tornou uma referência nos movimentos sociais que se colocam para pensar uma sociedade que rompa com as opressões de classe, gênero e raça. Para a juventude negra, bell hooks não é apenas uma teórica, mas uma pessoa que através de seus escritos nos mostra a potência que temos quando rompemos o silêncio que nos é imposto por uma sociedade estruturalmente racista.

Refletir sobre a atualidade desta importante autora para a história do movimento negro a nível internacional nos traz conclusões da urgência da centralidade na luta antirracista, bem como a necessidade de pensar a educação como mudança social. Esta discussão precisa se incluir na defesa de uma educação que valorize os talentos existentes nas escolas públicas, não apenas como reprodutores de uma educação bancária (que apenas recebe o conhecimento dado pelo professor), mas também como agentes transformadores dessa realidade e que colocam suas vivências nesta relação. Este debate está conectado com a defesa da renovação das cotas étnico-raciais nas universidades em 2022, visto que a Lei 12.711/2012 mudou o perfil universitário, porém ainda precisa de mais tempo como método de reparação histórica das desigualdades sociais em que se encontra a população negra. A política de cotas é a ferramenta para novas oportunidades na vida de milhares de negros e negras brasileiros.

Além disso, a autora nos ensina a necessidade de organização da negritude em torno de reivindicações centrais em defesa de políticas públicas não apenas para reparações na história do povo negro, mas para avançar na consciência social sobre os danos do racismo e de estigmas negativos à população negra e sua cultura. Para isso, é importante o aquilombamento do povo negro, a transição do silêncio para a fala como um ato de revolução em prol das nossas lutas, construir um projeto antirracista, anticapitalista e de mudança da cultura política brasileira.

bell hooks, presente!

Ela escrevia livros para crianças também.

5 comentários:

Luise Mior disse...

Putz, lamentável que bell hooks morreu sem completar 70 anos. Pessoas como ela deveriam viver muito mais. Referência de feminismo e ativismo. Obrigada por compartilhar este texto Lola.

avasconsil disse...

Confesso: nunca tinha ouvido falar em Bell Hooks. Como Maya Angelou em 2019, quando li "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola". Que eu me lembre, o de Maya foi o primeiro a me proporcionar a experiência de assistir a um livro. Eu me senti como um vídeo cassete (quem é da geração z não deve nem saber o que é isso - rs), um aparelho de DVD ou Blue Ray: abrir "Eu sei por que o pássaro canta na gaiola" foi pra mim como apertar "play". Foi a primeira vez que minha cabeça transformou textos em imagens daquela forma. Aconteceu de novo recentemente, quando li "Menina Má", de William March. Rhoda é uma garotinha de 08 anos muito inteligente. Mas ela é uma psicopata assassina. O livro foi escrito nos anos 1950. Talvez eu tenha facilidade pra transformar em imagens histórias que se passam num tempo mais recente. Vou experimentar. Bem, obrigado, Lola, por compartilhar. Vou pesquisar quem é Bell Hooks. Ah, Rhoda inspirou a criação de vários personagens psicopatas, como aquela menina de "A Família Addams", que a Christina Ricci interpretava muito bem. Se você é mulher ou homem, frustrada(o) por não conseguir se tornar mãe ou pai, você precisa ler "Menina Má", do William March. Acredite: ao ler esse livro, sua frustração irá embora completamente, e será substituída pela gratidão.

avasconsil disse...

Por falar em morrer antes de completar aniversário, dia 09.12 fez 101 anos da morte de Clarice Lispector. Foi semana passada e eu nem me lembrei. Clarice teria completado 57 anos no dia 10.12.1977. Morreu na véspera. A morte nos abala, mas, se os livros espíritas estão corretos, morrer não é tão ruim assim. A morte só é ruim pros suicidas diretos ou indiretos (gente que antecipa a morte do corpo por descuidos com a saúde, ainda que só por negligência ou sem a intenção de morrer. Eu sei, por esse critério, muita gente na humanidade é suicida. Inclusive eu...). E pra os completamente indiferentes ao bem. A Bell Hooks dedicou a vida a combater um preconceito grave. Tinha uma boa sintonia com o bem. Lá no "Além", mesmo que passe um tempo no Umbral (André Luiz, da coleção de livros psicografados por Chico Xavier, passou 08 anos no Umbral. Dizem que quando encarnado ele era o médico Carlos Chagas), quando ela se recuperar, vai pra um bom lugar. Um lugar onde não vai haver bolsomínions, pois no "Outro Lado" as pessoas se agrupam por suas afinidades e semelhanças. Não ocorre essa heterogeneidade horrível que acontece aqui, no lado dos "encarnados". Os bolsomínions, quando morrem, ficam todos juntinhos. Num pedaço de realidade sem solidariedade, pois eles só pensam em si e nos seus, de preferência os que sejam "sangue do meu sangue". Sem empatia. Onde são cultivados preconceitos mil... Esse lugar já tem um nome bem conhecido: inferno. Como tem bolsomínion que lê o blog da Lola, fica a dica: melhore antes de morrer. Porque melhorar lá pra onde você vai vai ser bem mais difícil e demorado. Depois não diga que nunca ouviu falar "nessas coisas" quando seu corpo estava no mundo dos "vivos". Não terá sido por falta de aviso.

Anônimo disse...

https://revistaforum.com.br/brasil/4-presos-operacao-grupos-nazistas/?fbclid=IwAR1b_Mf3fZ6teYuJn20DVmx0Mrtzn7IBNIdgG7-PbLLORp_dgkV5KCTvSDA

avasconsil disse...

101 anos da morte de Clarice não. Ela teria completado 101 anos sexta-feira passada. Troquei. Fez 44 anos que ela morreu.