O FRIENDZONE PELA ÓTICA DO TRABALHO

Um minuto de silêncio pelos nossos irmãos na friendzone

Recebi este email de uma leitora: “Lolinha, não sei se vc já viu isso, mas eu ri muito desse diálogo. Tô mandando pra vc porque você é basicamente uma das poucas pessoas que entende o quanto essa história de friendzone -- pelo menos a versão dos pobres coitadinhos que são caras tããão legais e as mulheres -- todas, não é nem a que não deu o que eles queriam -- são heartless bitches.
Eu fui 'friendzoned' de novo essa semana. Me apaixonei por uma pessoa que 1) mora longe e 2) acabou de terminar um relacionamento de 5 anos. Ele me explicou muito bem o quanto se importa comigo mesmo que não queira nada nesse sentido. Estranho, mas não sinto necessidade de culpar todo o gênero masculino ou de achar que ele foi malvado comigo -- aliás, ele foi muito, muito gente boa. Oh, sim, sem mencionar que eu realmente disse o que sentia em vez de ficar rodeando com pistas excusas e nada claras.”
Então lá vai. Eu que traduzi, e apareceu neste tumblr, mas não sei de onde a autora tirou.

Como funcionaria a lógica de Friendzone se fosse aplicada ao mercado de trabalho

Um homem entra numa loja e encontra um funcionário.
Homem: Ok, já chega. Por que vocês não me contrataram?!
Funcionário: Uh... Bom, quando o senhor entregou sua ficha de emprego?
Homem: Nunca preenchi uma ficha de emprego.
Funcionário: Bom, não podemos considerá-lo para um emprego se o senhor nunca preencheu uma ficha.
Homem: Isso é mentira, porque eu venho a esta loja há anos, e toda vez que venho eu digo a todos vocês o quanto eu gosto desta loja e o quanto gosto do seu atendimento aos clientes, ao contrário do que fazem alguns outros clientes!
Funcionário: Bom, mas isso não--
Homem: E eu até falei pra vocês que estou desempregado!

Funcionário: Mas, senhor, isso não indica que o senhor gostaria de ter um emprego na nossa loja. E se o senhor nunca preencheu uma ficha, não podemos considerá-lo. Além do mais, não estamos contratando.
Homem: Ah, não estão contratando! Ha, que piada! Vejo sua loja ter funcionários temporários o tempo todo! Eles entram e saem como se não fosse nada, mas vocês não vão me considerar para trabalhar meio período, mesmo eu sabendo que vocês estão procurando funcionários para preencher posições? Isso é ridículo!
Funcionário: Senhor, estávamos querendo contratar algumas pessoas para posições administrativas. O  senhor tem alguma experiência administrativa?

Homem: Não, mas o que isso importa?
Funcionário: Bom, isso é o que procuramos. O senhor não está habilitado para o cargo se não tiver experiência administrativa.
Homem: Ah, isso é um monte de besteira. Sabe, vocês vão ficar esperando um tempão por um gerente se vocês não baixarem suas expectativas. Quem liga se alguém sabe como administrar uma loja? Eu amo esta loja e estou disposto a trabalhar aqui, isso é tudo que deveria importar pra vocês.
Funcionário: Isso... não faz nenhum sentido.
Homem: Chega! Pra mim acabou. A partir de agora, não serei mais um cara legal!

Como eu respondi pra leitora, achei bacana o texto e muito boa a comparação, só não gostei de quando a loja pede experiência administrativa. Porque os "cara legais" que se creem injustiçados vão usar essa piada como "Tá vendo? Mulher só quer transar com homem poderoso mesmo, só com os alfas!". O que obviamente não é verdade, mas e se quiséssemos? Acho que há inúmeros motivos para uma pessoa amar outra como amiga, mas não ter interesse em ter um relacionamento amoroso/sexual com ela. Aliás, é o que eu faço com minhas amigas! Eu as adoro, mas não tenho tesão por elas, nem elas por mim. Por que com meus amigos seria diferente? Ah, porque homem é um ser incontrolável sedento por sexo 100% do tempo? Isso é mito!
Ser um cara legal não é tudo, embora seja pré-requisito básico. Friendzone me parece queixa de sujeito que não é nada legal e que acredita que mulher é só pra transar. A definição perfeita eu já traduzi aqui: "Vadia é como demonizamos a mulher por exercer seu direito de dizer sim. Friendzone é como demonizamos a mulher por exercer seu direito de dizer não".  
Os “caras legais” mais misóginos nem nos chamam de mulheres, mas de b*cetas. Somos reduzidas a uma parte do nosso corpo. E já vi mil e um mascus repetirem que, se mulheres não tivesse b*cetas, nenhum homem falaria conosco. Por coincidência, são eles também os que mais reclamam das mulheres não quererem nada com eles, nem amizade, nem sexo. Então você faz os cálculos.

E como acrescenta a leitora que me mandou o email, quando uma garota só quer ser amiga de um cara, isso é chamado de friendzone. Mas quando um desses "caras legais" só quer ser amigo, e nada mais, de uma garota por ela ser gorda/feia/negra ou qualquer coisa assim, aí é "gosto pessoal". Meninas serem friendzoned, segundo eles, é uma impossibilidade. Quase tão improvável como um mascu algum dia ser promovido a friend with benefits.