Em março, quando o blog ainda estava no começo, escrevi um post chamado “Toda Mulher Tem uma História de Horror pra Contar”, e narrei as minhas. Não vou repeti-las aqui, vocês podem ler o texto, mas era coisa pouca, se comparado a que muitas mulheres já passaram. A gente até pode discutir responsabilidades. Por exemplo, na vez em que fui agarrada por trás em São Paulo e caí no chão, em frente ao meu prédio, eu estava voltando pra casa sozinha à meia-noite. Isso não é horário pra uma moça direita andar sozinha, né? Não, claro, uma moça direita, de família, nem deve sair de casa sem o pai ou um homem responsável por ela. Como transgredi essa regra patriarcal de boa conduta, pedi e mereci que um tarado me agarrasse. O tarado não tem culpa nenhuma! Eu é que pequei.
Quando, em Fortaleza, peguei carona com um grupo de rapazes que conheci num bar, porque eles me ofereceram carona até o hotel onde eu estava ficando, e aí pararam no meio do caminho, no prédio de um deles, e insistiram pra que eu subisse - se eles tivessem me levado à força até o apartamento deles (ou mesmo se eu tivesse subido por eles me prometerem que era só pra conversar, dez minutos e a gente te leva) e me estuprassem, a culpa seria minha, pois onde já se viu uma moça direita pegar carona com universitários que até então haviam sido simpáticos e respeitosos?
E com um sério agravante: nesses dois casos, eu já não era mais virgem. Minha vagina já havia perdido o lacre. Eu era um animal sexual à solta, pronto pra ser capturado por qualquer caçador aventureiro! Minha sexualidade livre era uma afronta, mesmo que, nesses dois casos, ela nem estivesse em questão. A única coisa em questão era o meu gênero. Por ser mulher, eu corria (e corro) o risco de ser estuprada. Só por isso.
Mas, em março, deixei de contar a história mais terrível que me aconteceu. E não a deixei de fora por querer. Não foi pensado. Acho que sempre tive muita vergonha dessa história, e por isso devo tê-la empurrado pro meu subconsciente. Mas não tenho o que esconder. Se o meu relato servir pra mudar a cabecinha de um dos mini-monstros que culpam a menina de Joaçaba pelo estupro que ela sofreu, já terá valido a pena.
Eu perdi a virgindade com 15 anos, já muito curiosa em relação a sexo. Tive os pais mais liberais do mundo (minha mãe ainda vive, felizmente). Eles andavam nus pela casa e permitiam numa boa que eu e meus irmãos levássemos namoradinhos pra passar a noite lá (meu amado papi só reclamava na manhã seguinte, se alguém usava seu barbeador). A coisa era tão natural que, na primeira vez, cheguei em casa e contei pro meu pai, creio que até meio orgulhosa: “Não sou mais virgem!”. Ele não gostou muito, ficou assustado, mas parou, refletiu, e respondeu: “Parabéns”.
Isso foi na primeira metade da década de 80. Na época, não existia isso de ficar. E foi também antes da Aids. Eu sempre exigia que meus parceiros - quase todos da minha idade, ou poucos anos mais velhos - usassem camisinha. Eles sempre pediam pra não usar. Ou era a primeira vez que usavam, ou não sabiam nem colocar a camisinha, ou ambos. Mas eu não tomava pílula, sabia muito bem como se faziam os bebês, e não queria engrossar as estatísticas da gravidez precoce. Então era com camisinha ou nada. Todos topavam.
Na minha vida de adolescente em SP não havia muito sexo. Eu nunca fiquei com ninguém da escola, apesar dos muitos amigos. Mas eram amigos, e não havia interesse sexual. Ia a algumas festas em que meus amigos e amigas bebiam até cair, e posso garantir que nunca rolou estupro, até porque a atração estava na bebida, não no sexo. Eu, de minha parte, nunca bebi. Nunca tomei drogas. Uma vez eu desmaiei, enquanto jogava pôquer com amigos durante o almoço no escritório, e quando acordei estava numa cadeira de rodas no hospital. Tenho certeza que sequer passou pela cabeça dos amigos e colegas que me levaram até o hospital e chamaram meu pai de abusar de mim sexualmente. Sinto muito, mas você tem que ser uma pessoa doente, sem coração, sem caráter, pra se aproveitar de alguém que está precisando de ajuda. Você roubaria o dinheiro de alguém que está passando mal? Então como pode achar que estuprar uma menina é normal, que ela mereceu isso?
Mas, voltando. Minha escola era em período integral. Não sobrava muito tempo pra festas. E, como eu não bebia ou fumava, não gostava muito de ir a bares ou festas cheios de bêbados e fumantes. Meus poucos namoradinhos em SP eram rapazes que eu conhecia através de amigos(as), ou no fliperama, no shopping. Eu não tinha nenhum interesse em namorado fixo. Eu só queria experimentar. Sei lá se a gente sabe o que quer aos 15, 16 anos. Era tudo novidade pra mim.
Mas, nas férias, eu e minha família sempre íamos pra Búzios, no Rio. E lá era diferente. Primeiro que estava de férias, não tinha muito que fazer. Depois que lá todo mundo andava de short e biquíni boa parte do tempo. E eu conhecia muita gente, gente “do povo”, que morava lá o ano todo, e turistas frequentes como nós, e turistas de ocasião. E eu era jovem, livre, solteira, e estava tão a fim de transar com alguns meninos como eles de transarem comigo. E alguma coisa deve ter “falhado” na minha educação, porque nunca me falaram que eu, por ser mulher, deveria ser passiva, esperar que o menino viesse até mim, me fazer de difícil, me “valorizar”. O que obviamente não significava que eu transava com qualquer um. Eu transava com quem me interessava. Não era uma maratona sexual. Eu não estava competindo com ninguém, não tinha recordes a quebrar. Mas, se o carinha fosse simpático, tivesse um bom papo, me fizesse rir e risse das minhas piadas, por que não? (Lamento dizer que sexo nessa idade raramente é bom. Muita inexperiência, ejaculações precoces...).
Foi com esse espírito que paquerei um garoto, o Maré (todo mundo tinha apelido, porque os nomes reais eram tenebrosos). Eu tinha 16 anos e ele 17, eu acho. Ele era “nativo” de Búzios e um dos rapazes mais bonitos que já vi. Andava com muita segurança, com a cabeça lá no alto, e sua auto-confiança era sedutora. Durante alguns dias houve uma paquera mútua de troca de olhares, depois de palavras. E uma noite combinamos de transar. Geralmente eu levava os meninos pro meu quarto da casa em que alugávamos. Não havia muita opção: vários parceiros eram menores, então carro tava fora de cogitação; e na praia era bem desconfortável. Motel não existia. Mas alguns meninos tinham vergonha de ir em casa, acho que isso fazia que se sentissem menos másculos. Como eu tentava ignorar restrições de gênero o máximo possível, não conseguia entender direito.
Maré apareceu com a chave de uma casa em que o primo era caseiro. A casa estava vazia, não havia sido alugada. Se não me engano, era a famosa casa onde Ângela Diniz havia sido assassinada pelo seu namorado, o playboy e machão Doca Street (Doca quase foi absolvido por alegar “legítima defesa da honra”. Pelo menos alguma coisa mudou de lá pra cá!). A casa que nós alugávamos, também em frente à Praia dos Ossos, ficava a umas três casas daquela onde fui com o Maré.
Tiramos a roupa, no escuro, transamos, não foi muito bom, pra variar, ele disse alguma coisa e se levantou, e eu fiquei na cama. Pouco depois, ele voltou, encostou no meu braço, sem dizer nada, e eu achei estranho, porque sua mão estava gelada. Vi, na penumbra do quarto, alguém passar pela porta. Minha primeira reação foi perguntar “Quem é você?”. A segunda foi me levantar, sem esperar pela resposta, pegar minhas roupas, me vestir correndo, sair de lá, xingando (a porta estava aberta, não encontrei ninguém), e ir direto pra minha casa. Como você já deve ter adivinhado, quem tinha voltado pra cama não era o Maré, mas o primo dele, o caseiro. Eu mal conhecia esse primo. Já o havia visto algumas vezes: era feio, parecia antipático, e tinha uns 23 anos, por aí. Eu só deduzi que era ele porque ele e Maré sempre andavam juntos.
Cheguei em casa e contei pros meus pais, que ficaram horrorizados. Meu pai ainda foi até lá, furioso, mas a casa estava trancada e não havia ninguém. Algo que lembro muito bem é que eu estava preocupada com a minha reputação. Pensava o que os dois iriam falar de mim. Minha mãe me disse, na lata: “E você ainda se preocupa com o que as pessoas dizem?”. Aquilo foi importante, porque me fez pensar. Na hora eu respondi pra mim mesma: sim, me preocupo. Mas em seguida refleti: por que essa preocupação? Muda alguma coisa? Muda o que eu sou? E parei de me preocupar. Foi naquela ocasião, aos 16 anos, que deixei de dar ouvidos ao que os outros diziam de mim. E olha, essa sensação é libertadora.
Nos dias seguintes, cruzei com aqueles dois na praia, no fliperama, na rua. Eles me olhavam feio, eu olhava pra eles mais feio ainda. Acho que os xinguei, e eles me xingaram de volta. Lembro de ter alertado algumas amigas de que sair com um equivalia a sair com os dois. Mas demorou muito tempo pra eu me convencer que eu não tinha feito nada de errado. Eu não era culpada.
Podia ter sido muito pior, claro. O primo podia ter me forçado a transar com ele. Os dois podiam ter me estuprado. Podia haver outros rapazes esperando a sua vez na casa. E se eu tivesse transado com o primo sem saber que era ele, achando que era o Maré, e descobrisse logo depois? Isso não seria estupro? No meu entender, seria. Porque o meu consentimento era pra transar com o Maré, não com o primo.
Não sei o que a lei diz sobre isso. Sei que não fui a primeira (quase) vítima dessa “troca”, nem serei a última (tem histórias do Nelson Rodrigues que falam disso). Mas pra mim foi um choque, porque me mostrou que não importava tanto como eu encarava minha sexualidade. Pra mim era algo natural e positivo. Mas havia rapazes pra quem, só por eu não ser virgem, só por eu querer transar sem compromisso sério - e, logicamente, só por eu ser mulher, já que pra homem o padrão é diferente -, eu era um objeto sem valor, sem autonomia, pronta pra ser passada de mão em mão.
Isso faz 25 anos. Um quarto de século. Pelo caso de Joaçaba, vejo que pouco mudou. Quer dizer, mudou sim: agora eles têm celular com câmera pra filmar e passar pros amigos.
Quando, em Fortaleza, peguei carona com um grupo de rapazes que conheci num bar, porque eles me ofereceram carona até o hotel onde eu estava ficando, e aí pararam no meio do caminho, no prédio de um deles, e insistiram pra que eu subisse - se eles tivessem me levado à força até o apartamento deles (ou mesmo se eu tivesse subido por eles me prometerem que era só pra conversar, dez minutos e a gente te leva) e me estuprassem, a culpa seria minha, pois onde já se viu uma moça direita pegar carona com universitários que até então haviam sido simpáticos e respeitosos?
E com um sério agravante: nesses dois casos, eu já não era mais virgem. Minha vagina já havia perdido o lacre. Eu era um animal sexual à solta, pronto pra ser capturado por qualquer caçador aventureiro! Minha sexualidade livre era uma afronta, mesmo que, nesses dois casos, ela nem estivesse em questão. A única coisa em questão era o meu gênero. Por ser mulher, eu corria (e corro) o risco de ser estuprada. Só por isso.
Mas, em março, deixei de contar a história mais terrível que me aconteceu. E não a deixei de fora por querer. Não foi pensado. Acho que sempre tive muita vergonha dessa história, e por isso devo tê-la empurrado pro meu subconsciente. Mas não tenho o que esconder. Se o meu relato servir pra mudar a cabecinha de um dos mini-monstros que culpam a menina de Joaçaba pelo estupro que ela sofreu, já terá valido a pena.
Eu perdi a virgindade com 15 anos, já muito curiosa em relação a sexo. Tive os pais mais liberais do mundo (minha mãe ainda vive, felizmente). Eles andavam nus pela casa e permitiam numa boa que eu e meus irmãos levássemos namoradinhos pra passar a noite lá (meu amado papi só reclamava na manhã seguinte, se alguém usava seu barbeador). A coisa era tão natural que, na primeira vez, cheguei em casa e contei pro meu pai, creio que até meio orgulhosa: “Não sou mais virgem!”. Ele não gostou muito, ficou assustado, mas parou, refletiu, e respondeu: “Parabéns”.
Isso foi na primeira metade da década de 80. Na época, não existia isso de ficar. E foi também antes da Aids. Eu sempre exigia que meus parceiros - quase todos da minha idade, ou poucos anos mais velhos - usassem camisinha. Eles sempre pediam pra não usar. Ou era a primeira vez que usavam, ou não sabiam nem colocar a camisinha, ou ambos. Mas eu não tomava pílula, sabia muito bem como se faziam os bebês, e não queria engrossar as estatísticas da gravidez precoce. Então era com camisinha ou nada. Todos topavam.
Na minha vida de adolescente em SP não havia muito sexo. Eu nunca fiquei com ninguém da escola, apesar dos muitos amigos. Mas eram amigos, e não havia interesse sexual. Ia a algumas festas em que meus amigos e amigas bebiam até cair, e posso garantir que nunca rolou estupro, até porque a atração estava na bebida, não no sexo. Eu, de minha parte, nunca bebi. Nunca tomei drogas. Uma vez eu desmaiei, enquanto jogava pôquer com amigos durante o almoço no escritório, e quando acordei estava numa cadeira de rodas no hospital. Tenho certeza que sequer passou pela cabeça dos amigos e colegas que me levaram até o hospital e chamaram meu pai de abusar de mim sexualmente. Sinto muito, mas você tem que ser uma pessoa doente, sem coração, sem caráter, pra se aproveitar de alguém que está precisando de ajuda. Você roubaria o dinheiro de alguém que está passando mal? Então como pode achar que estuprar uma menina é normal, que ela mereceu isso?
Mas, voltando. Minha escola era em período integral. Não sobrava muito tempo pra festas. E, como eu não bebia ou fumava, não gostava muito de ir a bares ou festas cheios de bêbados e fumantes. Meus poucos namoradinhos em SP eram rapazes que eu conhecia através de amigos(as), ou no fliperama, no shopping. Eu não tinha nenhum interesse em namorado fixo. Eu só queria experimentar. Sei lá se a gente sabe o que quer aos 15, 16 anos. Era tudo novidade pra mim.
Mas, nas férias, eu e minha família sempre íamos pra Búzios, no Rio. E lá era diferente. Primeiro que estava de férias, não tinha muito que fazer. Depois que lá todo mundo andava de short e biquíni boa parte do tempo. E eu conhecia muita gente, gente “do povo”, que morava lá o ano todo, e turistas frequentes como nós, e turistas de ocasião. E eu era jovem, livre, solteira, e estava tão a fim de transar com alguns meninos como eles de transarem comigo. E alguma coisa deve ter “falhado” na minha educação, porque nunca me falaram que eu, por ser mulher, deveria ser passiva, esperar que o menino viesse até mim, me fazer de difícil, me “valorizar”. O que obviamente não significava que eu transava com qualquer um. Eu transava com quem me interessava. Não era uma maratona sexual. Eu não estava competindo com ninguém, não tinha recordes a quebrar. Mas, se o carinha fosse simpático, tivesse um bom papo, me fizesse rir e risse das minhas piadas, por que não? (Lamento dizer que sexo nessa idade raramente é bom. Muita inexperiência, ejaculações precoces...).
Foi com esse espírito que paquerei um garoto, o Maré (todo mundo tinha apelido, porque os nomes reais eram tenebrosos). Eu tinha 16 anos e ele 17, eu acho. Ele era “nativo” de Búzios e um dos rapazes mais bonitos que já vi. Andava com muita segurança, com a cabeça lá no alto, e sua auto-confiança era sedutora. Durante alguns dias houve uma paquera mútua de troca de olhares, depois de palavras. E uma noite combinamos de transar. Geralmente eu levava os meninos pro meu quarto da casa em que alugávamos. Não havia muita opção: vários parceiros eram menores, então carro tava fora de cogitação; e na praia era bem desconfortável. Motel não existia. Mas alguns meninos tinham vergonha de ir em casa, acho que isso fazia que se sentissem menos másculos. Como eu tentava ignorar restrições de gênero o máximo possível, não conseguia entender direito.
Maré apareceu com a chave de uma casa em que o primo era caseiro. A casa estava vazia, não havia sido alugada. Se não me engano, era a famosa casa onde Ângela Diniz havia sido assassinada pelo seu namorado, o playboy e machão Doca Street (Doca quase foi absolvido por alegar “legítima defesa da honra”. Pelo menos alguma coisa mudou de lá pra cá!). A casa que nós alugávamos, também em frente à Praia dos Ossos, ficava a umas três casas daquela onde fui com o Maré.
Tiramos a roupa, no escuro, transamos, não foi muito bom, pra variar, ele disse alguma coisa e se levantou, e eu fiquei na cama. Pouco depois, ele voltou, encostou no meu braço, sem dizer nada, e eu achei estranho, porque sua mão estava gelada. Vi, na penumbra do quarto, alguém passar pela porta. Minha primeira reação foi perguntar “Quem é você?”. A segunda foi me levantar, sem esperar pela resposta, pegar minhas roupas, me vestir correndo, sair de lá, xingando (a porta estava aberta, não encontrei ninguém), e ir direto pra minha casa. Como você já deve ter adivinhado, quem tinha voltado pra cama não era o Maré, mas o primo dele, o caseiro. Eu mal conhecia esse primo. Já o havia visto algumas vezes: era feio, parecia antipático, e tinha uns 23 anos, por aí. Eu só deduzi que era ele porque ele e Maré sempre andavam juntos.
Cheguei em casa e contei pros meus pais, que ficaram horrorizados. Meu pai ainda foi até lá, furioso, mas a casa estava trancada e não havia ninguém. Algo que lembro muito bem é que eu estava preocupada com a minha reputação. Pensava o que os dois iriam falar de mim. Minha mãe me disse, na lata: “E você ainda se preocupa com o que as pessoas dizem?”. Aquilo foi importante, porque me fez pensar. Na hora eu respondi pra mim mesma: sim, me preocupo. Mas em seguida refleti: por que essa preocupação? Muda alguma coisa? Muda o que eu sou? E parei de me preocupar. Foi naquela ocasião, aos 16 anos, que deixei de dar ouvidos ao que os outros diziam de mim. E olha, essa sensação é libertadora.
Nos dias seguintes, cruzei com aqueles dois na praia, no fliperama, na rua. Eles me olhavam feio, eu olhava pra eles mais feio ainda. Acho que os xinguei, e eles me xingaram de volta. Lembro de ter alertado algumas amigas de que sair com um equivalia a sair com os dois. Mas demorou muito tempo pra eu me convencer que eu não tinha feito nada de errado. Eu não era culpada.
Podia ter sido muito pior, claro. O primo podia ter me forçado a transar com ele. Os dois podiam ter me estuprado. Podia haver outros rapazes esperando a sua vez na casa. E se eu tivesse transado com o primo sem saber que era ele, achando que era o Maré, e descobrisse logo depois? Isso não seria estupro? No meu entender, seria. Porque o meu consentimento era pra transar com o Maré, não com o primo.
Não sei o que a lei diz sobre isso. Sei que não fui a primeira (quase) vítima dessa “troca”, nem serei a última (tem histórias do Nelson Rodrigues que falam disso). Mas pra mim foi um choque, porque me mostrou que não importava tanto como eu encarava minha sexualidade. Pra mim era algo natural e positivo. Mas havia rapazes pra quem, só por eu não ser virgem, só por eu querer transar sem compromisso sério - e, logicamente, só por eu ser mulher, já que pra homem o padrão é diferente -, eu era um objeto sem valor, sem autonomia, pronta pra ser passada de mão em mão.
Isso faz 25 anos. Um quarto de século. Pelo caso de Joaçaba, vejo que pouco mudou. Quer dizer, mudou sim: agora eles têm celular com câmera pra filmar e passar pros amigos.
109 comentários:
Já que vamos contar histórias pessoais de machismo e desrespeito, vamos lá.
Isso aconteceu comigo no primeiro ano da faculdade. Nem gosto muito de contar porque acho degradante. E eu não pude fazer nada.
Naquele ano, inauguraram uma estação de metrô bem pertinho da minha casa. Para pegar esse metrô, muita gente passou a subir a rua vergueiro num trecho antes deserto. Só que tem que, numa parte, tem que atravessar a rua. E, como quase ninguém antes atravessava a rua ali, não tinha semáforo. Aí a gente tinha que esperar a boa vontade dos motoristas de parar e fazer a gentileza de nos deixar passar (detalhe: tinha faixa de pedestre. Só não tinha o semáforo).
(O que mais me irritava era que tinha cara que desacelerava para poder me passar uma cantada, mas não tinha a pachorra de me deixar atravessar a rua. Mas enfim).
Certa vez, eu estava indo para a faculdade quando passou um carro em alta velocidade. Um cara no carro gritou alguma coisa e jogou algo líquido em mim. Foi tão rápido que eu nem vi que carro era nem entendi o que foi que o cara gritou. Não tive nem tempo de xingar o cara.
Aí passei a mão no rosto e vi que era esperma. Caída no chão, tinha uma camisinha. O filho da puta jogou uma camisinha usada em mim!
Ele não me conhecia, sequer sabia quem eu era. Pelo SIMPLES FATO DE EU SER MULHER o cara se viu no direito de fazer isso. Como se eu fosse menos que um ser humano.
Fiquei com tanto nojo que voltei correndo para a casa lavar o rosto com esponja. Nem quis ir mais à aula.
Eu sinceramente nem sei qual é a solução para um pessoa que faz uma coisa dessas. Devia ter um buraco negro onde a gente pudesse enfiar esse tipo de gente.
PS - dei uma citadinha em vc lá no meu blog. Bjo!
Lolla,
Não consigo pensar em mais nada além de: Se você não fosse segura, com certeza teria sido atacada, nnao teria percebido o que estava acontecendo.
Paola
Lembro até hoje de uma entrevista bem antiga com a Courtney Love que vi na MTV (quando o canal prestava). Mesmo com a cabeça cheia de heroína, cocaína e ouotras "inas", ela falou algo do tipo: "Então se eu entrar vestindo um biquíni em um bar cheio de homens, eu mereço ser estuprada? Claro que não!". Quer dizer, não é tão difícil assim ter bom-senso. Acho que o problema mesmo é a cultura dentro do Brasil, que desvaloriza a mulher, que ainda considera crime passional (no caso do homem que mata a mulher que não o quis, que o traiu, etc) como um assassinato que deve ter a pena atenuada. E isso vai demorar a mudar.
caramba, Lola!
a história é horrível, mas é linda a maneira como vc lidou com isso. já ouvi casos semelhantes, mas nunca de alguém próximo. é sempre "aconteceu com a prima da minha amiga..." - muito corajoso de sua parte assumir, também.
eu, tb vivi intensamente (e põe intensamente nisso!) minha sexualidade a partir dos 15 anos. acredito que tenha sido mais ou menos como vc, com o diferencial da minha família ser extremamente conservadora e eu ter de fazer tudo escondido. além disso, bebia muito e usei drogas leves por algum tempo. tive a sorte (não devia ser considerado sorte, mas enfim...) de ter amigos maravilhsos que JAMAIS se aproveitaram de mim. participei de inúmeras festinhas de apartamento, tomei infinitos porres, e nunca, jamais sequer me deram uma passadinha de mão. somos amigos até hoje e vira e mexe nos reunimos em chácaras, acampamentos, etc. (com o diferencial de que agora não bebo, não uso drogas e sou extremamente seletiva com meus parceiros - passei da adolescência!) por um lado, fico aliviada pela sorte que tive; por outro, fico revoltada de considerar o respeito uma "sorte".
Lola, você não sabe o quão comum é essa idéia, entre cavalos que se acham homens, de que, "se já transou com um tem a obrigação de transar com todos", ou então "se não transar comigo eu vou dedurar que você transou com fulaninho".
Isso é inumano, bestial...
Lola, isso que vc diz, de "toda mulher tem uma história de horror pra contar", isso é tão verdade. Eeu nunca tinha me dado conta. Poucas frases foram tão, sei lá, esclarecedoras pra mim nesses últimos tempos. Eu tenho minhas histórias de horror. E me ocorre agora que talvez minha irmã e minha mãe tbm tenham, e isso nunca virou assunto entre nós. Mais por conformismo do que por falta de cumplicidade. Eu vou perguntar a elas. E um dia eu posto essas minhas histórias lá no blog.
Mas era obrigada o que eu queria te dizer aqui.
um abraço
De certa forma parece que as histórias de todas nós não diferem muito. Muda o contexto, os nomes das pessoas envolvidas, alguns detalhes... mas o básico é sempre o mesmo: somos humilhadas/abusadas simplesmente pq nascemos mulheres. Pq há alguns homens que não conseguem nem ter noção do que significa a palavra dignidade, ao menos quando se trata de dignidade feminina.
Mas não concordo bem que estamos num retrocesso em relação a sexualidade feminina. Acredito que estamos construindo realidades novas e bemmmm melhores do que a realidade das nossas avós, mas no "pacote" da liberdade de escolha e opção vem ainda muita encrenca, desencontros e decepções. Apesar de todas as nossas histórias de horror, elas são de horror pq entendemos que são violação, não são "normais". Normal é experimentar, errando e acertando nas escolhas, mas sem ser forçada ao que não queremos fazer ou sentir.
E mesmo que haja homens mega-machistas hoje, há tb aqueles dispostos a ouvir os nossos pontos de vista e que se chocam junto com a gente quando a violência aconteçe. Acho que homens assim já estão em número bem maior hoje em relação há 30 anos atrás.
Posso até estar sendo otimista demais, mas sem dúvida já perdi a ingenuidade faz tempo, e isso doeu. Mas a esperança eu nunca perdi ou quem sabe deva dizer: essa eu nunca permiti que me arrancassem.
Lola, admiro muito a tua postura em relação ao sexo aos 15 anos. Se já é uma postura desconhecida para muitas mulheres quando se tem 40 aninhos, imagina com 15... Hoje concordo com tua posição, mas certamente eu não pensava/sentia assim quando eu tinha 15 anos.
Bjss
Taia
FATOS DA VIDA ...
HAIRYBEARS
http://hairybears.blogspot.com/
Não tive essa experiência de sexo na adolescência. Perdi a virgindade já adulta, aos 19, morava em república, fazia faculdade e trabalhava. Meu 1º parceiro era machista, achava que isso se devia à diferença de idade- eu 19, ele 34 - para mim ele era praticamente de outra geração. Hoje sei que machismo não tem idade, nem geração.
E ele era bem cafa, certeza que me chifrou várias vezes, qdo o relacionamento, teoricamente, era p/ ser monogâmico. Ainda fiquei 1 ano com ele. Ao contrário de vc Lola, tive uma criação machista e por isso por outras coisas, tinha baixa auto-estima. Tem outras coisas desagradáveis desse e de outros relacionamentos mas não estou preparada para falar em público. Anos de terapia e alguns cafas depois, estou bem mais confiante, hoje não ficaria jamais com quem me desrespeita.
PS.: Finalmente terminei o post sobre Obama e racismo (que merece uma análise mais aprofundada, claro) e tem outras atualizações lá também.
http://universonosdois.wordpress.com
acho que as mulheres tem sim estorias de horror. e isso pq somos mulheres. infelizmente estamos ha anos luz de passar esta ' barreira' .
um beijo e um bom dia para ti.
Ja' escutei historias parecidas com a da Marjorie antes, a criatividade nao tem limites mesmo. O que passa na cabeca de um sujeito nessas horas, como e' que alguem justifica pra si mesmo fazer esse tipo de barbariedade? E' isso que eu acho dificil de entender.
Lolinha, não sei o que aconteceu, acho que por ter começado a escrever o post do Obama antes, o wordpress publicou em uma data atrasada, tive que deletar, colar do word e editar de novo p/ o post sair na data de hoje.
O Wordpress conseguiu me irritar, aff. Agora sim, tá atualizado.
http://universonosdois.wordpress.com
Lembrei de uma ex namorada, que esteve numa situação mais complicada que a primeira história relatada, Lola, só que tinha um detalhe, a mulher além de bem forte era praticante de artes marciais, o cachorro se deu muuuuuiiiiittooooooo mau...
lendo as histórias dos outros e pensando um pouco, tenho sim uma história de terror. muito menos assustadora que as outras, mas ainda assim, uma história de terror.
no final do 2o colegial, encanei que queria ficar com um garoto do 3o ano. ele era gente boa, e muito, muito lindo. ganhou 2o lugar num concurso de beleza na escola.
pois bem, provoquei o moleque (publicamente, por que não?) até ele dizer sim. confesso q me aproveitei do fato da masculinidade ser questionada quando o cara nega fogo. hj não faria isso, óbvio, mas tem muita coisa que fiz na época e não faria hj. nem por isso me envergonho. mas voltando...
ficamos juntos logo no início das férias de dezembro. a turma toda ficou sabendo, muito mais porque eu não fazia questão de esconder, do que por ele. segundo oq me consta (nos vimos poucas vezes depois), ele não comentou com ninguém.
acontece q uns babacas da classe dele, provavelmente morrendo de inveja, começaram a inventar estórias ABSURDAS a meu respeito: que eu tinha feito sexo dentro da escola, q tinha ficado com dois ao mesmo tempo, feito sexo oral em fulano, etc. algum tempo depois, o cretino autor das mentiras assumiu perante alguns colegas que tinha inventado aquilo. o problema é q as aulas já tinham terminado, o contato com a turma do 3o ano já não era mais tão estreito. muita gente deve pensar até hj q tudo aquilo era verdade.
obviamente, na época, me defendi, argumentando q tudo q eu fazia eu assumia - oq é uma grande verdade. não tive graves consequências daquelas calúnias, exceto o fato de ser injustiçada perante algumas pessoas. claro q não me arrependo do q fiz. meus hábitos da época (15, 16 anos), eram coisas q minhas amigas fazem hj (22, 23 anos) com naturalidade - saem, às vezes bebem demais, às vezes conhecem um cara e transam na mesma noite. hábitos q, hj, não me despertam o menor interesse.
o problema é q, quase sempre, pagamos um preço alto por estar na vanguarda.
Notícias de hoje do Correio Braziliense:
CORPO DENTRO DE COLCHÃO
Policiais da 17ª DP encontraram um corpo de mulher, ainda não identificado, enrolado num colchão de casal deixado em um descampado da QNM 40. Ela levou um tiro no seio direito. Durante a perícia, os agentes encontraram esperma nos órgãos genitais da vítima. A polícia não confirmou se houve abuso sexual. Duas equipes da Seção de Investigação da 17ª DP apuram o assassinato.
Notícias de hoje do Correio Braziliense:
Um policial matou a mulher com sete tiros e cometeu suicídio em seguida em Sobradinho II, por volta das 22h de domingo. Clóvis Freitas de Lima, 42 anos, chegou à casa da cunhada armado com duas pistolas, uma .40, de propriedade da polícia, e outra 380, que era dele. No bolso, também levava uma caixa de munição e um pente carregado. A servidora pública Cláudia Alves de Freitas, 39, que tinha dois filhos com ele, ainda tentou se defender. Quatro tiros atingiram o antebraço, um a axila e dois a cabeça. Clóvis se matou com um tiro na cabeça.
(...)
O comportamento de Clóvis começou a mudar há cerca de cinco meses, depois de um problema de saúde. “Percebemos que ele ficou descompensado depois de sofrer um infarto. Não soube lidar com a situação. A doença impôs restrições que ele não aceitava”, diz o delegado. O médico proibiu Clóvis de praticar os esportes de que gostava e ele acabou afastado do trabalho. “Tive de tirá-lo do plantão, que gostava de fazer, mas ele não tinha condições de trabalhar”, ressaltou o delegado.
Clóvis não gostou das restrições médicas e começou a apresentar sinais de depressão. “Estava em tratamento psiquiátrico na Policlínica da Polícia Civil”, disse. Clóvis e Cláudia não estavam separados. “Foi coisa do coração”, afirma o delegado, que não tem dúvidas sobre a autoria. “Foi mesmo ele quem fez tudo.” Michel só espera o relatório do Instituto de Criminalística para concluir o inquérito. O carro do policial será vistoriado para, segundo o delegado, a polícia ver se ele não deixou algum bilhete ou sinal que explique a atitude. “Perdemos um amigo. Estamos abalados aqui na delegacia. É difícil de acreditar”, lamenta.
Nossa... em outra parte da matéria ainda tentam atribuir-lhe as mais diversas virtudes, que seriam incompatíveis com o ato extremo... é sempre assim, né? a doida era a mulher que estava na frente dele na hora do disparo, pois é! Será que entre os esportes radicais de que o robocop estava proibido de praticar incluia sexo?
Lola, volto aqui novamente para ler o texto de hoje.
Lola,
Como eu te disse em março, para mim o pior tipo de violência contra a mulher é quando ela é perpetrada por quem ela mais confia. O estranho, este não sabe quem você é. Como no mito sobre os vampiros - eles só podem entrar na sua casa se você os convidar. E para isso eles cativam você, ganham a sua confiança e depois levam embora a sua vida, a sua essência.
A violência, quando é praticada por marido, acaba com a mulher. Nós não escolhemos pai, irmão, avô, tio. Eles já estavam ali quando nascemos. O padrasto não é escolha nossa, mas a mulher não o escolhe - e sim sua mãe. Mas no caso do marido, ele passou pelos estágios de conhecido, de namorado, às vezes de noivo. Você aprendeu a confiar nele. Ele é, muitas vezes, o pai dos seus filhos. Você vive ao lado dele. Passou anos conhecendo-o - e um dia ele bate em você. Humilha você sexualmente - seja chamando-a de frígida, seja forçando-a.
Você mostrou a ele todas as suas fraquezas - e ele sabe como usá-las para derrubar o que você tem de forte. E a mulher não consegue sair do círculo vicioso que a vergonha (injustificada) a empurra. Porque ela não pode se queixar - foi ela quem "casou errado". É dela a responsabilidade de garantir o sustento dos filhos e a união da família - mesmo que isso signifique ouvir diariamente "Você é uma inútil" ou receber cusparadas no rosto. Ou, pior, apanhar grávida - e na cabeça, que é pra não deixar marcas.
A mais terrível história de horror é aquela que deixar marcas indeléveis porque não há para onde ir. Porque o estranho era um estranho - com cuidado, você vence as barreiras do "estranho" e passa a ver aquele cara realmente adorável como digno de confiança. Mas quando quem fez mal à mulher foi um cara adorável digno de confiança - como distinguir? Como confiar novamente, se você já fez isso - namorou o cara por cinco anos, morou junto por três e quando casou e teve filhos viveu uma história de horror? Você foi até o fundo do poço - não tem mais como cavar à procura de uma "confiança mais confiável".
E então você vive com medo - de que o próximo cara adorável se mostre, quando você abrir a porta finalmente para ele, o vampiro que vai levar embora sua auto-estima, seu amor-próprio, sua capacidade de confiar num homem, novamente.
Eu já me encolhi de medo quando um amigo de anos, com quem saí uma vez, espantou um mosquito no meio de uma discussão com outra pessoa. Ele disse que nunca vira um olhar tão horrorizado no rosto de alguém. Essa sou eu. Eternamente encolhida, quer se note ou não.
eu li as suas histórias de horror e fiquei pensando que eu não tinha a minha, até que eu lembrei dela. uma vez eu passei um fim de semana em são paulo na casa de uma amiga. queríamos sair a noite e uma amiga dela falou de uma festa na casa de um amigo, com quem ela ia ficar. passou um carro na casa da minha amiga e no carro eu vejo a garota e mais dois meninos. eles passaram num posto de gasolina e eu fico sabendo que a festa é em diadema (!). antes do carro sair de são paulo eu já estranhei e eu não queria ir. cheguei em diadema na casa de alguém que eu não conhecia. na casa, tinha mais um homem. mal entramos, a garota foi pra um quarto transar com o ficante. um dos moços foi comprar vodka. eu comecei a entrar em pânico. imaginei que as próximas a transar eramos nós. falei que eu queria chamar um táxi e voltar em são paulo, mas um cara dizia que aquela hora eu não ia achar táxi em diadema e eu não podia chamar um táxi de são paulo ("por causa do pedágio eles não vem aqui"). enquanto a garota transava no quarto, eu surtei na sala. falei que o clima era de sexo e que eu não ia transar com ninguém ali. que era um absurdo aquela situação e que eu queria ir embora. nisso um dos caras que me levaram em diadema chega com a vodka. eu falo que eu quero ir embora e ele diz que pagou muito caro da vodka e que só ia me levar depois que eu bebesse um pouco. falei que eu pagava a vodka e até mais se ele quisesse mas que eu queria ir embora e já fui saindo da casa. eu lembro que eu gritava em frente a casa que a situação era absurda, que eu queria ir embora, que eu não tenho medo de homem e que se ele me batesse, ia apanhar também. eu tremia. até que o cara que tava transando no quarto me escutou gritando e me viu tremendo e pediu que o cara me levasse embora. eu lembro que ele falou irritado que ele ia me fazer pagar a corrida. eu tive que pegar carona com o infeliz. eu fui tremendo no carro até são paulo. minha amiga no fim disse que ela viu que a situação era suspeita mas que ia beber um pouco e depois falava que ela queria ir embora, que eu não podia ter me comportado assim. eu só respondi que quem não pode se comportar assim e ir na casa de quem mal conhece, é ela. resultado: eu nem considerei a possibilidade de voltar na casa dela. foi uma noite de horror.
Será que o maré fez isso porque o primo liberou a casa. Consigo o local para vocês mas eu também quero, e ele, por ter essa mentalidade, supôs que você queria transar com toda a gente. Afinal a maioria dos rapazes transa com qualquer uma, não liga muito para o minimo de afinidade. O engraçado é que para nós homens explorar a nossa sexualidade desde cedo é muito normal. Desde criança até. Muitos pais até se orgulham quando os filhos ganham fama de garanhão. Mas se for a filha a querer explorar a sexualidade dela, como qualquer outro adolescente, então ela vai ter problemas. A minha adolecencia foi um Oasis comparado com o da minha irmã, que teve dois namorados as escondidas do meu pai. Quando ele descobriu o segundo, ameaçou expulsá-la de casa, tira-la da escola, obrigou-a a casar-se. Nem todos os pais são como os seus lola, capazes de respeitar os filhos como individuos e não como propriedades.
Ontem finalmente vi cegueira, um filme que explora muito bem situações extremas. E situações de sobrevivência também, por isso, o que me deixou com muita raiva foi o facto de ela, que enxergava, não ter tomado o dominio da situação antes de muitas barbaridades terem acontecido. Por mais que as mulheres seja menos violentas que os homens, era uma situação de sobrevivência. Qual é Lola, você se estivesse em posição privilegiada como ela estava, permitira que aqueles monstrinhos tomassem controle da situação?
O que eu não gostei, assim como não gostei em o Jardineiro Fiel, é aquela fotografia muito clara e aqueles closes fechados e sufocantes.
Para mim Cidade de Deus foi um tapa na cara de Hollywood, é um filme perfeito, e um estilo que eu acho que Fernando deveria ter continuado.
Marjorie, que horror. Essa história que vc contou me lembrou de uma vez em que eu, ainda pré-adolescente, estava no ginásio de esportes da escola e levei uma cusparada bem no meio do rosto. Nem acho que tenha sido de propósito. O atleta não pediu desculpas nem nada, pareceu nem notar, seguiu em frente. Mas aquilo foi tão violento pra mim (mesmo que tenha sido sem querer) que eu fui pro vestiário e comecei a chorar. Imagino o choque que seria se fosse esperma.
Eu tô cada vez mais convencida que muitos machos da nossa espécie marcam território com urina, esperma, barulho alto...
Paola, é, não sei. Talvez eles não fossem estupradores, e só gostavam de praticar esse jogo de troca. Sei lá. Mas eu é que não ia ficar nua na cama com um estranho pra descobrir.
Srta.T, isso eu não tenho certeza. Estupros e violência contra a mulher acontecem em todo o lugar do mundo, não só no Brasil. É possível que em lugares com menos educação a violência seja ainda mais frequente, mas ela ocorre em todas as classes sociais, e em todo lugar. É algo enraizado. Mas claro, ajuda se as leis não forem coniventes com esse tipo de comportamento.
Lauren, ah, eu quis assumir. Eu só lembrei que deixei essa história de fora do meu relato de março semanas depois. Sei que é muito pessoal, e os blogueiros não costumam colocar coisas assim tão pessoais. Mas é bom pra gente saber que coisas assim acontecem direto entre nós, não só com “a prima da minha amiga”.
Triste, né, que a gente considere respeito “sorte”. Deveria ser a norma! Felizmente, eu também tive a sorte de sempre ter ótimos amigos. É ótimo ter pessoas com quem contar. Muitas vezes o que me revolta é pensar que EU jamais trataria alguém mal, então por que alguém tem que fazer isso comigo? Mas a gente não pode escolher. E não tem nada a ver com justiça.
Gio, hoje eu sei que essa idéia de que “transou com um, transa com todos é comum”. Mas na época foi um choque descobrir.
Aline, eu só me dei conta de que “toda mulher tem uma história de horror pra contar” algum tempo atrás. Teve uma aula no comecinho do doutorado em que éramos todas mulheres. Umas seis. De idades, origens, e até orientação sexual totalmente diferentes. E quando começamos a contar, do nada, as nossas histórias, ficamos perplexas ao perceber como histórias de violência e humilhação já haviam acontecido com todas nós. E acho que isso nos uniu mais ainda como grupo. Por um lado, é bom saber que não estamos nisso sozinhas. E é quase impossível encontrar uma mulher que já passou por algo assim e não queira mudar a situação. Se a gente começa a entender que isso não aconteceu só com a gente, que não foi pessoal, que aconteceu com (quase) todas, a culpa que sentimos é bem menor.
Fico muito feliz que este post tenha sido esclarecedor pra vc.
Taia, até hoje me impressiono que, só por sermos mulheres, tenhamos que passar por tantos abusos. Depois as pessoas não entendem o conceito de “privilégio masculino”. Num contexto desses, nascer homem significa não ter essas histórias de horror (não que eles não tenham outras, mas é muito menos comum).
Eu não sei, Taia. Às vezes vejo coisas e penso que isso é um retrocesso, pra que serviu a revolução sexual? Nossas vidas são diferentes, claro, das das nossas avós e possivelmente das vidas das nossas mães. Mas eu fico tão decepcionada às vezes. Por exemplo, esse tabu da virgindade. Passei vários anos sem escutar essas besteiras de mulher “santa” vs. “p*ta”. Pensei que tivesse passado, e pra que essa nova geração essa besteira não fosse mais importante. Mas aí aparece um caso como o da Eloá, e agora este da menina de Joaçaba, e eu vejo que tá tudo lá: ela não era nenhuma santinha, mereceu aquilo e tal. E isso vindo de rapazes jovens! Eu tinha esperança que a cabeça deles fosse diferente da cabeça dos jovens da minha adolescência.
Não acho que dá pra perder a esperança. Mas eu quero saber quando essa postura machista vai acabar. Algum dia?
E quanto a minha postura em relação ao sexo, o que acho que aconteceu comigo é que, desde o começo, eu me rebelei de ter que agir dentro de certos padrões apenas por ser mulher. E isso em tudo, não apenas sexualmente. Abração!
Hairybears, fatos mais da vida de alguns que de outros...
Lila, 19 anos ainda é meio adolescente, né não? Essa diferença de idade quando a gente é adolescente (vc 19, ele 34) é muito grande. Ele ERA de outra geração. Eu só saí com um carinha de 35 quando tinha 17 uma vez, e eu me senti num universo alternativo (e nem por isso melhor).
Que bom que vc se tornou mais auto-confiante e agora está num relacionamento com alguém em quem pode confiar plenamente.
Jamine, pois é, só por termos nascido no sexo “errado”. Triste! Beijão do Brasil pra Bélgica.
Cereja, não sei nem se quem comete esses atos pára pra pensar. Eles devem achar apenas divertido. Não pensam mais no assunto. É o que imagino...
Eu li e lembrei do meu tempo de descoberta da sexualidade, mais tardio que o seu, lá pelos 18, e com aprovação somente (e não 100%) da minha mãe. Hoje eu reconheço que passei por situações e locais que poderiam ter me colocado em risco. Tenho sorte, sorte sim, porque tive amigos e colegas com os quais pude viver uma fase de desbunde, diria, sem medo de reações equivocadas. Claro que não chego ao ponto de negar que tenha histórias de terror 'sexual' pra contar, porque às vezes a gente nem se dá conta, são discretas mas marcantes, como as bolinadas dos primos, o clima pesado em determinadas situações. Sem querer essas experiências ficam jogadas no sótão da memória (hmm). Adorei sua história, ando meio ocupada demais pra comentar aqui, mas sua família é muito bacana e é exatamente o que quero desenvolver em casa para a Nina. Liberdade de escolha, de expressão, sexual, tudo com a responsabilidade devida. Bj pra tua mãe.
eh como eu disse num outro blog dia desses: certos homens sao tao "involuidos", especialmente quando o assunto eh sexo, que eu tenho vontade de gritar VOLTA PRA CAVERNA!
eu nunca passei por nada do genero... bom, pensando melhor acho que a vez em que o cara com quem eu ficava estava bebado e me bateu conta, nao conta??? (obvio que eu nunca mais fiquei com ele).
e eu hoje, mais do que nunca, concordo com a marjorie... devia mesmo haver um buraco negro pra enfiar gente assim.
um beijao!
fui ler o seu post passado (seus historias de horror) e acabei lembrando de mais uma:
por 6 meses eu morei em florianopolis.
era costume do pessoal pegar carona pra chegar na universidade e eu, como estava fazendo umas coisas na universidade, nao fugia a regra.
um belo dia, uma amiga e eu estavamos pedindo carona nao para a universidade, mas para o centro da cidade pois queriamos ver um show de chorinho gratis que ia acontecer em poucas horas.
estamos nos duas pedindo carona qd para um carro prateado, guiado por um cara tao grande quanto um tiranossauro.
eu fui no banco traseiro e minha amiga no do passageiro.
como de costume eu estava viajaaaando, olhando pela janela, pensando na vida... nem ai pra conversa que o motorista tentava puxar.
eis que ouço minha amiga:
- que que eh isso???
e logo em seguinda:
- VC TA FICANDO LOUCO
saio do meu transe, olho pra frente e vejo que o cara segurava a mao dela e puxava pra perto de sua cintura. detalhe, ele estava com o ziper aberto e com o pau duro... (e dirigindo!)
eu acho que nunca senti tanto medo na vida...
minha amiga grita de novo:
- JUNE, ME AJUDA!
foi tudo muito rapido, mas lembro que considerei dar um murro na nuca dele, ou um chute na cabeça dele...
mas ai soh consegui, com a voz mais calma do mundo, dizer:
- vc pode parar o carro que a gente quer descer, por favor?
pra minha surpresa, a besta-fera parou e descemos.
e choramos feito duas desesperadas no meio da rua.
eh... tinha quase me esquecido dessa historia.
PARABÉNS pelo texto, Lola! Maravilhoso! Destruiu total!!!
Gio, pois é, será que toda mulher deveria aprender artes marciais? Pré-requisito pra ser mulher numa sociedade misógina: aprender a lutar?
Lauren, obrigada por compartilhar sua história. Pois é, esses boatos que os outros inventam sobre a gente, ainda mais quando somos adolescentes, não deveriam importar. Mas, numa sociedade que nos divide em “santas” e “p*tas”, conta muito!
Luiz, valeu pelas notícias. Horríveis! Sobre o corpo dentro do colchão, a mulher levou um tiro no seio, há esperma nos órgãos genitais, e a polícia AINDA não confirmou se houve abuso sexual? Ahn, polícia meio lenta essa de Brasília, hein?
Sobre a segunda notícia, que negócio é esse “Foi coisa do coração”?! O delegado se refere ao infarto que o assassino sofreu, ou o motivo pelo qual matou sua mulher? E na delegacia eles ficam abalados com a morte do amigo, é? Nem uma palavra pra mulher que foi assassinada? Ai, Luiz, essas matérias são sempre assim. Um monte de elogios ao cara. Ninguém consegue acreditar no que aconteceu, porque o sujeito era tão boa gente... E nem um pio sobre a verdadeira vítima. Eu não entendo: não dá pra esses caras simplesmente se suicidarem, SEM precisar matar a mulher (ex ou atual) antes?
Su, puxa, isso deve doer muito pra vc ainda hoje. E, imagino, pras suas filhas também. Ainda bem que vc conseguiu se separar a tempo d'elas não ficarem mais traumatizadas, porque a gente sabe como violência doméstica afeta as crianças. É bom ler o seu relato, Su, porque as pessoas tendem a crer que violência doméstica só acontece entre mulheres pobres, de baixa escolaridade. E que, no fundo, é culpa delas - por que não se separaram no primeiro tapa? Ah, como se fosse fácil se separar, ainda mais com duas crianças! Como se não houvesse todo um lado financeiro.
Entendo que esse tipo de violência, cometida pelo marido, seja pior que a cometida por um estranho. Porque o marido é alguém que vc confia, que vc ama ou já amou e, como vc disse, que conhece as suas fraquezas. Se vc quiser escrever um guest post sobre isso (não sei se vc já lidou com esse assunto no seu blog), eu gostaria. Porque é um tema tabu. Ninguém fala nisso. Sei que é preciso muita coragem pra admitir que isso já aconteceu contigo. Não sei. Agora, olhando pra trás, havia algum sintoma que serviria de aviso para o que estava por vir? O que uma mulher pode fazer pra saber se não está se casando com um cara errado? Tem alguma coisa que possa fazer?
Ontem a Taia contou uma história parecida nisso de alguém em que ela confiava trair sua confiança, e como é difícil lidar com isso. Como vc passa a desconfiar de todos. Eu tirei dos comentários e pedi autorização dela pra que virasse um guest post.
Vc fez/faz terapia? Me dói muito ao ler que vc se sente “eternamente encolhida”. Não dá pra reverter um pouco? Uma vítima não tem recuperação? Abração, Su. Vc tem toda a minha solidariedade.
Cavaca, pode ser. Mas o Maré e o primo andavam sempre juntos, eram amigos. Vai ver que levavam todas as suas conquistas praquela casa, vai saber. Mas eles achavam que, mesmo no escuro, eu não iria conseguir identificar um homem? Afinal, a visão é apenas um dos nossos sentidos. Tem o olfato, o toque... E eu estava totalmente sóbria!
Mas é esse padrão duplo de sexualidade que não suporto. Pros meninos ela é incentivada. Meninos precisam ter experiência. Acho que até hoje tem pai que paga prostituta pro filho como presente de aniversário. Mas pra menina sexualidade tem que ser reprimida. E é como vc diz: na mesma família, o tratamento pra irmã e pro irmão são totalmente diferenciados. Eu não aceito isso.
Ah, então vc viu Cegueira? Eu vi de novo na sexta e amei mais ainda. Chorei baldes. Tenho que escrever sobre ele novamente. Entendo sua raiva pela personagem não ter tomado uma providência até mais tarde. Mas acho que esse é justamente um dos pontos do Saramago: como pras mulheres ter esse instinto de matar, ferir, tirar vantagem dos outros, não vem fácil, mesmo numa situação desesperadora. Falando assim, sem estar nessa situação-limite, eu acho que tentaria tirar a arma dele. Mas veja a personagem dela: uma mulher submissa. Ela se transforma durante a história, não acha?
Ah, não dava pro Fernando adotar em Ensaio o mesmo estilo de Cidade... São filmes tão diferentes! Mas entendo: muitos críticos reclamaram da satutação de cores em Ensaio. Pra mim não incomodou.
Paula, não estou de forma alguma duvidando da sua história, mas vc não acha que seu comportamento (vc surtou na sala, começou a gritar, tremeu sem parar) seja um indício de alguma outra história de horror que teria acontecido antes disso? Não estou condenando a sua reação: a situação obviamente era perigosa, e a sua reação fez com que vc e sua amiga saíssem dali. Mas uma reação dessas não acontece à toa. Minhas noções mais do que básicas em psicologia acham que vc está reprimindo algum acontecimento do seu passado. O que vc acha?
Tina, pois é, mas não dá pra negar que a sorte seja um componente importante nesta situação. Vamos supor que quem tivesse levado a menina de Joaçaba ao banheiro quando ela passou mal fosse um outro rapaz. Alguém que quisesse ajudá-la, não se aproveitar dela. Aí a história seria diferente, né?
Que legal que vc tenha gostado da minha história, e que vc queira a mesma liberdade pra Nina!
June, é uma falta de desenvolvimento emocional muito grande da parte de algumas pessoas. Falta empatia mesmo, uma incapacidade de se colocar no lugar do outro. Um cara com quem vc ficava te bateu?! Mais uma história de violência. Eu, por sorte, nunca apanhei de homem algum. E o pior é que é sorte mesmo!
Que terrível a sua outra história, June! Pô, eu sei como é em Floripa: todo mundo pega carona pra todo lugar mesmo! É super comum, ainda mais perto da universidade. Eu peguei muita carona na minha juventude, em Búzios. Mas sempre havia algo perigoso no ar. Mesmo quando eram 4 garotas pegando carona num carro com um ou dois caras.
Num caso desses como o que vc narra, o pior é que, se vc der um murro ou um chute no cara, quem corre perigo são vcs! Ele tá dirigindo! Um acidente de carro vai machucar vcs tb. Mas que bom que vcs escaparam. Tinha que anotar a placa do carro do sujeito tb. Se bem que aí fica aquela velha história da sua palavra contra a dele. Como se vcs ganhassem alguma coisa inventando uma história assim!
Lilian, obrigada. Que bom que vc gostou!
Lola, eu só consigo me relacionar com as pessoas sob o nome "Suzana". E não é à toa. Porque se alguma coisa sair errado, "Suzana" some na poeira. "Suzana" não tem telefone, não tem rosto, não tem casa. "Suzana" ainda confia nos outros. A outra não. "Suzana" é aquela que eu fui um dia e que meu ex-marido matou. Hoje, ela só existe por aqui, escondida no meio de milhões de páginas na internet, onde ele nunca vai me achar. A outra veste a máscara todo dia de manhã e apenas vive. Não tem mais ambições, não tem mais força de vontade de levantar e lutar.
Quem sabe um dia eu ainda encontre alguém que me ajude a uni-las de novo.
Su, e eu que pensei que Suzana Elvas fosse seu nome verdadeiro! É um nome que combina contigo. Mas eu acredito em tudo tb. Pensei que Lolla Moon fosse realmente o nome da Lolla.
Mas Su, parte meu coração ver vc falar desse jeito. Até porque o seu alter-ego, Suzana Elvas, não é esse ser frágil que vc descreve como morto pelo seu ex-marido. Suzana me parece uma pessoa forte. E não posso acreditar que “a outra” “não tem mais ambições, não tem mais força de vontade de levantar e lutar”. Afinal, a outra tem duas filhas! E toda vez que fala das filhas se enche de orgulho e amor. Então não é possível que “apenas viva”. Essa Suzana que eu conheço, ainda que apenas virtualmente, parece cheia de vida. E é essa que tem que aparecer.
Conheci seu blog ontem e gostei muito! Fiquei horrorizada com o post sobre os homens que culpam a garota de Joaçaba pelo estupro. Realmente nunca acreditaria que essas reações, apesar de saber que existem, seriam expostas de maneira tão descarada.
Enfim, lendo sobre as histórias de horror, apesar de me considerar muito privilegiada nesse sentido, lembrei que tenho algumas, embora sejam bem menos graves e nenhuma tenha terminado realmente mal (mais uma vez, por sorte). Eu tinha uns onze anos, era beeem ingênua, só queria brincar e morria de medo de crescer, ao contrário de muitas outras meninas. Daí me mandaram comprar alguma coisa no armazém perto de casa numa tarde calorenta. O dono do armazém, que tinha uns quarenta anos, se tanto, era casado e com filhos. E ele, sem mais ninguém por perto, começou a falar do calor, que eu não deveria deixar o cabelo solto, deveria fazer uma "colinha" (rabo-de-cavalo). Ele contornou o balcão e veio demonstrar como eu deveria prender o cabelo, colando em mim contra o balcão! Eu senti, literalmente, que havia alguma coisa errada, eu já tinha lido os livrinhos que os meus pais (que também foram muito bons)tinham comprado sobre educação sexual, mas eu não lembro se eu percebi na época que era o pau duro dele roçando em mim ou se isso foi uma percepção posterior. Ele não me tocou em nada mais, não tentou nada além disso, ficar se roçando, mas o que mais me aterroriza hoje em dia é que eu não fiz nada. Nem sei porque ele não tentou mais nada, se ficou com medo de que chegasse alguém ou algo assim. Mas eu fico imaginando o que teria acontecido se ele tivesse tentado, o que teria acontecido, e pior, se mais alguma menina passou por isso... Eu sei que eu nunca mais fui lá!
Outra que aconteceu comigo foi lá pelos 16 anos. A minha curiosidade sexual mesmo despertou mais tarde, mas que eu gostava de exibir meu corpinho de adolescente e ser elogiada e ficar com os meninos, isso eu gostava. E tinha também um bip, antes dos celulares serem mais acessíveis. E eu andava numa tarde de saia verde justa e meio curta, uma blusinha bordô que mostrava a barriga, e o bip na cintura. E não é que passa uma cara de bicicleta e pergunta se o bip era pra fazer programa? Eu só fiz uma cara muito feia para ele e disse não, e o cara ainda saiu dizendo "Perguntar não ofende"! Isso que eu tinha cara de mais nova, quer dizer, ele achou que uma menina de talvez menos de quinze anos, só por andar de roupa justa e bip na cintura, era prostituta... Enfim, às vezes eu fico com essa mesma sensação, de que o mundo está regredindo, e não só em relação às mulheres, mas espero que exista alguma saída, um dia...
Oi Suzana, vc agora me assustou. É óbvio que o que aconteceu contigo justifica o teu medo das pessoas. A cena do amigo espantando o mosquito eu reconheço em mim sob outra roupagem/situação. Mas a tua desilusão me comove muito. Sei que esquecer é impossível, mas acredito que a dor pode ser "trabalhada". Então, sem querer me meter, mas já me metendo, penso que vc poderia procurar ajuda, sob a forma que te acalente mais o coração: terapia, grupo de apoio de pessoas que tb passaram por isso, etc. Pelo teu blog fica óbvio que vc é muito inteligente e perspicaz em observar a realidade, aproveita essa capacidade pra reconquistar a confiança em ti. Se a Lola publicar o meu comentário de ontem a noite que ela retirou talvez vc consiga entender melhor o meu ponto de vista. Mas de qualquer modo muita força menina, não desiste de ti nuncaaaa.
Haa... tb uso apelido em vez do nome real, nos primeiros comentários optei pelo apelido de infância pq não sabia bem "aonde estava me metendo", hehe. Depois continuei com o apelido pq já era assim que me conheciam por aqui. E tb pq (espero que a Lola não leia essa parte, hehe)não quero perder por nada a "cara" da Lola se algum dia nós formos apresentadas pessoalmente. O que não é impossível morando na mesma cidade e festejando o mesmo prefeito eleito.
Bjsss
Taia
Lola, não quis dizer que isso é pior no Brasil; senão, o que falar de alguns países do Oriente Médio, África, por exemplo?
O que eu quis dizer é que infelizmente, nossas leis são sim mais "brandas" com esse tipo de crime, e isso eu digo como advogada brasileira, tenho pouco (pra não dizer nenhum) conhecimento de leis sobre o assunto em outros países. E as leis que um país produz são reflexo da cultura de seu povo.
Já vi casos e casos de mulheres, e até mesmo meninas, que denunciaram estupros e foram tratadas como as criminosas do caso, porque "seduziram", "provocaram" o estuprador. Essa, aliás, é a linha de defesa majoritariamente adotada pelos advogados dos réus nesses processos. Muitos são inocentados.
Lembro até de ter lido em algum jornal durante o caso Eloá que a polícia não invadiu e atirou no cara antes porque "ele é um cara apaixonado, deprimido, que perdeu a cabeça". Isso é conivência. Conivência com um sujeito armado e descontrolado. E a gente sabe como acabou a história.
Lola, esta história de joaçaba é impressionante.
lola, dou-lhe os parabéns pela coragem de se expor neste texto. tendo em conta há quantos anos se passou este acontecimento, não há de modo algum uma devassa da sua privacidade, mas de qualquer maneira, não deixa de ser uma coisa da sua intimidade.
o exemplo que dá é importante para as mulheres perceberem que os sentimentos de culpa que muitas vezes as atormentam são culturalmente induzidos e não correspondem a uma culpa real.
é claro que é importante que saibamos, no nosso comportamento, defender-nos e reduzir ao máximos os riscos, mas se não corrermos riscos não vivemos.
Como Suzana, Taia, e tantas outras,
eu também uso apelido para me esconder. Não deveria precisar, pis adoro meu nome.
Vivo com medo há quase quinze anos. Casei-me com outro, e ainda tenho medo. Meu marido também acha melhor que eu me esconda.
Estou chorando de ler todos esses comentários, e de ver quantas somos.
Me lembrei agora de uma história. Qdo tinha uns 16, 17 anos, foi numa festa num lugar afastado, um morro da cidade. Lá bebi muito vinho, fiquei bem bêbada, acho que foi uma das poucas vezes que fiquei assim, estava com um rapaz, que já era conhecido meu e de meus amigos. Ele, percebendo que eu estava fora de mim, falou pra amigas que estavam comigo: "leva ela embora." E pensar que, diante dos fatos de Joaçaba, ele foi decente. Eu estava bem fora do normal, ele poderia ter tentado algo, mas não, quis que eu fosse embora, e com as amigas, não com ele. Isso numa cidade pequena, ele não teve medo de ficar com fama de "viado." Quero crer que o comportamento dele era regra, não exceção.
Esse meu ex, que foi o 1º, as vezes tentou me forçar a transar sem vontade. Nunca cedi. Era difícil viu, não éramos casados - eu nem pensava nisso, mas eu ficava num dilema - parecia que devia isso a ele, como se ele estivesse comigo só pelo sexo. Felizmente tive força pra não ceder.
Quero me solidarizar com todas as mulheres corajosos aqui, que já passaram por tanta coisa, e nada de desmerecer nossas dores não. Cada uma sabe sentimento pelo qual passou, não fiquem nessa "mas foi só isso, foi tão pouco" violência não pode ser medida matematicamente.
Suzana, Taia, Camomila, admiro vcs, vc são muito fortes e inteligentes.
Eu tenho duas histórias de horror, pessoais, tenho mais algumas de amigas, muito queridas, infelizmente.
Infelizmente percebi isso ao ler seu post! Perceber que você já vivenciou histórias assustadoras, que muita gente só conhece nos jornais e outras acham que é lenda urbana...
A mais séria de todas envolve uma exposição maior do que ainda tenho coragem - mas vou falar sobre ela, um dia, num post, sinto que preciso falar disso, não para mim, mas para evitar que outras passem pelo que passei.
E tem uma, de quando eu tinha 15 anos. Não, eu não tinha minha sexualidade bem resolvida (muito fruto da história anterior), era virgem e estudava em um colégio de freiras extremamente repressor. - fui a uma festa na casa de um amigo, e lá me deram um copo de coca-cola, depois, como a festa estava chata, o namorado de uma amiga convidou eu e essa amiga, mas um outro cara, que não conhecia, para darmos uma volta de carro.
Minha memória fica meia confusa nessa hora, mas lembro de começar a ver tudo dançar, as luzes ficando mais fortes e eu não tendo mais controle sobre minha voz e corpo.
Reconheci vagamente que estávamos indo para o Alto da Boa Vista (um lugar bem deserto).
Eu sabia que tinha algo errado,principalmente, por que o cara que estava ao meu lado, ficava tentando me acariciar, eu lutava com o resto das forças que tinha, mas não conseguia raciocinar, tentava avisar minha amiga, mas a voz saia enrolada...
Então o carro parou em um lugar deserto e minha amiga ia saindo com o namorado, me deixando só com o desconhecido, mas, talvez por que nosso grau de amizade gerasse quase uma telepatia entre a gente, ela parou e perguntou se eu estava bem.
Eu não consegui dizer nada, só grunhi alguma coisa, que ela entendeu como socorro.
Então, ela começou a gritar com o namorado, com o amigo do namorado e exigiu que levasse a gente para casa. Eu apaguei ai.
Acordei no hospital, descobrindo que tinham colocado ácido na minha coca-cola. Naquela noite, escapei de algo terrível, ou melhor, eu e minha amiga escapamos. (infelizmente, um ano depois, eu não pude estar ao lado dela, quando ela foi vítima de uma violência maior, mas essa faz parte de uma outra história de terror.)
Gente, força aí!
Muito bom o post Lola,vc escreve muito bem. devia escrever para cinema . Mas quanto ao post é realmente triste esse horror que carregamos dentro nós mulheres, mas é real. Fiquei lembrando das minhas história que queria deletar....a inocência e o perigo. Homens e monstros.Tenho uma filha de 16 e é inegável que o horror segue gerações. Um abraço
Brilhante, minha diva Lola.
Sou uma leitora, um pouco mais nova ( tenho 20 anos), mas imagino, se sofro com esse tipo de coisa hoje (no tempo moderno, sem frescuras, e dito liberal), imagine há 25 anos atrás.
Pelo que li, concluí que toda essa força deve ter vindo da sua mãe, que a meu ver, parece ser uma mulher linda, no sentido mais puro da palavra.
Sempre fui o tipo de pessoa passional.
Muitas vezes fui, e ainda sou julgada por isso.Faço o que quero, quando sinto vontade.São os meus sentimentos que importam, e não o que será dito por aí.
E em relação à sexo não é diferente.
Quando leio seus textos, ocorre o que você mesma disse, uma sensação de liberdade.
Lindo.
Ariadne, legal vc ter chegado aqui! Pois é, tb me custa crer que tanta gente culpe a vítima por um estupro. Bem terrível a sua história. Com onze anos não tem muito que a gente possa fazer. Quer dizer, se mesmo quando a gente é adulta ainda fica a dúvida “Será que o que ele está fazendo é errado?”, imagina com uma criança. Com 11 anos, eu já sabia como se faziam bebês, claro, mas duvido que soubesse o que era uma ereção. Mas pelo menos vc teve a intuição de nunca mais ir lá. Claro que um cara desses precisaria ser denunciado, porque é um pedófilo, mas esperar que uma criança o denuncie é querer demais. Criança costuma obedecer adultos. É o que faz a pedofilia ainda mais horrível, mais covarde.
E legal, né? O cara pergunta pra uma menina de 16 anos se ela é prostituta, se seu corpo está à venda, e aí ainda diz que “perguntar não ofende”?!
Espero que haja alguma saída tb. Apareça sempre!
Taia, o seu guest post eu vou pôr na quinta, ok? É o dia que publico os guest posts. E Marjorie, o seu virá na quinta da semana que vem. Sei que estou super atrasada! Os dois posts são muito interessantes. Ah tá, Taia é apelido. Eu confio cegamente em tudo que me dizem, então pensei que fosse seu nome. Opa, a gente precisa se conhecer, ainda mais se mora na mesma cidade. É bem fácil: é só aparecer no cinema às sextas, lá pelas 19 horas. Estou (quase) sempre lá. Geralmente rindo com os gerentes antes da sessão começar.
E Su, querida, espero que vc esteja fazendo terapia. Eu fiz terapia (em grupo) pela primeira vez. Foi apenas um semestre, antes de eu ir pros EUA. Adorei! Algum dia escrevo um post sobre essa ótima experiência.
Srta.t, ah, tá, eu tinha entendido que a cultura brasileira favorecia o estupro. Agora eu concordo: nossas leis são brandas. Precisam ser mudadas. Mas já mudou muita coisa. Vc se lembra da “legítima defesa da honra” no final dos anos 70? Pelo menos isso não existe mais.
Queria até perguntar pra alguma advogada: no caso em que contei, se eu tivesse transado com o primo do Maré sem saber, pensando que fosse o Maré, e descobrisse depois que era o primo, isso constituiria estupro? Tenho essa curiosidade.
Sarah, obrigada pelos parabéns. É, eu me senti bem expondo minha intimidade, e não sabia se era bom fazer isso. É que vejo TANTA gente que tem blog usando pseudônimo que penso: será que eu tb deveria me expor menos? Aqui tem o meu nome inteiro, foto, foto de casa, por pouco não tem endereço...Mas eu realmente não tenho o que esconder. E imagino que eu sou insignificante demais pra alguém querer me fazer mal. Mas minha idéia ao me expor foi justamente essa: mostrar que não temos culpa. Eu realmente pensei nesse meu caso durante anos. Ficava envergonhada, achava que tinha culpa. Mas, sinceramente, o que foi que eu fiz de errado? Nada. A não ser pra quem considera que uma menina não deve transar antes de casar. Não dá pra viver sem riscos, concordo totalmente.
Camomila, ah, querida, eu tb fico bem emocionada às vezes. Que horror que é isso de viver com medo. Acho que um pouquinho de medo toda mulher tem porque, com tantas evidências de que a violência contra nós realmente acontece, seria impossível não sentir medo.
Lila, acho que o comportamento do seu amigo é regra sim, não exceção. Exceção foram aqueles “amigos” da menina de Joaçaba. No fundo, eu não acredito nem que todos esses rapazes que escrevem nos comentários de sites que gostariam de ter estado lá porque “comeriam” a menina também realmente fizessem uma monstruosidade dessas na vida real. Falar é fácil. Na hora, imagino, torço, espero, que a humanidade deles viria à tona. E eles apenas ajudariam a menina. Porque pensa só: eles foram criados pra serem humanos, pra ajudar pessoas que precisam de ajuda, não? Não foram criados pra tirarem vantagem de pessoas indefesas. Será que numa hora dessas a educação que receberam não falaria mais alto?
Patricia, pois é, é interessante que as pessoas leiam os nossos relatos pra saberem como isso é corrente. Faz parte do passado (com sorte, é passado!) de tantas mulheres... Não é lenda urbana. Não é fruto de uma só mulher irresponsável. Só se todas nós formos responsáveis por sair de casa, ué (não que não exista perigo dentro de casa tb).
Que horror, Pat, colocaram ácido no seu refrigerante?! Menos mal que sua amiga estava lá e pôde te ajudar. Porque, numa situação dessas, já não havia nada que vc pudesse fazer.
Deve doer muito pra vc não ter conseguido ajudar a sua amiga quando ela enfrentou a sua história de horror. Muito, muito triste isso.
Obrigada pela força, Luiz!
Iza, obrigada pelo elogio. Horrível isso da violência contra a mulher continuar sendo transmitida de geração pra geração. Como interromper esse ciclo pra que as próximas meninas de 16 anos não tenham histórias de horror pra contar?
Cherry, bom, às vezes eu penso na declaração do Boy George. Não sei se vc já ouviu falar dele, certamente não é da sua época, mas é da minha adolescência. Ele era um artista que cantava vestido de mulher. E fazia bastante sucesso. Quem viveu os anos 80 se lembra do Cama-cama-cama-chameleon. Então, hoje em dia ele é muito menos famoso, mora na Inglaterra, e trabalha como DJ ou algo assim. E continua se travestindo. Um jornalista perguntou pra ele se nos anos 80 ele sofria muito preconceito, e intuiu que, no século 21, não haveria preconceito algum. O Boy George respondeu: “Are you kidding?! Nos anos 80 eu senti muito mais tolerância do que hoje”. Às vezes eu me sinto assim tb, como se tivéssemos regredido. Espero estar errada.
Minha “força” veio dos meus pais. Gostei muito da criação totalmente liberal que recebi. Se eu tivesse filhos, os educaria da mesma forma.
Ah, eu não aceito ser vigiada, julgada, punida, e viver sem liberdade só porque nasci mulher. A gente tem que lutar contra essas estúpidas amarras sociais.
Que ótimo que vc se sente ainda mais livre ao ler os meus textos. Esse é um grande elogio.
oi lola. olha, se aconteceu alguma história de horror antes dessa eu reprimi muito bem, porque eu não me lembro. eu sei que eu me senti muito ameaçada naquela situação, três homens, três mulheres, como se eu fosse a próxima a transar e eu não queria de jeito nenhum.
eu falei que eu surtei querendo dizer que eu fiquei nervosa a ponto de tremer de raiva. beijos!
Bem, Lola, ele não bem amigo. Estava ficando com ele, por isso que contei a história: era virgem e inexperiente, estava bêbada, estávamos ficando, era um lugar afastado, fora da cidade.
Foi um risco, ele poderia ter aproveitado a minha embriaguez para me abusar. Graças a Deus não aconteceu nada.
E apesar de estar no meio de amigos, pensando em casos com esse de Joaçaba e tantos outros parece que fui muito sortuda.
Eu sou uma das únicas que não tem uma história de horror pra contar. Talvez por pura sorte, talvez por ser tão informada e alerta. Mas pra mim ter que ficar nesse estado de alerta constante já é uma violência imensa. Sinto que nunca posso baixar a guarda. E toda vez que vejo histórias mulheres que passaram por situações violentas, dói como se fosse em mim.
Lola, no teu caso nao seria estupro, mas "posse sexual mediante fraude", prevista no Código Penal no art. 215:
"Ter conjunção carnal com mulher, mediante fraude: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de 2005)
Pena - reclusão, de um a três anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado contra mulher virgem, menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de dois a seis anos"
O estupro presume sempre a violência ou a grave ameaca, ou seja, a mulher nao consegue se defender e é forcada à relacao sexual, seja por medo, imobilidade física, dor ou qualquer outro estado que a impossibilite de evitar a penetracao indesejada.
Nao tenho nenhuma historia muito horrivel para contar, mas varias desagradaveis. Como uma vez que fui ao motel com um "ficante" e depois de transar (no meio, para ser mais exata), nao sei por que, eu fiquei incomodada com alguma coisa e quis ir embora. E logico, nao queria transar de novo (ele nao foi violento nem nada, soh me senti desconfortavel). O cara ignorou, tentou insistir para eu ficar, meio puto porque jah tinha pago o motel e queria aproveitar, dormir, sei la. Eu levantei, sai sozinha e peguei um taxi na frente do motel. Nao aconteceu nada demais, mas me senti indefesa, achei uma falta de respeito.
Mas ai entra uma outra opiniao minha: acho sempre muito arriscado se meter na casa das pessoas ou mesmo em moteis com estranhos. Existem pessoas malucas ou desrespeitosas no mundo, e por causa do desequilibrio de poder entre homens e mulheres, a gente sempre fica a merce do maluco, e quase nunca o contrario. Por isso, Lola, acho que o que vc fez indo para a tal casa vazia foi arriscado. Nao errado, logico que nao. Mas vc partiu da premissa de que as pessoas sao legais e respeitadoras, o que nao eh verdade. Quando eu era solteira, nunca fui para a casa de nenhum casinho - era so motel, porque de alguma maneira eu me sentia mais segura (como nesse caso que eu citei - seria mais dificil sair se fosse na casa dele). Como explicar para as filhas que transar nao eh errado, mas ficar sozinha com quem vc nao conhece, isso sim eh perigoso?
Quando eu era adolescente, fiquei com varios meninos da mesma escola que eu. Eu era virgem, nao transava com ninguem. Soh ficava, dava uns beijinhos. Lembro de ter ficado com um desses meninos em Buzios, e ele ficou puto comigo porque eu nao deixei "passar a mao." Eu tinha 16 anos, nao queria, mas ele achou que era um direito dele.
Outra historia: eu tinha uns 17 anos, fomos para um churrasco em Teresopolis. Eu ainda era virgem (so fui deixar de ser com 19), fiquei com um garoto que estava tao desesperado que o tempo todo eu soh me esquivava das tentativas dele. Ainda chamaram a gente para dormir lah, e aih eu fiquei assustada, achando que nao ia conseguir me desvencilhar. Acabamos eu e minha amiga indo para a rodoviaria, pegando um onibus e voltando pro Rio. Mas sei la, a minha propria passividade nessa historia foi absurda. Como assim "nao vou conseguir me desvencilhar?" Eu ja devia ter engrossado com o garoto logo no comeco, deixando claro ate onde eu ia e ate onde eu nao ia. Sei la porque agi assim...
Um amigo meu foi pro motel com uma garota - segundo ele, depois de ela provocar bastante, falar um monte de coisas de duplo sentido, etc. Quando chegaram lah a garota entrou em panico, disse que era virgem, que queria ir embora. Ele levou ela para casa e ficou tudo por isso mesmo (eh um cara decente). Mas o ponto eh: ela se arriscou fazendo isso! O cara pagou o motel (por que eh sempre o homem que paga?), se fosse outro cara ela poderia ter tido problemas.
Aih entra novamente o meu medo de "ficar sozinha com pessoas desconhecidas." Sera que na Suecia eh diferente? Quero muito acreditar que la vc pode ir para a casa de um cara sem que ele ache que tem algum "direito" sobre vc.
Lola, eu realmente não sei o que dizer...
Acho que por seu texto ter desperado alguns de meus fantasmas, ou me deixar mais amargurada ao pensar no futuro da Ciça - tipo, quando acontece com um estranho, que você acompanha no jornal, é uma coisa, mas, acontecer com uma pessoa que você "conhece", toma uma proporção maior, mais profunda e, claro, a gente não tem como fingir ou mesmo tentar encobrir o sol com a peneira.
Também tenho minhas HISTÓRIAS de terror, que aos poucos, estão sendo contadas e estou aprendendo a lidar com elas, via terapeuta.
Mas, é fogo...
Beijos atôintos.
Nada como uma boa noite de sono pra fortalecer os neurônios...
Me lembrei de um dado interessante, que anula essa perspectiva de que "as mulheres provocam", responsabilizando suas atitudes pela violência machista.
Alguém já ouviu falar de violência sexual em campos naturistas?
Ou seja, nós homens somos, mesmo, CULPADOS, até prova em contrário
Lola, que história assustadora! Ainda bem que terminou tudo bem, e que sua família é maravilhosa!
Eu ia responder, mas a Camila já falou: se você tivesse transado cmo o primo achando que era o ficante, o crime seria posse sexual mediante fraude. Por curiosidade, veja o código penal a partir do art.213 e admire os progressos legais (mínimos) desde 1940 na área de liberdade sexual.
O problema não é a 'lei branda' (que de branda não tem nada, mas isso é outra história). O problema é que a gente não consegue cumprir a lei. É policial que se recusa a fazer boletim de ocorrência, é delegado que se recusa a investigar e ainda tripudia da vítima, juízes e promotores fazem julgamento moral e minimizam todos os argumentos da vítima, se recusam a condenar só porque é ciúme é prova de amor, blablablá... o que falta é mais pressão e publicidade, no estilo "quem ama não mata", pra forçar o cumprimento da lei. Não adianta ficar querendo aumentar pena, até porque aí os 'moços da lei' ficam com dó do pobrezinho e aumentam as chances de ele escapar impune...
Esse ponto levantado pela Cintia eh muito importante. Imagine se a Lola tivesse transado com o tal primo. E se ela fosse para a policia fazer queixa, pedir punicao para o cara. Iam colocar a culpa nela, nao tenho duvida nenhuma. Ai ai, que mundo...
Compartilhando histórias de horror: eu e minha irmã no cinema, início da adolescência. Um rapaz sentou do lado dela, e ficou a encarando. Ela não me falou nada, mas no final do filme foi ao banheiro pra limpar a calça. O animal ficou se masturbando e ejaculou na roupa dela!!! Minha mãe ficou horrorizada, proibiu a gente de ir ao cinema, mas nem precisava...
Outra: nos jogos jurídicos, a minha faculdade levava 4 ônibus e fechava um hotel pra todo mundo. Em uma das viagens, em uma época em que ninguém tinha celular, o único hotel disponível ficava na cidade vizinha. Meu namorado ficou na cidade pra jogar (ele fazia parte da equipe de xadrez), e eu fui pro hotel escolher quarto, levar as malas, etc. O combinado era que depois iria todo mundo pro local dos jogos, com saídas dos ônibus em horários predeterminados. Optei por ir no último ônibus, porque estaria menos tumultuado(eu estava com braço engessado!) e porque podia descansar um pouco da viagem antes de ir pra torcida.
Qual não foi a minha surpresa ao descobrir que, na hora marcada, não tinha mais ônibus? O povo mudou de idéia, foram todos embora antes e não me avisaram! Conheci a namorada de um dos caras da associação atlética, que também tinha ficado pra trás, e que estava assustadíssima com o hotel deserto. Apareceram uns caras que se diziam da faculdade, pra lá de bêbados, pra nos encher a paciência. Falaram que estavam vindo dos jogos, contaram que nossos namorados estavam furiosos porque a gente não cumpriu o combinado e não foi vê-los jogar (e descreveram os namorados corretamente), queriam que a gente bebesse e ficasse flertando com eles, porque os namorados eram uns idiotas de deixar a gente pra trás... foi horrível. E o lugar estava deserto, se tentassem alguma violência, não tinha quem nos socorresse. Nós nos trancamos no quarto dela, choramingando de medo e falando de amenidades pra ver se o tempo passava mais rápido.
Por fim, um dos ônibus chegou lotado. Meu namorado não apareceu. O namorado da menina (nem lembro o nome dela, que vergonha) chegou e ela contou o que aconteceu. Eles fizeram questão de ir no meu quarto e explicar que o meu namorado viria no ônibus seguinte, que ele ainda tinha um jogo no fim do dia.
Quando namorado chegou, estava preocupadíssimo e reclamou por eu ter sumido. Quando contei o que tinha acontecido no hotel, ele ficou indignado, porque NINGUÉM tinha ficado furioso por a gente não ter ido no ônibus. Pelo contrário, eles estavam preocupadíssimos, porque não conseguiam ligar pro hotel nem ter notícias. Desfeito o mal entedido, ficou tudo bem, mas NUNCA mais a gente se separou em viagem nenhuma. E, se o lugar aparenta ser deserto, eu fico mais alerta do que o normal...
A cerejinha do bolo: enquanto o namorado estava preocupado comigo, os colegas ficavam falando que ele era bobo de se preocupar, que eu devia estar transando com a outra menina, e estava tudo bem. Tendo em vista que poucas vezes eu fiquei com tanto medo na vida, como podem ser tão insensíveis e brincar com uma coisa dessas?
Esse estado de alerta se incorporou na nossa vida de mulher.
Lendo a história da Ariadne me lembrei de uma história de horror também,eu estava indo comprar cerveja pro meu pai,saí de casa com um short curto,afinal tava um calor infernal,e no caminho tinham dois caras lavando a calçada,eles deviam ter bem uns 40 anos,e me cantaram!o absurdo já estaria na forma vulgar como eles fizeram,mas fica ainda pior porque eu devi ter o que? uns 11,12 anos?e com certeza tinha cara de menos.
A outra história essa mais recente foi que eu estava andando na rua e um cara veio da rua (eu estava na calçada) e ele veio andando na minha direção e meio que foi me empurrando,como se quisesse me imprenssar na parede,e um monte de gente na rua e ninguém fez nada!e tem mais,lembrei agora de uma mais antiga,eu tinha 9 anos na época e estudava num colégio de freiras,estavamos formados pra cantar o hino,mas não sei porque atrasou,e nesse meio tempo,um garotinho que devia ter a minha idade,se não era mais novo veio e passou a mãe na minha bunda!o pior foi depois,quando o inspetor veio me perguntar se ele tinha feito alguma coisa comigo,sabe o que eu respondi?Ele não fez nada!eu fiquei com vergonha de dizer.Hoje eu sinto vergonha de não ter dito a verdade.E a última história que eu me lembro eu já relatei aqui e no meu blog,quando um cara passou a mão em mim numa rua movimentada.
Acho que é principalmente por essas coisas que eu não gosto de sair com roupas curtas de casa,mesmo que esteja calor,as vezes prefiro sair desconfortável do que mostrar o corpo,eu sei que é rídiculo,já que os homens deveriam me respeitar independente do que eu vestisse,mas não consigo parar de agir assim.O comentário da Suzana também me fez pensar sobre o meu Nick,acho que é pelo mesmo motivo que ela que eu não gosto de escrever meu nome,nem no meu blog.Pra todos os efeitos Princesa não tem sobrenome nem telefone,me sinto mais segura assim.Sabe que eu acho isso tudo muito triste?sei lá,eu com 18 anos não deveria andar tão assustada por aí,mas infelizmente é o que acontece.Até evito sentar perto de homens nos ônibus.
nao costumo comentar mas ja q todas estao contando suas historias, eu q nao tenho muitas resolvi contar uma recente.
tava no onibus voltando pra casa e entrou um daqueles pedintes com papelzinho contando seu drama, foi distribuindo e qd chegou na minha vez eu fiz q nao ia pegar mas peguei o papel pq percebi q ele era deficiente(mudo e tinha dificuldades motoras apesar de andar quase normalmente) aí fiquei como sempre distraída olhando pela janela, qd voltou pra recolher os papeis ele parou ao meu lado e insistiu pra q eu desse algum dinheiro, coisa q eu nao tinha na hora, entao fiz um gesto de sinto muito e continuei olhando a janela, aí ele pegou violentamente o papel da minha mão e fez um gesto obsceno. Na hora eu só lembro de ter ficado surpresa mas nao liguei e continuei olhando a paisagem, qd chegou meu ponto eu desci e senti algo molhando no meu braço, na hora pensei q alguem tinha me jogado agua ou um passaro tinha me acertado, fui pra casa e só muito tempo depois fui me tocar q o mudinho tinha cuspido em mim! ele resovleu ficar no onibus todo o trajeto quase ate o fim da linha só pra cuspir em mim. nao sei se fiquei mais impressionada com a violencia dele ou com a minha leseira.
enfim, me chocou tbm pq ter vindo de alguem q supostamente tbm é uma vitima da sociedade e da sua condição, mas aí lembrei de outro episódio em q um homem tbm deficiente q se arrastava no chão do onibus pedindo esmola chutou uma mulher q descia do coletivo provavelmente pq negou dinheiro pra ele. nisso eu percebi q nem os homens deficientes deixam de cometer atos violentos.
lola, adoro teu blog :)
Gostei disso e até que enfim aguém teve a coragem de dizer o que nós mulheres sofremos no dia-a-dia. Olha, Lola, vou ler todo o texto daqui a pouco, mas já adianto que gostei muito do tema. Eu já passei por várias e desde pequena, afinal de contas, sou carioca e infelizmente minha cidade é cheia de perigos. Talvez a vantagem (ou seria desvantagem?) é perceber isso cedo e usar isso como arma pra defesas futuras. Quando conto isso ao meunamorado ou quando contava aos ex, eles tendiam a achar q eu exagerava. Pois sim. Homens são por demais ingênuos. Não estão e nem nunca estarão na pele das mulheres. Nem nós na deles, but... é bem diferente.
Lola foi muito bom eu passar por aqui para dar uma conferida nos assuntos.Não tive coragem de ler os relatos das leitoras que eu achava que iriam contar tambem suas histórias de constrangimento. Vou repetir o que
disse uma leitora e foi confirmado por outra:
"Talvez por pura sorte, talvez por ser tão informada e alerta. Mas pra mim ter que ficar nesse estado de alerta constante já é uma violência imensa. Sinto que nunca posso baixar a guarda. E toda vez que vejo histórias mulheres que passaram por situações violentas, dói como se fosse em mim."
Na verdade Lola, em meu caso, escapei de situações de alto risco, por pouco.
E o tal "estado de alerta constante" de que sua leitora Elyana cita, e Iza concorda, é horrível.Na verdade fui educada para TER MEDO. E tenho medo. E o medo que as mulheres sentem, está contagiando tudo. Uma sociedade com medo, tornar-se-á gradativamente violenta. Gostei da opinião de Cavaca porque ele tentou mostrar,
como talvez tenha raciocinado o
teu namoradinho, ou seja : para ele,assim como para vc, o interessante era experimentar e,
o deleite, segundo a idéia dele, poderia ser repartido com o primo.
Lola não houve uma violência pròpriamente, e nem você ficou traumatizada, graças a uma educação
muito saudável. Entretanto o que
aborrece a gente é esta facilidade que se tornou práxis: USAR uma COISA chamada mulher. Abraço da Fatima.
Paula, bom, que bom que não aconteceu mais nada. Desculpe te pressionar, é que achei o seu comportamento naquele caso que vc narrou um pouco exagerado. Pareceu que tinha engatilhado a lembrança de algo ainda mais sério. Bom, menos mal que a sua reação, mesmo um pouco exagerada, tenha te livrado de uma situação que podia ter ficado feia! Só de pegar carona com alguém que tá bebendo eu já acho um perigo! Abração.
Lila, que bom que não aconteceu nada. Ainda bem. Hoje eu tava procurando imagens pra colocar no post de amanhã e nem te conto o que encontrei: parece que “date rape” de carinha colocar coisa na bebida da mulher é tão, mas tão comum nos EUA, que alguns homens consideram essa o “American way”. Era algo como: “o que vc faz se a Mulher-Maravilha estiver desarcordada? Vc a despe e a come”. Incrível, não?
Elyana, que ótimo que vc não tenha uma história de horror. Concordo que a gente tenha que ficar em alerta constante, sem poder baixar a guarda. Mas é uma droga viver assim, não?
Camila, obrigada pela informação! Acho que nem conhecia isso de “posse sexual mediante fraude”. O que mais constituiria fraude?
E estupro é sempre com penetração, certo? Se não houver penetração mas houver outras formas de sexo é atentado violento ao pudor, é isso?
Barbara, olha, eu fui a motel pouquíssimas vezes na vida. Pensando bem, só uma que não tivesse sido com o maridão. E foi uma situação muito estranha: já pensou ir a motel a pé? Foi assim. E o motel era chinfrim, de cara encontrei uma baratona no quarto. Muito difícil transar assim. Acho que o preço do quarto deveria ser dividido, a não ser no caso de um trabalhar e o outro não. Mas, sinceramente, realmente encorajo os pais a deixar que o filho/a traga os namorados/as pra transar em casa. Só isso já evita mil e um problemas. É muito mais seguro. Se, naquela ocasião em Búzios, eu tivesse usado o quarto que eu tinha na nossa casa alugada, isso não teria acontecido.
Ah, então vc conhece Búzios tb?
Sobre a sua história aos 17 anos em Teresópolis, é duro pra gente não ser passiva. Fomos criadas assim. Criadas pra sermos boazinhas e educadas sempre. Acho que, às vezes, a gente precisa ser curta e grossa mesmo. Deixar muito claro que não tá a fim e pronto. Claro que nem isso é garantia que o cara vai entender que “no means no”.
Eu imagino que na Suécia deve ser um pouco diferente porque a igualdade entre os sexos é maior. E porque a violência, de forma geral, é menor. Mas claro que lá ocorrem estupros tb.
Chris, então, eu pensei nisso agora: se eu tivesse filha pequena, a colocaria pra aprender alguma arte marcial! Sério mesmo. Alguma defesa pessoal. Parece importante pra gente. Que bom que vc está aprendendo a lidar com suas histórias de horror, Chris. Nem pensei que vc as tivesse, porque vc é tão centrada na sua filhinha... Tão feliz!
Puxa, Gio, ótima sacada essa sua. Vou usar prum post. Aí a gente já aproveita pra falar sobre naturismo tb (um assunto do qual não sei nada).
Cynthia, é verdade, o problema não é a lei ser branda. Pô, mas não parece que tem bastante publicidade? Todos os casos precisam ter uma repercussão como o da Eloá e o dessa menina de Joaçaba pra que o acusado seja condenado? Bom, eu nunca quis aumentar pena pra crime algum. Só quero que a lei seja cumprida.
Barbara, pois é, ia ser uma palhaçada. Ninguém iria querer acreditar em mim. Num caso assim eu teria tanta vergonha, me sentiria tão culpada, que duvido que iria para uma delegacia. Se eu já me senti culpada por muito tempo sem que nada tenha acontecido, imagine se tivesse...
Cynthia, que horror! Mas como que sua irmã não falou nada? Num lugar público como um cinema, tem que fazer um baita de um escândalo. Como uma leitora disse que uma amiga disse: “Vai bater punheta em outro lugar, tio!”. Algo assim. Pô, nenhuma mulher deveria ficar sentada ao lado de um cara que tá se masturbando.
E esse episódio do hotel deserto deve ter sido muito apavorante, mesmo. Mas o que mais me revoltou foi a sua cerejinha do bolo: duas mulheres passam por uma experiência traumatizante e os amiguinhos ficam fazendo piada, é? Isso é privilégio masculino ou não é? Que mundo diferente o deles...
Iza, sem dúvida. Não dá pra não estar sempre alerta.
Princesa, não, se já é o fim os homens falarem besteira pra mulher adulta, pra criança, então, acho que é até crime, não? Cadê as minhas queridas leitoras advogadas? E aí, gente, é crime um homem adulto FALAR coisas indecentes pra uma criança de 12 anos? O que pode ser feito num caso desses?
Eu odeio todos esses casos em que a gente é agredida na frente de todo mundo e ninguém faz nada! Porque a gente vive numa sociedade, tem a ilusão (às vezes parece ilusão) de pertencer a uma comunidade. E aí, quando precisamos de ajuda, ela não vem. Eu fico indignada com isso.
E sobre a sua terceira história, a dos 9 anos: é muito interessante como a gente aprende desde cedo a achar que a culpa é nossa! Vc não falou nada por inspetor porque se sentiu culpada pelo menino ter te passado a mão, ou porque vc achou que não foi tão sério, ou as duas coisas. Ou vc simplesmente estava atordoada demais pra reagir naquele momento.
Sobre não querer mostrar o corpo, eu não acho nada ridículo. Nessa sociedade em que a gente vive, em que somos acusadas de “provocar” os homens, eu jamais acharia errado uma mulher não querer usar roupas curtas. Mas obviamente, os homens deveriam nos respeitar independentes de nossas roupas. É muito triste sim, Princesa, que uma menina de 18 anos já esteja tão assustada e desconfiada. Mas é duro adotar outro comportamento num mundo que nos agride tão constantemente.
Sookie, que bom que vc comentou! Muito interessante isso que vc contou sobre os pedintes agredirem mulheres. Porque pensa só: eles agrediriam homens? DUVIDO! E não entendo toda essa agressão. Quem pede deve ouvir centenas de “não” todo dia. Por que descontar sua frustração justamente numa mulher? Eles não cuspiam ou chutavam todas as pessoas que recusavam lhes dar esmola! Como que eles escolhiam suas “vítimas”? Bom, Sookie, agora que já comentou uma vez, comente sempre, vai!
Gi, que bom que vc gostou. Acho este um tema importante. Até porque a gente tende a se culpar e achar que só aconteceu com a gente. Quando notamos que não, não é pessoal, acontece com a maior parte das mulheres, percebemos que a culpa não foi nossa. E pros homens é bom ler esses relatos porque, como eles não passam por isso, acham que exageramos, buscamos cabelo em ovo... Abração!
Fátima, querida, obrigada pelo comentário. Concordo totalmente com tudo que vc disse. Realmente já é uma violência não poder baixar a guarda jamais. Ser educada pra ter medo também é uma violência. Afinal, um mundo utópico seria um mundo de paz, sem tensão, em que todo mundo andasse relax, zen, sem se preocupar com nada. Só paz e amor. O oposto disso é a paranóia e a violência. É o mundo em que vivemos. Abração, que já é uma da manhã e estou caindo de sono em frente ao computador!
Lola, tem que ter MUITA publicidade, e gerar sentimento de indignação. Cada punição tem de ser muito divulgada. Do contrário, continua tudo do jeito que está: mulheres sendo ridicularizadas e mal atendidas ao denunciar os crimes, juizes coniventes, e impunidade...
No caso do cinema, a gente era muita nova, sem nenhuma maldade nem educação sexual. Depois desse episódio é que meus pais caíram na real, entenderam que já estava na hora de a gente "perder a inocência", e começaram a deixar uns livros sobre sexo espalhados pela casa. Minha educação foi exatamente o contrário da sua, e isso é péssimo. A gente fica sem defesa... livros que ensinam sobre sexo não falam de violência.
Eu ainda fico impressionada com o caso do hotel, como um todo. Nunca passou pela cabeça dos colegas que duas mulheres sozinhas num hotel podiam sofrer violência. Pra eles, a fantasia de duas mulheres transando era mais forte do que a realidade.
Lola, tecnicamente falando, estupro é penetracao em mulher. Qualquer coisa diferente disso é atentado violento ao pudor. As penas sao as mesmas do estupro, seja a vítima homem ou mulher. Na hora de dosar a pena o juiz leva em consideracao a gravidade do que aconteceu (pq existem atos mais graves do que outros, passar a mao na perna é infinitamente menos violento do que forcar a vítima a sexo anal, por exemplo).
Lembrei de uma agressão verbal por parte de um desconhecido. Estava chegando na rodoviária p/ visitar meus pais, passa um rapaz num carro e canta o trecho de um funk pra mim. Detalhe: a pseudo música falava de sexo oral.
O que leva um cara a dizer ou cantar coisas obscenas p/ um mulher q ele nunca viu na vida? Para um mulher que não está nem flertando com ele? Será que ele acha q ela vai ser sentir lisonjeada? Eu achei a atitude nojenta.
Cynthia, é incrível que seja preciso muita publicidade e indignação pública em cada caso pra fazer com que a lei seja cumprida. Não pode ser um sistema que aprenda sozinho? Que depois de ver tantos casos note que se trata de um padrão?
É, livros não substituem o diálogo. O diálogo saudável sobre sexualidade é importante pra uma criança, um adolescente.
Isso do hotel é impressionante mesmo. Mas é o velho privilégio masculino. Eles não conseguem nem imaginar o que é correr perigo sexual.
Camila, obrigada pela explicação! Mas é estranho, né? Afinal, “penetração” deveria ser a mesma tanto vaginal quanto anal. Sexo anal não é estupro?! (melhor os estupradores não saberem disso).
Lila, não sei. Não dá pra entender o que esses caras querem. Eles não imaginam, nem em suas fantasias mais selvagens, que a mulher que foi assediada na rua vai parar e dizer “Vem gostosão!”. Aliás, tenho quase certeza que, se a mulher falasse alguma coisa aceitando a cantada, o cara sairia correndo. Os homens morrem de medo de uma mulher segura e independente sexualmente. Então, não sei o que é. Vai ver que eles se sentem mais másculos agindo desse jeito?
Lola, Estupro e "atentado violento ao pudor" têm a mesma pena...
E sim, há quem diga que se uma mulher, em situação de iminente estupro, for pra cima do meliante ele não consegue fazer nada (no popular, vai broxar), o diabo que confia...
Minha história de horror...
Tinha 16 anos e cursava o 2° ano do Ensino Médio, para chegar ao colégio eu pegava um ônibus até o centro da cidade (Fortaleza), e fazia um percurso de uns 8 quarteirões até lá. Pois bem, foi nesse percurso onde tudo aconteceu.
Um dia percebi que estava sendo seguida por um homem que devia ter uns 40 anos(fiquei apavorada), apressei o passo, mas ele conseguiu me acompanhar, ao se aproximar ele disse que eu era muito bonita, e que se fissese um passeio com ele ganharia uma bijuteria.Gritei bem alto: Não! Passei pro outro lado da rua, e corri olhando para trás. Fiquei muito nervosa, mas o pior ainda estava por vir...
Alguns dias depois, a cena se repete só que dessa vez, um pouco diferente. Chovia muito eu estava toda molhada não tinha guarda-chuva e nem lugar para se abrigar, não havia ninguém na rua.
De repente me dou conta de que aquele ANIMAL estava do meu lado, gelei, não consegui fazer nada, apenas continuei andando. Sabe o que fui obrigada a ouvir?
" Seu uniforme está transparente, estou vendo seu sutiã. Dias atrás estuprei e matei uma menina durante o carnaval em Aracati, ela devia ter a sua idade."
Eu quase desmaiei naquela hora, minhas pernas ficaram moles, minha sorte foi que cheguei numa marquise onde várias pessoas estavam esperando a chuva passar, encontrei uma garota da minha classe e fiquei do lado dela, mas o CANALHA continuava perto de mim, a menina perguntou se ele era meu pai,eu disse que ele estava me seguindo, ele disse que sabia a hora que minha aula terminava e ia ficar esperando.
Não consegui assistir aula, me imaginava saindo do colégio e aquele CRIMINOSO fazendo comigo o que disse ter feito com a outra garota.Queria contar pra alguém mas, se eu contasse e não acreditassem em mim? Acabei não falando nada.
Na saída a única solução que achei foi me infiltrar num grupo de rapazes, eles estranharam minha presença, mas com certeza aquele MONSTRO não teria coragem de fazer nada comigo na frente deles.
Cheguei em casa e chorei bastante, tive pesadelos por um bom tempo, queria ir a polícia, e se realmente ele matou outra menina, e se matasse mais alguém? Eu era apenas uma adolescente cheia de medo e por isso resolvi me calar.
Em oito anos essa é a primeira vez que compartilho essa história, só de escrever esse horror, meu coração dispara e me sinto muito mal.
Acho que não estou curada ainda, tenho certo medo dos homens, até pegar carona com um amigo é um martírio.
Parabéns por sua iniciativa Lola, ela é muito importante. bjo !!!
Gio, tem a mesma pena, é?
Acho que varia muito de homem pra homem como ele reagiria se uma mulher reagisse ao estupro. Mas eu acho que a gente tem que reagir, sempre. Na dúvida, vamos pra cima...
Ai, Docinho, que história horrível! Endendo o seu pavor. Sem dúvida, esse homem era perigoso. Vc DEVIA ter falado com “alguma autoridade”, alguém na escola, ido à polícia, sei lá. Tá, sei que eu falar é fácil, e que deve dar muito medo ir à polícia, porque vai que não acontece nada e o homem decidisse se vingar. Mas também podia ter acontecido algo sem que vc fosse à polícia! E é como vc disse, é bem possível que haja estuprado e assassinado outra menina, como ele te contou pra te apavorar (e quem não se apavoraria?). Que monstro! Mas vc devia ter feito um escândalo. Devia ter contado pra TODO MUNDO. Os meninos com quem vc se infiltrou depois, a menina, pais, escola, polícia, todo mundo. Vc não poderia provar nada, mas... Mas não sei, sinceramente. Só que vc não deveria fazer mais aquele trajeto sozinha, e outras meninas deviam saber do perigo também. O que mais me dói é isso da gente achar que ninguém iria acreditar na gente. Por que a gente INVENTARIA uma história dessas? Não somos nós que somos dementes - são eles.
Realmente são estóruias apavorantes mas se pensarmos bem,somos culpadas.Acham,os normal a forte vulgarização da imagem da mulher,nos vestimos de forma objetificante,achamos prostituição norma...como esperamos que os homens nos vejam como seres humanos? Ainda acreditam nesta estória de que não provocamos? Se é assim,porque roupa masculina não tem tanto apelo erótico?
Para mudarmos a situação realemnte,temos que nos libertar desta aurea de sedução que nos persegu por séculas.Se não acreditam nisso,basta observarem que nada mudou efetivamente.Pode me xingar,me praguejar mas enquanto aceitarmos "ser mulher" como sinônimo de se reduzir a bundas e peitos,a culpa será nossa também.
estórias*
achamos*
realmente*
corrigindo alguns dos erros de português.Tal assunto me revolta aponto de me perder no teclado.
Para o último anônimo que postou, sinceramente, vai te fuder!
Gostei do Seu Blog.
Beijos.
Nossa, estou chocada com os relatos, mas mais chocada ainda com alguns cometários, especialmente um que manda uma pessoa se f... e não foi excluído..
Olha Lola, sejamos francas...mulher exposta demais é pedindo pra se complicar. Antes que alguém me julgue quero enfatizar que também acharia ótimo que pudessemos sair vestida do jeito que quisessemos sem passar por constrangimentos...
Mas alguém confessou aí em cima que adorava ser "elogiada" pelo corpo e quando foi questionada sobre fazer programas não gostou, e realmente acho que perguntar não ofende, pelo menos não deveria ofender, especialmente porque hoje todo mundo levanta a bandeira do não-preconceito... e se fosse mesmo uma garota de programa, ia perder a oportunidade? Ser garota de programa não é tão normal hoje em dia? E não é assim mesmo que na maioria das vezes elas se vestem, afinal, é a propaganda de seu instrumento de trabalho...gente, não estou sendo irônica..mas é fato!
E o fato é que revolução sexual feminina, só serviu para as mulheres reproduzirem (e conquistarem o direito de fazer) tudo aquilo o que de mais abominável os homens (não decentes) faziam... hoje somos vistas como puros objetos de prazer (e a mídia faz muito bem seu papel)...
As mulheres são reconhecidas pela sua beleza ou gostosura, e vou dizer a bomba: existem sim mulheres que que respondem a cantadas obcenas, de mal gosto, que adoram serem coxadas em onibus, enfim...sou gaúcha e pelas bandas do sul isso é mais velado, mas subam aqui pro nordeste...(moro em Salvador atualmente).
Eu fui educada muito boba, muito ingênua, quando caí em Salvador não acreditei no que vi, e vejo até hoje, então acho que devemos é alertar nossas meninas que o mundo real tem dessas coisas sim, e muito, e ninguém é princesinha em castelinho cor-de-rosa, porque é se aproveitando desse mito em que as mulheres são educadas, que eles conseguem se aproveitar com palavras que nos enchem de esperança e que nos fazem acreditar que somos especiais...
É o tal "olho vivo e faro fino".
Contar estas histórias só nos mostram que, tristemente, isso é mais comum do que imaginamos, então, porque ainda abusar da sorte? ;)
Achei interessantíssimo o modo como você abordou o assunto violência contra a mulher. Tanto é que, mesmo os posts sendo do fim de 2008, decidi comentar.
"Toda mulher tem uma história de terror". Eu nunca havia parado para refletir a respeito, talvez porque eu não tenha tido a minha. Porém, percebi que eu não tive a minha "ainda", e todos os dias tenho medo dessa palavrinha.
Moro em São Paulo e estudo na USP. Morro de medo de andar lá à noite. Teve um caso de estupro recente lá, e só agora me dou conta de como são meio absurdos os comentários feitos (até por mim) a respeito. "Bom, não que esteja certo, mas ela estava andando sozinha lá às 11 da noite, né".
Ela podia ter sido mais cuidadosa. Quem anda sozinho no centro de São Paulo de madrugada também deveria tomar mais cuidado, porque há orisco de assalto, sequestro, estupro etc.
Mas isso não quer dizer que seja culpa da pessoa - afinal, nós deveríamos poder andar onde queremos a hora que queremos.
No caso de violencia contra a mulher, em particular, a todo um outro lado: as pessoas sempre acabam culpando a vítima, mesmo que não explicitamente. É como você disse quando estava falando dos seus casos: quando você pegou carona com aqueles moços, se algo tivesse acontecido acreditariam que a culpa foi sua, quando não foi (ou não teria sido).
Já discuti muito com alguns amigos a respeito disso - muitos pensam que, se a mulher usa minissaia, decote, se ela anda sozinha por aí, então caso algo aconteça, foi merecido. É como dizer (dadas as devidas proporções, óbvio) que, se ando na rua com um celular e sou assaltada, é minha culpa. Então eu não tenho o direito de me vestir como quero? De mostrar meu corpo? Não posso ter minha liberdade? Não posso ter uma vida sexual ativa? Por que só os homens têm esse direito? Por que os homens podem andar sem camisa e ninguém acha isso estranho, ninguém acha perigoso?
Além do mais, é como você escreveu: essas histórias não acontecem só com um tipo de mulher, como muitos pensam. Não acontece só com as "dadas," as "vagabundas", as "piranhas". (Pelo amor de Deus...) Acontece com menina quieta, com menina extrovertida, com menina branca, negra, menina católica, menina atéia, menina que vai em balada, menina que vai em barzinho, menina que não sai de casa.
É mesmo muita mulher pra botar a culpa.
E o pior é que, muitas vezes, nós mesmas nos sentimos culpadas.
- Livia
Lola escreva sobre a petição e ajude a divulgar:
Petição pró Lei Maria da Penha
.
Uma das grandes conquistas do movimento feminista brasileiro nos últimos anos encontra-se ameaçada.
A Lei Maria da Penha segue enfrentando dificuldades sérias para a sua implementação efetiva, apos quase três anos em vigor. Além de encontrarmos a barreira de que a criação dos juizados específicos para os julgamentos dos crimes, desconsiderados como prioridade política na distribuição orçamentária dos estados nos deparamos também agora com a intolerância institucional da justiça criminal, por meio de diversos processos encaminhados ao STF que passam ao largo do texto da Lei 11.340 ao exigirem a representação condicionada das vítimas.
A exigência da representação nos casos de violência física contra as mulheres (lesão corporal qualificada pela violência doméstica), nega eficácia e desvirtua os propósitos da nova Lei, que considera as relações hierárquicas de gênero, o ciclo da violência e os motivos pelos quais as mulheres são obrigadas a “retirar” a queixa: medo de novas agressões, falta de apoio social, dependência econômica, descrédito na Justiça, entre muitos.
Isto significa um enorme retrocesso e pode, paulatinamente, representar a perda destes direitos e um retorno á Lei 9.099, que consagrou a banalização da violência doméstica como crime de menor potencial ofensivo.
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Vamos assinar e divulgar, basta clicar no link abaixo:
http://gopetition.com/online/28830.html
Para maior efeito, assine também em nome da organização qual você representa.
Com agradecimentos,
de uma feminista
Gostei muito do blog e realmente achei que eu fui a única que passou por isso.
Tenho duas pra contar quase igualzinha a sua:
No auge dos meus 15 anos minhas amigas (todas mais velhas) ficavam fazendo pressão pra eu perder a virgindade, as opções que elas me deram eram uns NÓIAS (termo usado pra usuarios de drogas) que tinham por ali. Eu não tinha paranóia de perder pra namorado, mas também não queria que fosse qualquer zé. Eu sempre entrava em chats e conheci um carinha la e contei minha situação pra ele e ele se disponibilizou a tirar minha virgindade e ficar em segredo. Foi a pior escolha da minha vida. Fizemos o que tinhamos q fazer, eu idiota me iludi e depois tomei o nome de "facil", ele insinuou que eu não fosse virgem. Enfim desencanei, uns meses depois eu to numa festa e ele me ve e me fala no ouvido pra eu ligar pra ele. A idiota vai e liga ele propos um "esquema" no qual eu levaria uma amiga pra um amigo dele. Eu falei que não tinha amiga pra levar dai ele falou pra eu ir sozinha mesmo. Eu fui e o amigo dele estava la, só que eu era muito ingenua. Transamos e depois ele saiu falando que ia tomar agua e eu fiquei deitada la naquele escuro, de repente "ele" volta só que com traços estranhos, não lembro como foi direito, eu sabia q não era ele só que eu travei, sei la não conseguia sair da cama, ele deitou encima de mim e tentou penetrar só q como era minha 2ª vez né e se ja com o outro eu não conseguia imagina com ele, ele tava tentando e viu que eu comecei a ficar nervosa e respirar forte ele levantou e pediu desculpas e saiu do quarto. Eu não lembro como aconteceu direito devo ter apagado da memória mas quando eu vi o post eu lembrei igualzinho a cena, mas eu lembro que não teve penetração. Eu não sei como explicar eu sei que eu não tentei nem tirar ele encima de mim. Muito estranho. Mas a palhaçada é o outro imbecil ficar me iludindo pra dar lanchinho pra torcida do Flamengo.
A outra foi quando eu entrei no meu primeiro trampo. Eles fizeram um churrasco numa chacara, nos quintos da cidade, chovia muito esse dia e eu fui de biz, de sainha. Eu bebi tanto na festa e todo mundo foi indo embora. Na saida eu pra querer me aparecer fui sair correndo com a biz e quase cai na piscina, e sai naquele barro e chuva em plena madrugada 2 e meia da manhã. Só que o detalhe é que eu não sabia aonde eu tava. Porque eu tinha ido junto no carro. Entrei numa estrada que não saia em lugar nenhum até que a moto escorregou e eu cai naquele barro. Eu levantei a moto e ela não queria pegar por nada. E eu fiquei com vergonha de pedir ajuda no estado que eu tava. Eu levantei a moto e ia ir empurrando até achar alguém, só que o meu tamanco começou a grudar no barro e quando eu tirava eu escorregava, eu cai umas 30 vezes até uma lanterna iluminar o meu rosto de longe. Foi quando passou a minha bebedeira e vinha vindo um cara na minha direção, eu sentei e comei a rezar chorando, entrei em um panico, meu coração disparou, eu tava vendo flashs de eu sendo estuprada e morta e quando a lanterna chegou mais perto eu ja pronta pra ter um ataque cardiaco eu vi: um senhor de uns 55 anos me falou se eu precisava de ajuda. Quase eu tive um troço mesmo, ele me levou perto de uma chacara ali pra ajudar a me lavar e começou a passar a mão nas minhas pernas pra tirar o barro eu ia pedir pra ele parar, mas tinham 4 fortões ali rodeando e vai q ele me deixava ali sozinha. Depois fomos pegando o barro pra chegar na estrada, ele levando a moto e eu atras. Quando chegou perto da estrada, eu vi que ele não tirava o olho das minhas pernas, e eu tinha 10 reais e ofereci pra ele, ele recusou o dinheiro e pediu pra passar os dedos na minha vagina um pouco. Fiquei morrendo de nojo mas foi eu q me permiti estar naquela situação e podia ser pior podia um me comer e me roubar la. Sei la, ele não forçou mas pediu... Eu voltei embora chorando e as vezes choro por causa disso. Eu podia ter recusado mas nesse caso a culpa foi minha mesmo.
Que histórias horríveis, Monalisa. Eu tenho que ressuscitar este post porque já tem mais de um ano e pouca gente lê posts antigos. Além de que deve haver leitoras recentes que também gostariam de compartilhar suas histórias de horror. Mas, por favor, não se culpe. Nada disso é sua culpa. Lógico que vc errou (e que amigas são essas que fazem pressão pra perder a virgindade, hein?). Mas estar bêbada num lugar escuro e deserto de madrugada não dá a ninguém o direito de te estuprar. Se isso acontece com um homem, pode ter certeza que ele não vai rezar chorando pedindo pra não ser estuprado. Mas o que me deixa espantada é que ninguém aparece pra ajudar! Será que nenhum daqueles quatro fortões que vc descreve pensaria “vou ajudar essa moça que está precisando de ajuda”, ao invés de “vou me aproveitar dessa moça”? Não consigo acreditar que haja tanta gente ruim no mundo. O velho abusou sexualmente de vc, e se vc quisesse poderia tê-lo denunciado. Ele “pediu” mediante ameaça. Terrível! Hoje apareceram algumas visitas da comunidade do orkut Feminismo e Libertação. Fico feliz que decidiram compartilhar histórias de horror por lá também.
eu acho que serei a mais nova a comentar ;D
eu tenho 14 anos e gostei da sua iniciativa lola e todas as meninas que escreveram aqui.
eu nessa idade ja tenhoo vaaarias historias de torror para contar parece bizarro , mas tenho
eu fui estrupada pelo meu primo aos nove
e no mesmo ano um cara de um parque de diversoes ficava tentando passar as mão nos meus seios que estavam nascendo
eu tivee vaarias mesmo e um outro dia
as vezes tenho raiva disso , mas ja me acostumei, sou uma pessoa normal e não precisei de pscicologo
ninguem sabe mas eu sobrevivo com isso.
bgs
Minha colega tambem me relatou que uma vez quase foi estuprada com uma amiga por mais de 5 homens numa casa onde entraram com dois amigos desses que fazemos na viagem e nem desconfiamos que sao psicopatas. Temos sempre que ter uma carta na manga, sempre! Ela conseguiu escapar e conseguiu que fossem punidos...
Uma vez, em um congresso, a burra aqui usou ¨tóxico¨ com um sujeito que também estava no congresso e hospedado na mesma casa de estudante que eu. Eu fiquei completamente mole, sem reação e, aparentemente, havia imaginado que nós dois transamos (nem sei como cheguei no meu quarto).
No outro dia, acordei com aquela sensação de ¨isso aconteceu ou não?¨ e vi depois que o sujeito havia pendurado minha meia-calça no varal da sala onde ele estava alojado (quase como um ¨troféu¨), e aí fui me dar conta que, de fato, havíamos feito sexo.
À noite, acordei com o imbecil no meu quarto, me bulinando, falando asneiras pornográficas, quase que em cima de mim. Eu o empurrei com toda a força, saí gritando, mas ninguém veio ao meu encontro... e ele, desapareceu em segundos e, provavelmente me transformou em uma ¨mal falada¨ já que os amigos dele, que eu já conhecia de outros congressos, passaram a me evitar a fazer cara feia para mim - como se fosse, de fato, eles que devessem me evitar, e não o contrário!
Quando eu tinha 16 anos, meu segundo namorado foi o pior que uma garota podia ter. Eu vivi 1 ano de medo. Eu era obrigada a ter relações sexuais nojentas com ele, todos os dias. Eu era muito ingênua e nunca tive ninguém pra me defender. Ele começou a me dar tapas no rosto.... Um dia resolvi bater de volta, e ele me deu mais uns 3 tapas... eu me mijei nas calças. Estavamos morando juntos e noivos. Uma vez tentei terminar com ele e ele me deu tanto tapa... se levantou e eu jurei que ele iria me chutar. Por fim, fugi dele numa tarde em que ele disse que iria procurar emprego. Passei um bom tempo com medo de encontrar ele na rua e ele me espancar e até me matar. Hoje em dia só tenho ódio... ele tem outra mulher e até uma filha... mas se por um acaso eu encontrasse ele na rua, pegaria a primeira pedra ou pedaço de pau e sentaria em cima dele. Não interessa o tamanho e a força dele. Eu tenho muita raiva e muito ódio... às vezes creio que ainda vou acabar fazendo alguma coisa com ele.... queria vê-lo com dor, com medo... como uma vez eu me senti.
Lola, caríssima Lola... Conheci seu blog há algumas horas e simplesmente não consigo parar de ler!!! Preciso dormir pra acordar daqui a exatas 3 horas, e você não me deixa ir, com esses posts sempre tão envolventes com os quais acabamos mesmo nos identificando, e ainda com os comentários do povo todo, igualmente interessantes!
Você me paga, mulher, hahaha!
Um abraço bem apertado da sua mais nova FÃ! ♥
Lola, olha só que loucura... Vc com 16 anos e isso há algum tempo atrás, já tinha essa noção de não se importar com que os outros vão falar... EU, com 26 anos, perdi minha virgindade também aos 15 e devo dizer que curto bastante transar, como vc mesma disse, com os caras que me interessam, dps da transa sentia q eu não devia ter feito, q mulher tem q ser "difícil"... e eu me julgava!!! depois que comecei a ler seu blog e a buscar este tipo de leitura, estou me libertando destes preconceitos e amarras que eu mesma impus dentro da minha cabeça. E eu só tenho a te agradecer por isso!
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