quarta-feira, 9 de julho de 2008

BOTICÁRIO, VÁ LAMBER BATOM!

Obrigada, Claudemir, por me enviar este comercial com a nova campanha do Boticário. Aaaahhh! É de chorar que uma obra dessas se chame “Abaixo a repressão”. O anúncio explora como seria viver num “mundo sem vaidade e beleza”. Pergunta se não seria bom isso, e mostra mulheres vestidas todas iguais, com o mesmo corte de cabelo, sem espelhos pra poderem ver seus reflexos. Até que a protagonista tem uma luz e descobre um batom e sua vida muda, e certamente o mundo não será o mesmo depois que ela sai com os lábios pintados na rua. No final, a narração conclui que “Não, não seria”, e vem o slogan, “Acredite na beleza”. Já disse Aaahhh? Vou mudar pra Grrrrr.

É muito cinismo. Primeiro que, óbvio, não seria nada bom viver num mundo como o do comercial. Pra começar, não há homens! Eu odiaria viver num mundo sem eles. Segundo, não há negras. Nem orientais. Nem pessoas de meia-idade, nem de terceira idade. Ou com um tipo físico diferente. Viver num mundo uniformizado, igual, geralmente é o pior pesadelo de distopias (as utopias negativas) como Admirável Mundo Novo e 1984. Quanto a isso, não há dúvida. As diferenças são ótimas. Mas o que isso tem a ver com beleza?

Beleza é um conceito subjetivo. Indústrias como o Boticário e tantas outras não estão nem um pouco interessadas em “acreditar na beleza” diferente. Muito pelo contrário. Quem nos padroniza, se não a indústria da moda e da beleza? Quem diz que só mulher com tantos quilos pode ser bonita? Que só mulher com tal cabelo (liso, loiro) pode ser bonita? Que só mulher até certa idade pode ser bonita? Até parece que temos a escolha de “envelhecer graciosamente”. As meninas hoje já começam a usar cremes pra alisar a pele na adolescência. E, pra uma certa classe social, o direrente, o revolucionário, é o fazer plástica. Porque todo mundo faz. Porque todo mundo precisa fazer. É ofensivo que uma propaganda venha reclamar da padronização e de como o mundo seria ruim se todas fossem fisicamente idênticas. Como se a gente não soubesse!

A indústria da beleza quer é vender, pura e simplesmente. Mas, pra isso, precisa criar um clima que diga que a gente é feia e errada se não comprar batom, cílios postiços, creme, tinta pra cabelo, salto alto, tal roupa, tal plástica. A indústria da beleza nos diz, diariamente, várias vezes por dia, como somos horríveis. Mas como a beleza está ao nosso alcance. Não será barato (se fosse só passar batom...), nem fácil, nem indolor. Mas estamos prontas pra passar nossa existência inteira achando que correr atrás de um padrão inatingível é o nosso ideal de vida. Isso não tem nada a ver com beleza. Tem a ver com consumo. Tudo que o comercial diz é que seria horrível um mundo em que as mulheres não usassem maquiagem, roupas, saltos altos, e cortes de cabelo caros, porque a gente, do Boticário, iria viver do quê?

Se bem que não seria tão terrível viver num mundo em que nosso único trabalho fosse quebrar e queimar sapatos de salto alto. Quantas horas por dia, durante quantos dias, a gente precisaria trabalhar pra acabar com os sapatos? Pena que a gente ficaria sem trabalho logo. Mas, pra mulher, como a gente sabe, trabalho é secundário.

Viver num mundo sem espelhos seria ruim também. Não tanto por causa dos espelhos em si, mas do clima opressivo e da proibição de não podermos fazer algo tão simples como ver nossa imagem. Imagina o horror que seria viver num mundo em que há comida suficiente e acessível, mas mulheres preferissem viver com fome pra perder uns quilinhos? Puxa, não quero nem pensar!

Me acordem quando fizerem um comercial em que uma mulher não precise emagrecer, usar batom e salto alto pra ser considerada bonita. Ou pra ser feliz.

Veja mais críticas a comerciais aqui, aqui e aqui. E mais sobre mito da beleza e aceitação do corpo aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

34 comentários:

lola aronovich disse...

Sei que falei que publicaria a segunda parte das minhas respostas no teste político hoje, mas fiquei tão indignada com esse comercial que preferi colocá-lo no blog já. E Cavaca, mil desculpas, mas vou ter que adiar o post sobre gorjetas por mais uma semana.
Agora, manifestem-se!
Imaginem "viver num mundo sem vaidade em que a beleza não é valorizada". Será que toda mulher agiria como um... HOMEM?! Tipo, colocar praticamente qualquer roupa no corpo e sair por aí sem se preocupar com o que os outros pensam? Não sei, mas acho que seria bem legal não ter que gastar meu dinheiro em cremes que não funcionam.

Anônimo disse...

Excelente blog. Virarei assíduo. Confere o nosso que acho que vai te identificar. Podem rolar interações bem interessanes. Confere lá. (me procura por "Jurandir").

PS: já viu o novo comercial do "Serenata de Amor"? Tem um post meu lá que fala sobre. Vale a conferida.

- O Equilibrador de Pratos -

O que os homens pensam?
Relacionamentos. Teorias. Discussões. Comentários. Mulheres. Sexo. E pratos equilibrados em varinhas. Bem-vindo à vida real.

3 amigos (B. Sacamano, Hannibal e Jurandir, pseudônimos, claro) que resolveram fazer um blog tratando de assuntos que abordam o "Universo Homem + Mulher = Relacionamentos". Retrata todos assuntos citados acima, com textos bem escritos, humorados, ácidos, sarcásticos, irônicos e, sinceros ao extremo. Vale dar uma conferida. E que atire a primeira pedra quem não se identificar com algo.

Blog: www.oequilibradordepratos.blogspot.com
E-mail: oequilibradordepratos@hotmail.com
MSN: oequilibradordepratos@hotmail.com

PS: por que o nome "O Equilibrador de Pratos"? Entre no blog e descubra. Será um "soco no rim". No bom sentido, é claro.

Anônimo disse...

Puxa! deve ser bom mesmo... vou lá!

Anônimo disse...

Lola, o mundo desse comercial parece o admirável mundo da Cientologia! Olha quantas Katies Holmes com o cabelinho de Playmobil!
Realmente, a indústria da beleza faz qualquer coisa para vender e cria um clima de desconforto para as mulheres. Mas estamos no mundo capitalista e cada segmento tem que se valer de suas armas para lucrar. Cabe a nós ter o discernimento de entender todas essas coisas que você expôs no seu texto (muito bom, por sinal) e não cair na armadilha deles. Se bem que, de certa forma, todos nós adaptamos às regras do jogo, às vezes até de uma forma pequena e inconsciente. No entanto, acho que esse mercado tem suas vantagens também. Os produtos ou até mesmo plásticas (não tenho nada contra quem faz, acho que as pessoas devem fazer de seus corpos o que bem entenderem, para melhorarem a aparência e a auto-estima. Mas, claro, tem de haver bom senso e limites, para que a pessoa não acabe que nem a Renée Zellweger, que já era irritante careteira e agora ficou ainda pior sem mexer nenhum músculo do rosto. Parece um boneco da Madame Tussaud's), podem ajudar uma pessoa a realçar o que ela tem de melhor, disfarçar algumas imperfeições, melhorar aquilo que a natureza não fez tão bonito, enfim. A vaidade, dentro do parâmetro aceitável, é uma coisa boa, demonstra que a pessoa tem auto-estima e apreço por si própria. E, hoje em dia, Lola, os homens também estão se cuidando. Combinam a roupa, cuidam da pele, tentam se manter no peso ideal e isso é bom, eu acho. Chega de homem ogro nesse mundo.
Eu gosto muito de cosméticos e eles funcionam sim, pelo menos para mim. Também gosto de maquiagem, embora não possa usar muito porque deixa minha pele muito oleosa e propensa a acne. Além disso, sou muito branquinha e nunca acho nada (base, corretivo) que sirva para a minha cor. E quanto acho, geralmente é uma fortuna. Salto alto eu uso bastante e acaba com meus pés, mas a gente acaba aprendendo a lidar. Meu único problema nesse momento é que estou uns 4, 5 quilos acima do meu peso ideal. E não consigo perder.

Juliana disse...

Adorei a analogia da Sadie. Eu ia mesmo dizer que esse comercial tem o maior feeling de Admirável Mundo Novo.

E hoje em dia os apelo também é aos homens, que já não estão mais tanto de "colocar praticamente qualquer roupa no corpo e sair por aí sem se preocupar com o que os outros pensam."

Mas o comercial é realmente terrível, entendo sua indignação.

lola aronovich disse...

Oi, Jurandir, apareca mais por aqui.


Sadie, nao achei a mulher parecida com a Katie Holmes. Mas o cabelo da Playmobil... talvez.
Acho que, no seu comentario, vc cai no erro de que "eh uma opcao individual de cada mulher" e de que "cada uma deve saber o que eh melhor pra si", como se a gente tivesse escapatoria. Pra uma certa classe social, deixa de ser uma "preferencia individual" fazer plastica se nao fazer plastica implica, por exemplo, perder o marido (to falando das trophy wives). Deixa de ser uma opcao individual se vc nao andar maquiada e de salto alto implique em perder o emprego. "Nao cair na armadilha deles" nos todas ja caimos, e faz tempo. E tao fundo que nem nos damos conta que caimos numa armadilha. (e isso eh otimo, porque, se nao sabemos que estamos la no fundo do poco, nao vamos tentar sair).
Todos os segmentos do mundo capitalista tentam nos vender uma necessidade de ter algo que na realidade nao precisamos. Mas nenhum produto que tenha o homem como publico-alvo cria um clima de insatisfacao coletiva e eterna como a industria da beleza faz com as mulheres. E tambem tem outra coisa: faz sentido analisar quando o padrao de beleza foi ficando cada vez mais inatingivel. Por
"coincidencia", foi sempre quando as mulheres vinham conseguindo mais poder. Antes da decada de 60/70, com o movimento feminista, nao existia modelo como a Twiggy. Ela surgiu no mesmo ano em que surgiu a pilula. Coincidencia? (hoje todas as modelos sao magras como ela). O padrao de beleza na decada de 50 era bem mais cheinho (eh so a gente ver fotos da Marilyn Monroe). Por que? Bom, talvez porque as mulheres, depois de tanta liberdade e de trabalharem fora durante a 2a Guerra, voltaram obedientemente pra casa assim que a guerra terminou. Nao havia tanto motivos para controlar quem ja estava controlada. Coincidencia?
O que eu quero dizer eh que ha um contexto e que, dentro desse contexto, a "preferencia indivual de cada uma" nao existe.


Ju, sei que a industria da beleza esta tentando alvejar os homens, mas nao da pra comparar. Vc conhece mais homens que colocam qualquer roupa e saem por ai livres ou mais mulheres?
Ainda vai demorar MUITO pra que os homens sejam tao oprimidos quanto nos. Isso se eles chegarem la algum dia, ja que sucesso masculino nao se mede pela aparencia, enquanto o nosso...

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

Entendo isso, Lola, totalmente. Foi o que tentei dizer. Em relação a plástica, é claro que isso é direcionado a uma determinada classe. E depende do emprego, né, Lola? Nem todo emprego exige que você ande de salto alto e maquiada o tempo todo, a não ser que a mulher seja modelo, atriz de Hollywood, trophy wife, ou qualquer outra profissão estritamente ligada a aparência. E se você está nesse meio, tem jogar de acordo com as regras.
Claro que ser bonita e estar bem vestida/maquiada conta pontos em qualquer trabalho, mas não é uma exigência, não consta no contrato. Pelo menos, nunca vi nenhuma garota ir trabalhar 7 horas da manhã na firma de contabilidade de batom, delineador, rímel, base, corretivo, pó, base, blush, sombra e cabelo impecavelmente penteado e com suas melhores roupas. Elas vestem uma roupa normal e botam no máximo um batonzinho e rímel.
A gente sabe que a padronização da beleza e a busca incessante por maneiras de se encaixar nesses padrões não são coisas de hoje. Isso existiu em todos os tempos e culturas. As mulheres sempre foram capazes das maiores loucuras pela aparência. No século XIX, as inglesas, se espremiam em espartilhos com base de metal e outras faziam sangrias para ficarem mais pálidas e se encaixarem no padrão byroniano (eu sou tão branca que acho que podia me encaixar sem fazer nenhuma maluquice). As brasileiras, nesse período, andavam de guarda-sol e vestidas em umas 800 anáguas em pleno sol escaldante do Rio só porque as francesas andavam assim. Também usavam espartilhos e queriam ser pálidas.
No séc. XX, com o cinema, foram aparecendo novos padrões: nos anos 30, era garotas com rosto ingênuo, como a Clara Bow, nos anos 40, mulheres mais sensuais, como Veronica Lake e Lauren Bacall, com os cabelos compridos e frisados, nos anos 50, Ava Gardner/Marilyn Monroe (que nunca disse nada em termos de nada para mim), mulheres curvílineas e extremamente sexy.
No final dos anos 50 e começo dos anos 60, foram surgindo ícones menos sexualizados como Twiggy, Audrey Hepburn e Jane Birkin que representavam que ser magra e graciosa era in.
No final dos anos 70 e começo de 80, com o nascimento das supermodels na passarela do midiático Gianni Versace (Naomi, Linda, Christy, Claudia, Stephanie, Cindy, Shalom, etc), o corpo violão voltou a moda. Quando a Kate Moss apareceu, no início dos anos 90, o padrão Twiggy voltou, trazendo o minimalismo da Calvin Klein para "limpar" os exageros dos anos 80. A magreza e a tendência heroin chic vieram como uma maneira de apagar os excessos de "peso", de "colorido", de "work out" (vale lembrar que era o auge daquelas fitas de aeróbica da Jane Fonda), enfim, de absolutamente tudo. Nos anos 80, havia o auge da cultura do corpo, da malhação e os anos 90 de grunge vinham exatamente contra tudo isso.
Nos anos 2000, o que se vê são garotas cada vez menores, mas isso passa, Lola, como passaram todas essas tendências que eu mencionei antes. O que estou tentando dizer é que, apesar de as coisas terem piorados com o passar dos anos, padrões sempre existiram e nunca faltaram (ão) doidas para fazerem os maiores absurdos para se ajustarem. Não é uma coisa nova na humanidade e vai continuar acontecendo para sempre. O que muda é a maneira como o estereótipo se apresenta. Não duvido nada que, daqui a alguns anos, a mídia, que tanto glorifica essas coisas, chame a Victoria Beckham de espeto de pau pseudo-bronzeado.

Juliana disse...

Concordo totalmente, Lola. Acho que eles NUNCA vão ser tão oprimidos quanto nós. Até porque junto com essa mudança que está acontecendo, entra a mudança também dos gays se assumindo mais e, consequentemente, assumindo uma vaidade mais presente (ou mais socialmente "aceita" eh homens gays que em homens heterossexuais). Só quis apontar para o fato que esta mudança está acontecendo, mesmo que nunca chegue a ser de forma opressiva. E como você falou, o sucesso é medido de outra forma, até pela questão histórica da sociedade patriarcal em si. O pessoal da sociologia e antropologia que tem bastante coisa pra brincar com as coisas que andam acontecendo pelo mundo, eu falo de orelhuda mesmo, haha.

Raiza disse...

Ótimo seu blog!Adorei este texto,vou virar frequentadora assídua =]
Parabéns!

Anônimo disse...

Lola..dizestes tudo..esses tipos de comerciais são duros de se engolir.OU melhor vc observa o absurdo que querem "vender"..beleza acima de tudo..mas já vi uns sobre beleza bem delicados tipo um da Natura uma linha do "dia a dia" que faz trocadilhos com o cotidiano..bem mais suave que este...não distingue pessoas...ou faz essas comparações idiotas.

Anônimo disse...

acho que você tá falando isso porque é muito feia

Juliana disse...

são cabeças como a desse anônimo que permitem que as coisas continuem como estão.

Anônimo disse...

Então, Lola, tudo é mesmo sobre consumo né? E sobre os desejos e as necessidades que nos fabricam sem parar, sem parar. E se somado a isso ainda puder vir uma dominaçãozinha básica ai é o céu mesmo. Daí a gente ao invés de pensar politicamente, vai pensar no próximo batom, pq mais que apenas uma signo de beleza, algo que vai nos tornar menos feias, vira uma questão de vida ou morte. Você já viu uma pesquisa que se chama "Porque o mundo odeia as gordas"? Acho que tá aqui:http://nalu.in/10

Abraços.

Anônimo disse...

Eu acho engraçado esse comentário do anônimo. Primeiro né, pq como esse post e todos os outros que vc linkou aqui mostram como a beleza e a feiúra são relativas, culturais e etc. E como saber realmente se alguém é feio ou não pr um blog? Depois, pq é um argumento agressivo e sempre rola nesse tipo de assunto, serumano não sabe argumentar e ataca. E mais ainda porque é como se ser judeu te desqualificasse para falar sobre o antisemitismo. Claro que eu tô exagerando, mas então um negro não ode falar sobre racismo? Ou a mulher sobre o feminismo? ah, fala sério né? Mas eu perco meu tempo, porque conversa é tudo que uma pessoa que faz um comentário bobo assim não quer.

lola aronovich disse...

Sadie, "qualquer outra profissão estritamente ligada à aparência" inclui apresentadora e repórter de TV? Executivas de empresas? O Cid Moreira e o Chapelin puderam apresentar o Jornal Nacional com cabelos grisalhos e rugas, bem velhinhos já, e o William Bonner não terá nenhum problema. A Fatima Bernardes vai poder apresentar até quando? Homens mais velhos são "charmosos", até por não serem avaliados baseados na aparência, mas no sucesso, experiência, credibilidade... Mulheres mais velhas são excluídas, escondidas, varridas pra debaixo do tapete, como se não existissem. E isso em todas as profissões. Depois dos 40, a mulher se torna uma "mulher invisível" - mas sem nenhum super poder, claro.
Que a padronização da beleza não é coisa de hoje não se discute. O que às vezes eu sinto que moças mais jovens não querem ver é como essa padronização é uma arma de dominação. Quando as chinesas tinham que enfaixar os pés porque era horrível uma mulher não ter pé minúsculo, bom, digamos que é ingenuidade pensar que a idéia era enfaixar apenas os pés. Era enfaixar a mulher inteira. Uma mulher com dores 24 horas por dia (era comum dedos caírem) é fácil de ser dominada. Não sobra tempo pra pensar em outra coisa além da dor. É o mesmo com o espartilho. E, infelizmente, não é muito diferente de hoje. Um monte de coisas que a gente faz pra se submeter a um padrão de beleza resulta em dor. Quem faz dieta pensa em comida o tempo todo. A gente fala em dieta o tempo todo! Toda a nossa energia é gasta pensando na aparência, e isso vem começando cada vez mais cedo, com meninas muito antes da puberdade. Se isso não é um meio de dominação, eu não sei o que é.
E só porque "sempre foi assim" não explica porque continua tão assim HOJE. Ué, nós mulheres não fomos liberadas? O feminismo não perdeu sua razão de ser? Não conquistamos tudo que queríamos? A estratégia atual é a melhor possível - continuamos dominadas, mas nem reparamos. Assimilamos que faz parte da nossa condição feminina, e que é uma questão de preferência individual. Imagina, ninguém te força a colocar batom e salto alto. Desse jeito, sem nenhuma moça achar que existe um problema, não tem como haver resistência MESMO.
E um "argumento" como "Não é uma coisa nova na humanidade e vai continuar acontecendo para sempre" é triste, Sadie. Escuto direto as pessoas falarem isso sobre tudo: racismo, homofobia, machismo, violência etc. Só porque não é uma coisa nova na humanidade não quer dizer que vai se perpetuar. Pensar assim é se conformar. Eu não quero me conformar com o que acho errado.

lola aronovich disse...

Ju, penso que vai demorar décadas pra os homens chegarem a um padrão de "vaidade" (leia-se: auto-estima lá embaixo que só poderá ser momentaneamente elevada com muito consumo) das mulheres. SE chegarem. Eu realmente duvido. Acho que é mais uma estratégia da mídia pra vender. Criam termos como "metrossexual" (esse já tá até antigo, né?) e tentam criar um clima de "Olha como TODO homem tá vaidoso hoje em dia", quando não é verdade. Mas o homem não será medido pela sua aparência. Nós mulheres temos séculos de avaliação unicamente pela beleza pra superar. Eu fico muito pessimista ao ver que ainda vivemos uma época em que mulheres tem que ser bonitas e mães... e há tão pouca resistência. E o "argumento" de tantas moças ainda é "Ah, mas com os homens também é assim!". Primeiro: não é. Segundo: mesmo que fosse, esse é um bom critério?

lola aronovich disse...

Princesa, obrigada, apareça sempre. Não é sempre que tenho posts sobre mitos da beleza e aceitação do corpo. Tento escrever um por semana, mas sem dia programado.


Lú, o que me choca é que um comercial desses diga que está falando CONTRA a repressão. Deve ter um monte de gente que acredita, que não faz as conexões. É muito cinismo da agência e da marca. Mas claro que nem toda campanha é assim. Os comerciais ou são pra vender ou são institucionais, só pra falar bem da marca, sem focar um produto específico. Esse da Boticário entra na categoria institucional. Não quer vender o batom, quer vender a idéia de que consumir e se obcecar pela aparência são um combate à padronização. Quando é só pensar um pouquinho pra gente ver que é justamente o contrário...

lola aronovich disse...

Anônimo, e você é um bobão. Pronto. Estamos no nível do jardim de infância de novo.


Ju, não é só a cabeça desses anônimos que faz que tudo continue como sempre foi. É a cabeça da gente. A resistência não virá deles. Virá da gente. Aliás, virá?

lola aronovich disse...

Nalu! Oi, sumida! Já tinha visto o seu post. Muito bom. Só acho que deveria se chamar "Como o mundo odeia as gordas", ao invés de "Por que", já que o texto gira em torno de formas de discriminação e resistência, muito mais que nas causas (vc cita uma entrevista falando das causas da obesidade, mas não das causas de ódio às gordas). Aliás, seria ótimo se vc pudesse atualizar esse post seu e incluir um "porquê", ainda mais agora que seu bloguinho subiu no telhado!
E sobre o comentário do anônimo, é típico. Quando alguém não sabe argumentar, já chama de algum nome. Como, pra mulher, feia (ou/e gorda) é o pior insulto, vai esse mesmo. Mas no fundo acho que tem a ver com o estereótipo que se faz das feministas. Somos todas ogras, mal-amadas, não gostamos de homem e homem não gosta da gente... Eu pensava, ingenuamente, que esse tipo de ofensa às feministas tivesse sido inventado nos anos 60. Mas já vem do século 19. As primeiras mulheres a lutar pelo direito a voto já ouviam exatamente a mesma coisa.
E como que o anônimo chegou à conclusão que sou feminista? Bom, uma "mulherzinha" não vai reclamar de um comercial que fale "Acredite na beleza", né? Elas sabem o seu papel. Eu que não sei o meu.

Liris Tribuzzi disse...

Nada a ver com feminismo, mas esse post me lembrou da apresentação do tcc do meu grupo do técnico de administração. Tinhamos que montar uma empresa e nossa (minha) escolha foi um cinema. Tinhamos que fazer a coisa rodar, ganhar dinheiro, tudo que o mundo capitalisma pede. Na apresentação, colocamos cartazes de vários filmes, todos eles arrassa-quarteirões. Nem foi de propósito. Usei uns que já tinha e alguns pegamos em locadoras.
Uma das professoras perguntou por que só filmes desse calibre (na verdade ela perguntou onde ficava bollywood, e a gente respondeu que ficava na Índia, depois ela reformulou a pergunta) e respondemos que foi os que conseguimos e também os que acabam rendendo mais, conseqüentemente, os que dão mais lucro. Apesar de eu não gostar que os multiplex de shopping só exibam esse tipo de filme, foi o que 'fizemos'.
Não estou defendendo o comercial, só dando uma visão capitalista da coisa.
Ah sim, se pudesse realmente colocar em prática o cinema, os nossos planos são de abrir uma filial de rua, no centro de sampa, pra passar filmes fora do circuito pipoca e até alguns clássicos, com toda a pompa que os cinemas de rua tinham.


Se tiver tempo, dá uma olhadinha nos vídeos que a gente usou na apresentação:
http://br.youtube.com/
watch?v=IuHB-FeAioY

http://br.youtube.com/
watch?v=mKGjRqtzowk&feature
=related

Unknown disse...

Esse comercial é rídiculo. O pior de tudo é que O Boticário investiu R$ 31 milhões em divulgação, é a maior quantia ja investida num comercial da marca. Eu também nao gostaria de viver num mundo onde todos seriam iguais, as pessoas devem ser elas mesmas não precisam de acessórios e produtos desnecessários para que fiquem bonitas.

Paula disse...

Desde quando vaidade é sinônimo de individualidade?!

lola aronovich disse...

Li, bem legais os videos. O primeiro, pedindo pra desligar o celular, é importante. Poucos cinemas no Brasil tem isso, não? Tô pra colocar aqui faz um tempão um post sobre o "manifesto" que um cinema aqui de Detroit divulgou. Já tá na minha caixa de "rascunhos" prontinho já faz mais de um mês... Mas sabe, não basta só pedir pra desligar o celular. Tem que pedir pra pessoa ficar quieta também. Nada de narrar o filme pro coleguinha!
E sobre os multiplexes, seria bom se eles pelo menos reservasse uma ou duas salas das, sei lá, 8 ou 12 que tem pra filmes mais "alternativos". Isso não acontece, e é uma pena, porque acho que tem público pra quem tá cansado de Hollywood.
Mas, não tem jeito, pra ganhar dinheiro, tem que ter uns arrasa-quarteirões. Ou se não fazer muito marketing e se firmar como circuito alternativo, cineclube de qualidade, algo assim. E numa cidade que comporte isso, que tenha público pra isso. Gostaria de acreditar que todas têm, mas não sei.
Teve uma época na minha vida em que eu fantasiava abrir um cinema. Depois, passou. Seria legal se vc conseguisse, hein?

lola aronovich disse...

31 milhões na divulgação, Clau? Caro pacas! É, bonito é ver beleza em todas as coisas, não só no padrão, no convencional. Isso se aplica a pessoas também. Bonito é se aceitar como vc é. Porque isso é ser autêntico, e autenticidade é bonita.


Então, Paula, nada a ver. E eu fico com raiva num comercial desses porque o que a gente menos vê hoje nas mulheres, no jeito de se vestir, no corte de cabelo, na magreza, é individualidade. Às vezes tenho impressão que tá todo mundo uniformizado. Eu vejo as adolescentes, todas magrinhas de jeans e com o mesmo cabelo, e não consigo distinguir uma da outra. É muito estranho. Mas isso é o que a moda faz. Falam de "estilo", mas na realidade não há estilo nenhum. Parece todo mundo clonado. Vc não tem essa impressão às vezes? E olha que não é gente que não consome ou que não é vaidosa - muito pelo contrário...

Anônimo disse...

Então, Lola, é isso mesmo, deveria se chamar como, e não porque, pois não fala nada sobre o porque mesmo, a tal pesquisa. Mas ela não é minha, o post é só réplica de uma reportagem. Abraços. Eu viajei e estava trabalhando moooito para deixar as cosias em ordem para ira pra o segundo round do doutorado...

Abraços.

Alexandre Domakowski disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lu disse...

esse comentário ganhou destaque na seção "comentários da semana", aposto.
algum esperto entrou pelo google, deu uma lida e não resistiu, tinha que deixar registrada a indignação dele - que aparece o tempo todo sob diversas formas: se vc não se conforma, se te incomoda, ué, é porque vc é horrorosa/ mal-amada/ mal-comida... o erro tá em vc!

lola aronovich disse...

Ah tá, Nalu, pensei que fosse sua. Ah, gosto de ver pessoas que não são irresponsáveis como eu! Tá tudo pronto pra sua nova fase do doutorado?


Lu, é exatamente isso. Não se conformar é inadmissível pra muita gente. Parece uma afronta, como se eu não entendesse o meu papel de mulher (bonita, meiga, passiva...). Eu só coloco o comentário do anônimo no Fala Gente Fala mais Interessantes da Semana se colocar o seu junto!

Anônimo disse...

finalmente alguém concorda comigo

Mauricio F. Santana disse...

Oi, vi este comercial ontem pela primeira vez e, a minha desconfiança de uma empresa ariana cheia de preconceitos se comprovou. Algumas semanas atrás houve uma manifestação na loja O Boticário do centro de São Paulo onde pessoas do movimento negro reivindicavam que a empresa admitisse negros em seu quadro de funcionários. Neste comercial, assim como em muitos, não existem negros. Ou seja, ser negro não é ser belo? Outra discriminação foi percebida quando um muro grafitado, eu disse grafitado, nem pixação era; foi pintado de branco para ser considerado belo. Enfim, qual o conceito de beleza deste comercial ou até mesmo dO Boticário? Talvez o mesmo de Hitler.

Luisa disse...

O interessante é que esse comercial da Boticário incitou em mim (e olhe que eu sou muito desligada!) não uma vontade de acreditar na beleza, mas o pensamento de que, hoje em dia, as meninas estão cada vez mais "iguais" (o comercial não cai longe da realidade dos shoppings e das ruas): seus cabelos são tingidos de loiro (ou ganham mechas loiras se a pele das garotas não for branca, mas morena ou negra), franjas são um must (cansei de ver gente cacheada que cortou franja e alisa a dita cuja só pra ficar na moda), seus cabelos são lisos (alisados) e têm tamanhos padrões (porque muito curto é masculino e muito longo é feio – oi? -). (Isso só pra falar de cabelo...). Eu simplesmente detesto quando alguém me diz pra usar algo porque está "na moda". DE-TES-TO. Me desculpem (#ounão) @s fashionistas, mas acho que o trabalho de estilista é "somente" (aspas porque isso é difícil: exige criatividade E criticidade) pensar as vestimentas (e acessórios e calçados etc) de modo a diversificar o máximo possível as coisas, a fim de que as pessoas possam escolher aquilo que lhes convêm, aquilo que elas acham melhor, não importando se é uma peça saída da última Fashion Rio ou a saia do uniforme da escola da sua avó que você encontrou sem querer e gosta de usar porque... porque gosta, oras!.
"Estar na moda", muito diferentemente do que muita gente acha, não é um must (algo que é necessário e se justifica por si só), não é o mais necessário. A moda, assim como todo o resto da produção humana, deve nos servir, não nos aprisionar. (Sim, eu sei: são os "humanos da moda" que o fazem, mas vou manter a frase).
Sou a favor da vaidade, não me interpretem mal: mas somos pavões que podem escolher que tipos de caudas querem ter - vide as formas de se pintar dos seres humanos em tempos, lugares e em sociedades diferentes pelo mundo. A gente não tem motivo pra ficar preso ao que um grupo de – muito – poucas pessoas tem a dizer a respeito disso. Pelo poder de ter beleza (de ser don@s da nossa beleza) APESAR dos comerciais da Boticário e afins, use/adquira algo porque você achou bonito, porque te agradou, não porque todo mundo n@ escola/faculdade/trabalho/novela está usando. Respeite-se aceitando-se.

p.s.: não disse “pavoas” tb pq elas não têm aquela cauda “ornamentada” com a qual nós associamos a espécie.


Adoro seu blog, Lola.

Isa disse...

Quando vi esse comercial detestei, e você nesse post disse tudo o que eu pensei e não consegui expressar.
Parabéns!

A Princesa dos Sonhos disse...

Lola, eu realmente adorei o que você escreveu e tudo. Tudo certinho, mas acho que você não entendeu o que a Boticário quis dizer com esse comercial.
Ele quis dizer: "Uma mulher se diferencia pelas escolhas que elas fazem, incluindo na beleza. Com o rosto liso todas são iguais. Por isso é o tipo de maquiagem que vai diferenciar uma pessoa da outra."
Não é uma idéia muito correta, pois carece de realismo, já que mesmo com a pele limpa cada mulher é diferente da outra.
Mas não é algo tão machista quanto você tenta mostrar no seu texto.