quarta-feira, 30 de julho de 2008

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: AS DUAS FACES DA LEI E CEGUEIRA

Leia a crítica completa de Ensaio sobre a Cegueira aqui (parte 1) e aqui (parte 2).

Eu vi uns dez trailers no último final de semana, alguns bem tenebrosos, como o de As Duas Faces da Lei (Righteous Kill, previsto pra estrear no Brasil em 19 de setembro) – que, além de apresentar uma solução fascista pra resolver o problema do crime (“é só atirar nas pessoas certas”), reúne Al Pacino e Robert De Niro no mesmo filme, o que só vimos em alguns minutos de Fogo Contra Fogo. Mas o que me chocou nesse trailer é que há dois homens com uns 65 anos, e nenhuma mulher com mais de 30. Bom, talvez a única mulher com alguma fala tenha mais de 30. Ela é a juíza. As outras fêmeas parecem ser strippers. Deve ser o paraíso pra coroas de quase 70 anos: todas as mulheres do universo não falam, só rebolam, ou são vítimas que precisam ser defendidas por homens armados. E gente, como o De Niro tá careteiro! Nota 2.

Nem me lembro dos outros trailers. Tinha um com o Leonardo Di Caprio e o Russell Crowe, Body of Lies, do Ridley Scott, que parece ser mais uma história sobre a guerra do Iraque e não causa a menor comoção, mas é daqueles que a gente tem que ver só pelo elenco. Ai ai. A verdade é que nenhum dos trailers que passou despertou minha vontade. Exceto um: o novo de Blindness (Cegueira). A Suzana tem toda razão. Vamos chamar o filme que estréia dia 12 de setembro de Cegueira, não Blindness, em inglês. Afinal, Saramago é português, Fernando Meirelles é brasileiro, e o filme tá cheio de atores de várias nacionalidades. Os americanos que chamem de Blindness na terra deles.

Pelo jeito, o que critiquei em abril era um teaser. E este de agora é um trailer, e de primeira. Com dois minutos e meio, ele conta muito mais da história (o que nem sempre é bom). Só não estou encontrando o troço legendado. Há um belo clima de tensão e supense, de caos e desespero, de mundo acabando mesmo. Julianne Moore, aparentemente a única a não ser infectada, vai com o marido Mark Ruffalo para onde estão sendo levados os cegos. Infelizmente ainda não li o livro, mas pelo trailer o lugar é uma zona, sem comida e na companhia de criminosos armados. Gosto do embate entre o Gael Garcia Bernal dizendo “Nunca vou esquecer sua voz”, e a Julianne rebatendo com “Nunca vou esquecer o seu rosto”. O trailer também mescla bem as imagens com os letreiros pra vender o filme. Sempre dá orgulho ver um brasileiro com tanto prestígio que seu nome aparece com destaque como “Do mesmo diretor de O Jardineiro Fiel e Cidade de Deus”. Acho que o filme em si não foi tão bem recebido em Cannes, mas eu me emocionei só de ver o vídeo com o Saramago chorando, junto com a ansiedade (e felicidade) do Meirelles. Aquele momento foi tão genuíno que acabou aumentando mais ainda a minha expectativa com o filme. Chega logo, Cegueira! Nota 5.

22 comentários:

Leo disse...

Ai Lola.. minha expectativa tá a mil já!
Fantástico esse vídeo do Saramago chorando, hein? Quase chorei junto!
O Meirelles deve estar nas nuvens!
O trailer é ótimo também! Tudo ótimo.
Chega looooogo!

Nita disse...

O trailer é realmente ótimo... fiquei com vontade de assistir o filme. E realmente, só de ser um filme baseado numa história do Saramago e sendo dirigido pelo Meirelles já é um filme que precisa ser visto.

Suzana Elvas disse...

Lola, flor;

Seu livro tá aqui, mas eu estava curta de dinheiro e por isso não te mandei. Aí os Correios entraram em greve, e quando voltaram a trabalhar você escreveu que estava voltando.

Me manda seu endereço de Joinville (ou o da sua mãe) que eu mando o livro pra você ler antes da estréia. Mas se prepara que o livro vai te dar uma perspectiva completamente diferente que a que o filme vai te proporcionar.

Bjs

Suzana Elvas disse...

Acrescentando algo ao meu comentário:

Vi o trailer agora e você pode ver a diferença do livro para o filme: pelo trailer, o Marido percebe-se cego quando acorda, de manhã. No livro, ele está no carro, esperando o sinal abrir, quando cai sobre os olhos dele o que ele chama de "cegueira branca", como se seus olhos estivessem mergulhados num mar de leite. E a tensão já bate no leitor de frente (ressaltado pelo estilo de escrever de Saramago, com longuíssimas frases e escassa pontuação, o que faz você literalmente esquecer de respirar e te deixa sem fôlego) e é descrita magistralmente, porque o Marido, chocado por não enxergar absolutamente nada (e de uma maneira inusitada, porque a cegueira sempre foi descrita como "escuridão") ainda fica nervoso com dezenas de pessoas buzinando e gritando para que ele tire o carro do meio da rua.

Uma das delicadezas de Saramago que espero Meirelles tenha conservado no filme é o cão que aparece em quase todos os livros desse autor, sempre com um nome. Em "Ensaio sobre a cegueira" é o Cão das Lágrimas (ele lambe as lágrimas da personagem principal). Ele recebe outros nomes, como "o Cão das Escadarias de São Crispim", em "Cerco dos Mouros a Lisboa", e outros que não me lembro agora.

O trailer com legendas em português eu achei aqui.

Bjs

Suzana Elvas disse...

Ops! É o teaser com legendas. Sorry!

Leo disse...

Não Suzana, acho que você se enganou. Não sei quem você está chamando de marido, mas se for o médico (Mark Ruffalo) ele se descobre cego quando acorda, segundo o livro. Quem se descobre cego no carro é o primeiro cego, que também é mostrado no trailer no carro.

Suzana Elvas disse...

Leo;

Vou checar apenas o nome dos personagens ("Ensaio" foi o primeiro livro que li do Saramago, e faz tempo, isso), mas o livro abre com a cena do homem (o marido) que fica cego no carro, e é essa tensão que bate na cara do leitor logo nas primeiras folhas.

Não queria reler o livro antes de ver o filme, porque como sou do meio literário mesmo inconscientemente começo a fazer comparações, vendo onde o diretor juntou dois personagens num só etc.

Quando eu citei essas duas cenas (não sei se a cena do médico acordando de manhã é a que abre o filme) é para mostrar que, para mim, foi mais impactante ler o sofrimento de um cidadão subitamente cego, com meia cidade buzinando e berrando atrás dele, do que ver a cena de um outro cidadão que, ao acordar e escovar os dentes, descobrir-se sem visão, no conforto do lar, ao lado da mulher.
Bjs

Suzana Elvas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Eu não sei nada do livro, mas muita gente disse que o filme não empolga. O jardineiro Fiel não empolgou não é? Ao menos não a mim.
Eu conheço o Saramago. Já servi ele duas vezes no restaurante que eu trabalho, tenho um autografo também. Ele é muito timido!

Suzana Elvas disse...

O trecho de abertura do livro (que termina magistralmente com um "Naquela noite, o cego sonhou que estava cego"):

O disco amarelo iluminou-se. Dois dos automóveis da frente aceleraram antes que o sinal vermelho aparecesse. Na passadeira de peões surgiu o desenho do homem verde. A gente que esperava começou a atravessar a rua pisando as faixas brancas pintadas na capa negra do asfalto, não há nada que menos se pareça com uma zebra, porém assim lhe chamam. Os automobilistas, impacientes, com o pé no pedal da embraiagem, mantinham em tensão os carros, avançando, recuando, como cavalos nervosos que sentissem vir o ar a chibata. Os peões já acabaram de passar, mas o sinal de caminho livre para os carros vai tardar ainda alguns segundos, há quem sustente que esta demora, aparentemente tão insignificante, se a multiplicarmos pelos milhares de semáforos existentes na cidade e pelas mudanças sucessivas das três cores de cada um, é uma das causas mais consideráveis dos engorgitamentos da circulação automóvel, ou engarrafamentos, se quisermos usar o termo corrente.

O sinal verde acendeu-se enfim, bruscamente os carros arrancaram, mas logo se notou que não tinham arrancado todos por igual. O primeiro da fila do meio está parado, deve haver ali um problema mecanico qualquer, o acelerador solto, a alavanca da caixa de velocidades que se encravou, ou uma avaria do sistema hidráulico, blocagem dos travões, falha do circuito eléctrico, se é que não se lhe acabou simplesmente a gasolina, não seria a primeira vez que se dava o caso. O novo ajuntamento de peões que está a formar-se nos passeios vê o condutor do automóvel imobilizado a esbracejar por trás do pára-brisas, enquanto os carros atrás dele buzinam frenéticos. Alguns condutores já saltaram para a rua, dispostos a empurrar o automóvel empanado para onde não fique a estorvar o transito, batem furiosamente nos v idros fechados, o homem que está lá dentro vira a cabeça para eles, a um lado, a outro, vê-se que grita qualquer coisa, pelos movimentos da boca percebe-se que repete uma palavra, uma não, duas, assim é realmente, consoante se vai ficar a saber quando alguém, enfim, conseguir abrir uma porta, Estou cego.

Suzana Elvas disse...

Cavaca;

Eu sempre gostei muito do Saramago, mas acredito que a obra dele vem decaindo devagar mas inexoravelmente desde "Ensaio", que considero sua obra-prima a rivalizar com seus livros anteriores.

A quem jamais leu nenhum livro dele recomendo começar com "Ensaio". É arrebatamento puro. O livro tem uma das cenas mais dramáticas e tenebrosas, retratando a decadência da cilização, que jamais achei igual em livro algum - a cena em que a mulher vê chamas de fogo-fátuo num depósito do supermercado.

Unknown disse...

Lola vc ja viu o trailer do novo filme trash do Zé do Caixão?
http://br.youtube.com/watch?v=AoIA1MxnFfk

Vc já viu algum filme do Zé? Parece que o filme já ganhou alguns prêmios e vai para o Festival de Veneza. Mostra o trailer pro maridão ( ele gosta dessas coisas trash né) talvez ele se anime e escreva um comentário. Ah, o filme tem no mínimo uma cena antológica, onde uma mulher se afoga numa banheira com mais de 3 mil baratas!

Unknown disse...

Sobra Cegueira minhas expectativas estão à mil!!

Santiago disse...

O Brasil só poder se orgulhar, artístiticamente falando, de: João Gilberto e Fernando Meirelles, respectivamente. O resto é resto!

Anônimo disse...

Suzana, vou ver se faço de ensaio o meu próximo livro de cabeceira...obrigado.

lola aronovich disse...

Leo, eu também tô com grandes expectativas. E esse vídeo do Saramago... Eu sempre fico com lágrimas nos olhos!


Nita, e mesmo que não fosse uma história do Saramago dirigida pelo Meirelles eu ainda estaria morrendo de vontade de ver: adoro filme de epidemias, fim de mundo, zumbis...

lola aronovich disse...

Su, vou mandar o endereço. Manda o livro, please! Tenho muita vontade de lê-lo antes da estréia do filme. E agora que não tenho mais Netflix nem nada pra ver na TV mesmo...
Su, Leo, acho o máximo vcs ficarem trocando detalhes do livro! Espero poder ler o livro logo (hint, hint, Su) pra poder participar dessas discussões.


Ah, Cavaca, eu achei o Jardineiro Fiel bem empolgante. Gostei muito. É um filme bem crítico ao sistema. Vc já serviu o Saramago, é? Que chique! Ele parece ser tímido...

lola aronovich disse...

Claudemir, vi o trailer do último filme do Zé do Caixão. Mas não gostei. Achei tão... Jogos Mortais, sabe? Nojentinho só pra chocar. Mas é uma sugestão, né? Posso escrever sobre ele pra cri-crítica de trailer. Do Zé só vi o clássico, À Meia Noite Encarnarei teu Cadáver. É muito bom!
E que é isso, Clau? Vc quer me traumatizar pro resto da vida? Não vejo filme com 3 mil baratas de jeito nenhum! Se eu já tive pesadelos com a única barata de Wall-E... Tô fora!


Ai, imagina, Santiago! O Brasil tem mil e um nomes pra se orgulhar "artisticamente falando"! Um monte mesmo! João Gilberto e Meirelles (que ainda falta muito pra ingressar o mesmo barco) são apenas dois...

Santiago disse...

Lola:

Você tem razão que colocar Fernando Meirelles no mesmo barco que João Gilberto é forçar um pouco a mào, entretando, se falar de gente competente, e viva, no Brasil, artísticamete falando, só me vem estes dois.

lola aronovich disse...

Vc tá louco, Santiago. Chico? Caetano? Rubem Fonseca? A lista é imensa... Não menospreze os nossos grandes artistas. O Brasil é reconhecido como um dos países mais criativos e talentosos do mundo!

Santiago disse...

Lola:

Aonde que Chico, Caetano, Rubem Fonseca, projetam o mesmo espectro que João Gilberto ou mesmo Fernando Meirelles? São bons, mas, se olharmos a projeção internacional, que é o que estou discutindo, são, (Chico e Caetano), do segundo time e (Rubem Fonseca) do terceiro time. Havia um que era do primeiro, mas morreu; Tom Jobim! Pare com essa bobeira que o Brasil tem artistas maravilhosos. Nem escritor muito bom aqui tem. Quem no Brasil esteve, pelo menos, perto de ganhar um prêmio Nobel? A musica, com honrosas e poucas exceções,é uma palhaçada, o cinema nem se fala. O Brasil não é um país. É um amontoado de idiotas, aproveitadores, sicofantas, como sempre, com algumas exceções. Você deveria fazer seu doutorado em sociologia. Sua vista iria clarear.

Santiago disse...

A declaração abaixo foi retirada do site do Rafael Galvão, ipsis literis.

"Dó Ré Mi Fá
Aug 8th, 2008 by Rafael Galvão

Müsica brasileira é coisa de Noel Rosa, Dorival Caymmi, Pixinguinha e João Gilberto. O resto é o resto".