quinta-feira, 24 de julho de 2008

CAUSOS DE UM BRASILEIRO NUM RESTAURANTE ITALIANO EM PORTUGAL

Cavaca é brasileiro e trabalha num restaurante italiano em Lisboa há cinco anos. Semana passada, ele escreveu um excelente guest post falando sobre gorjetas. Agora ele compartilha conosco causos da sua experiência como garçom (as fotos que acompanham este post são dele também. Visitem o Valentino quando estiverem em Portugal!).
- A coisa mais deplorável que fiz com uma cliente, que vou me arrepender eternamente, foi há dois anos. Sexta-feira, 20:00. Era uma americana de 40, vinha de braços dados com o marido, e ao seu lado um cão-guia. Eu lhe dei boa noite e ela me perguntou como eu estava. Respondi e perguntei como ela estava também. Meu patrão estava ao meu lado. Então ela disse que era cega e que o cão era absolutamente dócil, e que nós poderíamos colocá-los em qualquer cantinho. Eu abri a porta, mas meu patrão me olhou interrogativamente e hesitei (a lei diz que não pode!). E não sabia o que dizia a lei quanto ao fato de o cão ser um cão-guia. Eu disse se eles gostariam de sentar dentro ou fora, e o marido respondeu que estava demasiado frio para se sentarem fora. Então meu patrão, num inglês ruim cheio de sotaque, disse que não poderiam por causa do cachorro. A mulher começou a repetir que era cega e que o cão era o seu guia, era os seus olhos. Começou até mesmo a nos explicar isso em espanhol. E subitamente o marido disse: “Let's go baby, we don't belong to this place” (“Vamos, querida, não pertencemos a este lugar”).
Se eu pudesse voltar no tempo... Os cães-guias podem entrar em qualquer lugar.
- Agora algumas coisas que já aconteceram comigo.
Em Portugal, por regra, os copos grandes são para água e o
s menores, para o vinho. Nós usamos copos diferentes, os de vinho são taças, e os de água são como aqueles copos americanos de tomar cachaça. Não dá para beber vinho ali, né? Até dá, mas não num restaurante, quando se tem uma bela taça para esse fim. Uma senhora não concordou comigo e me disse:
"Estás a me servir no copo errado".
"Desculpe senhora, mas usamos esses copos maiores para o vinho".
"Mas são copos errados"
"Ok". Troquei os c
opos.
Ela ainda não estava contente em estragar o meu dia, e arrematou:

"Ouve-lá uma pessoa que sabe mais que tu e meta esse vinho no copo como dever ser".

Respirei fundo e disse em pensamento:
"Para mim é igual, coloco até no prato se vai fazê-la sentir-se melhor".
- Uma vez um cliente indiano milionário quis que eu começasse a saltar ao lado da mesa, assim como se fosse uma mascote, porque não tínhamos o vinho que ele pediu.
Eu saltei foi para longe daquela mesa e o meu pensamento não dá para ser transcrito aqui.
- Costumamos colocar um cesto de pão com dois pães nas mesas, que é o couvert, para as pessoas irem comendo enquanto esperam pela comida. Uma vez um senhor reclamou com o meu colega e pediu para falar comigo. Quando cheguei na mesa, notei pelos olhares das mesas vizinhas que ele já se tinha feito ouvir:
"Ouve lá, por que dois pães se somos quatro?”

"Boa noite para o senhor também... Quanto aos pães, é só pedir mais ao meu colega que ele traz imediatamente".
"Foi o que ele fez. Mas essa é uma mesa de quatro, não é? Você é brasileiro?". Parecia estar sentindo um cheiro ruim quando disse isso.
"Sou".
"Já não há mais portugueses em Portugal", sussurrou ele para os convivas.
"Desculpe?" - eu disse.

"Isso mais par
ece racionamento", tornou ele. "Sabe o que significa racionamento?"
Em pen
samento, respondi: "É o que o senhor deveria fazer com as suas palavras”.
- Tem gente que recebe um tratamento que nunca teve na vida e deixa 0,20 cêntimos. Sacanagem, é melhor não deixar nada. Eu devolvo.
- Uma vez um colega meu foi esmurrado. O cliente de um grupo havia ido ao banheiro e deixado a carteira sobre a mesa. Já estavam de saída; no entanto, a namorada apanhou a carteira e ficou à espera dele no carro. Ele simplesmente acusou meu colega de ter roubado a carteira e deu-lhe um murro. Brasileiro é tudo ladrão mesmo, né? Depois vem a namorada com a carteira dele na mão. O nosso segurança teve uma conversinha com ele. Acho que não aparece mais por aqui.
Isso acontece no nosso restaurante, que é considerado de luxo.
- Uma das coisas que dá mais nos nervos de toda a gente é aquela pessoa que come azeitona de garfo e faca, ou que trisca a pontinha da faca numa gota de manteiga, e cruza os talheres quando chegam os pratos para você ter que trocá-los! E você com mais oito mesas requisitando a sua atenção.
- O que a maioria dos portugueses faz: apenas se senta, levanta o braço e te chama.
Você vai: “Boa noite”.
Nada. Todo mundo olhando a carta e falando entre si.
“Boa noite...” - você fala, ligeiramente mais alto.
Nadinha.
“Já escolheram?”
“Filipa”, - diz o marido - “queres partilhar uma pizza comigo?”.
“Não, quero uma massa, mas nem sei se é aquela com tomate ou com caril. Ai, vamos pedir para os miúdos primeiro. Pedrinho, que pizza queres?”
“Não quero pizza!” - grita a peste.

O cara nem escolheu, e já me chama!
É melhor parar, senão me empolgo. Se calhar o Vitor teve mais sorte lá no Havaí.
Aviso lolístico: Essas são experiências e observações do Cavaca, não minhas, que infelizmente ainda não fui à Portugal. Tenho certeza de duas coisas: que Cavaca adora Portugal, ou não moraria lá há quinze anos, e que os leitores portugueses deste bloguinho são super bem educados e simpáticos.

23 comentários:

Jael Soares disse...

Brasileiro sofre, MAS NÃO DESISTE NUNCA!

Rsrsrsrsrs...

Dgsantos disse...

Pois é, gente sem educação tem em todo lugar e em todas camadas sociais...
Aliás, tenho a impressão que os mais abastados tentem a ser ainda mais grossos e estúpidos, principalmente quando tratam com gente que não é do "nível" deles...

Unknown disse...

Também sou brasileira. Cavaca é um grande amigo meu, uma pessoa muito educada, ponderada, um verdadeiro cavalheiro!
Aqui no Brasil, também existem pessoas que pensam que o dinheiro compra tudo, inclusive bons modos.
Muito me entristece o fato de alguns países Europeus acolherem tão mal aos brasileiros. Aqui, todos são recebidos de braços abertos e tratados, no mínimo, como seres humanos.
Entretanto, como conheço bem o Sr.Cavaca(rsss...), sei que ele teve experiências maravilhosas neste país, conheceu pessoas formidáveis, fez amigos, a ponto de relevar esta parcela ínfima de gente que nem ao menos "se gosta"!

lola aronovich disse...

Entao, Jael, provavelmente qualquer pessoa que trabalha constantemente com o publico, em qualquer lugar, deve ter alguma historia de horror pra contar. Ainda bem que a maioria das pessoas eh legal e educada, mas sempre tem alguem pra estragar o nosso dia. Ahn, nossa semana? (vamos ser otimistas).


Eu tb tenho essa impressao, Daniel. Isso do "Vc sabe com quem esta falando?!" (que vem geralmente de gente mais abastada) eh uma praga.

lola aronovich disse...

Vivian, vc mora em Lisboa tb? O Cavaca realmente parece um otimo sujeito. Espero que ele nao esteja bravo comigo por ter me mandando um longo email que eu ainda nao tive tempo de responder...
Eu nao entendo maus modos. Eh tao mais facil ser educado! Claro que as vezes a gente pode perder a paciencia, ou as vezes pode estar de mau humor, mas dentro de alguns limites. E precisa haver uma certa "justa causa" (como ficar uma hora no telefone numa central de atendimento pra resolver algum problema que a empresa, nao a gente, causou. Isso eh universal hoje em dia!).
Acho que deve haver paises ricos que recebem mal qualquer nacionalidade, ainda mais as que costumam chegar ilegalmente. Aqui nos EUA, que ja foi uma "terra de imigrantes", ha um preconceito grande contra os mexicanos. Hoje vi uma "enquete" num site de direita. Dizia: "Vc cederia seu emprego para um imigrante ilegal?". Olha so que pergunta estupida! QUEM cederia o emprego pra qualquer um? Ate parece que imigrante ilegal pode pegar o emprego que quiser. Ele pega o emprego que ninguem mais quer fazer!
Deve ser muito bom pra quem chega ilegalmente num pais um dia conseguir se legalizar. Nem sei se eh o caso do Cavaca! So estou falando que deve ser um grande alivio.
Apareca sempre, Vivian!

Leo disse...

Olha... eu não quero generalizar.
Deixei Portugal com alguns bons amigos com os quais ainda tenho contato.
Mas passei poucas e boas na terrinha também. O tipo de preconceito contra brasileiro que o Cavaca apontou é muito comum em Portugal. De tudo eu já ouvi por lá. Quando voltei era tão grosseiro. Parecia que estava esgotado. Em algumas situações eu tentava me acalmar, explicando para mim mesmo que esse era o jeito deles, que eles não faziam de propósito. Foi o caso de uma vez no mercado em que eu estava bloqueando a passagem de uma senhora, ao que ela disse: "Dá-me licença!" Cheia de autoridade. No Brasil diriam: Por favor, será que você poderia me dar licença?
Eles são grosseiros por natureza.
Em outros casos, não houve pensamento que poupasse uma briga. Coleciono bate-bocas com o guichê da rodoviária, a caixa dos correios (depois da nossa briga, tinha que andar kilômetros pra mandar uma carta, porque não dava mais pra voltar no correio perto de casa) e até com um garçom (português, viu Cavaca) num restaurante do Bairro Alto, entre muitos outros que apaguei da memória.
Sinto saudade de muitas coisas de lá. Mas não do dia-a-dia. Não das pessoas. E por pessoas, não me refiro àquelas que são minhas amigas, ou que conheci, mas sim às que não eram conhecidas, mas com as quais cruzava ao longo do dia.

Ollie disse...

Posso dizer que ADORO essas histórias do Cavaca? Ele escreve muito bem e com uma fluência deliciosa de se ler.

O Cavaca deveria criar um blog para escrever sobre suas experiências.
(E nem precisa nem citar nomes, nem nada, só com as histórias mesmo, para não comprometer ninguém).

Tem um blog de um cara que é taxista e que escreve sobre o seu dia-a-dia. Acho que se chama Taxitramas. Adoro.

Jael Soares disse...

Tenho alguns amigos virtuais do Peru e Espanha, por exemplo.

Três do Peru são ótimos "amigos", mas o resto não são nada amigáveis. Não estão nem aí se são mal educados ou não; parecem estar de tpm o dia todo - mesmo sendo homens, rsrsrs. Mas, tudo bem, não ligo muito - eu só converso com eles para aprender espanhol mesmo, hauhauahuahua...

Contudo, nossa mídia transmite apenas as merdas dos brasileiros, não muito as nossas coisas boas... Espero poder revolucuinar esta joça - pena que terei um redator-chefe :'(.

lola aronovich disse...

Ah, não sei, Leo. Às vezes o "Dá licença!" não é necessariamente mal-educado, é só cultural de cada lugar não ser tão simpático. Não sei. Eu fiquei com uma impressão muito ruim dos russos quando estive em Moscou. Sabe isso do pessoal NUNCA segurar a porta pra alguém? Nem pra mulher com bebê de colo? E tô falando das portas pesadonas deles, que têm que aguentar invernos terríveis. Fiquei bem horrorizada com isso. E eles nunca diziam "dá licença". Só entravam sua sua frente, às vezes até esbarravam, e não pediam desculpas. No Brasil certamente é diferente. Aliás, aqui nos EUA é completamente diferente. As pessoas são educadas. Se vc entra num elevador a pessoa mais próxima do painel sempre vai perguntar pra qual andar vc quer ir, e apertar o botão pra vc. Nos ônibus, se alguém sequer encostar em vc um milimetro, eles imediatamente pedem desculpas (claro que também demonstra um puritanismo quase doentio. Ninguém pode encostar em ninguém). Mas é tudo cultural. Claro que prefiro o jeito brasileiro (e americano) de ser que o russo, mas é porque eu vivi toda a minha vida no Brasil. Os russos devem achar que NÓS somos muito estranhos... E tem vezes que esses estranhos que nos parecem tão grosseiros na rua viram pessoas legais quando as conhecemos melhor. Eu não sou a pessoa adequada pra falar, porque sou bem impaciente às vezes, mas a gente precisa ser tolerante com as diferenças culturais (até certo ponto... Isso de cortar clitoris nas mulheres eu não respeito de jeito nenhum. Nem farra do boi. Nem tourada. Etc etc etc).

lola aronovich disse...

Concordo, Ollie. O Cavaca bem que podia começar um blog. Eu gosto muito de ouvir/ler experiências interessantes. E é por isso que adoro essa idéia do "guest post". Porque se depender de mim nunca vou poder contar uma história como a do Cavaca. Cada experiência é única. Por isso, fica o convite: se alguém mais quiser fazer um guest post por aqui, agradeço muitíssimo.

Jael, apesar da mídia em geral só divulgar aspectos negativos dos brasileiros, a gente tem uma fama espetacular como um dos povos mais simpáticos (se não O mais simpático) do mundo. O Brasil tem uma ótima reputação. E não é só em relação à carnaval, samba, praia e futebol (que, convenhamos, é melhor ser associado a essas coisas que à guerra, imperialismo, terrorismo etc). Hoje abri uma revista qualquer enquanto esperava pra falar com o gerente do banco. Era uma revista americana sobre finanças. E havia uma matéria sobre o que eles estão chamando de "BRIC", que são os países que mais crescem no mundo, segundo a matéria, e onde mais vale a pena investir: Brasil, Rússia, Índia e China. E falava maravilhas sobre o Brasil, inclusive sobre o governo, e sobre como a classe média cresce a cada dia. É estranho porque, ultimamente, o Brasil vem recebendo um monte de "good press" internacional. Mas se depender da mídia brasileira, a gente tá num poço sem fundo.

Anônimo disse...

Lamento pela mulher com o cão guia... :-( Eu ficaria arrasada nessa situação, estando de um lado ou de outro.
Certa vez, em Fortaleza, estava numa sorveteria italiana com a minha mãe e presenciei a pior cena de humilhação e grosseria que já vi, protagonizada por um turista português. Ele pediu à mocinha sorvete pra família toda, e pediu que misturasse vários sabores. Falava rápido e parecia que pedia todos os sabores da casa e, claro, a menina se atrapalhou, trocou as bolas... Putz, ele ficou uns 5 minutos acabando com a raça da moça, e ainda pedia com todo o cinismo do mundo que ela respirasse fundo e não ficasse nervosa... depois ainda falou mal da sorveteria na frente da dona, que dava apoio incondicional à atendente, falou horrores da terra do sol (tudo mentira, sem o menor cabimento!) e disse que o Brasil ainda precisava evoluir muito para atender bem os turistas e que nunca mais voltava lá! Isso acabou com o meu dia... as pessoas ficaram chocadas, paralisadas, e a cena pareceu uma eternidade. Acho que alguém só não bateu no homem porque ele estava com a mulher e 2 filhas pré-adolescentes que permaneceram com a expressão mais calma do mundo, como se a cena fosse normal! Saí de lá com mal-estar, com raiva, vontade de chorar e muito envergonhada por não ter feito alguma coisa...
Mas o melhor de tudo foi no dia seguinte. RÁ! E a minha surpresa ao encontrar o estúpido no aeroporto, de madrugada, a esperar um vôo super popular da TAM? Vôo fretado da CVC, hahahahaha! E foi um chá de cadeira! Ele estava calmíssimo... Só não desejei que o avião caísse pq eu estava no meio... É muito estranho que essa "grosseria cultural", como alguém já disse, venha justamente dos portugueses... não entendo.
Abraços, adorei as histórias do Cavaca.
LucianA

lola aronovich disse...

Ai, gente, mil perdões! Nos comentários ao ótimo post do Cavaca na semana passada, teve um pessoal que continuou comentando... e eu só li hoje! E a discussão segue ótima. Desculpem não ter lido antes. Vou comentar (rapidinho) aqui nesse post mesmo, pode ser?
A Raquel, ou Ladyoftheflies, explicou como funciona o sistema de gorjetas nos EUA. Puxa, é uma droga isso de ser taxado em cima de uma estimativa de gorjeta! Mas acho que é bem comum, Raquel, na maioria dos países, garçom receber um salário muito baixo e tirar a maior parte da renda através das gorjetas. Mas também acho justo 10%. Pra mim, pessoalmente, ter que pagar 20% de gorjeta inviabilizaria muitas idas a restaurantes, porque ficaria caro demais. E outra coisa que eu não consigo deixar de calcular é mais ou menos quanto a pessoa está ganhando por hora. Acho ótimo que algumas pessoas possam pagar uma gorjeta de 10 dólares pra um atendimento que durou uma hora. Mas eu não poderia, porque não costumo ganhar muito por hora. Mas aí a gente entra naquela discussão de o que é pro bico de cada um. E sei que tem muitas coisas que estão fora do meu alcance. Francamente, nem me sentiria bem comendo num restaurante caríssimo. Com os meus modos à mesa, as minhas roupas nada elegantes, a minha total falta de cerimônia, e o meu gosto pelas coisas simples (incluindo comida simples), eu seria um bicho exótico. Talvez aí esteja o meu problema com as gorjetas: eu não gosto de ser servida. Prefiro self-service todas as vezes. Prefiro comprar comida e levar pra casa. E já falei que adoro ler enquanto como? Acho que sou muito contra cerimoniais, rituais. E ser atendida por um garçom num restaurante é mais um desses rituais. Cada vez mais eu me convenço que restaurantes, em geral, não são pra mim. (agora, eu ADORO comer churrasquinho com queijo num boteco!).
Aqui nos EUA - não me lembro como é no Brasil - todo lugar que vende comida pra levar pra casa tem um potinho agradecendo a gorjeta. E nisso eu tenho que concordar com o Mr. Pink em Cães de Aluguel (ainda vou escrever um post sobre isso): por que a sociedade nos manda dar gorjeta pra um tipo de garçom e não pra outro? Os atendentes do McDonald's também ganham salário mínimo, e não recebem gorjeta. É pra se pensar... Não estou dizendo que devemos parar de dar gorjeta! Mas o sistema dos 10% que temos no Brasil me parece bem justo.

lola aronovich disse...

Vitor, imagino que sim, que o interior de Pernambuco seja muito diferente de Recife. Mas outras capitais nordestinas também são bastante grandes e têm problemas de violência (Natal, Fortaleza), e as pessoas lá me pareceram menos estressadas. Mas foi só minha impressão, não é a verdade absoluta!


Pri, acho que o que o pessoal quer dizer quando fala de tratamento especial não é exatamente um tratamento diferenciado, mas um mimo. Sabe, vc se sentir tão bem servida que se sente como uma rainha? Pra mim isso é frescura, não tenho nenhuma vontade de ser super bem servida, mas pra muita gente isso é importante. É um ritual. E acho que muita gente vai a um restaurante mais chique (ou a um spa, ou a um cruzeiro) pra receber esse tratamento pessoal. Mas é bem pouca gente que pode pagar por esse luxo, óbvio. E eu acho, sinceramente, que uma pessoa que pode pagar um restaurente cinco estrelas deve estar preparada pra pagar a gorjeta de um garçom cinco estrelas. Faz parte do programa. E não acho que dar gorjeta seja caridade ou gentileza. É uma obrigação pra quem vai a um restaurante. A gente ajuda a pagar o salário daquele funcionário. Também acho que os donos de restaurante poderiam diminuir um pouco seus lucros e pagar um salário melhor, mas, pra mim, os 10% fazem parte do pacote. Só não vou pagá-los se o atendimento for muito ruim.
Acho natural esperar que a mulher do Bill Gates deixe ótimas gorjetas. É uma questão de distribuição de renda. Ele e mais uns três caras mais ricos do mundo têm o equivalente ao PIB de quantas nações mesmo? 140? Sorry, odeio viver num mundo em que 4 carinhas tenham tanto dinheiro quanto sei lá quantos milhões de pessoas. Não acho justo mesmo. Não acho que isso possa ser justificado moralmente. E é triste viver numa sociedade em que isso não é sequer questionado. A gente acha que o Bill Gates "mereceu" a fortuna que tem e fim de papo. E ainda aplaude que ele gaste tanto com caridade...
Pri, a gente vive num mundo cheio de regras. Deixar gorjeta é uma dessas regras. Em alguns lugares, como o Brasil, essa regra é bem explícita - temos os 10%. Noutros, nem tanto, mas a regra implícita vale. Acho que o garçom tem direito a esperar que seus clientes sigam essa regra, se se sentirem bem atendidos.
Mas pessoal, discutam! Esse é um tema muito legal.

Anônimo disse...

Olá pessoal...para quem quer que eu monte um blog me desculpe, não tenho tempo nenhum para isso. No quesito internet só dá mesmo para vir comentar aqui na lola.

Agora ok, a maioria das pessoas aqui tem dinheiro, o turista europeu tem muito dinheiro. Eles fazem uma média de 1500 euros para gastarem por semana. A parte o hotel. Esse dinheiro é só para gastar, comprar, comer bem, passear... É uma questão de estilo de vida, essas pessoas não querem aborrecimentos, aliás evitam ao máximo, se zangam pouco e são pouco exigentes, se vc não tem algo, tudo bem traga o que vc tem...São muito simples!

O problema desse trabalho é que não dá para responder ao cliente. Não permitimos isso. A treta do "cliente tem sempre razão" é a cartilha que usamos. Por isso responder em pensamento é reprimir! Aquilo fica rebatendo dentro de você, uma humilhação sem troco produz dois fios de cabelo branco. Muitas humilhações num dia as vezes tira o sono.

Anônimo disse...

ola lola! meu nome é Rena e trabalho juntamente com Luciano(cavaca), conheço o Luciano à 1 ano e ja posso dizer o excelente profissional que ele é, é uma pena que nem todoas as pessoas podem reconhcer isso.

Muitas das historias por ele citada eu nao presenciei, mas outras tambem estive presente, na minha opiniao, ele foi até "piedoso" em seus comentarios....mais enfim....aqui somos apenas brasileiros emigrantes nao é? talvez seja por isso que os portugues nos tratam dessa forma(o restaurante em que trabalhamos nao hà sequer um funcionàario portugues)...

Portanto, terminado o raciocinio, queria dizer que adoro Portugal e nao tenho nada contra os portugueses..mas nem por isso nao posso deixar desses "abusos" que sofremos em nosso trabalho.

lola aronovich disse...

Luciana, mil perdões, pulei o seu comentário. Vc deve tê-lo publicado bem na hora em que eu respondia outro. Puxa, que caso lamentável esse que vc relatou. Geralmente essas cenas de constrangimento em público, por mais leves que sejam, já são terríveis. Quando são mais humilhantes ainda, então... Eu não sei se eu teria conseguido ficar quieta não. Mas não sei, tem vezes que a gente fica tão chocada que acaba ficando sem reação mesmo. Só que, sinceramente, já vi esse tipo de estúpido em muitas nacionalidades. Acho que é pior ainda quando é turista visitando um país, porque turista, a meu ver, precisa ser extra-educado. Afinal, ele precisa respeitar o lugar que está visitando, e às vezes funciona como quase um "embaixador" do seu país natal. Imagina se a moça na sorveteria só conhecesse aquele português? Iria ficar com uma péssima imagem dos portugueses... Ainda bem que português não falta no nordeste!

lola aronovich disse...

Oi, Cavaca! Viu como seus guest posts fazem sucesso? Se quiser escrever mais, esteja à vontade...
É, quando se trabalha com o público é mesmo necessário engolir sapos. Não acho que é sempre que o cliente tenha razão, lógico, mas às vezes tem. E eu prefiro essa filosofia de "o cliente tem sempre razão" (com grandes exceções) que o que eu vejo nos EUA, que é: o cliente nunca tem razão, o cliente que se exploda. Mas acho tb que o comércio daqui age assim porque ninguém nunca reclama. Americano é tão passivo, em geral... É preciso haver bom senso das duas partes, de quem está atendendo e de quem é atendido.
Torço pra que vc não tenha que engolir muitas humilhações, Cavaca! Mas sim, deve dar muita vontade de responder às vezes. Vcs fazem uma "terapia em grupo" entre garçons no final do expediente? Acho que ajudaria a descarregar!

Santiago/Rena, obrigada pela contribuição. Imagino que pessoas de outras nacionalidades trabalhando em outros países também tenham histórias parecidas pra contar. Gente mal-educada existe em todo lugar, a gente bem sabe. Se tiver outros "causos" pra acrescentar, fique à vontade.

Anônimo disse...

No final do dia temos que fechar os nossos caixas, cada empregado tem o seu. É nessa hora que vêm à tona todas as coisas que aconteceram durante o dia, cada um toma a bebida que quiser e falamos. E por pior que seja o causo sempre buscamos fazer piada com isso, o que ajuda aliviar o estress.

Hugo Chavez esteve em Lisboa, algumas pessoas da comitiva dele passaram por aqui, para jantar. Seria interessante se ele aparecesse também, mas não aconteceu. Mas foram simpáticos de me fizeram ver um passaporte diplomático pela primeira vez. E é preto!

Já agora te digo os famosos que passaram por aqui:
Adriane Galisteu
Martinho da Vila
Silvio Santos
Fafá de Belém
Romário
Roger
Backenbauer
Euzébio (o rei da bola, frequente por aqui)
Cristiano Ronaldo´
Quaresma (jogador do porto)
Luizão (ex-jogador da seleção brasileira)
Anderson polga
Bill Gates (Bem, esse foi quase, veio a equipe de segurança fechar o restaurante e vasculhar tudo e desistiram quando meu patrão se recusou que outra pessoa entrasse na cozinha para cozinhar para ele)
Zico
E muito actor da globo também que eu nem lembro o nome perissé qualquer coisa...

Jael Soares disse...

Ah, isso é verdade. A mídia internacional é bem "amigável" quando se trata de matérias sobre o Brasil... Só se mostra "inimiga" quando pegam uma matéria jornalística brasileira como base para noticiar algo lá fora.

Ah! E fez bem você ter me dito isso sobre a revista que leu. Eu não sabia desta história do "Bric". Vou pesquisar mais.

(Uma coisa que ia falar e, por esquecimento, não o fiz: conversando consigo aqui nos comentários, tenho uma sensação que estamos conversando pessoalmente, rsrsrs; você fala de uma maneira muito natural).

Unknown disse...

Sou amigo de luciano e trabalho com ele sou responsavel pelo bar do restaurante e sorveteiro .A questao das gorjetas nao me implicam muito porque a maioria dos restaurantes de lisboa a gorjeta e dividida entre todos os que ali trabalham,mas no valentino isso nao acontece.Geralmente um bom atendimento e essencial como um bom prato e uma optima sobremesa ou outra coisa especial que as vezes requesitam o cliente ,tanto a cozinha quanto o bar tambem trabalham para que o empregado de mesa tenha a sua gorjeta,mas esses nuncam sao lembrados

Unknown disse...

Sou amigo de luciano e trabalho com ele sou responsavel pelo bar do restaurante e sorveteiro .A questao das gorjetas nao me implicam muito porque a maioria dos restaurantes de lisboa a gorjeta e dividida entre todos os que ali trabalham,mas no valentino isso nao acontece.Geralmente um bom atendimento e essencial como um bom prato e uma optima sobremesa ou outra coisa especial que as vezes requesitam o cliente ,tanto a cozinha quanto o bar tambem trabalham para que o empregado de mesa tenha a sua gorjeta,mas esses nuncam sao lembrados

lola aronovich disse...

Oi, gente! Desculpem não responder esses comentários antes, só os vi hoje!
Cavaca, é, é bom trocar histórias antes de fechar. Deve ajudar a reduzir a tensão.
Puxa, todos esses famosos já passaram pelo restaurante?! Chique! Mas pô, sério isso do Bill Gates?! Tem que fechar o restaurante pra ele e alguém preparar a comida pra ele? Como é que pode?! Ele não é chefe de Estado nem nada! Não é muita neurose não?
Por que alguém iria querer matá-lo?

lola aronovich disse...

Jael, obrigada, esse é um elogio que recebo às vezes: que me ler equivale a "falar comigo", já que escrevo de forma bem coloquial. Considero um elogio!


Weslei, vc tem razão, parece injusto mesmo. Acho que as gorjetas deveriam ser repartidas entre todos. Ou pelo menos uma porcentagem delas deveria ir para quem não atende diretamente o cliente, mas participa do bom atendimento como um todo.
Ah, mas é de vc que vou depender pra receber sobremesa de graça quando eu for a Portugal, né? E como é trabalhar com sorvete? Pode comer bastante sorvete ou enjoa? É controlado? Abração!