terça-feira, 30 de janeiro de 2018

NO PAÍS DA PIADA PRONTA

Coisas que me chamaram a atenção hoje (algumas são de ontem e eu só fiquei sabendo hoje). Porque não vou ter tempo de escrever um post decente.
Alguém que não sei quem é reclamou num tuíte que quem usa Adblock está matando a web. Eu não uso Adblock, nem sei como instalar, mas tá insuportável assistir qualquer vídeo no YouTube, por exemplo. Fica sendo interrompido toda hora por anúncios. E sem falar que se você compra uma calcinha online, o seu destino será ver a mesma calcinha à venda em cada página que abrir. 
E aí, vocês usam? (AdBlock, não calcinha).
Vi o vídeo do ratinho tomando banho. Fofinho. Mas nessa imagem congelada tá parecendo uma rã.
Mas o melhor foi o vídeo da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) num iate, ao lado de quatro caras sem camisa, se defendendo das acusações de responder a processos trabalhistas. No país da piada pronta, Cristiane foi escolhida por Fora Temer para ser ministra do Trabalho. Mas a presidenta do STF Carmen Lúcia suspendeu sua posse, já que Cris foi condenada a pagar R$ 60 mil por dívidas trabalhistas para um de seus ex-motoristas, e fez acordo de R$ 14 mil com outro. 
Só recapitulando: ministra do Trabalho num iate (ou lancha, ou barco, dependendo da notícia) com homens que dizem ser empresários falando "Tô com você, doutora" e "Ação trabalhista toda hora a gente tem". 
O vídeo e a total falta de noção da deputada e dos empresários perguntando "Ação trabalhista? Quem nunca?" são divertidos -- é rir pra não chorar --, mas fichinha perto da notícia seguinte. O pai de Cris, o deputado Roberto Jefferson (que ficou conhecido nacionalmente por ser um dos maiores defensores de Collor durante seu impeachment), pediu compostura à filha.  
Olha, pro Roberto Jefferson puxar a orelha de alguém é porque a coisa tá feia mesmo. Foi bonito também Roberto descobrir que tem muito "troglodita" nas redes. Ele deve saber, pois é um político querido pelos reaças no Twitter.
Ah, antes de eu ir, um assunto sério. Saiu uma excelente reportagem da Agência Pública que vocês devem ajudar a divulgar. Existe um site chamado "Gravidez Indesejada" que serve como armadilha para mulheres desesperas que engravidaram sem querer. O site dá a entender que vai ajudar a mulher a abortar, mas pertence na realidade a uma organização anti-aborto (em todos os casos, inclusive em casos de estupro) ligada a Opus Dei. 
A intenção dessas organizações (que existem em vários países, sempre agindo da mesma forma: mentindo, sem a menor transparência) é, além de convencer a mulher a não abortar -- mostrando-lhe vídeos sensacionalistas e fazendo com que ela toque em fetos de borracha --, enrolar. O tempo vai passando e a gestação não espera, até que não dá mais pra fazer um aborto.
O que a associação faz é o velho terrorismo que todos os pró-vida fazem. Dizem que a mulher pode morrer durante o aborto (a Pública lembra que em Portugal, onde o aborto é legalizado há mais de uma década, o número de mulheres que morrem ao praticar um aborto despencou. Desde 2012 não morreu uma só mulher em decorrência de aborto), que a mulher ficará traumatizada pra toda vida, que "vão furar seu útero", que "tem médico que dá tapa na cara". 
A novidade foi a "argumentação" que um dos psicólogos da associação usou para convencer a repórter (que se passava por gestante) a não abortar. Luiz Carmona falou das consequências do aborto no homem. Os parceiros de mulheres que abortam, segundo ele, lançam-se a drogas e álcool, tornam-se violentos e... impotentes. Essa foi nova pra mim!
Se muitas vezes somos proibidas até de falar sobre aborto no Brasil, o mínimo que podemos fazer, na minha opinião, é denunciar sites que dão golpes (vendem remédio abortivo e não entregam, ou entregam qualquer coisa falsificada) e que enganam mulheres, como o "Gravidez Indesejada". 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

ACADÊMICAS ENFRENTAM AVALIAÇÕES MAIS RIGOROSAS QUE SEUS COLEGAS HOMENS

Ontem o Globo publicou uma excelente matéria sobre o que é conhecido como "efeito tesoura", que busca entender por que as mulheres, que são maioria em todos os níveis educacionais, vão sendo cortadas à medida que tentam avançar na academia.
Por exemplo: nas bolsas de iniciação científica, concedidas na graduação, 59% vão para alunas mulheres. Já nas bolsas de produtividade, a parcela feminina cai para 36%. E nas bolsas de produtividade 1A, as mais altas, apenas 25% vão para mulheres. 
Outros números interessantes: na Física, entre os formandos, as mulheres são 30%. Mas no mestrado e doutorado esse número cai para 20%. E, entre os professores na área, só há 15% de mulheres. 
Nas universidades federais brasileiras, há 29% de reitoras. Na Academia Brasileira de Medicina, embora as mulheres sejam maioria entre os formandos (55%), há só 5 entre 115 membros (4%). O CNPq nunca teve uma presidenta em 66 anos de existência. Na Academia Brasileira de Ciências, só 14% são mulheres. Em seus 102 anos de vida, nunca tiveram uma mulher na presidência. E por aí vai.
Para começar a entender as causas dessa desigualdade que persiste, recomendo o artigo de Vanderlan da Silva Balzani, "Mulheres na ciência: por que ainda somos tão poucas?" 
E vale lembrar que essa dificuldade de acadêmicas chegarem ao topo existe em todas as áreas, não só nas de exatas. 
Turma de Filosofia da UFPI UAB 2018
Por exemplo, neste artigo, Carolina Araújo analisa as mulheres na pós-graduação em Filosofia no Brasil. Homens são maioria na Filosofia (62% dos formandos), mas no mestrado e doutorado a proporção de mulheres diminui em 48%. A conclusão é que mulheres têm aproximadamente 2,5 vezes menos chance do que os homens de chegar ao topo dessa carreira profissional.
Reproduzo aqui um ótimo artigo da economista e professora Monica de Bolle publicado recentemente no Estadão. Ela fala principalmente de sua área (economia), mas os surpreendentes achados valem pra todas.

Em meio ao fu­ror ge­ra­do pe­los es­cân­da­los de as­sé­dio se­xu­al nos Es­ta­dos Uni­dos -- as­sé­dio, não ga­lan­tei­os –-, per­di­da fi­cou uma dis­cus­são pa­ra lá de ur­gen­te: o pa­pel da mu­lher na aca­de­mia, so­bre­tu­do na Eco­no­mia. Na úl­ti­ma reu­nião da Ame­ri­can Eco­no­mic As­so­ci­a­ti­on, con­ven­ção que reú­ne mi­lha­res de eco­no­mis­tas aca­dê­mi­cos to­do iní­cio de ano, hou­ve uma ses­são es­pe­ci­al­men­te de­di­ca­da ao pa­pel da mu­lher na eco­no­mia e às evi­dên­ci­as de discrimi­na­ção que sal­tam aos olhos na pro­fis­são. Pa­ra o Bra­sil re­bai­xa­do de­vi­do às fa­lhas da equi­pe de ho­mens de Te­mer, po­de ser que es­sa pa­re­ça dis­cus­são me­nor, sem sen­ti­do, bo­ba­gem. Não é.
Bet­sey Ste­ven­son, pro­fes­so­ra da Uni­ver­si­da­de de Mi­chi­gan, ana­li­sou a ocor­rên­cia de nomes e pro­no­mes mas­cu­li­nos nos exem­plos dos li­vros-tex­to mais uti­li­za­dos nos cur­sos bási­cos de eco­no­mia. Seus acha­dos? Cer­ca de 77% das ve­zes, os prin­ci­pais li­vros de economia va­lem-se de exem­plos com ho­mens pa­ra ex­pli­car con­cei­tos fun­da­men­tais: “Fula­no de tal é um fa­zen­dei­ro que ven­de tri­go em um mer­ca­do on­de há con­cor­rên­cia per­fei­ta. Ele é, por­tan­to, um to­ma­dor de pre­ços”.
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As mu­lhe­res apa­re­cem ape­nas 18% das ve­zes, e, quan­do apa­re­cem, são con­su­mi­do­ras, donas de ca­sa, ou pes­so­as que so­frem a ação de ou­tras –- elas ra­ra­men­te apa­re­cem co­mo to­ma­do­ras de de­ci­são e qua­se nun­ca são ci­ta­das co­mo ges­to­ras de po­lí­ti­ca econô­mi­ca. A úni­ca ci­ta­da com frequên­cia é a ex-di­ri­gen­te do Fe­de­ral Re­ser­ve (Fed, o ban­co cen­tral ame­ri­ca­no) Ja­net Yel­len. Ela foi a pri­mei­ra mu­lher a ocu­par o car­go e fi­cou ape­nas um man­da­to na po­si­ção, ten­do si­do re­cen­te­men­te subs­ti­tuí­da por Je­ro­me Powell, cu­jas creden­ci­ais aca­dê­mi­cas e ex­pe­ri­ên­cia co­mo ges­tor de po­lí­ti­ca econô­mi­ca não che­gam aos pés das de Yel­len.
Pas­se­mos a ou­tro ar­ti­go, o de Erin Hen­gel da Uni­ver­si­da­de de Cam­brid­ge. Hen­gel examinou o tra­ta­men­to con­fe­ri­do às mu­lhe­res nas prin­ci­pais pu­bli­ca­ções ci­en­tí­fi­cas. Artigos aca­dê­mi­cos de au­to­ria de mu­lhe­res le­vam, em mé­dia, seis me­ses a mais pa­ra passar pe­lo pro­ces­so de pe­er re­vi­ew –- o con­tro­le de qua­li­da­de da aca­de­mia. Evidentemen­te, es­se re­sul­ta­do con­tro­la a qua­li­da­de do ar­ti­go e sua re­le­vân­cia ci­en­tí­fi­ca. Ou se­ja, mu­lhe­res que pro­du­zem ar­ti­gos com a mes­ma qua­li­da­de e im­por­tân­cia que os homens en­fren­tam cri­té­ri­os mais ri­go­ro­sos na ava­li­a­ção de sua pes­qui­sa.
Co­mo a pu­bli­ca­ção em uma re­vis­ta ci­en­tí­fi­ca de pon­ta é a mé­tri­ca fun­da­men­tal a par­tir da qual a com­pe­tên­cia de um pes­qui­sa­dor aca­dê­mi­co é avaliada, não sur­pre­en­de que ha­ja me­nos mu­lhe­res com status de pro­fes­so­ras ti­tu­la­res nos prin­ci­pais de­par­ta­men­tos de econo­mia das mais im­por­tan­tes uni­ver­si­da­des ame­ri­ca­nas do que ho­mens.
Por fim, o ar­ti­go de Tatya­na Avi­lo­va, da Uni­ver­si­da­de de Co­lum­bia, e de Clau­dia Gol­din, da Uni­ver­si­da­de Har­vard. 
As au­to­ras mos­tra­ram que nos cur­sos de gra­du­a­ção nos EUA há me­nos mu­lhe­res do que ho­mens em uma ra­zão de 1 mu­lher pa­ra ca­da 3 ho­mens. Ta­ma­nha diferen­ça não se cons­ta­ta em dis­ci­pli­nas per­ce­bi­das co­mo majorita­ri­a­men­te mas­cu­li­nas, co­mo a ma­te­má­ti­ca, a fí­si­ca, a en­ge­nha­ria. De­pois de con­tro­lar pa­ra di­ver­sos fa­to­res, con­clu­em as pes­qui­sa­do­ras que há al­go nos cur­sos de eco­no­mia que afe­ta o in­te­res­se das mu­lhe­res em se­guir a car­rei­ra.
Ministério de Dilma e
ministério 100% masculino de
Fora Temer
E o Bra­sil? Não há no Bra­sil pes­qui­sas equi­va­len­tes. Con­tu­do, um pas­sar de olhos pe­la com­po­si­ção dos qua­tro mais im­por­tan­tes de­par­ta­men­tos de econo­mia do País é re­ve­la­dor. En­tre 80 pes­qui­sa­do­res e pro­fes­so­res ti­tu­la­res há ape­nas 6 mu­lhe­res na mes­ma posição. Seis. Evi­den­te­men­te, is­so não é pro­va de que existe viés ou dis­cri­mi­na­ção de gê­ne­ro na pro­fis­são de econo­mis­ta no Bra­sil. Mas é for­tís­si­mo in­dí­cio que con­vi­da a uma ava­li­a­ção mais ri­go­ro­sa do te­ma. So­bre­tu­do por­que, an­te mi­nha expe­ri­ên­cia pre­gres­sa de do­cen­te no Bra­sil, as tur­mas de gradu­a­ção e de pós-gra­du­a­ção em al­guns des­ses mes­mos departamen­tos são, ho­je em dia, bem ba­lan­ce­a­das –- o núme­ro de ho­mens e de mu­lhe­res é mais ou me­nos o mesmo. No en­tan­to, eles tor­nam-se aca­dê­mi­cos reconhecidos em propor­ção mui­to mai­or do que elas. Eles tam­bém são cha­ma­dos a ocu­par po­si­ções importan­tes no go­ver­no em ra­zão bem su­pe­ri­or.
O Ban­co Cen­tral do Bra­sil ja­mais te­ve uma di­ri­gen­te mu­lher. Con­ta-se em uma só mão o nú­me­ro de mu­lhe­res ex­-di­re­to­ras do BC. No atu­al co­le­gi­a­do não há mu­lher al­gu­ma.
É mui­to ta­len­to pa­ra uma des­va­lo­ri­za­ção mai­or ain­da.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

MC CAROL FALA SOBRE MÚSICA ACUSADA DE FAZER APOLOGIA AO ESTUPRO

Reproduzo aqui, com um pouquinho de atraso, o texto poderoso que a MC Carol publicou no seu Facebook sobre uma música "polêmica" (o refrão diz: "Só surubinha de leve com essas filhas da p*ta / taca a bebida, depois taca a pica / e abandona na rua").

Alguns homens e até algumas mulheres estão tentando explicar a música "Surubinha de leve", dizendo que ela apenas retrata uma realidade onde as mulheres vão pro baile caçar macho pra bancar bebida, e a surubinha acontece por conta disso.
Vamos lá, vou escrever aqui uma coisa que nunca falei em entrevistas, que me dói muito ao lembrar e que faz parte de uma realidade que a gente ainda vive.
Primeira tentativa de estupro que vivi: meu bisavô tinha um bar, e eu vivia grudada no meu Vô, e um homem de uns 60/ 65 anos fez amizade com meu avô e falou "Um dia você deixa a Carolina ir brincar com as minhas netas?" Meu avô respondeu: "Você tem netas, tá bom, se ela quiser, ok". Um mês depois esse homem chegou la no bar e perguntou se podia me levar. ERA UMA ARMADILHA. Ele me trancou na casa dele, tirou minha roupa à força e enquanto eu chorava, pedindo pra ele me deixar ir, ele beijava meu pescoço, dizendo que ia me dar uma bicicleta rosa. Eu só tinha 8 anos. Graças a Deus a mulher dele chegou na hora, gritando desesperada, mas ela não fez nada depois, e eu também não fiz nada, meu avô mataria ele com as próprias mãos e eu decidi por não falar. Meu avô achou estranho eu ter voltado mais cedo, mas eu não contei. Uns meses depois bateram no homem e expulsaram ele da comunidade pelo mesmo motivo.
Segunda tentativa de estupro que vivi: me chamaram pra ir no baile pra cantar a música que eu tinha escrito. Foi a primeira vez que fui ao baile, eu tinha uns 16 anos. Eu cantei, foi legal, e na hora de ir embora encontrei com um amigo que eu já conhecia há um tempo e pedi carona. Esse menino estava com outro amigo, motos separadas, e ele pediu pra eu aguardar um pouco, e a gente ficou conversando. O amigo do meu amigo pediu pra eu chamar a minha amiga pra ele oferecer também uma carona, porque estava interessado nela, e minha amiga não quis. Na hora de montar na moto, esse cara ficou insistindo muito pra eu ir na moto dele, o meu amigo falando que eu ia na moto dele e mesmo assim ele insistindo e jogando a moto pra eu sentar, dizendo que tava tranquilo, que ele morava em comunidade tal (próxima a minha) e que ele não era maluco de fazer nada. 
É... mas ele era! Não desconfiei da insistência e montei. A gente foi indo juntos e do nada ele começou a fingir que estava tendo problema na moto, começou a ir muito devagar e do nada começou a entrar em várias ruas, e eu já nem sabia onde eu estava, mas eu chorava, eu pedia pelo amor de Deus pra ele me deixar descer. Ele só falava que eu ia ter que dar pra ele, que eu ia dar de qualquer jeito. Depois de muito tempo rodando comigo, por fim ele falou que ia me levar pra casa dele e pegou uma reta pra subir a comunidade. Eu pensei em me jogar mas ele estava muito rápido, era 5 da manhã, não tinha ninguém na rua, e no último segundo eu orei, orei em voz alta, supliquei a Deus que me tirasse daquela situação, e Deus mandou eu olhar para trás. Uma viatura surgiu do nada e ele me soltou. Enquanto eu andava em direção a minha comunidade, meu amigo voltava da minha comunidade, ele estava desesperado, com os olhos cheios de lágrimas me pedindo desculpas. Ele era minha única testemunha, mas três dias depois ele dormiu na moto e quebrou o pescoço. 
Vocês pensam que a história acabou? Não acabou não! Esse cara pesquisou minha vida toda, ele me cercou subindo da escola, ameaçou me matar na frente dos meus amigos da escola, disse que eu não tinha mais provas e que ele atiraria em mim quando eu estivesse jogando bola, falou que sabia onde eu morava, meus horários etc. Eu falei que não falaria nada pra ninguém, e ele ficou um ano me perseguindo pra ter certeza que eu não iria denunciar. Eu passei um ano da minha vida sendo perseguida e ameaçada. No meu aniversário de 18 anos do nada ele subiu, entrou dizendo que era meu convidado, nossa... eu entrei em pânico, tiraram ele da festa sem saber o que ele tinha feito, e ele esqueceu que eu existo.
Terceira, que não sei se foi uma tentativa de estupro: eu cheguei no baile de carnaval com meu vinho já aberto, e pedi para um cara conhecido pra vigiar enquanto eu ia mijar. Foi coisa de cinco minutos. Minha vista começou a ficar escura, comecei a sentir meu corpo frio e um nó na garganta, só deu tempo de eu sentar numa cadeira. Fui retirada do baile desacordada, fui levava para o hospital e fiquei no soro. Não conseguia entender de jeito nenhum como aconteceu aquilo comigo, eu sempre bebi uma garrafa de vinho sozinha, nunca vomitei, nunca fiquei com ressaca. Eu não lembrava de nada, passou uns dias e eu tive alguns flashes, e lembrei de um rosto, peguei uma moto fui até a comunidade desse rosto e ameacei ele, e ele só falava: "Foi comigo que você deixou seu vinho? Foi comigo? Você tem que lembrar a pessoa com quem você deixou."
E eu falei: "Mano, eu não lembro, se tu não falar, vou falar que foi você, eu quase morri." E ele finalmente falou, disse que o cara colocou umas três balinhas no meu vinho. Eu só bebia vinho e o cara fez isso comigo e quase me matou.
Eu tinha mais de 18 anos, eu já cantava, já era conhecida e fizeram isso comigo, se acharam no direito de fazer isso comigo. Após o acontecido eu escrevi "A vingança". No caso da minha música, o cara ficou insistindo para ela beber, sem conhecer ela e ela suspeitou da maldade dele. Escrevi dessa forma para as meninas e mulheres entenderem que 100% dos homens que oferecem coisas querem alguma coisa em troca! Pode ser bebida ou dinheiro ou até uma carona, eles sempre querem alguma coisa.
A gente sabe que isso existe e que isso acontece, mas vocês MCs homens têm que parar imediatamente de reproduzir isso. Dá pra gente brincar, dançar, se divertir, ganhar dinheiro, sem falar que vai dar bebida, comer e jogar na rua, ok?

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

A PREVISÍVEL CONDENAÇÃO POLÍTICA DE LULA

Ontem, como todos sabem, o TRF4 condenou, em segunda instância, o ex-presidente Lula.
Como era um julgamento político, não baseado em provas, com o propósito de impedir Lula de se candidatar, foi uma sentença bastante previsível, que acabou com a confirmação (e grande defesa) da decisão de Moro e aumento da pena, de 9 para 12 anos. O negócio foi tão, mas tão previsível, que a Band deu o resultado de 3 votos a 0 seis horas antes do final. 
Além do mais, o TRF4 ter marcado o julgamento com tanta velocidade, quando demora em média um ano e dez meses para julgar processos da Lava Jato, já indicava sua real intenção: barrar a candidatura de Lula.
Para os patos que torcem para que ele seja preso agora, isso não deve ocorrer até que todos os recursos se esgotem. Lula e sua defesa podem pedir "embargos de declaração", solicitando que a Justiça esclareça pontos da decisão. E podem pedir uma liminar ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para suspender os efeitos da condenação (a prisão) até que os recursos sejam analisados. 
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Flávio Dino, governador do Maranhão, e também ex-juiz federal (foi o primeiro colocado no mesmo concurso do Sérgio Moro), disse antes do julgamento de ontem: "É ínfima a chance de STJ e STF confirmarem a frágil sentença do triplex. Imensa maioria de juristas do país diz isso. Ou seja, uma eventual condenação em segunda instância só serviria para tentar gerar inelegibilidade em 2018. O que a tornaria ainda mais iníqua". 
Mas Dino tinha esperança que o TRF4 revertesse a condenação. Ainda assim, Lula e o PT mantém a vontade de concorrer. Mas se ele não conseguir uma liminar (que teria que vir de um ministro do STF ou do colegiado), complica. E, apesar do otimismo de Dino, não há nada que indique que o Supremo tenha uma opinião diferente sobre a inocência de Lula que os juízes que já o julgaram. Muito pelo contrário, aliás. 
Pela Lei da Ficha Limpa, Lula estaria inelegível. Mas, se ele não for preso, ainda pode pedir o registro da candidatura à Justiça Eleitoral, fazer campanha e receber votos no dia da eleição. 
Enquanto os recursos não forem julgados em definitivo, ele pode ser candidato. Se sua condenação for suspensa e ele ganhar a eleição, ele toma posse, e pode ser que os processos atuais contra ele fiquem suspensos. Se a condenação for mantida e Lula concorrer, os votos recebidos são considerados nulos e, se ele fosse eleito, ocorreria uma nova eleição. 
Ou seja, ainda tem muito jogo pela frente. Mas óbvio que o cenário não está bom para Lula e para a esquerda de modo geral. Se bem que não está bom faz tempo, até antes do golpe. A decisão de ontem foi apenas mais um golpe dentro do golpe. E sabem qual será o próximo, certo? A reforma da previdência. 
Reproduzo aqui um texto de Luciana Santos, deputada federal e presidenta nacional do PCdoB, e Manuela D'Ávila, pré-candidata à presidência do Brasil pelo PCdoB. 
Lula e Manuela em novembro, apoiando-se mutuamente
CONDENAÇÃO DE LULA É NOVO GOLPE
A condenação do ex-presidente Lula em segunda instância pelo TRF-4 nesta quarta-feira (24) é um arbítrio, o ponto culminante de um verdadeiro processo de exceção. Desde a primeira instância, o processo foi conduzido sem levar em conta o princípio básico do juiz natural; em nenhum momento foram apresentadas provas de qualquer tipo de que o tal tríplex é de propriedade ou esteve em posse do ex-presidente. Não há qualquer ato de ofício que demonstre que ele beneficiou a empresa em questão, dentre muitas outras inconsistências largamente demonstradas pela defesa.
Não à toa o processo movido contra Lula despertou a consciência jurídica nacional e internacional. Alguns dos mais renomados juristas do mundo se pronunciaram sobre o assunto, denunciando o caráter político do processo. 
Lula foi submetido a um massacre midiático permanente, que buscou jogar lama sobre o seu nome. Nesse sentido, o que vemos é uma repetição de outros episódios da história do Brasil, nos quais a grande imprensa buscou destruir lideranças comprometidas com o povo e com os interesses nacionais através de ataques contra sua honra. Foi assim com Getúlio Vargas e com João Goulart, ambos vítimas de campanhas difamatórias que abriram espaço para golpes contra a nação.
Esta decisão, que visa o afastamento de Lula do processo eleitoral, é a nova fase do golpe institucional que cassou 54 milhões de votos dos brasileiros e brasileiras que elegeram Dilma Rousseff em 2014.
O golpe, como o PCdoB tem afirmado desde o início, tem um programa. Foi consumado para implementar um violento projeto de recolonização do país, que inclui a destruição dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras e a reafirmação dos interesses do rentismo parasitário. Esse programa não aceita a democracia porque não pode ser implementado sem calar o povo, cassando-lhe o direito ao voto, perseguindo suas lutas e seus dirigentes. Lula não é o primeiro nem será o último, caso a sociedade brasileira não se mobilize em defesa da democracia e do Estado de Direito.
Provando que o golpe é um processo em curso, duas novas etapas dessa ofensiva contra a soberania e os interesses do trabalhador se encontram na pauta imediata de discussões do Congresso Nacional: a reforma da Previdência Social e a privatização da Eletrobrás.
Para reverter esse processo, é preciso apresentar um programa que una todos os brasileiros e brasileiras em torno de um projeto de desenvolvimento nacional autônomo, de reindustrialização e de reversão das medidas de Temer contra o Brasil e os direitos dos trabalhadores. Uma plataforma que demonstre que a realização plena do Brasil enquanto nação é o caminho para a consolidação da democracia e dos direitos do povo. 
Este caminho de afirmação dos interesses nacionais contraria frontalmente os especuladores e rentistas e, por isso, não passa pela pactuação com esses setores. Trata-se, pelo contrário, de construir a frente mais ampla possível, uma concertação que permita isolá-los. É para defender esse programa e sustentar essa orientação que o PCdoB lançou a pré-candidatura de Manuela D'Ávila, portadora de uma agenda de novas esperanças para o povo e de outro futuro para o país. 
No momento em que é cometida essa violência contra o Estado Democrático Direito, o PCdoB abraça Lula e a militância do PT, e reafirma a convicção de que deve prosseguir a luta para que as próximas instancias do Judiciário revertam este arbítrio, permitindo que o ex-presidente dispute livremente as eleições, garantindo que todos os brasileiros e brasileiras tenham assegurado seu direito de votar livremente.