domingo, 31 de outubro de 2021

TODO DIA UM HALLOWEEN

Brasil 2021, terra de Bolsonaros: todo dia um pesadelo. Mas tem data pra acabar. Pro bem do país, seria hoje mesmo.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

AS FAKE NEWS CRIADAS PARA CALUNIAREM MULHERES NA POLÍTICA

Reproduzo aqui um excelente texto da jornalista e pós-graduada em Comunicação Política Isabelli Neckel para o Elas no Poder

Manuela d’Ávila teria usado uma camiseta com a frase “Jesus é travesti” estampada. Dilma Rousseff teria gastado 73 milhões de reais em salão de beleza. Tábata Amaral teria sido financiada por um bilionário que defende a pedofilia.

Todas essas afirmações são, obviamente, mentiras. Se para você, leitora, isto parece óbvio, saiba que centenas de milhares de pessoas compartilharam – e continuam compartilhando – essas “notícias” em suas redes sociais. Pensando nisso, vamos apresentar 3 coisas que você deve saber sobre fake news, este fenômeno que pode ser uma arma silenciosa e cruel contra mulheres na política.

1. O que são fake news?

As chamadas fake news fazem parte de um amplo conceito chamado “desinformação”. É importante diferenciar fake news de outros tipos de desinformação, como descontextualização, sensacionalismo, erro jornalístico, boato, sátira, entre outros.

Confira algumas das particularidades das fake news:

 - Não vão ao encontro dos fatos, são comprovadamente falsas;

 - Têm a intencionalidade de enganar, não são espalhadas “por acaso” como um boato;

- São fabricadas com fins políticos ou financeiros;

- Seja em texto ou vídeo, elas imitam o formato jornalístico para inspirar confiança;

- Existem padrões em sua forma, como o uso de caixa alta, frases e imagens chamativas e exageros que estimulam sentimentos como revolta e medo;

- Simulam autoridade evocando figuras tradicionalmente respeitadas como médicos e juízes (exemplo: “veja o que este juiz disse sobre os crimes de Dilma Rousseff!”);

- Se valem dos medos das pessoas (exemplo: “essa vereadora quer destruir a infância dos seus filhos!”).

2. Como as fake news atingem as mulheres?

Segundo informações apresentadas durante audiência pública da Comissão de Defesa da Mulher da Câmara dos Deputados, as mulheres são as principais vítimas da disseminação de conteúdo falso nas redes sociais.

Além do volume, o que também chama atenção é a diferença no teor das invenções. A indústria das fake news, sabendo do machismo que estrutura o jogo político brasileiro, não hesita em explorar a vida pessoal e os corpos femininos na hora de fabricar mentiras.

Para ilustrar, vamos usar aqui as fake news espalhadas contra a ex-deputada federal Manuela D’Ávila. Nas eleições municipais de 2020, a então candidata à prefeitura de Porto Alegre conseguiu no TRE do Rio Grande do Sul a derrubada de 500 mil compartilhamentos de notícias falsas a seu respeito. Já em outra ocasião, ela chegou a ser indenizada por políticos que replicaram estas fake news. 

Entre as mais compartilhadas, está uma montagem em que Manuela aparece com olheiras evidenciadas e o corpo coberto por tatuagens de líderes socialistas. Obviamente, não haveria problema algum se a política fosse de fato como na montagem, mas aquela imagem, por não corresponder a um ideal de comportamento feminino esperado, foi usada para desqualificá-la e espalhar mensagens de ódio.

Uma foto de Manuela com o pai também circulou pela internet, junto com a mentira de que a candidata se envolvia com homens mais velhos. E em uma montagem que simula um tweet, a fala “abortar é a única saída pra não criar filho de vagabundo” é atribuída a ela. Há ainda a famosa fake news de que a política teria comprado o enxoval de sua filha em Miami com dinheiro público.

É claro que fake news contra homens também são espalhadas. Porém, observando os exemplos acima e outros, de mulheres como Dilma Rousseff e Marielle Franco, vemos que as fake news contra mulheres são sexistas, misóginas e têm como alvo a aparência, o exercício da sexualidade, os relacionamentos amorosos e até mesmo o modo de criar os filhos.

E apesar de meio milhão de compartilhamentos terem sido excluídos após ordem judicial, incontáveis outros ainda perduram, com um alcance inestimável. Segundo estudo publicado pelo MIT, as notícias falsas se espalham até 70% mais rápido que as verdadeiras. E mais inestimável ainda é a influência que tantas mentiras têm na hora do voto, desfavorecendo candidatas mulheres, que precisam de muito pouco para serem descredibilizadas e preteridas.

3. Como podemos combater as fake news?

De acordo com Mariana Barbosa, autora do livro Pós-verdade e Fake News: Reflexões Sobre a Guerra de Narrativas, o fenômeno revela “uma inquietante perda de confiança em instituições que outrora eram portadoras da verdade”. Com isso, percebemos que recuperar a confiança nas instituições, como o STF e a imprensa profissional, é fundamental para que as fake news sejam freadas.

Atitudes das gigantes da tecnologia também são imprescindíveis nesta luta. Enquanto Google e Facebook não tomarem medidas eficazes quanto a identificação e exclusão do conteúdo falso, combater fake news será um trabalho exaustivo e parecido com enxugar gelo. A justiça pode até ordenar, de maneira correta e louvável, a exclusão de alguns milhares de compartilhamentos, mas milhões deles ainda são feitos diariamente.

E individualmente, algumas atitudes podem ser feitas, é claro: é importante checar as informações, buscar fontes confiáveis, avisar os amigos que acabam caindo nos “golpes”, denunciar publicações falsas às redes sociais, não votar em candidatos que replicam fake news, cobrar ações dos políticos eleitos…

Combater este problema é essencial para que os próximos processos eleitorais sejam justos e sadios. Uma das formas mais cruéis de prejudicar a democracia é prejudicar uma de suas bases: o processo eleitoral.

Afinal, como poderá o cidadão, em uma eleição, tomar uma boa decisão se suas convicções são baseadas em mentiras? E, do outro lado, como poderá a candidata ou o candidato alvo concorrer sem prejuízos? Fake news podem alterar completamente os rumos de uma disputa eleitoral – sendo as candidatas as maiores prejudicadas. Por isso, precisam ser combatidas com veemência.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

NÃO TENTEM SER CENTRO DE REABILITAÇÃO

Não existe mulher de verdade. Tirando isso, concordo inteiramente com a mensagem acima. Muitas mulheres entram numa fria achando que podem salvar homens. Nem tentem. Fujam de homens machistas.

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

NÃO ESTÃO DEIXANDO BOLSO MENTIR

Pela primeira vez, Facebook e Instagram derrubaram a live que o pior presidente de todos os tempos faz do seu bunker toda quinta-feira. Entre muitas outras mentiras, Bolso disse que as vacinas pra Covid causam Aids. Depois ele, seus filhos e seguidores mentiram mais um pouquinho, inventando que o Capetão apenas leu uma matéria publicada na revista Exame.  

José Roberto Torero, autor do hilário Diário do Bolso, escreveu uma coluna a respeito, que reproduzo aqui: 

Acabou a liberdade de expressão, Diário! A-ca-bou! A gente já não pode mentir em paz.

Só porque eu disse que a vacina contra covid dá Aids, minha live foi suspensa do Instagram, do Youtube e do Facebook.

É justo isso? Não é!

Já menti antes e não deu problema. Por que estão reclamando agora? Isso aí é dois peidos e duas medidas.

Olha, Diário, eu já falei que “estamos há dois anos e oito meses sem corrupção”, que o BNDES era usado para ajudar países comunistas (mesmo sabendo que ele só financia empresas brasileiras), que eu dobrei a verba dos órgãos ambientais (e, na verdade, cortei), que teve redução de desmatamento na Amazônia (kkk!), que a cloroquina é eficiente, que máscara faz mal etc... Mas nunca aconteceu nada. E não pode mudar a regra no meio do jogo, pô!

Segundo a ONG Artigo 19, em 2020 eu menti 1682 vezes. É o meu jeito, caramba! Tem que respeitar isso daí.

Daqui a pouco vão querer censurar o Guedes quando ele disser que no ano que vem a recuperação vai ser em “V”. Pô, essa frase é que nem o show do Roberto Carlos: todo final de ano tem que ter.

Eu até tentei jogar a culpa da tal informação da Aids na revista Exame. Mas uns jornalistas foram lá, leram a reportagem e viram que não tinha nada disso escrito. Pô, jornalista agora vai ler a coisa original em vez de acreditar no comentário? Vai ler o texto inteiro em vez de uma frase? Assim estraga a brincadeira.

O pior é que eu já tinha mais umas coisas planejadas pra semana que vem. Ia dizer que exame de próstata causa boiolagem, que álcool em gel provoca calvície, que o Foro de São Paulo é comandado por marcianos (e por isso que chamam Marte de “o planeta vermelho”), que o PIB vai crescer, que os 89 mil eram da Michelle e que o Lula botou silicone nas pernas.

Estão me reprimindo, Diário, mas já achei a solução. Vou fundar duas novas redes sociais, o Fakebook e o Instagramentira.

Te cuida, Zuckerberg!

terça-feira, 26 de outubro de 2021

ROUND 6 DEVERIA SER JOGO DA LULA: SOCOS NO ESTÔMAGO DOS BRASILEIROS

Estou quase acabando de ver a série coreana Round 6, que no resto do mundo se chama Squid Game, ou Jogo da Lula. Estou gostando bastante. Sem dúvida meu episódio favorito é o quarto, aquele do cabo de guerra. O sexto, das bolinhas de gude, também é muito bom. 

Publico aqui um texto muito bacana da Naila sobre a série. Naila Castro é redatora, tradutora, blogueira, roteirista e designer.   

Mudaram até o título original

A série de maior sucesso atual na Netflix está mexendo com os brios dos brasileiros. Por uma série de motivos, a trama originalmente sul-coreana toca em pontos sensíveis aos quais muitos poderiam questionar se realmente se trata de entretenimento ou se basicamente não estamos vendo um retrato da vida atual.

O Brasil, um grande consumidor de séries em streaming, respondeu bem ao sucesso em evidência, mas também levantou uma série de paradigmas e polêmicas sobre o desenrolar da trama e sobre como de diversas maneira a vida real é retratada pela arte de maneira muito mais intimista do que a distância de uma tela.

1- Impossível não se identificar com a trama

Nos dias atuais, estamos sentindo na pele os efeitos da pandemia aliada à crise econômico-política que assola o país. A distopia brasileira tomou proporções tão reais que parece mesmo que estamos dentro de uma trama. Dívidas, desemprego, sopa de ossos para matar a fome. Idosos, crianças e mulheres evidenciam a disparidade.

Os personagens da série são extremamente humanos, no sentido amplo. Falham, insistem nos erros, demonstram amar os outros, mas primeiro a si mesmos. A história trata de sobrevivência. Também está em jogo que todos em algum nível demonstram suas fraquezas. Vence aquele que souber aceitá-las.

2- Para todo malandro existe um mané

A musica de Bezerra da Silva traduz bem o desenvolvimento da trama e porque ela remete bem à lei de Darwin ao estilo brasileiro: só o mais esperto sobrevive. Por outro lado, para entrar no jogo, todos têm que estar convencidos de que podem se dar bem. Durante a trama, há uma série de situações em que percepções e improvisos definem o jogo.

3- A trilha sonora é de matar

Toda a música da trama parece ser muito importante para o desenvolvimento. Temos música coreana para as cenas que envolvem o ambiente do país, música clássica para a chamada nos alojamentos e jazz raiz para cenas que envolvem luxo e sofisticação. Há ainda momentos pontuais como música infantil envolvendo o jogo.

4- Qualquer escolha é ruim

Com certeza, o jogo não foi feito para agradar os jogadores. O tempo todo ocorre a ilusão da amizade e união de personagens mas no fundo eles não podem esquecer que somente um será o vencedor. Por outro lado, poderiam decidir não entrar no jogo. E aí voltariam para a vida real e seus problemas sem soluções.

5- Dinheiro é uma promessa divina

O que move a trama é o dinheiro, mas não se trata de cobiça. É a motivação que leva os personagens até a promessa de recompensa. Todo esforço valerá a pena no final? O desespero é o gatilho emocional de todos e é nesse ponto que os personagens cativam os fãs da série. Na vida real, o dinheiro também se apresenta como solução final de todos os problemas.

6- A disparidade entre ricos e pobres

Se fosse uma novela do Walcyr Carrasco, já esperaríamos que “os humilhados serão exaltados,” o que costuma ser um clichê. Mas o que a série deixa bem claro é que tanto ricos quanto pobres buscam um objetivo e mesmo os que têm muito não parecem satisfeitos, enquanto os que não têm nada lutam pelo pouco que possuem: relações pessoais, teto, comida, liberdade. Dinheiro representa tudo isso que faz falta. O pobre sabe, mas o rico ambiciona uma plenitude que espera que o dinheiro cubra: a felicidade, os momentos que valham a pena ou simplesmente entretenimento exclusivo.

Uma curiosidade: por questão política, a série mudou de nome no Brasil

O nome original da série é Squid Game, o que significa o Jogo da Lula. O significado do nome é apresentado logo na primeira cena da série, uma referência a um popular jogo infantil sul-coreano. Porém, no Brasil, internautas apostam que a Netflix quis fugir do viés político, pela coincidência com o nome e a história do ex-presidente Lula.

Após ser acusado de uma série de crimes e ficar preso por 580 dias, o ex-presidente tem conseguido provar sua inocência na justiça e é o favorito para as próximas eleições. A Netflix, no entanto, nega. A justificativa da empresa para escolher Round 6 foi ser o nome original que mais aproxima a série do público gamer.

Em Portugal, prevaleceu Squid Game , de forma que o nome se aproxima da mesma forma ao público-alvo. Ainda assim, como o momento atual no cenário político é entremeado de incertezas, a Netflix deixou claro que não quer se envolver nos problemas dos brasileiros.

Vale a pena assistir, mas dói

Há momentos em que questionamos se todo entretenimento vale a pena. A trama da série nos dá o viés de acreditar que é fatídico que os mais ricos se divirtam com o sofrimento humano dos mais pobres. É brutal, mas ainda assim, a trama faz sucesso em todas as classes. A empatia explica. Embora grotesco, nos identificamos com a trama e os jogadores.

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

O DEMÔNIO A SER EXORCIZADO É O MACHISMO

Reproduzo aqui este excelente artigo que Simony dos Anjos publicou na Carta Capital. Simony é quem basicamente me apresentou ao feminismo cristão. Tenho enorme admiração por ela, que é evangélica, cientista social, mestra em educação e doutoranda em economia. É da Rede de Mulheres Negras Evangélicas e articuladora da Coalizão Evangélica contra Bolsonaro. Foi candidata à prefeita de Osasco pelo Psol no ano passado. 

Recentemente, o pastor brasiliense Anderson Silva escreveu nas redes sociais que a mulher tem um ‘potencial demoníaco’. Segundo ele, a sociedade olha apenas para a agressão que um homem comete contra uma mulher, mas não para os meses de tortura psicológica ao quais a mulher supostamente submeteria o homem.

Ora, esse discurso é criminoso e o autor deve ser responsabilizado na justiça. Culpabilizar mulheres por sofrerem a violência reforça a ideia de que elas merecem apanhar e encoraja os homens a cometer abusos contra suas companheiras, sejam elas psicológicos, financeiros, sexuais ou físicos.

Silva, que tem centenas de milhares de seguidores nas redes sociais, é idealizador de projeto chamado Machonaria, que busca resgatar os valores patriarcais na sociedade. Esse tipo de postagem não é raridade. Tenho visto dezenas de perfis que discursam sobre uma masculinidade violenta, que submete mulheres à vontade de homens a custo da integridade emocional e física de suas esposas. Esses perfis falam que mulheres são obrigadas a fazer sexo com seus maridos, mesmo sem vontade; que o fato de querer ter filhos é uma decisão do casal e não da mulher – a partir da ideia de que, para por DIU ou usar anticoncepcionais a mulher deve ter, primeiro, a permissão do marido; de que o dever da mulher é cuidar dos filhos e do marido e que mulheres são frágeis e devem ser protegidas por homens, dentre outros absurdos.

Não entendo como as redes sociais, como Facebook e Instagram, permitem que eles publiquem esses discursos diariamente e que nós, as feministas, tenhamos que rastrear uma a uma dessas postagens e denunciá-las para que saiam do ar.

Observando os comentários, li, infelizmente, uma mulher agredida pelo marido dizer que sabia porque tinha apanhado, e que merecia isso. Outros tantos apoiam a ideia de que mulheres que não seguem o que se espera delas devem ser penalizadas com violência. Em segundos, esses perfis põe em xeque o esforço de décadas em defesa dos direitos das mulheres comandarem suas vidas, de viverem em relacionamentos saudáveis e respeitosos. Esforços que com grande articulação nacional culminaram na Lei Maria da Penha são enfraquecidos e combatidos por homens que pregam desonestamente uma ideia de família que apenas favorece a eles.

Não preciso dizer que esses perfis têm forte apelo religioso, baseados na tríade família-tradição-propriedade (sem esquecer da defesa de posse de armas).

Quando vejo um machista que prega a submissão da mulher e a posse de armas, me arrepio. Contra quem essas armas serão usadas, senão contra as próprias mulheres? A quem interessa que mulheres vivam para os homens, anulando seus desejos e vontades? A quem interessa usar a religião para pregar tanta violência contra a mulher?

Sou evangélica de berço, amo minha comunidade, irmãs e irmãos, e me sinto bem entre eles e elas. Vivo diariamente essa realidade que muitas pessoas apenas veem de fora. A igreja é um espaço onde se ama, onde se acolhe, onde eu tenho amigos muito queridos. Mas a igreja pode ser também um espaço que silencia e que se acostuma com a violência.

Sabem por que me “tornei feminista”? Eu tinha 15 anos quando percebi que uma irmã da igreja apanhava. Ela faltava a muitas reuniões, até as marcas sumirem do rosto e do corpo. Aos 15 anos, soube que uma comunidade inteira aceitava que uma mulher apanhasse, e achava que isso não era da conta de ninguém. Afinal, em briga de marido e mulher…

Isso ainda acontece em milhares de igrejas espalhadas pelo Brasil. Sustentados pelo machismo, homens reafirmam diariamente em púlpitos que mulheres devem ser submissas, mesmo que isso custe suas vidas. Nas redes sociais — com uma tatuagem aqui, um coque samurai ali e uma prancha de surf acolá — esses discursos alcançam milhões de pessoas.

Se uma mulher publica a imagem de um parto ou de um seio descoberto amamentando, imediatamente as redes derrubam a postagem. Mas quando um machista escreve que mulheres devem sexo ao marido, é necessário a denúncia para que essa postagem saia do ar. Por isso falamos de um machismo estrutural, que rege os algoritmos e estrutura a religião e a economia.

O perfil do machonarista tem 117 mil seguidores, ou seja, é um perfil lucrativo para as redes. Movimenta dinheiro, movimenta público. A pergunta que faço é: a custa de quem? De nós, mulheres? Ainda mais nós, mulheres negras, que somos submetidas à violência doméstica dupla: dos maridos e dos patrões.

O pensamento colonial que se sustenta na ideia de que o homem branco é um sujeito de todos os direitos, enquanto as demais pessoas são propriedades é regurgitado o tempo todo nesses perfis – a lógica do bandido bom é bandido morto, a ideia de que mulheres são objetos e tantas outras ideias que reforçam os privilégios de raça, gênero e classe.

Sim, esses perfis são de homens brancos, que defendem o capitalismo e as armas. Toda a lógica colonial brasileira sendo reiterada bem embaixo do nariz dos donos dessas mídias sociais. Penso eu, essas plataformas não devem ser responsabilizadas? Podem livremente veicular discurso de violência e ódio contra as mulheres, sem regulação alguma? A naturalização da submissão das mulheres se dilui em meio à dancinhas, likes e bichinhos fofos.

Entretanto, prestem bem atenção: nós feministas expulsaremos o demônio do machismo do Brasil. É pela vida de todas as mulheres que estamos nas trincheiras contra a lógica patriarcal que faz com que o Brasil seja o quinto país do mundo a matar mulheres cis e o primeiro a matar mulheres trans. Basta de violência contra as mulheres, seja nos púlpitos, seja nas mídias sociais. Não permitiremos mais.