sexta-feira, 30 de abril de 2021

400 MIL BRASILEIROS MORTOS POR COVID. A CONTA É SUA, GENOCIDA

Linda arte de Cris Vector

12 de março 2020 (14 meses atrás): Brasil tem sua primeira vítima fatal por covid-19

Final de abril de 2020: 5 mil mortos. Discurso de Bolsonaro: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Sou Messias, mas não faço milagre". 

Meados de junho 2020: 50 mil mortos

Agosto 2020: 100 mil mortos

Outubro: 150 mil mortos 

Novembro 2020: 160 mil mortos. Discurso de Bolso: "Lamento os mortos, todos nós vamos morrer um dia. Não adianta fugir disso, fugir da realidade, tem que deixar de ser um país de maricas". 

Janeiro 2021: 200 mil mortos

Final de fevereiro 2021: 250 mil mortos

Março de 2021, 38 dias atrás: 300 mil mortos

10 de abril 2021: 350 mil mortos

Ontem: ultrapassamos 400 mil mortos.

Somos o segundo país do mundo em número de vítimas de covid. 

Mortes evitáveis, se tivéssemos vacinas antes, se o presidente da nação não tivesse dito quase que diariamente que a pandemia era apenas uma gripezinha, que máscaras não resolviam nada e até matavam, que havia cura (cloroquina e remédio pra vermes). Em breve passaremos os EUA, um país com população muito maior que a nossa (330 milhões vs 220 milhões), que conta com 547 mil mortos, mas o número está em declínio. O que eles fizeram pra brecar as mortes? Trocaram o presidente. 

Poucos poderiam imaginar que 2021 seria ainda pior que o ano passado. Em 2020, o Brasil registrou 194.975 mortes por covid. Só nos quatro primeiros meses de 2021, já foram mais de 205 mil. E isso contando apenas com os números oficiais. Pesquisadores apontam que o país já deve ter passado de 514 mil vítimas.

Não é preciso nem dizer que a pandemia está longe de acabar por aqui. Abril foi/está sendo o mês mais letal da pandemia. Uma em cada quatro pessoas que morreram pela doença no Brasil perdeu a vida nos últimos 36 dias. 

E, como se diz, winter is coming (e, antes, o dia das mães, a segunda data mais comercial do ano, só perdendo pro natal). Ainda temos um número minúsculo de pessoas que já tomaram as duas doses da vacina (só 7%). Esta semana, cidades de 18 estados tiveram que interromper a aplicação da segunda dose de CoronaVac por falta de vacinas. 

Não é o caso de ser fatalista, mas realista: infelizmente, muitos brasileiros ainda vão morrer de covid. Uma pesquisa mostrou que 86% da população conhece alguém que morreu do vírus. 

E, como se não fosse suficiente, querem forçar professores não vacinados a voltarem a dar aulas presenciais. 

A CPI da Pandemia, ou CPI do Genocídio, como preferimos, vai barrar essa insanidade? Difícil. Mas pelo menos levou o senador Flavio Bolsonaro, bronzeado de sol da sua última viagem de férias, a lamentar que a CPI poderia criar aglomerações e colocar os senadores em risco de contágio.

Estamos num buraco, não há dúvidas. Para especialistas, não é questão de se teremos uma terceira onda, mas quando. Segundo o ex-ministro da Saúde (no governo Dilma) Arthur Chioro, “Se mudanças importantes não forem adotadas, só teremos segurança a partir de meados de 2022, quando enfim 70% da população estará vacinada. Mas, até lá, continuaremos a ser um celeiro de novas variantes e talvez já precisemos de novas doses de reforço, sem que tenhamos garantida a oferta da primeira imunização. Isso tende a prolongar e aprofundar nossa crise, econômica, social e sanitária. Uma lástima que compromete o nosso futuro".

Outro ex-ministro da Saúde no governo Dilma, do deputado federal Alexandre Padilha lembra que a tragédia não acaba nos 400 mil mortos: "Ainda temos milhões de sequelados que precisarão de um SUS mais forte, milhões que têm outros problemas de saúde, cirurgias que ficaram represadas ao longo de um ano inteiro. Temos milhões de brasileiros que adiaram exames de rastreamento de câncer, diabetes, e irão diagnosticar essas doenças mais tardiamente". 

Nessas horas eu fico sem esperança. Quanto tempo vamos levar para nos recuperar do vírus Bolsonaro? E todas essas vidas perdidas, que não vão voltar mais? O genocida tem que ser responsabilizado e punido com prisão.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

JANAINA, QUE GANHOU O BOLÃO GRÁTIS SOZINHA, PARTICIPA DESDE 2012

A Janaina Lira ficou em segundo lugar no bolão pago do Oscar 2021 (com 14 acertos, um menos que o Claudemir), mas ganhou sozinha o bolão grátis com a impressionante marca de 17 em 19. 

Ela também participa do bolão faz tempo, desde 2012. E foi nesse ano que nos conhecemos pessoalmente, em São Paulo, na noite de autógrafos do meu livro sobre cinema. Tiramos uma foto juntas, mas na mesma noite, ou na seguinte, roubaram seu celular da mochila enquanto ela voltava da USP. Então só o ladrão tem a foto. Temos que nos reencontrar depois da pandemia pra tirar outra foto, Janaina!

Publico o texto da Jana, que é editora e revisora de texto em SP.

Veja o que está em amarelo pra constatar como Jana foi bem no bolão (clique para ampliar)

Eu participo do já clássico bolão do Oscar da Lola desde 2012!  Acabei de recuperar essa informação para escrever este texto para você, eu ainda não havia parado para calcular (pausa para pensar no tempo). Pelo visto, só pulei o de 2014. Sempre participo na modalidade paga e na gratuita, e este ano foi o que mais cheguei perto de ganhar o bolão pago! Fiz 14 acertos, empatando em segundo lugar com alguns colegas de aposta.

Bem, como sempre, eu adorei participar, dá aquele tempero extra ao Oscar, que, como você já disse várias vezes, não é lá sempre tão divertido assim de acompanhar (embora eu goste bastante! É uma tradição desde 1998 para mim, o Oscar do Titanic). Mas, dessa vez, apesar de ter sido uma premiação com umas reviravoltas inesperadas, eu estava vendo que tinha chances, que estava indo bem até. Acompanhei minha planilha do bolão pago e, no fim, vi que tinha empatado em segundo lugar com o pessoal. Havia esquecido da planilha gratuita, e qual não foi minha surpresa quando recebi um whatsapp de uma amiga me contando que eu havia ganhado o bolão da Lola, hahah. Na hora, fiquei confusa, pois sabia que não tinha ganhado, mas em seguida lembrei do gratuito, que eu havia feito uma nota mental para olhar no dia seguinte, mas fui engolida pelo trabalho e não consegui.

No geral, para palpitar, eu acompanho as premiações pré-Oscar e coloco um pouco de "intuição", leitura de contexto. No bolão gratuito, eu costumo fazer apostas mais arriscadas. Nas categorias em que estou com muita dúvida entre duas opções, acabo apostando na opção B no gratuito, e foi isso que deu certo dessa vez! Eu tinha dúvida sobre se Chadwick Boseman levaria mesmo o Oscar de ator, porque Anthony Hopkins também estava muito absurdo em Meu Pai e talvez a senioridade pesasse também nos critérios dos votantes. Mas, ao mesmo tempo, tinha tudo para o prêmio ser do Chadwick; por mim, anunciariam o empate e pronto. Por fim, acabei apostando no mais seguro Boseman no pago e no forte concorrente Hopkins no gratuito, e, voilà, fomos de Anthony. 

Roteiro adaptado foi a maior surpresa, eu achava que Nomadland fosse levar mesmo, fiquei até surpresa comigo por ter votado em Meu Pai no gratuito, não lembrava dessa mudança, mas fez sentido. Gostei muito dos dois filmes, embora Nomadland e Minari realmente tenham sido os meus favoritos da temporada, seguido de perto por ele. Também votei diferente na categoria de montagem nas duas planilhas, acertei na que eu ousei, ou seja, minhas planilhas acabaram meio que refletindo que foi mesmo um Oscar mais, digamos, ousado.

E é isso, Lola, ano que vem vou subir mais um degrau e levar o pago, hein?! Será? Fiquem ligados (e, galera, bora participar da próxima vez!).

quarta-feira, 28 de abril de 2021

DA ALEMANHA, CLAUDEMIR CONTA COMO GANHOU O BOLÃO

Costumo publicar as declarações dos vencedores do bolão do Oscar. Começou como um jeito do pessoal tripudiar de mim por me vencer, numa época longínqua em que isso era considerado uma façanha (bons tempos!...).

Claudemir participa do meu tradicional bolão do Oscar desde 2006, quando ainda era adolescente (antes do blog, que começou em janeiro 2008), pois começou a ler minhas colunas no jornal ANotícia, onde escrevi entre 1998 e 2011. A gente se conheceu pessoalmente em 2013 num congresso de Relações Internacionais na UFSC.

Atualmente Clau está na Alemanha fazendo mestrado, e nem viu o bolão por conta do fuso-horário. Ainda esta semana publicarei o depoimento da Janaína, que ganhou o bolão grátis com muita facilidade.

Já posso pedir música no Fantástico? É isso? Tricampeāo do bolāo da Lola, quem diria [o desgramado ganhou o bolão em 2008 e 2019]. É uma grande honra para mim e com certeza um dos meus maiores feitos até agora. E no meu aniversário de 15 anos participando do seu bolāo eu ganho com 15 acertos! Talvez eu devesse jogar na Mega-Sena! Eu não consegui assistir a cerimônia, pois estou na Alemanha e por conta do fuso ficou inviável. Porém, foi ótimo começar a semana coroado como maior autoridade em cinema (cof cof) e recebendo uma grana preta por isso. Esse foi o ano em que assisti ao maior número de filmes indicados ao Oscar. Resultado da soma de lockdown com grande disponibilidade dos filmes nas plataformas de streaming. E contei também com a ajuda de um amigo do peito no Brasil que me passou alguns filmes que não estavam nos serviços online. Aqui em terras germânicas o uso de outras vias para conseguir os filmes geram multas pesadíssimas. 

Mesmo assistindo tanta coisa, infelizmente não me empolguei com muitos dos filmes. O meu favorito foi Nomadland mesmo, me fez refletir sobre diversas questões e me deixou inquieto por alguns dias. Promising Young Girl (Bela Vingança) eu adorei, muito inventivo e, apesar do tema delicado, me entreteu muito. Minari achei bom, mas não me marcou, em breve provavelmente nem vou lembrar nada do filme. Teve O Som do Silêncio que praticamente todos adoram, mas eu não consegui me envolver com o filme, ainda que eu tenha aprendido algo a mais sobre a comunidade surda. Mank eu não assisti e depois dos seus comentários provavelmente continuarei sem ver. No geral achei uma temporada muito morna. Será que sem pandemia seria melhor? Ou apenas mais filmes, mas mais do mesmo? Agora vou rumo ao tetra!

terça-feira, 27 de abril de 2021

PATRICIA, 22 ANOS, MORTA POR UM MASCU?

Só fiquei sabendo de mais esse caso terrível hoje, pouco depois do almoço.

Patrícia Roberta Gomes da Silva, uma jovem de 22 anos, foi na sexta de Caruaru, Pernambuco, onde vivia, a João Pessoa, Paraíba (dá umas 3,5 horas de distância). Foi ver Jonathan, que conhecia havia dez anos. Haviam estudado juntos em Caruaru. Patrícia falou com sua mãe pelo celular no sábado (contou que o amigo havia deixado-a trancada) e no domingo (disse que só queria retornar para casa, e que Jonathan tinha comprado passagens de volta). 

E aí Patrícia desapareceu. A mãe não conseguiu mais falar com ela. Extremamente preocupados, ela, o marido e outros familiares foram até João Pessoa. Descobriram o prédio em que Jonathan morava e conseguiram acionar a polícia e a imprensa. Todos estavam à procura de Patrícia -- e também de Jonathan, único suspeito pelo desaparecimento da jovem.

Na madrugada de segunda para terça, vizinhos viram Jonathan sair do prédio com um carrinho de mão. Um deles o seguiu, e relatou à polícia ter visto um corpo num tonel de lixo. Imagens mostram o rapaz saindo de motocicleta com algo que parece ser um corpo no veículo. Vizinhos e familiares de Patrícia prestaram depoimento da Delegacia de Homicídios. O pai de Jonathan também apareceu e entrou numa discussão com os pais de Patrícia que, desesperados, continuavam as buscas pela filha.

Sem se apresentar à polícia, Jonathan escreveu em suas redes sociais: "Postei que estava sem wpp, não desapareci. Soube esta manhã que Patricia não havia retornado a Caruaru, entrei em contato e conversei com a mãe dela e segundo ela iram [sic] acionar a polícia e vir a João Pessoa, me coloquei a disposição para ajudar no que for necessário. Nunca pensei ter que fazer esse tipo de publicação no meu FB, aos amigos reocupados [sic] e os demais que estão a me condenar em comentários até então está [sic] é a conclusão de tudo".

A "conclusão de tudo" foi que o corpo de Patrícia foi encontrado numa mata de João Pessoa agora à tarde, e  que Jonathan está foragido, embora esteja com prisão preventiva decretada. O carrinho de mão e roupas que parecem ser de Patrícia também foram encontradas.

Tudo indica ter sido mais um feminicídio por motivo fútil (qual feminicídio não é por motivo fútil?), mas há indícios que chamam a atenção. 

No apartamento de Jonathan a polícia encontrou, além de fronhas de travesseiro e roupas com o que pode ser sangue e sêmen, uma lista com nomes de mulheres, um altar com livros de ocultismo, e mostras de que ele acessava fóruns na Deep Web.

Uma perita revelou ter lido "escritos perturbadores" como "À noite eu saio pra matar" e "Eu sou um cara mau e você é uma garota boa". 

Segundo minha amiga jornalista Taty Valéria, responsável pelo site feminista Paraíba Feminina, o suspeito se chama Jonathan Henrique G. dos Santos e se apresenta como Nathaw Santt nas redes sociais. Descrito por conhecidos como um "jovem estranho", ele, que antes morava com a avó e o pai, tem uma filha pequena e uma namorada grávida de 5 meses. Uma fonte de Taty conta que a namorada estaria tentando assumir a culpa pelos livros e escritos. Nas redes sociais, suas postagens são violentas e misóginas. 

No Twitter, mulheres acostumadas a crimes e massacres cometidos por mascus já avisaram que Jonathan cabe no perfil. Qualquer informação pelo paradeiro do principal e único suspeito pela morte de Patrícia pode ser passada à polícia pelo 190 ou 197.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

UM OSCAR DOS MAIS CHATOS

Foi uma cerimônia do Oscar das mais chatas, e que deve ter sido a menos vista. Pra se ter uma ideia, alguma tag referente ao Oscar 2021 nem chegou a se fixar entre os assuntos mais comentados do Twitter. 

Não houve apresentador, shows de música, piadas, aplausos de pé, praticamente nada. Teve um momento que eu pensei, bom, pelo menos será uma cerimônia curta, talvez acabe antes da meia noite (começou às 21h), mas bem aí um sujeito que eu nunca vi começou a fazer testes com canções indicadas, o que levou a Glenn Close (que ontem alcançou a marca do Peter O'Toole de ser o ator que mais foi indicado -- oito vezes -- sem nunca ganhar) a dançar "Da Boot". Ou algo assim.

Pelo menos os prêmios foram bem distribuídos. Nomadland foi o grande vencedor da noite, com três estatuetas: melhor filme, direção e atriz. Meu Pai ficou com duas (ator e roteiro adaptado), assim como Judas e o Messias Negro, Mank, A Voz Suprema do Blues, Soul, O Som do Silêncio. Minari ficou com uma, Bela Vingança também. O único dos oito indicados a melhor filme que saiu de mãos abanando foi Os Sete de Chicago

Foi um Oscar da diversidade. Cinco anos depois do #OscarSoWhite, nove pessoas não brancas foram indicadas nas quatro categorias de atuação. Duas ganharam: melhor ator coadjuvante para Daniel Kaluuya, por Judas, e melhor atriz coadjuvante para Yuh-Jung Youn, por Minari. Yuh-Jung fez o discurso mais fofo da noite, dando uma indireta a Brad Pitt, que apresentou a categoria: "Fico feliz em finalmente te conhecer". 

70 mulheres foram indicadas em 23 categorias, um recorde. 32% dos indicados eram mulheres. Parece (e é) pouco, mas é um avanço. Emerald Fennell ganhou o Oscar de melhor roteiro original por Bela Vingança. Fazia 13 anos que uma mulher não vencia esta categoria (desde Diablo Cody por Juno). Esperava-se que Chloé Zhao ganhasse roteiro adaptado, mas este prêmio foi para o (também excelente) Meu Pai

Mia Neal e Jamica Wilson foram as primeiras mulheres negras a vencer na categoria Maquiagem e Penteado, por A Voz Suprema do Blues. Ann Roth, de 89 anos, se tornou a mulher mais velha a ganhar um Oscar (de figurino, também por Voz Suprema). 

A chinesa Chloé fez história ao ser a segunda mulher em 93 anos a levar melhor direção. Foi a primeira mulher não branca a ser indicada e a vencer nessa categoria. E Nomadland é realmente um filme importante, sensível, belo, com protagonismo feminino, que faz uma denúncia do capitalismo. Ao subir ao palco para receber o Oscar de melhor filme, Frances McDormand deu um urro de lobo em homenagem ao mixador de som do filme, que tem Wolf no nome e morreu em março. Um dos poucos instantes memoráveis da cerimônia.

Uma das missões da premiação parecia ser mostrar que o cinema (cinema? O que é isso?) continua respirando, mesmo que por aparelhos. 
Globalmente, os cinemas tiveram queda de 72% na bilheteria no ano passado. O mercado de streaming, claro, cresceu. Mas muitas salas fecharam com a pandemia, e a dúvida é se voltarão à ativa, e quando, o que levou Frances a discursar: “Veja o nosso filme na maior tela possível. E, quando vocês puderem, coloquem o máximo de pessoas possíveis em uma sala escura para compartilhar essa experiência”.

O discurso mais emocionante da noite foi logo no começo, vindo do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, cujo Druk - Mais uma rodada ganhou Melhor Filme Internacional. Após agradecer as pessoas de costume, ele compartilhou o que poucos sabem: que sua filha de 19 anos morreu num acidente de trânsito quatro dias depois do início das filmagens. O carro dirigido por Maria, ex-esposa de Thomas, foi atingido pelo carro de um motorista que se distraiu enquanto falava no celular. Maria sobreviveu, mas a filha, não. O filme é dedicado a ela, Ida. 

Thomas discursou: "Queríamos fazer um filme que celebra a vida. Quatro dias de filmagem e o impossível aconteceu. Um acidente na rodovia tirou a minha filha. Alguém olhando pro celular. Eu sinto sua falta e a amo. Acabamos fazendo este filme pra ela como um monumento. Ida, este é um milagre que aconteceu, e você é parte desse milagre. Talvez você esteja puxando as cordinhas em algum lugar". Muito triste. 

As maiores surpresas ficaram mais pro fim da noite. A fotografia de Nomadland parecia mais cotada para ganhar que a de Mank, e não foi o que aconteceu. "Hear my voice", canção original de Os 7 de Chicago, perdeu para a menos cotada "Fight for You", de Judas

Pra melhor atriz, como eu havia previsto, podia ser qualquer uma. Mas, talvez por ela ter ganhado recentemente, em 2019, por Três Anúncios para um Crime, poucos esperavam que Frances McDormand ganhasse de novo tão cedo. Agora ela é a única atriz a ter três Oscars (Katherine Hepburn segue sendo a recordista, com quatro estatuetas; Meryl Streep tem três, mas um deles é por atriz coadjuvante).  

Porém, uma das maiores barbadas da cerimônia não se concretizou: a esperada premiação póstuma de Chadwick Boseman (que morreu de câncer em agosto). Tanto que os organizadores mudaram a ordem da entrega das estatuetas. Melhor Filme sempre fica pro final. Desta vez deixaram Melhor Ator pro fim, imaginando que a viúva de Chadwick discursasse e a noite acabasse em grande emoção. Mas aí Joaquin Phoenix abriu o envelope e anunciou o vencedor: Anthony Hopkins, por Meu Pai (que, aos 83 anos, se tornou o ator mais velho a ganhar um Oscar).

Anthony não estava lá, mas dormindo, no país de Gales, onde tinha ido visitar o túmulo de seu pai (depois ele fez um vídeo elogiando Chadwick). Então foi um fim de noite muito anticlimático, com ecos de 2017, quando deram o envelope errado para Faye Dunaway e Warren Beatty e eles anunciaram melhor filme para La La Land, sendo que o vencedor era Moonlight. Alguém brincou ontem que foi o encerramento do Oscar 2021 foi o pior fim pra um show na TV desde o final de Game of Thrones

Lamento dizer que o meu tradicional bolão do Oscar não foi tão mais emocionante que a cerimônia. Na quarta estatueta eu já vi que não poderia mais ganhar o bolão pago. Cinco rapazes (Romário, Rafael, Claudemir, Pedro e Júlio César) permaneceram empatados com 100% de acertos no bolão durante várias categorias. Mais pro fim, Ávila, Douglas e Janaína se aproximaram. 

Mas, quando Claudemir fez 13, vimos que ninguém mais poderia passá-lo. No máximo podiam empatar com ele, dependendo do resultado pra atriz, que estava mais entre Viola Davis e Carey Mulligan. Claudemir acabou ganhando sozinho o bolão pago, com 15 acertos em 19 categorias. 

Parabéns, Claudemir querido! É um dos participantes mais antigos do meu bolão. E já ganhou em 2008 e em 2019. Fico no aguardo de um textinho pra descrever essa emoção de receber R$ 450.

Graças à competência do Júlio César, que organiza o bolão desde 2009, fiquei sabendo dos resultados do bolão grátis ontem mesmo. A grande vencedora foi Janaina Lira, que não apenas acertou inacreditáveis 17 categorias, como todas as principais (veja na tabela). Parabéns, Janaina! Quero um texto seu também. 

Bom, o importante pra todo mundo continua sendo sobreviver à pandemia (e, no Brasil, ao vírus Bolsonaro). Vamos torcer para que o cinema, a gente, o Oscar, o bolão do Oscar, possam voltar ano que vem -- e em melhor estilo!