sábado, 31 de janeiro de 2015

GUEST POST: "FICA CALADINHA", UM HINO À CULTURA DO ESTUPRO

A Flávia me enviou este relato:

Sou estudante e tenho 17 anos. Fui à festa de formatura de um colégio particular. Minha irmã era uma das formandas. Lá tocaram a música "Fica Caladinha", de uma banda chamada Bonde do Tigrão. De todas as pessoas que estavam ao nosso redor na pista de dança, só nós duas nos incomodamos com a letra. A maior parte dos que estavam lá sabiam até a coreografia, na verdade.
A letra dessa música é tão absurda que me chocou. Por isso, montei esse texto, com depoimentos de vítimas de agressão sexual (tirados de vários sites, com os links abaixo), como forma de protesto à cultura do estupro presente na música. 
Mãos para o alto novinha 
“Senti muito medo, nunca senti tanto medo na vida. Eu tentava sair de baixo dele de todas as formas, tentava dar joelhada, mas ele era muito pesado, minhas pernas estavam presas. Eu estava toda presa. Já chorava. Ele disse inúmeras vezes: tu não vai sair daqui, tu não vai sair daqui!".
Porque hoje tu tá presa
"Eu chorava, eu apanhava, eu tentava gritar. Ele me batia muito. (…) Eu já me perguntei isso, por que eu não tive força pra reagir. Eu estava presa naquilo ali".
Mãos para o alto novinha! 
Por quê?
“Meu colega, sobre mim, na minha cama, me segurando pelo pescoço e me asfixiando. Me lembrei da luta para escapar daí e de como a cada tentativa de sair dessa relação sexual não consensual -– e com preservativo –-, ele me batia mais.”
Porque hoje tu tá presa
E agora eu vou falar dos seus direitos.
“Ele [professor do jardim de infância] me levou ao escritório dele por 'mau comportamento'. Ele me sentou na mesa dele (…) e... me machucou.”
Tu tem o direito de sentar.
De quicar, de rebolar.
“Ela me levou junto com minhas primas até onde eles moravam, e novamente fui abusada. Eles abusavam e eu deixava, calada”.
Você também tem o direito de ficar caladinha.
“Pedia que eu guardasse segredo. (…) Em uma das noites malditas, esse pervertido foi mais além: introduziu seu pênis em meu ânus, aumentando mais ainda minha repulsa, minha revolta e o nojo que sentia de mim mesma (…) ele só respondia: 'Cala boca, não fale isso, eles vão descobrir'.”
Fica caladinha.
“O medo e a vergonha me calaram”.
Fica, fica caladinha
"Shhhh...”. "Eu tinha dois anos.”
Fica, fica caladinha.
Fica, fica caladinha.
E agora desce...
Desce aí novinha...
Desce aí novinha.
Estes são trechos de depoimentos reais. Todos eles foram escritos por vítimas de estupro, que cansaram de permanecer caladas e gritaram suas histórias para o mundo. Elas, munidas de coragem, não “ficaram caladinhas”.
E todos os dias, a violência que elas sofreram é reforçada por músicas como esta. 
Diga não à cultura do estupro!  

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

GUEST POST: OS MUITOS PROBLEMAS DA NOVELA DAS 7

A maior tragédia da vida de uma mulher: deixar de ser loira

Hoje a Talita me mandou uma notícia que me deixou indignada: a novela das 19h da Globo "ensina" que ficar feia é mudar seu cabelo loiro e liso por um crespo e negro. Isso sim é cabelo de feia -- e pobre.
Antes e depois
Minha revolta foi ainda maior porque ontem mesmo respondi um email de uma moça que quer se matar (literalmente!) por estar fora do padrão de beleza e, principalmente, por não ser branca de olhos claros. Vou publicar o relato dela semana que vem.
Discuti isso no Twitter e Tuany, uma publicitária de 27 anos que mora em Floripa, apontou outros problemas da novela. Pedi para ela escrever um guest post, e ei-lo: 

Desde que estreou a novela Alto Astral, o folhetim das 19h da Globo, eu torci o nariz. A premissa é que se trata de uma história espiritual, que fala sobre reencarnação e eu, como seguidora da doutrina espírita, sei que se esses pontos não forem colocados da maneira correta, vão apenas reforçar os estereótipos que já existem em relação ao espiritismo.
Mas antes fosse esse o único problema. Gostaria de deixar bem claro que não acompanho assiduamente a novela, portanto, em alguns momentos citarei o nome dos personagens; em outros, dos atores. O horário coincide com quando chego em casa e deixo a TV ligada enquanto faço o que tem que ser feito e, como moro sozinha, é bom ter um “barulhinho”.
Vou tentar relatar os fatos pela ordem de flagrante.
Na primeira vez que sentei no sofá e parei para ver a novela, estava passando uma cena onde a Sofia Abrahão discutia com o (ex-)namorado no portão de casa. Aparentemente, ela já havia terminado o relacionamento. O moço tentava argumentar e, diante da negativa dela, a agarrou. Ela relutou. Ele insistiu. Ela se rendeu. Ou seja, era apenas “charminho”. A moça entra em casa e relata o beijo apaixonado para a mãe, que fica maravilhada e torce para que eles se acertem.
Menos de cinco minutos depois (sério!), a mesma cena com outros personagens. Dessa vez, o casal protagonista, Caíque e Laura. Ele a agarra. Ela resiste. Ele insiste, segurando-a mais forte. Ela se rende. Apaixonada. 
Mas, gente, que problema existe? Eles eram namorados, óbvio que ela queria! Além do mais, eles são o casal protagonista, é claro que devem ficar juntos, mesmo que ele não saiba ouvir não e a agarre à força! 
Troquei de canal mas, no dia seguinte, lá estava eu novamente, dessa vez já atenta pra pescar novos sinais. Que não demoraram a chegar, claro.
Dois irmãos conversam na cozinha. Um deles, na casa dos seus 20 anos. O mais novo, por volta dos 8 ou 9. 
O mais velho desabafa com o menor (quem nunca, né, gente?) sobre como gostaria de namorar uma menina, mas ela não parecia muito a fim. Aí, o mais novo explica para o irmão como é que as coisas realmente funcionam: “A mãe uma vez me disse que quando a menina diz não, ela quer dizer sim”. Peço perdão pela falta de exatidão, não lembro se a frase foi “quando a menina diz não, ela quer dizer sim” ou “quando a menina diz não, ela só está fazendo charme”. Não sei o que me choca mais nesse contexto.
Outro núcleo, vamos lá: uma moça, enfermeira, virgem, se envolve com um rapaz “pegador”. O que ela não sabia que é o moço havia apostado uma caixa de cerveja que ele iria, sim, conseguir desvirginá-la. Ela, apaixonada e encantada com as investidas dele; ele, cada vez mais insistente, consegue o que quer. E filma. E cai na internet. A moça, claro, sofreu toda sorte de torturas psicológicas. Pediu afastamento do emprego e não conseguia mais sair de casa. 
Até que... surge ele! O MACHO SENSÍVEL E SALVADOR! Ele é apaixonado pela moça em questão e é médico do hospital em que ela trabalha (ele é médico e ela é enfermeira, coincidência?), e a incentiva a voltar a trabalhar, a seguir a vida e, como não poderia deixar de ser, a ficar com ele. Afinal, quem mais iria querer ficar com uma moça que já teve vídeo íntimo postado na rede? Apenas os machos sensíveis e salvadores! 
Itália recebe lição de moral
Um dia, ela lamenta sobre tudo que aconteceu com ela, sobre como isso foi injusto e nojento. E ele, do auge da sua sensibilidade: “Olha, Itália, você é adulta e tem que admitir que também tem responsabilidade sobre tudo que aconteceu! Afinal, todo mundo te avisou que ele não prestava”. 
Aí, quando você pensa que consertaram o cano de vazamento de chorume, ele explode na sua cara: o moço que vazou o vídeo está arrependido. Chorando, inconsolável, pois acabou de descobrir que a ama. O pobre moço encontra consolo no colinho da mamãe, que não entende por que essa moça não perdoa seu filho. Tão arrependido, tão apaixonado. Tão babaca.
Mas, a última é a entrada da Monica Iozzi, na pele de Scarlett. Scarlett é filha de um dos donos do hospital em que a trama é ambientada. Ela é loira, rica sem nunca ter trabalhado, mora em Nova York. Até que seu pai falece e, para que possa conseguir colocar as mãos na herança, precisa passar um ano trabalhando na lanchonete do padrinho para “aprender a dar valor ao dinheiro”. 
Claro que todo pai zeloso deixa para ensinar isso à filha no postmortem, nada mais natural. É aí que vem: para que ela vá para o Brasil trabalhar na lanchonete, ela passa por uma transformação. Tem seus lindos e hidratados cabelos transformados por um cabeleireiro que brada ao entrar em sua casa: “Vim fazer o que me mandaram: te deixar feia”. A cena acaba com ela gritando, horrorizada em frente ao espelho. 
No próximo capítulo, descobrimos o que de tão horrendo tinha acontecido à nossa pobre menina rica: seus lindos cabelos loiros foram substituídos por cabelos escuros, crespos e curtos. Ou seja, isso é “enfeiar” a personagem. Cabelos loiros e lisos = pessoa rica e bonita. Cabelos curtos e crespos = pobre e feia. A empregada. 
Ah! Claro que o nome dela também mudou! Vocês já viram empregada feia e pobre se chamando Scarlett? Não, né? E Cida? Muito mais nome de empregada, né!
Fora as inúmeras cenas de racismo (o irmão mais velho citado acima, negro, acusado de roubo, a empregada negra), disputa entre as mulheres (por causa de homem, lógico! Por que mais elas poderiam competir?), mulher fazendo de tudo, inclusive inventar uma doença terminal, para segurar o marido e chamando a mulher por quem ele é apaixonado de vagabunda e vários adjetivos de embrulhar o estômago. 
Como eu disse antes, se não acompanho com frequência e já consigo perceber tudo isso. Imagina se acompanhasse? Mas tem algo que me deixa ainda mais incomodada: novelas do horário das 19h são as novelas “bobinhas”, “família”, “bem humoradas”. Dói saber que é isso que tá fazendo as pessoas rirem. Dói saber que esse tipo de discurso é oferecido como entretenimento pós-dia-cheio-no-trabalho.
"Scarlett, você tá horrorosa!", diz seu padrinho, rindo.
Não sei o que é mais triste: presenciar esta cena ou ver
Leopoldo Pacheco, que brilhou no remake de Escrava Isaura,
ser tão rebaixado na sua carreira

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

UM BLOGUINHO COM SETE VIDAS

Esta semana (nunca sei o dia exato) o blog comemora sete anos de vida! 
É muito tempo na internet. Acho que é como idade de gato. 7 anos na internet devem corresponder a 46 anos na vida real. Em outras palavras, o blog tem quase a minha idade humana.
Leitorxs do blog, hoje de manhã
Todo ano, pra celebrar esse aniversário, eu faço um pequeno inventário do blog, que deve ser bem chatinho (o inventário, não o blog, espero) pras leitorxs, mas que é muito útil pra mim. Serve inclusive pra encontrar informações resumidas sempre que me entrevistam ou me pedem pra escrever ou falar sobre o blog. Então, por favor, aguentem firme aí.
Como eu já disse, o auge do bloguinho já passou, e duvido que volte. Foi entre outubro de 2012 e março de 2013. Naquele semestre, o blog teve média de 300 mil visitas por mês e de 450 mil pageviews (visualizações de página). Mas o melhor ano em número de visitas totais foi mesmo 2013. E o melhor mês de todos os tempos, até hoje, foi janeiro daquele ano, com 330 mil visitas.
Em 2014 os números caíram bastante. No primeiro semestre a média foi de 200 mil visitas por mês e 280 mil pageviews, de acordo com o SiteMeter. E, no último semestre, entre julho e dezembro, foi de 190 mil visitas e 260 mil views/mês. Assim, a média de 2014 ficou em 195 mil visitas e 270 mil pageviews por mês. Ainda é um número alto, sem dúvida. Mas baixo se comparado às 270 mil visitas/mês de 2013. 
Cabe salientar que o SiteMeter tem uma maneira de medir visitas, e o Google, outra. 
Segundo o Google, em dezembro o blog teve quase 700 mil pageviews. Pelo SiteMeter, não é nem metade -- 289 mil. Pelo Google, o blog tem, em seus sete anos, 23.650.500 pageviews contra 17 milhões do SiteMeter.
Entre jan2015 e jun2013
Já o ExtremeTracking, que tenho instalado no blog desde 2008, mas raramente consulto, tem outros números. Ele sempre dá um número menor de visitas que o SiteMeter, talvez porque considere apenas visitas únicas. A medição de pageviews está mais próxima à do Google. Por exemplo, em dezembro, o Extreme considerou quase 500 mil pageviews. 
Eu realmente não sei em qual medidor confiar. O SiteMeter e o Extreme concordam que o mês em que o blog mais teve visitas foi em janeiro de 2013 (330 mil, segundo o SM, e 320 mil, segundo o Ext). Mas olha só o gráfico do Google, que desconsidera que 2013 tenha sido o melhor ano da história do blog:
Lógico que eu fico me perguntando por que caiu tanto o número de visitas e views. Foi algo que eu fiz? Estaria me tornando repetitiva? As visitas caíram por que deixei de publicar críticas de cinema? A vida útil do blog passou? 
Guest posts demais? (tem muita gente que reclama dos guest posts, mas eu adoro, porque eles ampliam as experiências relatadas aqui. Se eu fosse falar apenas da minha vivência e visão de mundo, o blog seria infinitamente mais restrito. Em 2014 publiquei 165 guest posts, e me orgulho de cada um deles, mesmo dos que eu discorde. Porque foram escritos por pessoas com as mais variadas experiências e opiniões, e que quiseram contribuir com o blog, que quiseram compartilhar suas ideias, e confiaram em mim pra isso. Só posso agradecer a todxs vocês). 
SiteMeter do Sociological
Images em setembro 2014
(compare com 2013)
Claro que tudo isso é possível. Mas acho que o motivo é menos pessoal, e mais geral. São poucos os blogs que mantem aberto algum sistema de medição de visitas, o que não permite muita transparência (o meu é aberto, é só clicar no SiteMeter pra ver o mesmo que eu posso ver sobre o blog). Mas, pelos que tenho observado, os números despencaram. Um exemplo é o excelente Sociological Images, um blog feminista comandado por uma professora universitária dos EUA. Em 2013 o SI tinha 600 mil visitas/mês em média, chegando a picos de um milhão em um mês. No último semestre de 2014, esse montante caiu para 340 mil/mês, em média. E isso não acontece só com os blogs feministas. É com todos que eu vi, de política à culinária. 
Em agosto do ano passado conheci pessoalmente Alex Castro e sua companheira Claudia Regina, ambos muito simpáticos. Alex, em particular, tem bem mais anos de experiência com blogs do que eu. E ele foi categórico: "Os blogs acabaram", ele me disse. "O único blog que conheço que ainda tem comentários é o seu". 
Tem o dedo do Facebook nessa queda das visitas dos blogs. Muita gente deixou de fazer blog para escrever textos (cada vez mais curtos) nas suas páginas. E mais gente ainda deixou de comentar nos blogs para comentar no FB. Só que, não sei se vocês lembram (corrijam-me se eu estiver enganada, pois não tenho FB), no começo o FB divulgava um link seu para todos os seus contatos. Aí ele foi cortando a abrangência (nem para os contatos da sua página ele divulga mais), e hoje só pagando que você consegue divulgar um link seu. Acho que o Alex me disse algo assim: "Primeiro o FB acabou com os blogs, depois acabou com ele mesmo".
Pois é, acredito nisso também. Enfim, agora o blog está com um total de 11.322.860 visitas desde sua criação. Como um ano atrás estava em 8.950.900, foram aproximadamente 2 milhões e 370 mil visitas em um ano, e 3 milhões de pageviews. Não está tão mau.
Como modero os comentários
Durante 2014, foram quase 30 mil comentários publicados no blog. Não sei quantos não são aprovados para a publicação, mas posso dizer que são muitos. Como foram 380 posts no ano passado, dividindo o número de comentários pelo número de posts, dá quase 80 comentários por post. Ainda uma boa média. Já são quase 194 mil comentários publicados desde o início do blog. E sempre tenho que me lembrar que só passei a moderar comentários a partir de junho de 2012. Antes disso, qualquer coisa era publicada. 
Este ano eu fui ver como está o site em relação ao Alexa (que conta apenas tráfego), e ele figura como o blog número 4.198 no Brasil, e 131.171 no mundo. O que eu não faço muita noção do que queira dizer.
Em janeiro de 2014 eu tinha 5.669 seguidores aqui no blog. Agora são 6.069. É essa caixinha aí do lado. Meu muito obrigada a cada um/a.
No Twitter, eu tinha 15.030 seguidores, e hoje tenho 20.100, o que é incrível, porque eu definitivamente não conheço 20 mil pessoas na vida real. 
Apesar de todos esses bons indicadores, a verdade é que não é muito fácil ser mulher na internet (nem no mundo). Já há vários estudos mostrando que basta ter um avatar feminino para receber muito mais ofensas, assédio e ameaças do que quem tem um avatar masculino. Agora imaginem ter um blog feminista mais ou menos famoso. As ameaças e os xingamentos vão para as nuvens mesmo.
Mas não é só isso. Sei que tem gente ignorante que acha que feministas são milionárias porque recebem dinheiro todo mês de bilionários judeus para acabar com a sociedade (sim, essa é a teoria que mascus e reaças espalham), mas é justamente o contrário. Conseguir anunciantes prum blog feminista é quase missão impossível (não que eu tenha tentado). Tem gente que ganha dinheiro com palestras (não sou uma delas), mas, por estranho que pareça, para algumas pessoas do meio feminista querer ganhar dinheiro com seu trabalho é pecado. 
E manter um blog e dar palestras exige grande dedicação e tempo. Insinuar que feministas (e outrxs ativistas) não deveriam fazer algum dinheiro com seus blogs equivale dizer que você deve escrever só pela vocação, pela sua missão. É também uma opinião elitista, pois, na prática, só gente que não precisa de dinheiro teria condições de tocar um blog.
Durante sete anos, tentei algumas maneiras de capitalizar meu blog. Não sou nenhuma expert nisso, admito, e nem tentei muito. Recebi um pouquinho de dinheiro (R$ 2.200 em 2011) pelo Submarino, até que ele alterou as regras e deu calote em todos os blogueiros. Fui bem sucedida vendendo o livro que publiquei com crônicas de cinema (em dois anos, vendi uns 500 exemplares através do blog e em palestras), o que me rendeu mais que o Submarino. E agora botei o PayPal. É uma tentativa. 
Ano passado tentei incluir AdSense, para ver como era. Sabe o que o Google respondeu? Que meu blog é impróprio para AdSense por causa de imagens e temas. Sabe com é, blog feminista fala de estupro, aborto, prazer sexual... 
Os blogs mais machistas e asquerosos que vocês puderem imaginar têm AdSense, mas blog feminista não pode! 
Minha página na Wiki durou pouco
(clique para ampliar)
Quer saber o que mais blog feminista não pode ter? Página na Wikipedia. Em abril, um dos meus leitores mais antigos e queridos, o Patrick, que é editor da Wiki, fez um verbete com meu nome, Lola Aronovich. Em questão de horas apareceram editores pedindo remoção da página. Diziam que era spam, que as fontes não eram confiáveis (porque várias eram do meu blog, ainda que tinha outras para artigos e entrevistas publicados na grande mídia), mas o principal: que meu nome não era relevante.
Discussão para eliminar a página
Sei lá, eu faço um blog que é, há anos, o maior blog feminista do Brasil (não posso falar com certeza, porque outros blogs não divulgam números). Nos últimos três anos, dei mais de 110 palestras sobre temas feministas em universidades por todo o país. Eu acho, sim, que dizer que meu nome e meu blog não são relevantes é como dizer que o feminismo não é relevante. E não deve ser mesmo, se formos considerar os pouquíssimos nomes feministas que aparecem na Wikipedia brasileira (e internacional também). Uma Wikipedia em que, por coincidência, 90% dos editores são homens. E são eles que decidem quem/o quê é ou não relevante.
Meu verbete na Wiki durou pouco. Foi derrubado pelos editores. Pedi ajuda a feministas que entendem muito mais do riscado do que eu, e elas tentaram, mas não houve jeito.
Apesar de todas as dificuldades, calar-se não é uma opção. Então vamos a mais um ano de blog. Agradeço a todas as pessoas bacanas que me leem, e deixo embaixo os posts que receberam mais comentários no ano passado, para ler ou reler. Essa lista é interessante porque ela dá uma boa base de muito do que aconteceu em 2014. Todos os posts com mais de 150 comentários estão aí, mas também inclui alguns que, mesmo tendo menos feedback, não podiam ficar de fora. E rumo ao oitavo ano de bloguinho!

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