quinta-feira, 17 de julho de 2008

UM ESPECIALISTA FALA SOBRE GORJETAS

Meu leitor Cavaca é brasileiro, mora em Portugal há vários anos, e trabalha num restaurante italiano em Lisboa, o Valentino. Quem passar por lá deve visitá-lo. Ele é chefe de sala e empregado de mesa, e tem muitas observações interessantes a fazer sobre quem deixa e quem não deixa gorjeta:

No restaurante em que eu trabalho cada garçom fica com a sua gorjeta (isso significa que o salário é muito baixo); no entanto temos muitos turistas, e a gorjeta, que aqui chamamos de "casaca", compensa. Ao longo desse trabalho eu fiz uma lista das pessoas que deixam e não deixam gorjeta, assim identifico de imediato os meus clientes. Os melhores são os ingleses, que deixam sempre e são extremamente educados e simpáticos. Quando são em grupos de seis ou doze deixam mais de 20% (para mim 10% é mais que ótimo e justo, não quero nada mais que isso. Mas se quiserem deixar mais... bem, quanto mais melhor). Eu também sou muito bom no que faço, por isso acho que mereço. Os americanos também são fantásticos; muitas vezes me perguntam quanto é que eu quero que eles deixem. Pode?
Não gostam
os dos portugueses, são poucos os que dão gorjeta, e os que dão dificilmente chegam aos 5%. Além de serem muito exigentes e não pagarem por isso, e mal-educados também, 80% sequer responde um boa noite! Mas isso é em Lisboa, porque fora daqui eles são mais simpáticos.
Espanhóis, franceses, gregos, escoceses, belgas, e todos do leste europeu estão no mesmo grupo, não deixam nada, são pouco simpáticos e dão pouco prazer em atender.
Alemães deixam sempre e são boa gente, não entendo isso de as pessoas dizerem que são um povo frio.
Com brasileiros é difícil prever, normalmente deixam e são muito simpáticos.

Mulher bonita nunca deixa! Exceto se for da elite à qual me referi acima. Os negros também não. Japoneses nadinha. Casais adolescentes - esqueça a possibilidade de ver qualquer centavo! Famosos e jogadores de futebol são os mais pão-duros; Cristiano Ronaldo quando vem aqui não deixa nada. E ele ganha milhões.
Mexicanos, costa-riquenhos, venezuelanos, argentinos, chilenos, sul-africanos, essa gente toda
é ótima também e sempre comparece.
Eu já gostaria de te perguntar se você e o maridão deixam gorjeta, apesar do fato de ser for
reta. Eu também sou forreta e sempre deixo, não só por trabalhar na área, mas porque a pessoa que te serve não é teu escravo.
Sim, eu sou pago para te servir, o que significa colocar a tua refeição a tua frente, tirar o teu prato, oferecer a sobremesa e trazer a conta.
Mas as pessoas esperam mais do que isso quando vão pagar por uma refeição; algumas têm a fantasia de sentirem-se grandes chefes de estado e tratar o empregado como um verme
, outros já te chamam pelo nome, te olham como uma pessoa e por conta disso vão ter um jantar muito mais agradável. Sabe aquela colher pro espaghetti, o queijo parmesão, a pimenta fresca polvilhada no prato, o vinho servido no teu copo o tempo todo, e água? Só quem paga pelo serviço é que tem esse tratamento.
Português se
mpre reclama que o americano ao lado está a receber mais atenção. Por que será? Acho que ele nunca fez essa pergunta.
Há restaurantes que eu nunca vou porque não são para mim. São para outro tipo de gente. Por isso às
vezes me contento com um McDonald's. Se em alguma ocasião vou comer boa comida num lugar bacana e tiver um bom serviço, vou pagar por isso, claro, pois o serviço faz parte do meu jantar. As pessoas querem economizar no jantar não dando gorjeta. O que talvez elas não realizam é que quando voltam a esse lugar, não serão bem tratadas.
Em Portugal o serviço não é incluído, na Inglaterra e Estados Unidos, é, e as pessoas deixam gorjeta além disso. Já ouvi falar de casos (nos EUA) em que restaurantes chamaram a policia porque grupos não deixaram gorjeta. E uma australiana uma vez me disse que em NY os empregado os olhavam de cara fechada não porque eles não estavam deixando gorjeta, mas porque não estavam deixando o suficiente. Ela pediu desculpas porque não sabia e passou a deixar mais (acho isso
um pouco exagerado, mas pagar pelo serviço é uma coisa que eles levam mais a sério).
Hotelaria é estressante, estou nisso há cinco anos e quase jogando a toalha. Gosto disso porque fico em contacto com muita gente e aprendo, não me importo muito com a gorjeta. Basta que a pessoa seja educada, nem é preciso ser simpática. É essa a satisfação para nós (meus amigos concordam comigo), gente que te trata como gente.


Como este guest-post do Cavaca já está grande demais, vou deixar pra vocês comentarem o que ele escreve. Mas juro que volto ao assunto das gorjetas e idas a restaurantes, inclusive pra responder à pergunta dele, que me chamou de forreta. Encarei como um elogio.

52 comentários:

Nita disse...

Eu pessoalmente sempre deixo gorjeta. Sempre que me atendem bem. Em alguns restaurantes fui tão bem tratada que realmente, além de pagar os 10% dei gorjeta para quem estava me atendendo e pro moço que tocava violão. todos muito simpáticos. Teve até uma vez que ganhei uma sobremesa de graça por ceder lugar a alguns argentinos que estavam num grupo bem maior e teriam que se sentar separados caso eu não cedesse. Não sei qual é o problema dessas pessoas que não sabem tratar quem os serve em restaurantes como pessoas. É tão fácil ser educado. Que tal começar com um boa noite e um muito obrigada? Não precisa de muito.

Anônimo disse...

Lola, foi um elogio.

E nita, é mesmo por aí, para o pessoal sangue bom eu consigo alguns mimos como uma sobremesa free ou uma dose mais de whisky. Para quem gosta do que faz, como eu, é sempre uma satisfação fazer isso. Como seria para você, penso, oferecer um jantar aos seus amigos. Os meus melhores clientes quando aparecem nem precisam esperar pela mesa, cosigo sempre alguma coisa. E no fim quando eles te gratificam, e bem, fazem mesmo questão pois se sentem bem dando gorjeta. Sorte minha não?

lola aronovich disse...

Como ainda vou escrever um post imenso sobre isso, não quero falar muito das gorjetas. Eu penso naquele diálogo inicial de Cães de Aluguel, sabe? E também numa fala mais pro fim de "A Simple Plan" (Um Plano Perfeito? Aquele com o Bill Patton e a Bridget Fonda). Não tem a ver com gorjeta, mas com o hábito de frequentar restaurantes, nisso de vc dizer, Cavaca, que "algumas coisas não são pra gente".
Concordo com tudo que vc falou, Nita. Não custa nada ser educado. Isso de ceder lugar, ah, eu queria que o pessoal fizesse mais aqui em Detroit, no ônibus. Todo mundo chega e senta num lugar com dois assentos vazios (os ônibus raramente estão cheios, cheios). Mas se vc vê um casal entrando junto, vc não cederia o lugar pra eles e se sentaria ao lado de uma outra pessoa? Eu faria. Aqui ninguém faz!
Ah, e nunquinha ganhei sobremesea de graça num restaurante! Agora fiquei revoltada!
Cavaca, vc falou de whisky, e fiquei curisosa. Vc tá acompanhando a "Lei Seca" no Brasil? Vc acha que algo assim afetará muito os restaurantes? Vc sabe quanto do faturamento do Valentino vem das bebidas?

Anônimo disse...

Acho que vai afetar locais que se concentram muito na venda de bebidas. Tem restaurante que funciona como se fosse bar.

Mas antes de proibir é preciso punir e fiscalizar com mais rigor, as coisas começam assim e logo o Estado está a forçar um controle maior sobre o cidadão... quando estava de férias em Sp em fevereiro falava-se numa lei para proibir que duas pessoas andassem juntos numa moto. Evitando-se assim mais assaltos. Acho que a lei não foi para a frente, por motivos óbvios, mas alguém cogitou fazer isso...enfim.

O problema é que há pouco controle também na venda de alcool para menores não é? Aqui, se fazemos isso, a ASAE, que é o nosso órgão regulador, fecha as nossas portas num piscar de olhos. Não podemos vender alcool para as pessoas que já chegam embriagadas, é contra a lei. As bebidas são 40% do nosso facturamento, mas como temos cinco restaurantes fazemos bons acordos com os fornecedores.
O facto curioso é que as pessoas aqui geralmente bebem para ficar bebadas, fiquei um pouco surpreso com isso no ínicio.
Sabia que muito inglês jovem em viagem anda com um bilhete no bolso com o nome o endereço do hotel e um pedido para que seja posto no táxi caso seja encontrado inconsciente em qualquer parte?
Apanho algumas bebedeiras também com os amigos, mas sempre recorremos ao táxi.

Na alemanhã tem outra coisa também, se você passa o sinal vermelho, o carro atrás de você liga para a policia e passa a matricula do teu carro. A população também controla.

Nita disse...

sim sim, eu cederia. aqui no Brasil o caso de não ceder lugar no ônibus tá tão ruim quanto. Outro dia eu estava voltando de algum lugar e o ônibus estava bem sardinha enlatada sabe? Entrou uma mulher com um bebêzinho de colo e ninguém fez o favor de levantar para ela sentar. Essas coisas me revoltam tanto.

Vitor Ferreira disse...

Eu trabalhei num restaurante do hotel no Hawaii e passei por situações parecidas também. Mas eu acho que na questão de dar gorjeta deve ser levado em consideração que isso varia de cultura para cultura. No Brasil ninguém faz isso. Então pra gente isso não é comum. EUA e Inglaterra isso faz parte da cultura deles. Então acho que isso deve ser respeitado.
Quanto a parte da educação, essa deve sempre existir. Como ele mesmo falou, quem está servindo não é escravo. Dando gorjeta boa ou não, eu tratava todos da melhor forma possível.

Fer Guimaraes Rosa disse...

Meu cunhado, que eh portugues imigrado no Brasil, quando esteve aqui [EUA] dava umas gorjetas miseraveis, ate eu dar um toque nele que era NO MINIMO 15%. Fiquei chocada quando fui a Portugal e vi as gonjetas deixadas na mesa, meros centavos, nao chegavam nem a 5%. Em alguns lugares o servico nao era grandes coisas, mas em outras o pessoal se desdobrava, como numa pequena tasca em Belem, um garcom brasileiro foi tao gentil. Quando eu vi a gorjeta, completei pra chegar num nivel decente. Eu diminuo a gorjeta so se o servico for muito ruim. Fiz isso uma vez na Chinatown de Vancouver e a garconete, mal educada ate o talo, veio atras de mim perguntar se havia algo errado com o servico. Eu respondi, sim, acho que ficou obvio, neh?

abracos! :-)

lola aronovich disse...

Cavaca, ainda quero escrever um post sobre a Lei Seca. Mas, não sei, isso de querer proibir duas pessoas de andarem juntas de moto é bem diferente de proibir alguém de beber e dirigir. (Isso da moto eu nem sabia. Mas é um problema que tem se tornado frequente, isso de dois caras assaltarem de moto. E ninguém os identifica por causa do capacete. Difícil combater isso, né?).
Uau, as bebidas são 40% do seu faturamento?! É bastante! Sim, é necessária uma maior fiscalização nisso de vender bebida alcoólica a menor de idade. Mas seria bom se a cultura das pessoas mudasse um pouco quanto a isso. Canso de ver pai incentivando filho de 12 anos a beber... Desse jeito, se todo mundo cresce numa cultura como essa, em que pais e filhos acham ótimo menor beber, nenhum estabelecimento vai se negar a vender bebida alcoólica pra menor mesmo...
É o que vc fala sobre a Alemanha, sobre o controle da população. Tem brasileiro demais que acha que lei foi feita pra ser burlada.
Isso de beber até cair, acho que é bem comum entre os jovens de muitas nacionalidades. Infelizmente. Mas se um jovem maior de idade quiser fazer isso, por mim, pode fazer. Só não pode dirigir porque, com um carro à disposição, ele não vai fazer estrago apenas a si próprio.

lola aronovich disse...

Ai, Nita, isso me revolta um monte também. Imagina como deve ser difícil carregar um bebê num ônibus em movimento? Tem muita gente sem educação, pô. Eu me levanto no ato. E aí fico olhando feio pros montes de carinhas jovens que nem pensaram em ceder o lugar.


E aí, Vitor, vc ganhava boas gorjetas no Havaí? Mas vc trabalhava em hotel ou em restaurante? Ou era em restaurante dentro de hotel? Concordo com o que vc disse, a cultura varia de país pra país. Imagino que os guias turítisticos de cada país falem sobre o que é costume em cada lugar (e não só sobre dar gorjeta em restaurante, mas também pra outros tipos de serviço). É difícil pra quem está visitando o lugar pela primeira vez saber.

lola aronovich disse...

Fer, aqui nos EUA as gorjetas são no mínimo 15%?! Ops! Quero dizer, acho que não demos gorjeta aqui, porque não chegamos a comer em restaurante. Ah, comemos sim. Mais de uma vez num chinês. Mas era super barato. A refeição pra mim e pro maridão ficava por menos de 7, e eu dava 8. Bom, é quase 15%, né? De resto, compramos em restaurantes chineses e levamos pra casa. Sempre tem um potinho ao lado do caixa agradecendo as gorjetas, mas a gente nunca deixou. Acho que a gente é mesmo bem pão-dura, ou como disse o Cavaca, forreta.
Meu pai era o campeão das gorjetas. E ele era sempre muito bem atendido. Além do mais, ele era ultra-simpático também. Acho que eu fui apenas uma ou outra vez a um restaurante com ele e insisti em pagar a conta. E era difícil acompanhar as gorjetas que ele deixava! Mas isso de pagar menos que os 10% se eu for mal-atendida eu nunca fiz, que eu lembre. Mas procede, claro.

lu disse...

...o que é forreta?

lu disse...

é mão-de-vaca? (sou burra...)

Raiza disse...

Olha,eu particularmente odeio ser obrigada a dar gorjeta,sei que o salário desses trabalhadores é baixo,mas a culpa não é minha!os patrões é que deveriam dividir melhor os lucros com os funcionários,além do que,acho que atender bem é obrigação,porém se eu for mais bem atendida do que eu considero o essencial,aí sim eu dou gorjeta.

lola aronovich disse...

Isso, Lu, forreta é mão-de-vaca. Pensei que todos meus leitores(as) soubessem da minha fama (injusta!) de pão-dura miserável!


Princesa, o argumento que vc usa é parecido ao do Mr. Pink no começo de Cães de Aluguel, diálogo que pretendo usar no próximo post sobre gorjetas. A diferença é que ele culpa o governo pelos baixos salários das garçonetes, não os donos de restaurante. Mas sim, seria bem legal se os donos aprendessem a repartir melhor seus lucros. Só que isso também entra no que o Cavaca sugere sobre ir a restaurante ser um programa especial, e alguns restaurantes serem para poucos. Ou talvez isso que eu pensei de certas coisas que ele disse.

Leo disse...

Olha, eu detesto ser o chato, mas eu tenho uma opinião diferente sobre gorjetas. Como funcionários do restaurante, os garçons ganham um salário. Aquele é o emprego deles. Sou arquiteto, e ninguém me dá uma gorjeta porque eu fui simpático, ou porque realizei bem o meu trabalho.
Eu gosto de deixar gorjeta quando achei que a pessoa que me antendeu foi muito simpática e solícita. Mas detesto ser obrigado a isso. Mesmo no Brasil, detesto a obrigação (que vai e vem, segundo a lei. Nem sei mais como está agora) de dar 10%.
Morei em Portugal e me lembro bem que tive vários problemas com o mau-humor português. Os garçons raramente me tratavam bem. E eu nunca dava gorjeta.
Acho que cabe a mim achar que a pessoa foi especial, e presenteá-la gorjeta. Não quero parecer o chefe de estado que está cedendo migalhas, e nem o pão-duro que quer economizar no jantar não dando gorjeta. Mas prefiro que o restaurante me cobre 10% a mais em sua comida, de forma que eu saiba exatamente quanto vou gastar desde o princípio, do que eu ter a "liberdade" de dar quanto quiser e se quiser, mas se eu não dou, ou dou menos do que era esperado, me olhem de cara feia.
Mas enfim... me enquadro no perfil traçado. Sou apenas um jovem... daqueles que "nunca" dão gorjetas...

Vitor Ferreira disse...

Eu trabalhei em um dos restaurantes do Four Seasons Hualalai no Havaí. O Beach Tree. Eu ficava brigando com os passarinhos pra eles não comerem o queijo do buffet que eu tomava conta.

Como é um resort caro e luxuoso, vêm celebridades e ricaços de todos os lugares (se quiser eu faço a lista) e as gorjetas eram boas. Mas eram todas recolhidas pelo hotel e dividas para todos os funcionários ligados ao restaurante (barman, cozinheiro, dishwasher, etc.) e pagos junto com o salário, ou seja, impostos eram descontados da gorjeta também.

Americanos normalmente são simpáticos, gostam de conversar, puxam assunto, e quando percebiam que eu era estrangeiro se interessavam mais ainda. Normalmente liam meu nome "Vaitôr". Vai tomar né... Mas davam gorjetas ótimas e desperdiçam muita, mas muita comida. E vão pedindo mais e mais pratos e jogando metade fora. No começo eu sentia asco de tudo aquilo porque lembrava quanta gente morrendo de fome tem no Brasil (e no resto do mundo) que poderia comer aquilo. Depois de um mês convivendo com isso todo dia, a gente acaba se "anestesiando".

Japoneses são educados e cordiais, e dão menos gorjeta. Mas comem tudo. Europeus idem, só que comem muito mais que japoneses, e até o último grão. Quanto a grosseria, na verdade os mais mal educados eram os próprios americanos. Ou eles eram super entusiasmados e comunicativos ou fechados e grosseiros. Tipo a mulher do Bill Gates que deu uma miséria de gorjeta. Ainda bem que não foi pra mim...

Fer Guimaraes Rosa disse...

Lola, abafa, abafa!! :-)

Sim, acho que o minimo eh 15. Se voce deixar 10 eh sinal que o servico estava uma joça. Mas em restaurantes high-end, como o Chez Panisse, em Berkeley, por exemplo, a gorjeta fixa eh de 18%. Pelo preco dos itens do menu, mais a gorjeta, se voce nao comer e for tratado como um rei, pode chamar a policia! :-)

beijo,

Chaves disse...

Oi!
Olhando os comentários, e comparando com a minha experiência pessoal, vejo um lance meio "psicológico" aí no meio.
(permissão para "viajar" um pouquinho)
A gorjeta é uma gratificação que se dá a alguém em posição hieraquicamente inferior à sua. Você dá isso para alguém que está te servindo, isto é, fazendo coisas que talvez você mesmo pudesse fazer sozinho, como por exemplo, arrumar o quarto do hotel, servir seu prato, seu copo, talvez até pra quem põe gasolina no seu carro.
Em princípio, você mesmo poderia fazer isso, e mesmo que aquela pessoa ganhe salário pra fazer isso, ela está fazendo pequenos serviços que são muito pessoais - por isso a importância da cordialidade, do sorriso, essas coisas.
Quanto à idade, quando eu era mais jovem tinha um problema sério com gorjetas, nunca sabia como fazer, ficava super constrangida. Agora, do "alto" dos meus 33 anos, quero dizer, tenho idade superior à maioria das pessoas que me atendem, fica mais fácil assumir a posição "de comando", e bem mais fácil gratificar quem me trata bem. Acho que é por isso que os jovens não costumam dar gorjeta, é porque não se acostumaram com esse tipo de relação.
A natureza desse tipo de serviço não é a mesma de entregar um produto pronto, e não tem a obrigação de resultado que tem um serviço de natureza técnica.
É a maneira de prestar que pode ser boa ou ruim. E como a gente quer ser bem tratada, então façamos por onde.
(Experimente não dar gorjeta pruma manicure pra você ver quantos bifes ela pode te arrancar da próxima vez. Eu não arrisco.)

Masegui disse...

Assino embaixo do que o Leo aí de cima falou. E olha que quase sempre dou gorjeta, basta me atender bem e ser educado que leva. Agora, se vier de cara fechada, não tiver paciência, não for simpático, não leva um centavo! E se falar alguma gracinha ainda chamo o gerente e se preciso até o Tuma (lembra dessa época? qualquer coisa, chama o Tuma!)

O negócio de ceder o lugar no ônibus é questão de berço, eu nem discuto.

Quanto à chamada "lei seca" tá flórida! Aliás, não houve nenhuma mudança na lei, apenas aumentaram a fiscalização. E aí já viu, né, no Brasil sempre funcionou assim, pagam os justos pelos pecadores. Explico: Eu costumava juntar a mulher e os meninos pra comer num restaurante de beira de estrada, que tem uma comida ótima e barata.
E sempre tomo umas cervejas antes da bóia, claro! Não vou mais, se me pegarem posso ser preso!! Tem mais de 20 anos que faço isso, nunca tive problemas. Outro dia passei por lá e ví que o restaurante, que antes andava cheio, estava vazio. Tadim do Seu Jorge!

Bem disse um amigo meu, técnico em informática: Brasil? O jeito é reformatar!

Anônimo disse...

Bom eu tamb�m j� morei em Portugal, e tive contato com v�rios brasileiros que trabalhavam como gar�om>>>na �poca meu namorado era gar�om inclusive trabalhava no Valentino e a gente precisava da gorjeta por que o sal�rio n�o dava pra nada era baix�ssimo! E rolava mesmo os coment�rios....quem dava mais, menos....a disputa pelas mesas dos ingleses..rs e tudo mais!
L� em Portugal presenciei varias vezes portugueses elogiando o atendimento brasileiro>>>eu trabalhava como vendedora numa loja no Centro Comercial de Vasco da Gama (era uma loja que vendia roupas caras)....e minha tristeza era n�o receber comiss�o, pois vendia mais que tr�s vendedoras juntas com atendimento de primeira linha, mas o sal�rio tamb�m era baixo...se rolasse gorjeta com certeza ganharia bem melhor!
Voltei pro Brasil, e toda vez que vou a um restaurante ou at� mesmo algum estabelecimento que tem pessoas atendendo, sempre me coloco no lugar delas....e lembro da experi�ncia que j� tive...passei sim a dar gorjetas maiores, claro conforme o atendimento, mas acho just�ssimo cada cliente que sair do restaurante bem atendido deixar 10%...e quem puder deixar mais claro!


Cavaca adorei sua mat�ria...

Saudades de Lisboa

L. Archilla disse...

bom, acho que vou me enquadrar no perfil dos "jovens que não dão gorjetas".

olha, a minha visão é a seguinte: o garçom recebe para servir. sendo assim, deve servir bem, é a obrigação dele. porém, como a gente sabe q eles ganham pouco, e como no Brasil o estabelecimento já põe os 10% na conta (que, até onde eu sei, vc pode optar por não pagar), eu pago sem problemas. mais que isso, não. primeiro porque nunca tenho muito dinheiro, segundo pelas razões que a camomila citou. dar "trocadinhos" te coloca numa posição superior que, pra mim, lembra um pouco o esnobismo. isso de privilegiar o cliente que dá mais gorjeta não soa bem pra mim. lembra suborno, sabe? "ah, vou dar um dinheirinho pra da próxima vez a gente não precisar esperar pela mesa"!

acho que, se a pessoa te atendeu bem, não fez mais que a obrigação, assim como é nossa obrigação como cliente cumprimentar, dizer por favor, obrigado, não dar tarefas sobrehumanas, etc.

Anônimo disse...

Eu adoro essas diferenças culturais, e são nesses momentos que se nota como as coisas diferem de lugar para lugar mesmo. Defendendo a "raça" eu devo dizer que realmente os habitantes do leste-europeu não dão muita gorgeja simplesmente porque isso é uma coisa nova para eles, não existia isso de restaurantes e gorjetas durante o comunismo! Eu me lembro quando voltei à Praga depois do fim da URSS e os jornalistas iam aos restaurantes e davam gorjetas, tinha caso de gente que voltava o dinheiro tentando explicar que a pessoa havia pago mais!
Agora, aqui em NY não consigo conceber isso de você ser tratado bem pelos garçons, na maioria das vezes são estudantes que conseguem esses empregos, não há uma profissão de garçom como há em outros lugares. E você já tem de agradecer se conseguir um lugar, uma mesa e ser atendido. Por isso os imigrantes que trabalham como garçons são sempre uma surpresa, porque eles tratam os clientes de forma melhor. E como o Vitor disse, apesar do que reza a lenda, em minha experiência os americanos são bem curiosos em geral quando vêem que a pessoa é um estrangeiro, são muito mais simpáticos do que meus compatriotas do velho continente, por exemplo. E por aqui não há a opção de sair sem deixar gorjeta, eles vão te cobrar!
Alê

lola aronovich disse...

Puxa, eu não posso nem sair! Cada comentário melhor que o outro! Vcs são uns sacanas, isso sim! Só pra me fazer ficar horas no sábado escolhendo os "Fala Gente Fala Mais Interessantes da Semana"...

Leo, a Camomila explicou direitinho a questão social envolvida nas gorjetas. Realmente, gorjeta costuma se dar pra quem ganha pouco e costuma fazer um serviço que nós mesmos poderíamos fazer (como abrir a porta de um carro, estacioná-lo, lavá-lo). Eu não poderia planejar uma casa porque não sou arquiteta, mas poderia fazer a cama do quarto de hotel (quer dizer... Melhor não falar nisso. Sou um desastre em tarefas manuais). Mas assim como quem serve geralmente está na base mais baixa da pirâmide social, quem é servido também está na mais alta. E por isso que se espera que alguém rico, como o Christiano Ronaldo ou a mulher do Bill Gates, deixe muito mais gorjeta que a Lolinha aqui (não que a gente frequentaria o mesmo local, mas vai que o helicóptero deles morre em frente ao restaurante chinês onde eu como e eles estão com fome?).
Anyway, a explicação da Camomila sobre porque o jovem não costuma dar tanta gorjeta (que ainda não se adaptou à hierarquia social) me parece muito contundente.

lola aronovich disse...

Ah, Vitor, ou melhor, Vaitor (eles têm umas dificuldades com os nossos nomes...), claro que vou pedir um guest post seu também! Vc deve ter um monte de coisa pra contar. Pra começar, quero a tal lista das celebridades que comeram no restaurante onde vc trabalhou no Havaí! Tadinhos dos passarinhos. Eu os deixaria comer todo o queijo (e duraria meio dia no restaurante).
Concordo contigo sobre os americanos. Em geral eles são muito simpáticos. Mas quando vc pega um arrogante, desses que se acha o dono do mundo e trata todo mundo como se fosse lixo, aí sai de baixo. Não deve haver nacionalidade pior. Mas é o tal negócio do "Vc sabe com quem está falando?", que é ruim em todo lugar.
E é verdade, a gente tende a achar que americano come muito (e come bastante mesmo), mas, muito mais do que comer, eles desperdiçam muito! Demais! É normal ver pratos inteiros jogados fora. Sério. Pratos intocados. E é vergonhoso sim, porque eles não têm nem consciência que com o que eles jogam fora em comida, dava pra alimentar todos os famintos do mundo. Há um movimento nos EUA, esqueci o nome agora, que pede pros americanos não jogarem a comida fora, mas a deixarem em cima da mesa ou em cima do balcão para que outras pessoas possam pegá-la. Isso visa os pobres, que são muitos nos EUA, mas não só eles. Tem muito idealista que propõe fazer isso pra evitar desperdício de comida. Eu vi essa iniciativa funcionar em Washington DC, ainda que timidamente. Seria bom que pegasse em todo lugar. Odeio desperdício!

lola aronovich disse...

Fer, obrigada pela explicação. Podia ter falado antes, né? Quase que dou vexame... Hoje tomei um sorvete. Lá na sorveteria tem uma caixinha pra gorjetas. E alguém deixou alguma coisa coisa lá. Tá, os funcionários fizeram um escândalo! Eles têm uma musiquinha ensaiada pra comemorar gorjeta. Mas sei lá, pra mim é estranho dar gorjeta pra sorvete. Ainda mais quando a conta sai por 4 dólares... E "I wouldn't be caught dead" nesse Chez Panisse que vc falou. Aliás, acho que não me deixariam nem entrar em Berkeley.


Camomila, uma maravilha a sua explicação! Falei do seu comentário na resposta pro Leo. Concordo totalmente. E vc ainda chutou bem porque EUZINHA aqui costuma não saber como nem quanto dar de gorjeta. Não que eu possa ser considerada jovem dos alto dos meus 41 anos, mas acho que ainda tenho essa estranheza em relação à posição hierárquica. Tem a ver com ser de esquerda, talvez. Eu agora tenho uma explicação filosófica pra minha pão-durice! Obrigada, Camomila!
Quanto à manicure, nunca dei gorjeta... porque nunca fiz as unhas. Minhas unhas são virgens! Nunca foram pintadas. E só quem toca nelas sou eu. Confesso que tenho um pouco de orgulho em ser tão única nisso. (Até o maridão já fez as unhas, e eu não! É que a escola onde ele dava aula de xadrez foi rodar um comercial com duas mãos jogando uma partida. Uma delas era a dele).
Ah, e vc toca num ponto importante, que o Cavaca não abordou diretamente. O maridão e eu estávamos conversando sobre isso: se vc está indo ao restaurante pela primeira vez, os garçons não têm como saber se vc dá boas gorjetas ou não, certo? A menos que vc dê gorjeta no começo da refeição, não no final (o maridão tem um amigo que faz isso). Essa regra de "ser melhor atendido se vc dá boas gorjetas" só vale se vc volta ao restaurante. Confere?

Anônimo disse...

ok deixa eu dizer uma coisa para as pessoas que comentaram a respeito de o empregado de mesa ser pago para servir. Estou nesse trabalho há cinco anos fazendo uma vida de imigrante, num país onde o serviço não é incluído e as pessoas exigem demais. Nunca trabalhei na área no Brasil, minha ocupação era completamente diferente, por isso não sei dizer como é, mas acho que se a gorjeta, que é incluída, fosse divida por todos honestamente além de todos os outros direitos trabalhistas não acho que deva ser tão ruim. Quanto estive em Sp, em fevereiro, fui ao figueira Kobaya, e alguns outros da Oscar Freire. Falei com os empregados e pareciam muito satisfeitos, o meu patrão, também esteve lá meses depois já que pretende abrir uma casa em Sp e conseguiu descobrir que eles fazem uma média de 2000 reais por mês, entre salário e gorjeta. É ótimo na minha opinião.

Se eu estivesse no Brasil acho que não queria trabalhar nessa área, porque é muito estress, excepto se fosse financeiramente interessante. Alguém já notou que muitos garçons em Sp são nordestinos, ou estudantes? Pois é, eles são ótimos no atendimento, e acabam aceitando baixos salarios, muitas vezes. Não sei se ainda é assim na maioria dos lugares? Só que aqui na Europa também é assim, a maior parte dos empregados de mesa são brasileiros, romenos, poloneses. Em países como inglaterra, portugal, Noruega, as pessoas da origem não querem servir ninguém, é um ramo carente de boa mão de obra. Por isso quando se encontra um pessoa muito boa (Eu! Eu! Eu!) o melhor é segura-la. Eu conheço empregados de mesa jovens e muito profissionais que estão fazendo dinheiro. É uma boa oportunidade.
Um arquiteto não ganha gorjeta, mas quanto mais atencioso ele for e profissional, mesmo que o cliente não aceitar o seu projecto quando alguém precisar ele vai indicar...procure o fulano que ele é bom. Os vendedores seduzem para vender mais, não é? Muitas pessoas escrevem com humor para serem mais lidas...essa intenção tem um objectivo muito parecido com o meu. Eu não deixo faltar nada para as pessoas enquanto elas estão nas minhas mesas, por isso não gosto quando elas deixam faltar alguma coisa para mim.

Disse que não gostaria de trabalhar nessa áera no Brasil porque sempre quis fazer faculdade e tal, mas não pude. Ainda quero fazer, mas já sei, através de muitos outros exemplos, que não e preciso de um canudo para ter uma profissão e ganhar dinheiro. Canudo não é sinonimo de inteligência.
Mas antes que eu fuja ainda mais do assunto. Na questão da simpatia, eu sempre me mostro o mais bem disposto possível, mas se a pessoa se arma em xeique das arábias, esqueça, tem mais gente a espera de tratamento vip. A vida é assim, se você quer ser especial tem que pagar por isso. No entanto eu sempre tenho mesas que deixam gorjeta suficiente pelas que não deixam nada, das mesas que não deixam nada eu só desejo simpatia. Gente bem disposta tem tax free.
Eu sempre procuro me colocar na posição do cliente, o que é dificil para um garçon iniciante, que tem dificuldades em aceitar uma reclamação. Muitos clientes que eu já não suportei agora me apertam a mão. Tem muito empregado de mesa mal disposto sim...fazer o quê! O sujeito deveria ir procurar outro trabalho. Eu tenho infinitos casos que chocariam as pessoas, tanto da parte do cliente como da nossa parte.

lola aronovich disse...

Mário, claro que lembro do "chama o Tuma". Eu sou quase tão pré-histórica quanto vc! (ênfase no QUASE, por favor).
E sobre o seu almoço à beira da estrada com a família, não dá pra comer no lugar sem beber cerveja? Ou de repente vc bebe cerveja e a mulher não, e ela dirige? Ou vice-versa? Afinal, vc ia ao restaurante pela comida, não pela cerveja. Não seria possível vc comer lá, voltar pra casa, e tomar a cerveja lá no conforto da sua casa? Ah, vai! Mineiro é flórida!


Vânia, que legal! Quem sabe o seu namorado já trabalhou no Valentino junto com o Cavaca?! (o Cavaca andou falando mal dos brasileiros que chegam sem preparo à Portugal. Agora defenda-se, Ca!). Olha, pensei que praticamente todas as lojas de roupa trabalhassem com comissão. Porque o salário nessas lojas também costuma ser baixo, e me parece justíssimo que quem atenda melhor e venda mais ganhe mais. Mas não há dúvida, Vânia, que quem passa por uma experiência dessas de servir aprende a ver com outros olhos quem serve. E geralmente a tratar melhor.

lola aronovich disse...

Bom, Lauren, apesar d'eu não ser jovem faz tempo, raramente dou mais que 10% de gorjeta (quer dizer, eu arredondo pra cima, claro). Sinceramente, acho 10% justo. Mais do que isso fica muito caro pra mim. Mas acho que a mulher do Bill Gates tem a obrigação de dar excelentes gorjetas! A questão do suborno que vc apontou é interessante. Fica um pouco estranho sim "pagar" pra conseguir uma mesa. Sei lá. Faz muito tempo que não vou a restaurante tão disputado que não tem mesa...


Puxa, Alê, que demais essa explicação que vc deu pro pessoal do Leste Europeu não dar gorjeta! Não tinha pensado nisso. Vc já, Cavaca?
E sim, tenho certeza que os imigrantes devem ser garçons melhores em NY que os estudantes americanos. Também tem a ver com a questão da hierarquia que a Camomila falou, né? E com a questão do futuro. Estudante americano sabe perfeitamente bem que está fazendo isso como bico, e que não vai precisar ser garçom por muito tempo. Já o imigrante pode se ver fazendo aquele serviço por anos a fio... talvez pra vida toda.
E sim, concordo que americano tem muita curiosidade em saber sobre os costumes dos outros países, principalmente os nossos (porque brasileiro tem uma ótima reputação, convenhamos).

Mica disse...

Sinceramente? Nunca dei gorjeta. Primeiro pq estou sempre tão ferrada, que se for para dar gorjeta, deixo de comer para pagar o garçon, segundo pq não é costume por aqui mesmo. Conheço tão pouca gente que dá gorjeta...e quase todas é quando não tem trocado e fica com preguiça de aguardar o troco.
Tudo bem que o motivo principal é que sou falida e o secundário é que sou Tio Patinhas, mas...nunca tive nenhum peso na consciência por não dar gorjeta (pelo menos não até ler esse post, heheheh) e ficaria ofendidíssima se um atendente (de qualquer ramo) achasse que dar gorjeta é uma obrigação (como se as coisas já não fossem exorbitantemente caras a maior parte do tempo). Mas como eu disse, é coisa de cultura (e da convivência constante com a conta bancária no limite do negativo -_-).
Os garçons devem me odiar...mas pelo menos simpática eu tento ser (a desculpa do coxo é a muleta, pois é...)

Mica disse...

E já que tocaram na gorjeta da manicure, minha mãe é dona de salão e quase nunca as manicures recebem gorjeta (e nem as cabeleireiras). Há as que sempre recebem (e quase sempre dos mesmos clientes), mas são a minoria e não a regra.
O que me fez lembrar que minha mãe sempre se indignou (mas nunca fala nada, é claro) pq as funcionárias sempre recebem gorjetas (pq tadinhas, são funcionárias), mas ela que se lasca para pagar conta de água, luz, telefone, produtos, chegar cedo, manter tudo limpo, comprar café, água e bolachinha para os clientes (coisa que nenhuma funcionária nem pensa em fazer, apesar de ganharem 50% de tudo o que fazem), e ser a que atende melhor e com maior amabilidade e sempre com um sorriso no rosto, é a única que nunca recebe gorjeta porque "é a dona, então não precisa".
Como essa vida é injusta...

lola aronovich disse...

Cavaca, obrigada mais uma vez por todas as explicações. Bom, claro que deve ser completamente diferente ser brasileiro e ser garçom no Brasil e num país rico. Aliás, é comum brasileiro de classe média que nunca lavou um prato em casa no Brasil ir prum país rico e virar dishwasher. Claro que o salário de um lavador de pratos num país rico é muuuuuuito melhor que no Brasil, mas novamente voltamos à questão da hierarquia. No Brasil a gente aqui, que faz blog e comenta nos blogs, em geral é classe média. E temos opções melhores do que lavar prato (fora que não pega bem alguém de classe média lavar prato). Num país rico, a gente normalmente não é mais classe média. Vai lá pra baixo na pirâmide social, e então se sujeita a trabalhos menos prestigiados. Aliás, um adendo aqui. Esse negócio da submissão é tão grande e generalizado que, antes de vir pra cá, 9 entre 10 amigos(as) diziam algo como "Ah, o maridão pode trabalhar nos EUA. Pode lavar prato, varrer chão". Essas eram as opções pra ele: lavar prato e varrer chão! Só por ele ser de um país pobre indo viver num país rico. Eu respondia que não, que ele nunca tinha feito um serviço desses, e que não era agora, aos 50 anos, que iria começar. E que era melhor não trabalhar e nos mantermos com o pouquinho da bolsa que fazer um serviço que não tem nada a ver com ele. E que, afinal, ele poderia dar aula de xadrez, ué. No primeiro semestre o maridão não fez quase nada, bem por inércia. Mas no segundo ele passou a dar aula particular de xadrez e português e fez uma média de 700 dólares por mês. Não é nenhuma maravilha, mas ajudou pra caramba, e o valor é parecido com o do salário mínimo nos EUA. E, claro, fazendo o que gosta e trabalhando menos de 10 horas por semana. Então eu realmente questiono esse negócio que não temos opções fora lavar prato e varrer chão, só por sermos de um país pobre.
Voltando ao seu comentário, Cavaca, realmente, 2 mil reais por mês parece um ótimo salário, mesmo em SP.
Ué, a maior parte dos garçons em SP é nordestina, assim como a maior parte dos garçons na Europa é brasileira. Tem a ver com as pessoas mais pobres pegarem esses serviços que a classe média pra cima dispensa. (mas de fato, nordestino é TÃO simpático! São uns amores mesmo. E aposto como são os mais simpáticos em todas as áreas que atuam. Eu quero morar lá).
Acho que TODAS as pessoas deveriam ser simpáticas, independente da área em que atuam. Mesmo aquela que trabalha num cubículo de escritório, sozinha quase o tempo todo, deveria ser simpática se precisar atender um telefone ou mandar um email. O mundo seria melhor se todos fossem educados e queridos. Ah, não custa, né?
Concordo plenamente que canudo não é sinônimo de inteligência. Mas espero que, se o seu sonho é cursar uma faculdade, vc consiga realizá-lo (mesmo que decida não trabalhar na área depois).
E sobre servir bem, então, acho que todos concordamos que um garçom deve servir bem e ser prestativo e simpático com todos (assim como o cliente). Aceito numa boa que o carinha que deixa belas gorjetas e exige tratamento vip tenha um tratamento melhor que o meu. Até porque eu não exijo muito (claro que se o garçom me der sobremesa de chocolate de graça será meu melhor amigo pro resto da vida). Mas eu realmente não sou a pessoa indicada pra falar, já que não sou consumidora-padrão de nada (certamente não de restaurantes).
Agora, Cavaca, vc tá provocando: que história é essa de ter "infinitos casos que chocariam as pessoas, tanto da parte do cliente como da nossa parte"?! Quero um outro guest-post contando tudo já! Por favor! (sem nomes ou nada que identifique os personagens, claro).

Chaves disse...

Peço licença pra fazer um momento confessionário aqui. Eu não frequento salão de beleza. Também não faço as unhas, Lola, gosto como são, e me sinto mais limpa sem esmalte. Corto o cabelo de seis em seis meses. Me sinto mais feia quando arrumo o cabelo pra ir pruma festa (escova) do que normalmente. E mesmo assim tento não repetir o salão, simplesmente porque tenho o maior pavor desse ambiente. Nunca sei se dou gorjeta, se não, (agradeço agora a explicação da Mica) parece que as moças tão sempre me julgando, não suporto ter alguém num banquinho mais baixo do que eu lixando minhas unhas. Me sinto como uma madame de pernas cruzadas, é uma posição odiosa pra mim. Fora o constrangimento de ter os pezinhos numa bacia na frente de todo mundo. Com esse esquema acho que nunca vou me acostumar.
Como também não frequento hotéis, quando vou tenho medo de errar lá também. (insegurança é uma m.)
Mas recentemente cheguei a uma conclusão, até com a ajuda do Cavaca - a melhor maneira de você agradecer um bom serviço pro cara que vive disso é uma gorjeta legal, junto com um bom sorriso. Ele fica feliz, e eu fico feliz de agradar.
Acho que o negócio é olhar para a pessoa que está naquela função, e não pra função em si. Tem que ter respeito, antes de tudo. Porque vida de garçon deve ser duríssima.

Anônimo disse...

Lola, o namorado da Vânia de facto já trabalhou comigo, o nome dele é Diego. E fui quem o instruiu assim que chegou por aqui. O Diego era fotografo em Sp e veio até aqui por causa da namorada, a fabulosa Vânia, por quem era apaixonado, que quis tentar alguma coisa em Portugal. Ele estava dentro de tudo aquilo que a gente procura num garçon, educado, simpático, sempre bem-disposto e com vontade de aprender. Mas ele não era para aquilo, ao fim de seis meses estava sobrecarregado de estress e fez o que era melhor, voltou para casa. Hoje está muito bem sucedido trabalhando para os catálogos da Daslu.

Quanto ao leste do europeu, eles não estão de facto habituados a irem a restaurantes. As coisas estão melhorando por lá agora mas muito deles tem uma atitude de "toda a gente é meu inimigo" e são pouco amistosos. Muito parecidos com os Albaneses, e os Grecos também, não tem modos algum. Olha, digo essas coisas porque num restaurante é o melhor lugar para se observar o comportamento das pessoas de diferentes culturas e já estabeleci um padrão. Espanhol não deixa gorjeta, excepto se for de Barcelona... Se a pessoa fala francês a única possibilidade de deixar qualquer coisa é se for francês do canadá ou suiço-francês. Porque os Belgas que falam francês, ou os marroquinos, ou até mesmo aquela parte em luxemburgo...nada. O padrão é que geralmente falta de educação te indica que você não terá nada pelo serviço. Gente, brasileiro é simpático...extraordinariamente simpático...mas tem outras etnias que talvez fariam vocês darem sempre um passinho para trás.

Ok, vou falar do trabalho de ontem a noite. Estava tudo tão cheio, tem gente nova aparecendo por aqui o tempo todo. Por isso nós temos regras, é muito difícil algum dos nossos garçons serem mal-educados com os clientes, e sabemos que precisamos manter uma clientela fixa com os portugueses pois quando chega o inverno os turistas aparecem menos. Nós não deixamos de servir bem se a pessoa não deixar nada. Geralmente já sabemos que a pessoa não vai deixar nada! Mas se ela deixar, e começar a frequentar nosso restaurante regularmente, acaba recebendo certos mimos. Acho que qualquer casa faz o mesmo. (E Lola, tenho certeza que eu ofereceria uma delicia de chocolate que você nunca provou na sua vida, feita por uma senhora italiana que trabalho comigo, que é de Rimini, que tem tanta imaginação para lidar com o chocolate que eu já liguei para o guiness).

Depois, eu já teria deixado essa área se não fosse bom financeiramente. Continuo querendo deixar pois preciso de mais tempo para mim. E acho absolutamente certo que o maridão tenha pensado em não fazer aquilo que não gostaria. Mas no meu caso era diferente (não sei porque você lola continua achando que eu era de classe média?)...o cinto ao redor do meu pescoço já estava no último buraco...então não podia escolher muito. Mas as pessoas se adaptam, e vão buscando coisas melhores e conseguindo essas coisas. Tem muito imigrante aqui que conseguiu oportunidades que nunca teria na sua terra.

Anônimo disse...
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lola aronovich disse...

Miquinha, vc mora no Brasil e diz que aqui é raríssimo alguém dar gorjeta?! Ou vc está se referindo a dar dinheiro fora os 10% que vem na conta? Ah, acho que se a gente paga os 10%, nenhum garçom odeia ninguém. Claro que ajuda ser simpática... E claro que garçom gosta mais de quem deixa gorjetas maiores. Eu também gostaria se fosse garçonete!
Muito obrigada pela contribuição sobre sua mãe cabeleireira e gorjetas no salão. Acho que li uma reclamação dessas de dona de salão recentemente, mas não lembro onde. Ah, Mica, o negócio é que todo mundo - as clientes e as manicures - assumem que sua mãe ganha muito mais dinheiro sendo dona do salão que as funcionárias que ali trabalham. E deve ser verdade, certo? Pelo menos na maioria das vezes? E de novo a gente entra na hierarquia que a Camomila mencionou. A dona do salão é vista como se estivesse no mesmo patamar que as clientes (dependendo de onde e tal, mas geralmente, sim), e aí, pra muita gente, fica até deselegante dar gorjeta. Esses 50% que a sua mãe fica do que é pago à manicure serve justamente pra cuidar do salão, comprar biscoito, essas coisas. Anyway, não deve ser fácil ter salão hoje em dia, com tanta concorrência. Eu corto e pinto o meu cabelo uma vez a cada 3 meses, com uma vizinha que tem um salão nos fundos da casa dela. Nunca dei gorjeta...

lola aronovich disse...

Camomila, eu também ODEIO salão de cabeleireiro! Detesto. Geralmente as pessoas num ambiente desses só falam grandes besteiras. E não são besteiras apenas porque são futilidades, fofoquinhas sobre vida de artista. Já ouvi montes de preconceitos em cabeleireiro! Tanto das clientes como do pessoal que trabalha. E, claro, esse cenário de "estou me arrumando" não combina comigo. Desde que fui pra Joinville, felizmente, só corto o cabelo em salões pequenos, de vizinhas. Como moro num bairro de classe média baixa, isso é muito comum. Tá cheio de salões. Mas quando eu morava em SP não era assim, e eu odiava. Não existe vizinha cabeleireira em Higienópolis! Só grandes salões mesmo. Um porre.
Aqui em Detroit eu não tive coragem de ir a um salão, apesar de precisar muito. Faz um ano, né? Uma amiga tingiu o meu cabelo em dezembro (e fez o melhor trabalho que eu já vi na vida), e o maridão cortou umas pontas exageradas há uns 3 meses. E eu que venho cortando o cabelo do maridão. Mas o dele não é difícil, e a gente comprou uma maquininha.
Ótimo isso que vc disse: "Acho que o negócio é olhar para a pessoa que está naquela função, e não pra função em si". É bem por aí mesmo.

lola aronovich disse...

Cavaca, espero que vc não se incomode que eu tenha deletado seu último comentário. Estava muito ofensivo e... Brincandeira! Gostei tanto que o cortei pra que ninguém mais lesse, só eu. Vou fazer um outro guest-post com aquele comentário, só dando uma editada porque tá um pouquinho longo. Aí incluo as fotos que vc me mandou ontem. Pode ser? Vai ficar pra semana que vem.
Agora, sobre esse comentário seu que permaneceu: compreendo o que vc diz sobre o Diego. Sinceramente, sem querer me gabar, eu também sou educada, simpática, com boa vontade e disposta a aprender (o maridão também, igualzinho). Mas jamais poderia trabalhar como garçonete! Jamais mesmo, porque o trabalho exige outras qualidades que não tenho. Uma delas é coordenação motora. Eu derrubaria prato umas 5 vezes por dia, no mínimo. E precisa ter boa memória pra guardar o pedido das pessoas. Mesmo anotando, não dá pra anotar tudo. E me falta também um certo cerimonial, etiqueta mesmo, isso de dar importância às tradições e à qual taça se usa pro vinho, qual talher pra carne etc. Eu é que sei como eu e o maridão somos quando "recebemos" visitas em casa. Eu não tenho nenhuma finesse. O que é estranho, porque isso sempre foi importante pra minha mãe. Deve ser meu lado rebelde.
Então o maridão, mesmo que quisesse, não poderia lavar prato. Ele é péssimo nisso. Ele lava os pratos aqui em casa (eu também), mas pra fazer isso profissionalmente não daria. Acho que esse é um erro também: isso de achar que, só porque a maior parte das pessoas que tá nessas ocupações é de classe mais baixa, "qualquer um pode fazer". Não é verdade! Eu sou boa em algumas coisas, e em muitas outras sou um fracasso. E quem falou que as coisas que sei fazer são mais importantes pra sociedade?
Sobre as etnias, acho que a gente não deve generalizar. Mas óbvio que vc, que trabalha com um público internacional há cinco anos, tem observado um certo padrão. E o padrão é o que todo mundo diz: que brasileiro é um povo ultra-simpático. Eu concordo. E acho ótimo que tenhamos essa fama. Ah, mil vezes ter fama de simpático que de mal-encarado, antipático, grosso... Mas veja como o contexto é importante. Aqui no Brasil, argentino não tem boa reputação mesmo. Tem fama de prepotente, arrogante, estúpido (principalmente os de Buenos Aires). Mas quando eu vou pra Buenos Aires todo mundo é tão amável! E eles adoram brasileiro. E vc conta que, na Europa, os argentinos são super gente boa. A birra que brasileiro tem com argentino atrapalha na avaliação, né?
Cavaca, só queria esclarecer que, quando mencionei o maridão, não estava reclamando de brasileiro que é garçom em país rico. Estava reclamando dos brasileiros que acham que essa é a única opção de um brasileiro (ou de qualquer outra nacionalidade pobre) num país rico. Tem diferença. Tenho o maior respeito por garçons em todo lugar.
Ah, se algum dia eu for a Lisboa, vou cobrar essa sobremesa de chocolate grátis...

Mica disse...

Na verdade, Lola, no salão da minha mãe as coisas funcionam da seguinte forma: manicure dá duas unhas por dia para minha mãe e o restante é todo delas.
As cabeleireiras ganham 50% do que fazem, e quem arca com todas as despesas é a minha mãe, ou seja...no final das contas, com todas as despesas descontadas e tal, minha mãe ganha o mesmo que todo o restante no salão.
Mas esse é o esquema no salão dela, não é todo salão que é assim.

E quanto a gorjeta, eu nunca penso nos 10% como gorjeta. Esse eu sempre pago. Só peço para retirar se fui mal atendida ou se eu estiver tão sem dinheiro que não terei como pagar e ainda comer.
Quanto penso em gorjeta sempre penso em algo mais personalizado, mais pessoal mesmo...de cliente para atendente, por isso que mencionei que gorjeta aqui é rara.

Anônimo disse...

É Lola como o Cavaca disse o Diego trabalhou com ele sim, e ele nos ajudou muito foi um amigo maravilhoso que na época ensinou muita coisa pro Diego!

Apesar de toda loucura de ter deixado o Brasil e ter ido atrás de mim, amei claro...foi uma grande prova de amor! Mas ele ter se submetido a servir pessoas, a fazer coisas que ele nunca tinha feito>>>por mim foi o que mais contou, pois ele engoliu muito sapo>>>e mesmo com todas as qualidades (educado, simpático, sempre bem-disposto e com vontade de aprender), é claro ele não suportou por muito tempo nem as gorjetas fez com que ele quisesse continuar, e ai foi minha fez abri mão do meu sonho de viver em Portugal e voltamos para o Brasil, onde temos uma boa vida...não somos ricos, mas temos boas condições, estou terminando a faculdade montei meu escritório e ele se realizando na profissão um fotografo bem sucedido que cresce a cada dia.

E para concluir nossa linda historia de amor...
Faz pouco mais de um mês que terminamos o engraçado que foi numa boa (sem brigas) e continuamos nos amando de um jeito diferente do que era antes, mas nos amamos! Tudo que vivemos juntos valeu muito, mudou nosso jeito de pensar e agir (damos mais gorjetas hoje) rs.
E o principal estamos felizes!!!!

Kaká disse...

cheguei tarde aqui, mas cheguei :)

Eu acho justo dar uma gorjeta de 10% se for bem atentido. Acho que na maioria dos países da Europa a gorjeta não é obrigatóia, o cliente dá se quiser, e isso eu também acho correto. Eu também tive o garçon querer devolver o dinheiro da gorjeta em Praga.

Os americanos são exagerados com esse negócio de gorjeta. Eu lembro que fui com um amigo que trabalha num bar em Chicago e passei a noite lá observando. Cada americano que pedia uma bebida deixava pelo menos 1 dolar por bebida no pote dele. No fim da noite ele tinha mais de $100 só para ele. Eu fui gerente de uma fábrica aqui e recebíamos clientes, fornecedores e investidores de várias nacionalidades, e eu os levava para alguns passeios locais, indicava restaurantes, mas nada que fosse além do meu trabalho. Os americanos sempre queriam me dar dinheiro quando iam embora e eu recusava, um deles literalmente enfiou 200 reais na minha bolsa sem eu ver, thanks né?

Já no salão de beleza eu nunca dou gorjeta, acho estranho porque já estou pagando pelo serviço. E vou muito pouco, de 3 em 3 meses para cortar o cabelo.
Uma gorjeta que eu dou com prazer é a do garoto do supermercado que embala as compras. Ele é super organizado e muito simpático, além de me economizar um trabalhão, ele até organiza as compras na sacola reciclavel.

Lola, os garçons nordestinos bons e simpáticos foram exportados para o sudeste, porque aqui é uma raridade. Se bem que de uns 5 anos para cá melhorou. Para ser justa, o atendimento ruim aqui é um reflexo do próprio atendido, as pessoas aqui são muito grosseiras com o atendimento. Mas por experiência eu posso dizer que os nordestinos mais simpáticos sãos os paraibanos, todos sorriem e atendem bem, do frentista do posto na estrada ao vendedor de coco na praia.

lola aronovich disse...

Imagino que a conta de luz de um salão de beleza seja altíssima, por causa do secador de cabelo. É por aí, Mica? Se sua mãe ganha o mesmo que todo o restante do salão (que inclui várias pessoas que lá trabalham), pra mim parece natural que as clientes dêem gorjeta pras funcionárias, e não pra dona, Mica.
Sobre dar gorjeta além dos 10%, isso imagino que muita gente no Brasil não faça. Até porque 10% já é bem considerável! Mas não fique dizendo que "nunca dá gorjeta", porque as pessoas (eu?) podem entender que vc está falando dos 10%. Se vc paga os 10%, que são opcionais, vc está dando gorjeta, pronto.


Vânia, que bonita essa história de amor que vc contou entre vc e o Diego! Gosto das pessoas que se separam numa boa, sem mágoas, sem brigas, e continuam sendo amigas. É assim que devia ser. Não entendo como um tipo de comportamento desses seja a exceção, não a regra. A gente passa anos da vida amando uma pessoa, e de repente ela vira nossa pior inimiga?! Pra mim é tão estranho... Tem montes de casal com filhos que se separa com ódio e fica espalhando esse ódio pros filhos. Não pode! As pessoas deveriam se separar como amigas. Sei que não é fácil, sei que tem gente que faz burradas enormes, difíceis de perdoar. Mas sempre dá pra lembrar que um dia, mesmo que um dia distante, você foi apaixonada por essa pessoa...

lola aronovich disse...

Kaká, que bom que vc chegou à discussão, ainda que atrasada! É, americano é muito bom pra dar gorjeta. Mas não sei se é tanto assim como vc fala. Uma amiga minha tava em Detroit, trabalhando num bar, e ela não ganhava tanto assim. Mas dava pra viver só com as gorjetas.
E isso de um cliente querer nos dar dinheiro (num ramo em que gorjetas não são comuns) é uma via de mão dupla, né? Por um lado eu ficaria muito feliz se alguém quisesse me dar 200 dólares. Mas, por outro, soa bem estranho. Acho que eu gostaria mais na teoria que na prática.
E pro menino que empacota compras: às vezes eu dou gorjeta, às vezes não. Não sei se em Joinville é comum, porque toda vez que eu dava, a pessoa fazia a maior cara de surpresa, como se nunca tivesse recebido gorjeta.
Minha maior experiência com o Nordese foi um mês que passei trabalhando numa pesquisa de mercado pro Ibope. Foi um mês puxadíssimo. Dez dias em cada cidade: Fortaleza, Natal e São Luis. Acho que tivememos um dia de folga naquele mês inteiro. Portanto, não tive muito contato com os nordestinos que serviam turistas, e sim com os nordestinos comuns. Entrevistei mais de 300 donas de casa, das mais miseráveis às mais ricas, mas TODAS me convidavam pra entrar na casa delas, sentar, tomar alguma coisa. E sempre que precisava pedir alguma informação na rua (acho que me perdi bastante), as pessoas eram tão solícitas que me levavam até onde eu queria ir. Eu realmente fiquei maravilhada com a simpatia dos nordestinos. E anos depois, quando fui ao Uruguai, notei que uruguaios e nordestinos são bem parecidos, no quesito simpatia. Claro que bem depois estive no Recife e vi que eles não eram tão queridos como o pessoal das outras cidades que eu havia visitado. Então, obviamente, não dá pra generalizar, e depende do lugar, da pessoa, e de um monte de fatores. Mas que, em geral, nordestino é mais amigável que o pessoal do Sul, acho difícil discordar.

Raquel (NY) disse...

Lola, eu tambem estou chegando tarde por aqui, mas acho importante esclarecer o motivo dos garcons americanos ficarem tao indignados quando nao ganham gorjeta. Meu conhecimento da causa vem do meu marido que e americano e trabalhou de garcon por varios anos aqui nos EUA (ele comecou no Burger King, quando ainda estava no High School, e so parou quando terminou a faculdade de direito). Ele sempre faz questao de explicar o sistema para os nossos amigos estrangeiros que vem nos visitar para que nao haja confusao sobre a obrigatoriedade da gorjeta. O primeiro ponto e que a gorjeta nao e obrigatoria e normalmente nao deve vir incluida na conta (se bem que aqui em NY e muito comum incluirem a gorjeta na conta quando percebem que as pessoas sao estrangeiras - estao se prevenindo porque como em Portugal a maioria dos turistas estrangeiros raramente deixa gorjeta). Se o servico foi ruim voce nao precisa dar gorjeta, ponto final. Podem ameacar chamar a policia, o escambau, ninguem vai ser preso por ter se recusado a dar gorjeta. O segundo ponto e que, ao contrario de muitos paises, na maioria das vezes os garcons nao tem salario fixo alem de um minimo muito baixo (geralmente o salario minimo estadual, que fica em torno de USD 8 por hora), o que faz com que a remuneracao real deles seja a gorjeta. Para explicar melhor como a gorjeta faz falta, para efeito de calculo de imposto de renda (do qual quase ninguem escapa aqui nos EUA) os garcons, assim como outros profissionais que recebem a maior parte da remuneracao em gorjetas, sao tributados (por meio de retencao na fonte) com base em uma estimativa media de quanto eles ganhariam por mes que parte do principio que todos os clientes deixam gorjeta. Essa tributacao estimada basicamente "come" todo o fixo que os garcons ganham. Se voce adicionar ao IR retido na fonte os encargos sociais (o "social security" e "medicare/medicaid", que sao pagamentos para custear a aposentadoria e o pouco de assistencia medica publica e gratuita que o estado da ao cidadao apos a aposentadoria) que tambem sao retidos na fonte, se o cara nao ganha gorjeta ele esta praticamente pagando para trabalhar. Dito isso, o minimo que o cliente que ficou feliz com o servico deve deixar e o dobro da tax (o que da mais ou menos os 15% que a fer mencionou). Se o servico for bom, 20% da conta (antes da tax) e um bom valor. Mais de 20% e uma gorjeta bem generosa. Pelo menos nos restaurantes onde meu marido trabalhou a gorjeta total que foi recebida durante o turno era divida igualmente entre todos os garcons. Isso na pratica quer dizer que ao nao deixar gorjeta voce afeta a remuneracao de todos os garcons (e tambem dos mocinhos que servem agua e limpam as mesas, os busboys, que so ganham uma parte da gorjeta, nao tem direito nem a salario minimo). Eu fico horrorizada quando, mesmo sabendo que estao prejudicando o garcon, as pessoas que ficaram satisfeitas com o servico deixam menos que 15%. Ja passamos varias vezes por situacoes similares a descrita pela fer e tivemos que complementar a gorjeta deixada por amigos "forretas" que, apesar de contentes com o servico, ignoraram regras basicas de decencia humana e resolveram nao deixar a parte deles (e alem disso foram embora se achando muito espertos, no melhor estilo Lei de Gerson). Concordo com a ponderacao da Camomila e acho muito feio esse tipo de pao-durismo praticado contra pessoas que estao fazendo um servico claramente visto como "inferior" por muitas pessoas. Ora, quem e por principio contra a gorjeta porque acha que o servico do garcon nao justifica o pagamento tem sempre a opcao de pedir comida para levar para comer em casa ou entao ligar e encomendar por telefone.
Um abraco
Raquel (NY)
PS - Lola, me desculpe se o comentario ficou longo demais mas acho que e importante que as pessoas entendam que isso nao e so uma diferenca cultural, mas tambem uma questao de se fazer o que e correto e decente.

Vitor Ferreira disse...

Lola, Recife por ser uma cidade maior, e uma das mais violentas do Brasil, as pessoas têm mais receio ao lidar com estranhos. A vida mais agitada também deixa as pessoas mais mal humoradas. Um tanto natural. Mas indo para o interior de Pernambuco, a reação das pessoas será semelhante.

Anônimo disse...

Ladyofthefiles...quero um poster seu para pregar na parede do meu quarto!

Anônimo disse...

Será que ainda dá tempo de comentar?
Cheguei atrasada nessa conversa, mas achei tão boa que resolvi comparecer também.
Sobre a questão da gorjeta, no Brasil quase sempre recebemos a conta com os 10% incluídos. Quando não está incluído na conta, o garçom avisa, e aí, claro, pedimos para incluir.
Quem sai de casa já sabe que os 10% fazem parte dos custos.
Eu já deixei de dar os 10% aqui no Brasil, num restaurante estilo americano, pois o atendimento foi mesmo horrível, mas foi a única vez. O garçom veio, sentou-se na mesa, olhou para mim e para meu marido e perguntou o que havia ocorrido. Respondemos gentilmente que não gostamos do serviço.
Não acho correto esperar receber tratamento especial, nunca. Acho que ninguém tem a obrigação de oferecer tratamento especial a ninguém. Isso é uma opção somente, não uma exigência. Se recebemos tratamento especial, é porque quem está nos oferecendo este "presente" está sendo especial, isso não tem nada a ver com o que somos. É por isso que todos nós, que não somos especiais, celebridades, etc, já pudemos sentir a delícia de nos sentirmos especiais. Só porque alguém quis nos dar isso de presente...
Mas tratamento profissional é exigido. De qualquer um, do lixeiro, do médico, do funcionário público, do frentista do posto de gasolina, dos vendedores, de qualquer um. Isso por que, mesmo não sendo especiais, somos todos iguais, iguais em nossa humanidade e ninguém merece tratamento menos que digno e profissional. Isso é parte do processo civilizatório, e se reflete em conceder tratamento digno até para criminosos, etc, blá, blá, tudo o que já sabemos.

E penso o mesmo dos clientes. Quando é nossa vez de sermos atendidos, não temos a obrigação nenhuma de sermos especialmente simpáticos ou gentis ou generosos ou caridosos. Um tratamento digno, no entanto, acho que deve ser exigido. Faz parte da civilização.

Assim, do mesmo modo que quem presta o serviço oferece tratamento especial se e quando quiser, também considero que uma gorjeta deva ser dada só se o cliente quiser.

Acho ainda que ninguém, nem as pessoas muitíssimo ricas têm obrigação de nada. Elas não são mais nem menos que ninguém. Não existe uma lei terrena nem divina que se aplique somente a elas.
Gentilezas e caridades são coisas oferecidas como presentes, não são obrigações.
A caridade e a gentileza são atos livres, espontâneos, não são obrigações, e francamente, a maiorida das pessoas que eu conheço são muitíssimo caridosas e gentis.
É impressionate o batalhão de pessoas que trabalha como voluntário em obras sociais, em ONGS e religiões, que doa uma contribuição mensal para um hospital de crianças, para lares de órfãos, que ajuda seus empregados domésticos, seus porteiros, ou estranhos, com ajudas substânciais. Em troca de...nada. Só a alegria e senso de dever de ajudar quem pode menos. Eu acho que é a regra. Oferece como gratidão, não à pessoa em especial, mas por saber que já tem o suficiente, e que esse suficiente é muito mais que a maioria têm. Por isso, eu jamais julgaria uma pessoa pela gorjeta que deixa ou não deixa para alguém. Nunca sabemos se aquela que recusa 10% ao garçom está sustentando a faculdade do filho do porteiro, ou se está engajado em um projeto de reclicar desempregados, ou se ajudou a construir a creche da periferia para que as meninas de 8 anos, filhas das mulheres pobres, não tenham que ficar em casa respons´´aveis por outras crianças de dois e cinco anos, para que a mãe pobre vá ser babá do filho da moça classe média, que por sua vez também passa o dia trabalhando. e vai ao restaurante de vez em quando, mesmo quem sabe, não ganhando muito bem.

Enfim, tem muito mais nisso aí.

E a postura de exigir algo de alguém é arrogante, não importa se venha do cliente ou do prestador serviço. Nem cliente nem prestador de serviço têm direito a exigir mais que o profissional. São atitudes idênticas, e equivalem a dizer, ei, olha como eu sou especial e tem gente que não acha...
Acho que esse comentário ficou assim muito antipático, mas enfim, não acho que a simpatia seja a maior das virtudes...Na verdade, pode até camuflar péssimas intenções.
Abraços a todos.

Anônimo disse...

Querido Cavaca

Ler suas elações sobre o mundo que o rodeia, deu-me o privilégio de o conhecer um pouquinho melhor. Realmente servir é uma arte, e lá porque temos alguém que nos serve não significa que seja nosso "servente"... Você é TOP!
Quanto à história de "mulher bonita nunca deixa", falamos depois...
By the way. Amei suas fotos!
M. Pitanga

Leila disse...

Ishi, esse post é antigo, mas vou comentar, mesmo q ninguém leia!
Atualmente moro em Bauru, quando morava em São Paulo só ia em restaurantes com minha família, como nunca pagava a conta nunca me preocupei em deixar gorjeta, mas atualmente esse é um assunto que me afeta.
Eu não deixo gorjeta! Quer dizer quase nunca eu deixo. Sempre pago os 10%, mas aqui em Bauru é dificil, o atendimento é pessimo! E me dá muita raiva, pq eu sinto que em muitos lugares é preconceito pq sou estudante, e estudante é pobre e sempre tá no aperto, isso é verdade, mas eu chego a pagar a mais por pessoas que me atendem bem!
Eu e meu namorado somos frequentadores do fran's café, adoramos as coisas de lá, porém ONTEM foi a primeira vez que fui atendida bem, por uma funcionária nova, na hora de pagar eu agradeci e falei pra ela que foi a pessoa q me atendeu melhor até hj aqui em Bauru e é TOTALMENTE verdade! Se mais pessoas fossem que nem ela daria bem mais do que 10%, mas pra me atender como se eu fosse a barata no canto da cozinha, desculpa não merece gorjeta e nem os 10% de atendimento.
E isso não é só com os garçons, em Bauru a antipatia é geral, dentro de lojas, em bancos, taxis, etc...

Anônimo disse...
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Carla disse...

Isso não é bem assim. Eu dou sempre gorjeta (sou portuguesa) mas se entrar num lugar onde o empregado já me olha atravessado porque sou portuguesa e parte do princípio que não vou dar gorjeta e por isso presta um serviço menos bom ou até mau... o que é que lhe vai acontecer? fica mesmo sem gorjeta... porquê? porque rotulou o cliente, foi preconceituoso e serviu mal. Logo, parte da culpa é dele.

Framboesa (uma diva de galochas) disse...

Deixo gorjeta consoante o serviço...se acha que os portugueses lhe deixam pouca ou nenhuma gorjeta...talvez o seu serviço não seja merecedor de tal, já que os atende á partida de modo preconceituoso .O meu pai trabalhou em restaurantes e hotelaria mais de 40 anos...Nem sempre recebeu gorjetas, mas sempre foi um bom funcionário para todos os clientes...como tal nunca fez uma listagem dos que deviam ser bem ou mal servidos. A isso chama-se brio.Compreende?
Cumprimentos e sucesso no futuro.

Anônimo disse...

@._ Eu não disse que todos os Portugueses são assim, disse que a maioria o é. E sempre recebo um cliente com um sorriso e muito boa disposição, é o retorno que ele me dá que me afeta. Não posso ser simpatico com uma pessoa que quer me desprezar. Eu sempre sofro descriminação por isso tomo muito cuidado para não fazer o mesmo. Aliás muitos clientes portugueses são grandes amigos meus.

@Framboeza: Concordo que a gorjeta deva ser por receber bom serviço, tem muita gente dando péssimo serviço por aí e não merece. São pessoas que não sabem cumprir bem o papel de servir. Como eu disse me interessa mais as pessoas serem bem educadas do que deixarem boa gorjeta, pois nos temos sempre turistas que gratificam bem. O ponto é as pessoas te tratarem com respeito. E a minha classificação de quem deixa ou não gorjeta não é uma novidade e é um assunto corrente no meio, uma classificação que aliás esta ligada diretamente com niveis de educação e cultura de diferentes etnias.