quarta-feira, 30 de novembro de 2022

HOJE EU ME TORNO CIDADÃ CEARENSE

Hoje às 15h vou receber o título de Cidadã Cearense na Assembleia Legislativa do Ceará! A cerimônia era pra ter sido em abril, mas na época teve um dilúvio em Fortaleza, desses de afogar bolsogolpistas acampados em frente a quartel, e foi adiada. Mas agora vai! Será uma grande honra pra mim, e você está convidada/o! No início do ano que vem completarei 13 anos que vim pra cá. E do Nordeste eu não planejo sair nunca mais!

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

PARA NOSSAS CRIANÇAS SEREM AS MILHÕES DE PEQUENAS REVOLUÇÕES QUE ELAS PODERIAM SER

Na sexta-feira o Brasil se chocou com mais um massacre em escolas. Foi em Aracruz, no Espírito Santo. Um adolescente de 16 anos vestido com roupa camuflada e portando uma braçadeira de suástica no ombro invadiu duas escolas e matou quatro mulheres. Outras vítimas seguem em estado grave no hospital. Ele foi apreendido. As duas pistolas usadas no ataque eram do pai, um policial militar. 

As vítimas fatais são três professoras (porque o rapaz entrou na sala de professores primeiro, durante o intervalo): Cybelle Passos Lara, professora de matemática, Maria da Penha Pereira Melos Banhos, professora alfabetizadora e de arte, e Flávia Amboss Merçon Leonardo, professora de sociologia. Uma aluna também foi morta.

Selena Sagrillo estava no sexto ano, tinha 12 anos, e logo iria se mudar para a Bahia. Thais, a mãe de Selena, perguntou comovida diante da câmera de TV: "Quantas outras vítimas em escolas a gente vai ter?" Ela divulgou uma carta no sábado, que reproduzo aqui:Escrevo este texto do computador e quarto de minha filha Selena, que agora amargam sua ausência. Escrevo, pois não tenho mais voz para falar, não tenho mais lágrimas para chorar.

O lamento, a dor e angústia que estavam no meu peito antes, agora, começam a dar lugar ao sentimento de entendimento, aceitação e saudade.

Sentada em meio ao pequeno caos criativo que era seu quarto, encontrei um texto que falou tão profundamente em meu coração que não consigo deixar de compartilhar com vocês, que tanto estão nos dando forças neste momento. O texto dizia:

‘Vai ter um dia em que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia é hoje. Eu esperei minha vida inteira. E tudo está bem. Completei meus 11 anos e tinha voltado ao bairro e a escola que cresci depois de dois anos em São Mateus (ES), e eu disse: Vai um dia que o mundo inteiro vai estar do seu lado, e esse dia está próximo.’

Realmente o dia estava próximo para minha filha. Havia 1 mês e cinco dias que ela havia completado 12 anos. O dia de sua morte, dia 25/11, foi também o dia do aniversário de meu pai, e seu avô José. Dia 01/12 será aniversario de seu outro avô, Laudérico. Daqui a trinta dias será Natal. Minha filha não verá os próximos jogos da copa do mundo e nunca mais se empolgará com um gol como aquele do Richarlison, que ela achou ‘incrível’.

Jamais verei do que ela seria capaz. Ela estava se tornando uma mulher poderosa, alma livre, feminina. A promessa de uma vida inteira foi desfeita. Todo um futuro interrompido. A custo do ódio, do desamor, do terror. Não venho aqui clamar por retaliação, pois de ódio, estou farta.

Clamo por piedade e por segurança para nossas crianças serem as milhões de pequenas revoluções que elas poderiam ser. Segurança nas escolas, ruas, casas. Abrigadas e protegidas de todos os desterros do mundo. Longe da violência, drogas, armas e abusos.

Que a partida da Selena seja o início de uma nova revolução, assim como ela gostava, mas uma revolução baseada no amor e segurança para nossas crianças de todas as etnias, regionalidade, classe social e crença.

Esse é um lamento e um grito de uma mãe que padece com a perda de uma filha. Peço que nos mandem orações, amor, energias boas, seja qual for sua crença. Que o mundo se una pela Selena, assim como ela escreveu em seu texto, e por tantas outras Selenas pelo mundo.

Ass. Thais Fanttini Sagrillo Zuccolotto

terça-feira, 22 de novembro de 2022

ANISTIA NÃO: DAMARES PRECISA SER PUNIDA

Damares Alves foi a pior ministra da história do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Conseguiu ser uma das piores ministras do pior governo de todos os tempos, que não por acaso não foi capaz de se reeleger, mesmo roubando muito pra isso. Ainda assim, a fundamentalista cristã foi eleita senadora pelo DF. 

Em outubro, em plena campanha, Damares discursou numa Assembleia de Deus em Goiânia. Como é de seu costume, mentiu à beça. Contou uma história horripilante que circula em fóruns anônimos do mundo inteiro há muitos anos: que houve uma explosão no número de bebês com uma semana de vida estuprados, que ela tinha vídeos desse horror, que esses vídeos eram vendidos por R$ 50 mil, 100 mil, que, em Marajó, crianças tinham seus dentes arrancados para que não mordessem ao terem que fazer sexo oral e comiam comida pastosa para não atrapalhar no sexo anal.

Essas histórias são algumas das muitas lendas urbanas que homens misóginos e pedófilos e quase sempre de extrema-direita gostam de inventar e narrar uns para os outros, para ver quem choca mais (além disso, essas narrativas hediondas servem como material masturbatório). O movimento QAnon é basicamente isso: espalha que existe uma vasta organização pedófila internacional comandada por homossexuais e judeus e que só uma pessoa (no caso, Donald Trump, o que é bem irônico, já que ele é conhecido por ser um predador sexual) pode derrotar toda essa rede de pornografia infantil. Como a extrema-direita daqui copia tudo que rola nos EUA, vários bolsonarentos adaptaram essa fantasia pros moldes brasileiros. Claro que o salvador das criancinhas é o Mr. "Pintou um clima". 

Já seria lamentável Damares levar o esgoto da internet para um culto religioso (ainda mais um culto com várias crianças presentes). Mas fica ainda pior quando a gente se lembra que a fanática foi ministra durante mais de três anos (até março de 2022). Se ela ouviu essas histórias apavorantes, se ela tem vídeos, o que ela fez para combater essas atrocidades? Não fazer nada não é uma opção. 

Numa matéria de Marcela Schiavon para o Uol, a advogada Beatriz Lameira Carrico Nimer explica que o artigo 227 da Constituição Federal prevê que membros do poder público têm o dever legal de agir de maneira rápida e eficaz para apurar e combater violências contra crianças. Qualquer membro do poder público, mas acontece que essa era exatamente a pasta de Damares. Ao não denunciar esses horrores (não num culto pra ganhar votos, mas à polícia e ao ministério público, entre outros), a ministra prevaricou, crime que tem pena de três meses a um ano de prisão

Por conta do discurso escandaloso e irresponsável de Damares, o grupo de advogados Prerrogativas acionou o Supremo Tribunal Federal e a Procuradoria-Geral da República para pedir maiores esclarecimentos à ex-ministra, sob suspeita de prevaricação. O Ministério Público Federal do Pará deu a ela um prazo pra que ela e seu ministério apresentassem as denúncias que fizeram ao receber essas notícias e vídeos. Para tentar desconversar, Damares disse que eram "relatos ouvidos nas ruas do Marajó, nas ruas da fronteira". Ou seja: ela foi de "tenho posse de vídeos" para "meras fofocas" em questão de dias. 

O prazo venceu, e óbvio que Damares não apresentou prova alguma. Não que pedofilia, pornografia infantil e tráfico sexual não existam -- essas abominações infelizmente não são incomuns. Mas o que ela narrou circula nos porões da internet faz tempo sem o menor indício de que seja verdade. Além do mais, se ela ouviu e viu e acreditou que fosse verdade, o que fez, como ministra, para impedir? Há registro de suas ações? 

Damares tem que ser punida. Como ela só toma posse como senadora em janeiro, ela agora está sem foro privilegiado. Mas, para que haja punição, o MP tem que dar andamento ao processo. E não é só prevaricação. Há um outro crime envolvido: a divulgação de fake news. 

Temos que pressionar para que algo seja feito. Afinal, entre os bolsonarentos, que acreditam em qualquer coisa, principalmente nas teorias da conspiração mais escabrosas, Damares só ousou falar a verdade e os ministros do STF, que segundo eles também fazem parte daquela organização internacional de pedófilos, estão querendo punir logo quem teve coragem de falar. 

Não vamos aceitar anistia. Este governo que felizmente está no fim tem uma longa ficha corrida de crimes, e queremos que seus ex-ministros, e acima de tudo o mandante geral, paguem.

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

A COPA DO MUNDO NO QAATAR É UMA ABERRAÇÃO

Eu, como muitos brasileiros, não estou nada entusiasmada em acompanhar a Copa do Mundo de Futebol Masculino no Qaatar (ou Catar), país conhecido por violar direitos humanos. Vamos ver se de repente eu entre no clima da Copa quando a seleção brasileira entrar em campo. Mas ultimamente tem me dado azia só olhar pro uniforme verde e amarelo, sequestrado por bolsonarentos. 

Reproduzo aqui a ótima versão da newsletter do jornalista e colunista do UOL Jamil Chade enviada no final de semana. 

Carta para a Fifa: a Copa no Qatar é imoral, uma aberração

Prezado Sr. Gianni Infantino (presidente da FIFA), 

Quero te contar uma história. Em dezembro de 2010, numa noite fria em Zurique, estávamos todos esperando pelo anúncio do resultado da votação sobre onde seriam as Copas de 2018 e 2022. Minutos antes de o evento começar, encontrei um lugar ao lado de um colega escocês e, por coincidência, na fileira de trás de uma parte da delegação do Qatar.

Diante de mim, um dos spin doctors mais polêmicos e eficientes do mundo estava sentado. Mike Lee, que já faleceu, trabalhava pela campanha do Qatar, país que tinha sido classificado no relatório técnico da Fifa como o pior entre todas as candidaturas para sediar a Copa. Tirou a nota mínima e só não foi retirado do processo por uma decisão política. 

Era a candidatura de um país que jamais tinha ido para um Mundial, que falava no absurdo de ar condicionado em estádios e que tinha sido humilhado no COI (Comitê Olímpico Internacional), anos antes, ao tentar sediar os Jogos Olímpicos. Contra o minúsculo país estavam a sedução da Austrália, a tecnologia do Japão e a influência política e econômica dos EUA. Bill Clinton, de fato, estava também na sala.

Faltavam cerca de trinta minutos para Joseph Blatter subir ao palco com o envelope ao qual, supostamente, ninguém tinha acesso. Ali estaria o nome do vencedor de um evento que movimenta US$ 5 bilhões.

Lee, então, se vira para mim e, com as mãos, faz um sinal de que o Qatar tinha sido escolhido. E pisca, abrindo um enorme sorriso de satisfação. Ao lado do escocês, minha reação foi de deboche. Mas, em silêncio, pensei: "será que eles terão coragem de fazer isso? O futebol está mesmo à venda?"

Instantes depois, quando Blatter abre o envelope e a palavra "Qatar" explode nas manchetes de todo o mundo, Lee se volta para nós e confirma de novo com as mãos uma mensagem clara: "eu avisei".

Senhor presidente,

A Copa de 2022 é uma aberração. Não existiam motivos técnicos que a justificassem.

A Copa de 2022 é um projeto político de uma elite no poder que, com o futebol, comprou sua inserção no mundo.

A Copa de 2022 é imoral e uma afronta aos defensores de direitos humanos, ativistas e ambientalistas.

A Copa de 2022 é erguida sobre o sangue, lágrimas e a destruição da dignidade de operários que, sem pausa de verão, trabalharam em condições de semiescravidão.

A Copa de 2022 é um deboche aos torcedores de todo o mundo, incapazes de sonhar com a possibilidade de ter recursos para bancar uma estadia em Doha.

A Copa de 2022 é um insulto às mulheres e aos homossexuais, enquanto influenciadores postam nas redes sociais as maravilhas das torneiras douradas dos estádios.

Sempre que coloquei essa minha visão, ouvi duas respostas:

1. A Copa vai ajudar a abrir o Qatar ao mundo.

Minha resposta: a história mostra que isso é uma grande mentira. Em 2008, o COI usou o mesmo argumento para falar do impacto que a Olimpíada teria para a China. E a tal da abertura jamais chegou.

2. A Copa não pode ser o privilégio de apenas alguns poucos países do mundo.

Minha resposta; óbvio que não pode. Mas tampouco pode ser o privilégio de regimes violadores de direitos humanos que usam o evento para mostrar um rosto moderado e aceitável ao mundo.

Caro Infantino,

Quando o senhor estiver sentado nas confortáveis e luxuosas poltronas dos estádios no Qatar e sentir um incômodo, não se surpreenda. Pode ser que seja o deserto, que rende a todos nessa parte do mundo. Ou talvez sejam os espíritos que, já com seus passaportes devolvidos pelos empregadores na forma de caixão, agora podem circular finalmente de forma livre pelo país.

"Sabían de la muerte, lo duro que es el pan", cantaria Victor Jara. "Venían del desierto, de los cerros y del mar".

Quando, nestas lindas arquibancadas o senhor gritar gol, não tenha ilusão. Ele será incapaz de abafar o berro que já ecoa por cada corredor desses estádios. O grito do desespero de uma parte da humanidade invisível.

Saudações tricolores,

Jamil

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

O BRASIL VOLTOU

Ontem o professor e jornalista Maurício Falavigna escreveu um texto muito bacana sobre o sucesso que foi o discurso do Lula na 27a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27, no Egito. Reproduzo aqui seu texto (leia também a análise de Jamil Chade).

Foi além da afirmação de um governo eleito democraticamente, que ainda sofre resistência militar para assumir em janeiro. Ultrapassou significativamente a temática ambiental. Transgrediu em muito a mera retomada, modesta e aliviada, do papel do Brasil no cenário global.

Internamente, o presidente Lula, de maneira comedida mas com todas as palavras necessárias, fez um mea culpa nacional que até hoje não ouvimos dos responsáveis pelo caos. Foi a Nação se retratando dos anos de desmando, desregulamentações ambientais, ganância, banditismo e exploração desenfreada que gerou desmatamento, incêndios, invasões irregulares, morte de povos originários e tentativas de assassinato de ecossistemas. Foram anos de números boicotados, falseados ou elipsados. Lula espezinhou com desprezo o último governo e se comprometeu, como na campanha, de assumir diretrizes opostas em sua administração. Falou com a legitimidade do mundo civilizado ante a uma ameaça fascista. Deixou claro que sua vitória foi a salvação de nossa democracia e de nosso patrimônio ambiental – e, dessa forma, com o protagonismo dado a Amazônia, de toda a humanidade.

No entorno das questões ambientais, Lula também não deixou de inseri-las dentro de um sistema global, frisando a responsabilidade dos países ricos no desastre iminente. Cobrou acordos feitos e não cumpridos. Inseriu o combate à fome, à desigualdade, ao armamentismo e ao belicismo, à exploração desenfreada. Lembrou que a fome não é nossa, mas de 900 milhões de habitantes neste planeta. Passou pelas áreas da agricultura, segurança alimentar, povos originários, democracia participativa, combate à desigualdade.

Desigualdade não somente em condições de vida e diferenciações de renda, mas também política. Lula condenou desde as formas de exploração de recursos até as tentativas de mediação e de governança global. Atacou a ONU e seu Conselho de Segurança, dando ênfase ao famigerado poder de veto por quem detém o poder de fato. Falou de integração dos países que possuem as maiores florestas tropicais, Brasil, Indonésia e Congo. Falou de continentes explorados há séculos, lembrou a integração regional da América do Sul e o histórico de colaboração com a África. Deixou claro que essas cobranças e posturas serão estendidas durante seu mandato. Reafirmou a Amazônia como a “capital” deste debate, oferecendo a sede da COP em 2025. Mostrou que sua presença pode ser encantadora e popular globalmente, mas será também incômoda. Lula falou como a liderança do país que possui um patrimônio ambiental de importância mundial (e ainda afirmou a soberania brasileira na Amazônia). Falou como uma voz dos países em desenvolvimento, que ocupam parcela importante na economia global. Falou como um símbolo dos continentes mais pobres e explorados, que querem desenvolvimento e dignidade.

Falou com o orgulho que já tivemos e ansiamos em recuperar. Deixou claro que, apesar da resistência de uma elite escravagista e retrógrada, de um contexto global de guerra e de afirmações do poderio econômico, há a esperança racional e necessária de um Brasil e de um mundo mais inclusivo e mais justo.

Quem o ouviu e acreditou em suas ideias, sai com a cabeça erguida depois de anos. E sai com o desejo, e até mesmo com a certeza, de que o Brasil voltou.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

DILMA, EU AUTORIZO

Lindo bordado da Fabíola

Hoje eu escrevi no meu Twitter: "Vamos começar uma campanha pra que quem entregue a faixa presidencial pro Lula seja a Dilma? O Brasil não precisa de Bolso e Mourão pra absolutamente nada!"

Já havia ouvido essa sugestão antes. E recentemente nossa futura primeira-dama, a Janja, manifestou que gostaria que pessoas do povo entregassem a faixa pro marido. Passaria pela mão de vários representantes, até chegar no Lula. Uma ideia incrível, pra romper os protocolos. Seria ótimo, até porque o pior presidente de todos os tempos, que ainda não reconheceu o resultado das eleições ou parabenizou Lula, avisou que vai viajar no dia da posse (1o de janeiro). Ninguém sentiria sua falta. Mas que tal se, depois da faixa passar pelas pessoas do povo, a Dilma pegasse e ela que entregasse pro Lula? 

Seria uma bela e justa homenagem! A tag Dilma eu autorizo chegou aos TTs do Twitter, provando que essa ideia tem muitos adeptos.


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

QUE O MERCADO SE LASQUE

O professor de Economia da Tecnologia da TU Delft e da UFRJ Caetano C. R. Penna fez uma excelente thread no Twitter que reproduzo aqui. É patético mesmo ver o nervosismo do mercado com o governo Lula (que ainda nem começou; é até pior porque essa histeria toda veio depois que ele discursou que quer acabar com a fome). 

Dane-se o mercado! E isso vindo de alguém que tem algumas aplicações, mas que entende perfeitamente que, no seu lugar de privilégio, não deve ser prioridade de qualquer governo. 

Eis a thread do Penna:

Fiz uma pequena pesquisa no acervo do Globo Economia sobre como o "mercado" reagiu aos resultados do primeiro e segundo turnos nas eleições presidenciais de 2002. Segue o fio!

Na segunda-feira logo após o primeiro turno (7/10/2002), o Ibovespa caiu mais de 4% e o dólar subiu 3,3%. O Globo Economia ironizava a reação com alusão ao saudoso Tim Maia... 

Após a vitória no segundo turno (27/10), um dos primeiros atos de Lula foi anunciar a secretaria de combate à fome, a prioridade em seu primeiro governo. Soa familiar?

Como "o mercado" reagiu? Com uma queda de 4,4% no Ibovespa e uma alta de 1,3% no dólar. Mais uma vez -- ou originalmente -- a "estabilização [dependia] de nomes"...

Detalhe: o então secretário do tesouro dos EUA destacava as aptidões psiquiátricas do "mercado", que iria "analisar se o Lula não era maluco"! Será que ele era e ainda é? 

Bom, parece que a avaliação clínica do mercado foi de que Lula não só não era maluco como também era muito bom para os investimentos. Da primeira semana pós-segundo turno de 2002 até o final de seu mandato, o Ibovespa valorizou módicos... 338%!

No mais, para reflexão sobre esse roteiro repetitivo e farsesco, termino com uma clássica citação de Michael Kalecki, da obra Aspectos políticos do pleno emprego. Será que o governo vai (re)aprender o truque para termos novamente pleno emprego?

Isso não tem a ver com o fio do Penna, mas vale lembrar como o Globo noticiou a criação do décimo-terceiro salário, em abril de 1962 (dica: o mercado não gostou!):