segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

O PROFESSOR UNIVERSITÁRIO QUE ESCRAVIZAVA MADALENA

Ontem o Fantástico fez uma reportagem triste e revoltante sobre uma realidade muito atual: a de meninas que crescem escravizadas como empregadas domésticas em casas de família.

Foi o que aconteceu com Madalena Gordiano, hoje com 46 anos. Quando ela tinha 8, foi pedir um pão na porta de uma casa em Patos de Minas (MG). A dona da casa, a professora Maria das Graças Milagres Rigueira, respondeu: "Não vou te dar não. Você vai morar comigo". Maria falou com a mãe de Madalena, que tinha outros oito filhos, e que concordou que a menina fosse adotada.

A adoção nunca foi formalizada. Em vez disso, Madalena foi tirada da terceira série da escola e passou a ser empregada na casa, sem salário, sem registro, sem qualquer direito trabalhista, como folga e férias. Viveu 38 anos de sua vida assim, em situação análoga à escravidão. 

Quando o marido de Maria começou a brigar com Madalena, a professora decidiu passá-la --como se fosse um objeto, um animal, uma posse -- para o filho, Dalton Cesar Milagres Rigueira, professor universitário. Lá ela continuou sendo escrava. A família a casou com um tio, um militar que morreu logo depois, para poder ficar com duas pensões de 4 mil reais cada. Dalton ia ao banco com Madalena para que ela retirasse o dinheiro, e lhe dava R$ 200 ou 300.

A situação só mudou quando Madalena passou a deixar bilhetes para vizinhos pedindo dinheiro emprestado para comprar, por exemplo, sabonete. Desconfiados, algum deles chamou a polícia. Madalena foi resgatada no final de novembro. Que todas as Madalenas sejam libertas!

A história toda causa enorme indignação, apesar de não ser incomum. Quanto mais pobre um país, mais crianças serão exploradas, escravizadas. Esse tipo de escravidão era bastante frequente até 20, 40 anos atrás. Temo que a volta estrondosa da miséria no Brasil (segmentada com o golpe de 2016) faça novas vítimas. 

Talvez o que tenha me chocado mais na história foi Dalton, um professor universitário, dizer que não motivava Madalena a retornar à escola porque ele não "acredita que ela se beneficiaria de receber educação".

Dalton tem graduação em zootecnia, é mestre e doutor, e dá aula na faculdade particular e filantrópica Centro Universitário de Patos de Minas. O @castilhoalceu escreveu e compartilhou este texto num grupo de Whatss, que reproduzo aqui:


Estava lendo sobre Dalton, o professor de Zootecnia que manteve durante décadas Madalena Gordiano (em um quarto pequeno em Patos de Minas) como trabalhadora doméstica, em condições análogas à escravidão. Ela foi libertada no fim de novembro.

O Fantástico contou essa história na noite de ontem. Mostrou Madalena finalmente andando em um parque. Falando do dinheiro (dela) que agora ela poderá administrar. Pois antes o professor — segundo o Ministério Público do Trabalho — o confiscava.

Bem. Dalton Cesar Milagres Rigueira, professor universitário em Patos de Minas, formou-se em Viçosa (MG). Não é de família rica, pelo que pude apurar. Pai e mãe (que adotou ilegalmente Madalena quando ela tinha 8 anos) são sócios numa auto elétrica.

O que mais me chamou a atenção foram as dedicatórias em sua tese de doutorado, defendida em 2014 na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

Os agradecimentos começam com as seguintes palavras: "A Deus, por me guiar nesta caminhada". (Mais à frente ele insere uma epígrafe atribuída a Chico Xavier: "O que a gente não pode mesmo, nunca, de jeito nenhum... é amar mais ou menos".)

Depois ele agradece à UFMG. À empresa do agronegócio que permitiu a realização do experimento — algo sobre plano de nutrição para leitões desmamados.

Em seguida ele agradece ao seu orientador e a outro professor. Ato contínuo, à esposa Valdirene — igualmente investigada, como ele, por diversos crimes relacionados à exploração de Madalena.

As filhas, os pais e irmãos também são lembrados. Muito justo.

Como era de se esperar, Madalena, definida pela defesa do professor como "praticamente alguém da família", não aparece entre os homenageados. É ela a grande ausente.

Dalton agradece ainda a uma mulher que o hospedou em Belo Horizonte. A dois professores "pelas caronas". A todos os funcionários da granja que o ajudou na pesquisa. Menciona dois amigos.

Por fim, encerra os agradecimentos com as seguintes palavras:

"Aos suínos, meu eterno respeito".

19 comentários:

Anônimo disse...

a) Sempre afirmo a classe media pão com ovo e um.problema neste país ela e racista escravocrata preguiçosa quer sempre escravizar outras pessoas. Da até tristeza ver que a esquerda tem que negociar com.esta gente

Anônimo disse...

Lola vc viu a deputada estadual Renata Souza Psol sendo ameaçada? Deu até queixa na Polícia

Anônimo disse...

Assisti ontem a entrevista do Marcius Melhem com o Cabrini. Ele me pareceu bem convincente, inclusive apresentando áudios e mensagens, coisa que a advogada da Calabresa não apresentou. Mas também não significa que não houve assédio. Mas me parece estranho que alguém que seja culpado quisesse tanto virar réu assim. O que vc acha, Lola?

Anônimo disse...

Realmente a elite brasileira é nojenta. mas não todos são assim.tem exceção mas a maioria é assim tanto os direita e se esquerda.

avasconsil disse...

Pode acontecer do(s) ente(s) público(s) que paga(m) as pensões entrar(em) com ação ou ações pra anular o casamento e as pensões. Não assisto ao Fantástico. Por isso não soube dessa história pele televisão, mas por esse texto de Lola. Pelo que entendi o casamento foi de fachada, pra fraudar a previdência. A família do cárcere privado usou a moça pra ficar com as pensões do velho tio. A mesma notoriedade que a libertou da condição análoga à de escrava pode ser usada contra ela na justiça. Ela devia era processar todos que a exploraram todos esses anos, na justiça do trabalho e na civil, pedindo a reparação por danos morais.

avasconsil disse...

A família que a usou na fraude previdenciária cometeu estelionato, além de crimes contra ela (chegava a ser cárcere privado?):


https://arpen-sp.jusbrasil.com.br/noticias/100303246/casamento-e-nulo-se-objetivo-e-recebimento-de-pensao

https://guilhermetelesadv.jusbrasil.com.br/artigos/317765679/uniao-estavel-forjada-para-receber-pensao-por-morte-e-crime

Eita Brasil surreal.

Anônimo disse...

Lola, não há mensuração possível para o trabalho que você faz. Xêro para você, querida !

Dri Vilella disse...

Concordo totalmente com vc

freitasdopt1313@gmail.com disse...

Quero saber se alguém aqui pode me dizer em quem Dalton Rigueiro e sua família votaram para presidente nas últimas eleições

Anônimo disse...

Fiquei pasma com essa dedicatória, aos suínos dedica o seu respeito, e a empregada escravizada nem a lavagem, pois não lhe supria nem o básico ....

Fernando "de La Mancha" Magno disse...

Muito triste. E o mais revoltante: são centenas de Madalenas.

Anônimo disse...

É por essas e outras que eu não gosto de professores universitários. Fora que são muito arrogantes.

Felicidades, Madalena!

titia disse...

Felicidades, liberdade e crescimento para Madalena. Que seja dona de si e de sua vida pelo resto dos seus dias.

É por isso que esse país não vai pra frente, é por isso que a esquerda é odiada no Brasil. Afinal, se os pobres tiverem dignidade e opções, quem a elite e a classe média que se acha eltie mas é só o pobre que ganha um pouco mais que o porteiro do prédio vai escravizar? Que ninguém se engane, o ódio que os cancervadores tem pelo progressismo, pelo PT, pelo Lula e pela esquerda em geral não é por causa da corrupção nem das criancinhas; é porque tudo isso tira deles o "privilégio" de escravizar à vontade.

Camila disse...

Gostaria de saber o endereço do abrigo em que ela se encontra,para enviar um presente para a ela.

Kasturba disse...

É bem isso que a Titia falou... a classe média não gosta de pautas que defendam igualdade social (e igualdade no sentido mais amplo) porque assim irá parar de se sentir "superior". Um dos primeiros problemas seria ter que começar a arrumar a própria casa e cuidar dos próprios filhos (se não puderem pagar os salários de merda - ou mesmo escravizar - não vão mais ter acesso a serviços domésticos em que as empregadas/babás aceitam tudo caladas e sorrindo com medo de perder o emprego). Imagina, essa classe tão nobre ter que botar a mão na massa pra limpar banheiro e trocar fraldas? Ou ter que pagar um salário digno e tratar com respeito seus funcionários? Inconcebível!!

Lembro uma vez que fui visitar uma tia-avó, senhora distinta que reside sozinha em um amplo apartamento de 3 quartos no Posto 6 de Copacabana. Estávamos conversando, e já nas tantas, ela me solta que tinha conseguido uma "ajudante" (palavra usada para tirar o peso social do termo "empregada doméstica" ), mas que estava procurando outra porque a moça era muito arrogante... A arrogância da pobre moça foi dizer pra essa tia que ela gostava de ler as revistas jurídicas que ficavam dispostas na mesa de centro da sala como prova de status intelectual.
Segundo minha tia: "Ora, vê se pode!! Claro que uma moça dessas não lê minhas revistas jurídicas... Nem entende sobre o que a revista fala. Ela deve gostar de ler tititi e outras revistas de novela. Muito nariz empinado essa moça, e além de tudo, mentirosa."

Pablo Rachid disse...

O sujeito agradece aos porcos, mas não agradece à "quase da família". Vergonhoso. lamentável. O duro é pensar que existem casos semelhantes por aí. O racismo é repulsivo por si só, claro. Porém, esse racismo arcaico consengue ser asqueroso em níveis indescritíveis. Que esse sujeito seja punido pela sociedade, seja pela côdigo penal, seja pela opnião pública. Execrá-lo não só é aceitável como também é atestado de bom caráter.

Anônimo disse...

Tem que respeitar os suínos. Sabiam que são mais inteligentes que cachorros?

Anônimo disse...

Pensei a mesma exatamente a mesma coisa...

Unknown disse...

Ninguém responde isso. Já pesquisei em dezenas de sites.