Uma boa pedida para os tempos sem Deus e sem cultura de hoje é "Amadeus", o campeão do Oscar de 1984, quando recebeu 8 estatuetas. Apesar de ser uma biografia, da trilha sonora erudita, do roteiro ser assinado por um dramaturgo, de ostentar cenários suntuosos e de se tratar de um drama de época, este NÃO é um filme de arte. Não se assuste. "Amadeus" tem ritmo vertiginoso e muito bom humor. Juro que você não irá dormir durante a sessão. O máximo que pode acontecer é desligar o vídeo ou DVD com um pouquinho mais de cultura. Não dói!"Amadeus" descreve Mozart como infantil, histriônico, obsceno e polêmico – ou seja, como se ele fosse o Maradona da música clássica. Mas esta não é uma visão objetiva, pois é a opinião de seu arqui-rival. O filme discute mais Salieri que Wolfgang Amadeus Mozart. Salieri era o compositor oficial da corte austríaca, um cara diletante, empenhado, disciplinado... e com um talento próximo de zero. Você deve conhecer este tipinho em várias áreas. Ignorando os adesivos que provavelmente já circulavam nas carruagens de Viena em 1770 ("a inveja é uma m****"), Salieri passa a odiar Mozart com todas suas forças, ao ponto de revoltar-se contra Deus. Ele não compreende como um hedonista como Mozart pode ser abençoado com um dom divino enquanto ele, um cristão devoto, é brindado com a mediocridade. Desnecessário dizer que euzinha aqui me identifico com Mozart, e que certamente meus detratores estão mais para Salieri. Eu e o Wofie sabemos o que é ser detestados por sermos geniais. Parece que tudo vem até nós sem esforço, como se fossemos meros taquígrafos do Todo Poderoso. O tal do escrever certo por linhas tortas...Perdão, onde estava mesmo? Para mostrar que o crime não compensa, Salieri termina seus dias sozinho num asilo de loucos, um claro sinal do que ocorrerá com meus desafetos no futuro. O filme está longe de ser uma unanimidade. Eu o adoro, por motivos de identificação de ordem pessoal, apesar de não considerá-lo o melhor do diretor tcheco Milos Forman. Esta honra fica com "Um Estranho no Ninho" e "Hair". Há uma penca de críticos que não suportam o Mozart de peruca e risada histérica de Tom Hulce e que acreditam que o pot-pourri de óperas banalize a música clássica. Mas não eu. Não creio que "Amadeus" seja um "Mozart for dummies". Eu adoro a perversidade e o brilho no olhar do F. Murray Abraham, que faz o Salieri. E é divertido ver o Jeffrey Jones no papel do imperador. O Jeffrey tem o mesmo talento para interpretar papéis dramáticos que o Luiz Fernando Guimarães. Na sua pele, o monarca não pode ser levado a sério – o que lhe dá um charme especial. Mozart morreu pobre aos 35 anos (neste ponto, não há paralelo comigo), e Salieri prosperou até que a vingança tardou mas não falhou. "Amadeus", além de grande cinema, nos dá importantes lições. Recomendo o filme pra todo mundo, principalmente pra minha colega de faculdade que outro dia comentou sobre aquele outro compositor, aquele um que ficou cego. Ela também não se recordava do nome, começava com B. Cego?! Só se for cego dos dois ouvidos.
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3 comentários:
Nossa, um filme tão lindo e ninguém tinha comentado aqui ainda? Eu também adoro Amadeus, apesar das muitas censuras sobre a parte histórica. Mas tem como não gostar daquela risada pornográfica? Aliás, creio que a sua amiga estava se referindo ao Johann Sebastian Bach.
Lola;
Amadeus é um belo filme, mas sem nenhum rigor histórico. O roteiro de Peter Shaffer é baseado em sua peça de teatro homônima (que tive o prazer de assistir no Rio de Janeiro, com Edwin Luisi como Mozart e Raul Cortez como Salieri - este sendo ovacionado em cena aberta após um dos monólogos da personagem) e o próprio Shaffer informa que abusou de licenças poéticas (para não dizer distorções) para contar a história que ele queria.
Amadeus funciona como uma boa introdução ao universo da música mozartiana, tem bom ritmo e interpretações incríveis, bela fotografia e figurino deslumbrante. Mas não é para ser levado historicamente a sério.
Cego?!Kkkkk Beethoven.
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