segunda-feira, 26 de novembro de 2001

CRÍTICA: AMORES POSSÍVEIS / Impossíveis são as múmias

Fui ver "Amores Possíveis" não necessariamente para prestigiar o cinema nacional (do qual gosto bastante, só não sou de ficar fazendo favores), mas porque a outra opção era "A Múmia 2", ou algo do gênero, e eu concluí que, por pior que tenha me comportado em outras encarnações, eu não merecia tamanho castigo.
"Amores" é fofinho, se bem que não fede nem cheira. Na verdade, assisti ao filme na sexta e hoje é domingo e confesso que não me lembro de grande coisa. Ah, eram três estórias: em uma, o Murilo Benício é casado mas apaixonado por outra; na segunda ou terceira (querer que eu me recorde da ordem já é demais), o Murilo vive com a mãe e demora pra encontrar a mulher ideal; na última, o Murilo trocou sua esposa por seu parceiro no futebol. Em comum entre os episódios, só que a Carolina Ferraz é chatinha nos três personagens que representa.
Não que ela não esteja bem – o elenco inteiro se sai ôquei. Porém, fiquei pensando no Victor Mature. Sabe quando alardearam que, em "Sansão e Dalila", o mocinho possuía mais busto que a mocinha? Em "Amores" também. Nestas épocas siliconadas, é impossível não reparar que a Carol, ex-símbolo sexual em uma novela qualquer, é uma tábua. Podem me chamar de despeitada, mas dá pra usá-la pra passar roupa. Mesmo assim,
ela e o Murilo formam um belo casal. Talvez um dia eles e o Alexandre Borges e a Júlia Lemmertz possam promover um swing e filmar com outros parceiros.
A Irene Ravache tem o melhor papel como a mãe, embora "Amores" não seja uma comédia. Bom, pelo menos não faz rir. Tampouco faz chorar ou pensar (apenas no quesito busto). Sua falta de propósito talvez explique porque o
filme seja tão olvidável.
Tenho um amigo fascista que odeia cinema nacional. O caso dele é grave: ele gostou de "Tolerância" porque traz mulher pelada. Ele detesta "Eu Tu Eles", mesmo sem vê-lo, porque considera a Regina Casé um bucho. Aliás, ele é da opinião que cinema brasileiro que retrata os pobres é uma aberração. Você conhece: é aquela ladainha de denegrir a imagem do país no exterior. Meu Deus, um desdentado na tela – o que o FMI vai pensar da gente?! Oh, céus, o pessoal de fora vai achar que o Brasil é pobre! Neste ponto, imagino que meu amigo adoraria "Amores Possíveis", já que nele todo mundo é classe média pra cima. O que sua frágil mentalidade-admiradora-do-Berlusconi não aceitaria seria a parte homossexual da película.
Um terço do filme tem temática gay, o que, pra qualquer pessoa que não duvide da sua sexualidade e seja adepta do lema "viva e deixe viver", não constitui problema algum. Mas a personagem da Carol é especialmente insuportável neste segmento, onde vive a ex rancorosa e cheia de preconceitos. Pessoalmente, nunca entendi declarações de mulheres que clamam que ser trocadas por um homem é o ponto mais baixo de suas vidas. Por acaso ser trocada por outra mulher ameniza a situação? Se acontecesse comigo (noc, noc, barulhinho de bater na madeira), preferiria que fosse com alguém com quem eu não pudesse competir. Agora me exaltei e vou cometer uma das minhas infâmias: o que o homem tem no meio das pernas? O joelho. Ahn, perdão, insanidade temporária. Então, não se pode competir com um macho. Eles são infinitamente menos capazes, extremamente dependentes e pouco práticos, mas a gente tem que tirar o chapéu pro mecanismo que eles possuem pra fazer xixi em pé.
E o filme é dirigido por uma mulher, a Sandra Werneck. Antes, ela havia feito "Pequeno Dicionário Amoroso", que se parece com o episódio menos inspirado de "Comédia da Vida Privada". Não é que ela incluiu um pedacinho do pôster em inglês? É o ego gigantesco das auto-referências entrando na avenida, galera.
Mas chega de implicações. Nenhum filme que abre com música de Deus – digo, Chico Buarque, pode ser de todo ruim. E nenhum filme que traz no cartaz um close do ator principal mostrando os pêlos de seu nariz pode ser de todo bom. "Amores" tá lá, na coluna do meio, o que deve ser mais do que se pode dizer das múmias paralíticas de Hollywood.

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