terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: CARTADA FINAL / Aprenda e faça você mesmo

Ufa! Até que enfim um filme de ação sem rajadas de metralhadora, sem perseguições de carro ou explosões que arrasam quarteirões. Assim é “A Cartada Final”. Vou dizer com todas as letras: adorei a película. Não, não é sobre meu último e fracassado jogo de pôquer. Mas mexeu comigo.

“Cartada” é praticamente um manual passo a passo do crime. Fala de um ladrão profissional altamente competente que possui uma boate em Montreal e quer deixar de ser bandido. Pretende casar e levar uma vidinha normal. Porém, antes disso entra num roubo arriscado a uma aduana canadense. Será sua derradeira falcatrua. Eles sempre prometem isso, né? Todo mundo que ele conhece o manda cair fora desta, mas, por seis milhões de dólares, ele é capaz até de suportar seu novo parceiro, um carinha que se passa por deficiente para espionar a aduana. Quem junta os dois é um velho gordo e endividado, que vive encomendando mercadorias pro larápio furtar.

Meu Deus! Nunca contei tanto da história de um filme. Viu como estou entusiasmada? Mais ou menos resumi a trama inteira. Não há mais do que isso. Não há surpresinhas mirabolantes ou dezenas de personagens incompreensíveis, daqueles que só servem pra complicar o enredo e fazer parecer que, uau, o roteirista realmente pôs a cabeça pra funcionar desta vez. O script de “Cartada” é simples e eficiente. Vai direto ao ponto, não enche o estofo de lições de moral, e é deliciosamente didático.

Eu fiquei na beira da cadeira o tempo todo. Pergunte pro maridão, que está com o braço roxo. Não sei por que torci pros bandidões. Talvez fosse por causa dos atores. Acho que torceria por eles mesmo se interpretassem a minha sogra. Imagina se os filmes, daqui pra frente, fossem estrelados por astros top de linha, como estes. O que seria da carreira do Ryan Phillipe, só pra ficar num nome? “Cartada” reúne os melhores atores de suas gerações, como Robert de Niro e Edward Norton, e, só de lambuja, o Marlon Brando. Os três estão brilhantes. Bom, o maridão me explicou, com veneno escorrendo da boca, que o Marlon está tão obeso que não há nenhuma cena dele subindo uma escada, por exemplo. Ou que o De Niro usa máscara durante suas aventuras porque assim a gente não enxerga o dublê. Tudo calúnia daquele invejoso, claro. Desconfio que ele seja um ladrão frustrado.

Aliás, uma das coisas que eu mais amo nas produções com o De Niro é que só nelas temos a chance de ver relacionamentos inter-raciais, um dos grandes tabus hollywoodianos. A bela Angela Basset, o par romântico dele nesta ocasião, não tem muito o que fazer. É a mulher do filme. Já no trailer, onde ela aparece por um milésimo de segundo, dá pra reparar que seu papel é insignificante. Mas, pra defender a falta feminina em “Cartada”, vou citar o Tarantino quando criticaram o incriticável “Cães de Aluguel” – “Pô, é a história de um roubo. Você não leva a namorada pra um assalto”.

Ah, e não adianta inventar que a gracinha do Edward Norton tá imitando o Kevin Spacey em “Os Suspeitos”. Nada a ver. Ele tá é a cara do Daniel Day-Lewis em “Meu Pé Esquerdo”, só que com um penteado melhor.

Pra você ter uma idéia de como fui afetada pelo filme, eu saí da vaga no shopping em alta velocidade, dirigindo na contramão, e por pouco não deixei o estacionamento sem pagar o ticket. Assim que acabar de redigir esta crítica, começarei a calcular meu infalível plano de arrombar a bombonière da esquina. Talvez tenha que usar um ou outro explosivo, e, para isso, estarei recrutando um cúmplice. Sabe, um que execute todo o trabalho braçal e siga minhas instruções direitinho, sem jamais discutir o salário. Cartas com foto, currículo e ficha criminal para este jornal, por favor. Não precisa ter o corpinho do Edward Norton. Ahn, nem o do Marlon Brando.

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