terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: MOULIN ROUGE / Musical para mulas

O maridão chegou na bilheteria e pediu dois ingressos pra “Moulin Rouge”, só que ele falou com a pronúncia correta, que é algo como “mulan rugge”, e a moça o olhou como se ele fosse um extraterrestre. Este negócio de manter o título original, ainda mais em outra língua, não funciona. Alguém tentou ligar pro cinema alguns meses atrás para saber a programação? Eu sim. A mulher disse que estava passando “Pié“. Eu insisti, falei perdão, você pode repetir? “Pié”. Quando questionei pela terceira ou quarta vez, ela esclareceu: “Pié, aquele filme sobre guerra”. Era “Pearl Harbor”.

Mas vamos nos concentrar na “Mula Ruge”. E antes de abrir minha boquinha, quero deixar por escrito que a-do-ro musicais. É raríssimo eu não gostar de algum. Infelizmente, nesses tempos MTVistícos eles andam em falta, embora às vezes pipoque algum. Amei os últimos que vi, que foram, se não me falha a memória senil, “Evita” e “South Park”. Na minha adolescência, cresci vibrando com os musicais decadentes da época, coisas como “Flashdance” e “Footloose” e “Fama”. Isto posto, acho que agora posso dizer com todas as letras minha opinião sobre “Mula Ruge”: o que foi aquilo?!

História não tem. Os press-releasers de plantão espalham que é uma releitura (meus sais!) de “Orfeu” e “Dama das Camélias”. Basta um homem perder a amada pro pessoal posar de intelectual e evocar “Orfeu”. Pelo pouco que entendi, a trama (mas pode chamar de trauma) se passa na Paris de 1899, num clube noturno que dá o título à película. Lá, há prostitutas que dançam cancã. Um pobre escritor (redundância) apaixona-se pela estrela do show, graças à ajuda da sua trupe boêmia, liderada por um anão que parece ser o Toulouse-Lautrec (a família já deve ter entrado com ação por danos morais póstumos). Tem também um argentino. Anões, argentinos, duques, cortesãs, Elton John... a que nível de perversão chegou Hollywood.

Epa! Como o Elton John entrou nessa uruca? É que todos os diálogos e canções de “Mula Ruge” baseiam-se em pedacinhos de pérolas pop. Tem algumas letras dos Beatles (pode? Infâmia!) jogadas no meio, tem a Nicole Kidman imitando a Marilyn Monroe cantando “Os Diamantes São os Melhores Amigos de Uma Garota” (tradução aproximada), tem o Ewan McGregor, que Deus o perdoe, soltando “A Noviça Rebelde” e, muito, muito mais. Imagino que o filme tenha graça se for transformado num “Qual é a Música?”. Este pedacinho de música é referência a quê? Alternativa A etc. Tem até homenagem a Whitney Houston, e, confesso, perto desta bomba, “O Guarda-Costas” até que era um programão. Nunca esperei despencar tanto, mas taí: viva “O Guarda-Costas”!

“Mula Ruge” é tão, mas tão cansativo que não parece durar apenas duas horas. Eu me senti como se tivesse sentado durante seis horas numa cadeira da época medieval, sabe, aquelas de tortura, com os espinhos. Não é exagero não. Houve momentos em que cochilei, na esperança de abrir os olhos e o filme ter acabado, mas não tive esta sorte. Ele simplesmente não acaba. Eu já havia cruzado os dedos em várias ocasiões, esperando o “the end”, e nada. Começava uma música nova! As cores são gritantes, e há excesso de poluição visual e sonora na tela. A edição hiper picotada determina que cada tomada dure um ou dois segundos. É um martírio. Imagine se, naqueles tempos dourados, tivessem feito isso com o Fred Astaire ou Gene Kelly. Você não mostra o cara dançando; você mostra um close da mão, seguido por um do pé, seguido por um da boca, seguido por um dos quadris balançando. Isso é entretenimento?

O diretor Baz Luhrmann dedica a produção a um tal de Leonard com o mesmo sobrenome, in memoriam. Deve ser o pai. Deve ter morrido de desgosto. O Baz começou sua carreira com “Vem Dançar Comigo”, que era o supra-sumo do kitsch mas não era tão tenebroso. Depois fez Shakespeare se revirar na tumba com uma versão (talvez aversão seja mais adequado) insuportável de “Romeu e Julieta”. E agora isso. “Mula Ruge” lembra um “Rocky Horror Picture Show” realizado por alguém que tomou ácido demais.

4 comentários:

Bárbara Reis disse...

Lolinha,

eu gosto tanto desse filme! T_T

Okay, eu chorei bastante... mas eu gostei... =[

Concoro com muitas coisas que você disse, é bastante poluído, e mal dá entender... tem de assistir mais de uma vez. HAHAHA...

E a Nicole está simplesmente perfeita. Me apaixonei por ela, nesse filme. *-*

Beijo, beijo.

Torres disse...

Eu já achava esse filme esquisito quando foi lançado. Outro dia passou no Corujão da Globo e mantive a opinião quase 10 anos depois.

É bacana fazer musicais, mas precisavam exagerar tanto? Fica muito cansativo por causa do ritmo frenético e pomposo. Outra: por mais que a história seja bobinha, eu procuro sempre ver um sentido para a existência dela antes de formar uma opinião. Mas a desse filme é irrelevante paca!

Mas a Nicole está tão linda.... eheheh. Não consigo ter antipatia por ela.

E o Ewan Mcgregor, putz. Deu vergonha alheia. O jeito como ele canta, escandaloso e estridente. Até chego a duvidar se houve preparação vocal. Bem que poderiam ter colocado um dublador na hora das canções dele. Mas ia ficar chato com o cara. Azar nosso.

Paula disse...

Ewan McGregor faz o filme valer a pena.... aff que gato...

Mari Lee disse...

Me sinto um ET entre as minhas amigas, mas também não gostei desse filme. Mas não me arrependo de ter visto, não; eu ri muito!
Estranhamente, acho que ri mais nos momentos que deveriam ser dramáticos...