terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: A HORA MARCADA / Para sofrer

Não pense nem por um minuto que eu gosto de malhar um filme que contava com o público recorde de duas pessoas (eu e o maridão) quando fui assisti-lo. Odeio. Passo mal. Acho que vou desmaiar. Não suportaria chutar cachorro vivo, quanto mais cachorro morto. Aliás, abomino este termo. Onde já se viu chutar cãezinhos? Melhor entrar no assunto antes que a editoria corte este parágrafo inteiro. Fui ver “A Hora Marcada”. Tudo bem se você nunca tinha ouvido falar. Eu tampouco. As outras opções nesta cidade de grande diversidade cultural chamada Joinville eram “Todo Mundo em Pânico 2” (no primeiro até me diverti, mas achei que ser vista viva num cinema assistindo a uma continuação caça-níqueis abalaria minha reputação), algum outro filmeco pra adolescentes cujo título não registrei, e “Gatos Numa Roubada”, que dispensa comentários. Decidi: roubada por roubada, lá fui eu prestigiar uma produção brasileira.

Parece que “A Hora da Mancada” é do ano passado, e foi lançado no resto do país em maio. Aí, Joinville! Sempre em dia com os lançamentos, hein? Custou dois milhões de reais – a gorjeta que o personal trainer do Bruce Willis deve receber no Natal. Achei o filme bem cuidado, com atores globais conhecidos, um som mais ou menos (alguns diálogos eu não escutei direito, mas talvez tenha caído no sono), visual requintado. Há uma festa de grã finos onde a socialite Vera Loyola aparece! Não sei se este é o primeiro ou o último drama com a participação especial da Vera, mas é claro que a ponta desta emergente (rima com detergente) enobrece qualquer película. E tem um momento em que surge um helicóptero. Não entendi pra quê, deve ser pra justificar o orçamento.

Então, de que adianta todo este capricho se o roteiro é raquítico? A história mostra um empresário (atenção para os dois adjetivos redundantes usados para descrever empresários:) rico e inescrupuloso que conhece uma moça que lhe diz exatamente quando vai morrer. Daqui a sete anos. O coroa não dá muita bola, e passam-se sete anos. Como que a gente sabe? O Gracindo Júnior, que faz o bambambã, surge careca. Não interessa que o resto do elenco continue igualzinho. A maquiagem é um problema constante em todos os filmes, não apenas nos nacionais. Neste dia, o Gracindo é seqüestrado. Será que ele é assassinado? Será que a profecia se concretiza? Será que a gente se importa? Se ainda fosse um drama com o Silvio Santos...

O slogan de “A Hora da Marcação” é “o que você faria se soubesse o dia da sua morte?” Ué, cada pergunta mais óbvia. Eu invadiria a Nestlé e acabaria com seu estoque de chocolates de alguns meses, é lógico. Mas o Gracindo tem outras idéias. Ele vai ao médico! Juro. Ou eu estava tendo pesadelos durante meu cochilo ou o sujeito realmente foi fazer exames médicos. Tá, ele também transa com a assistente, só que a assistente é a Cássia Kiss. Com todo o respeito à Cássia, eu teria programas melhores para minhas últimas horas de vida.

Parece que “Mancada” foi escrito, musicado e dirigido por um tal de Marcelo Taranto. Desconheço se este é o nome verdadeiro do autor ou se é uma homenagem, mas não há dúvidas que o elemento andou vendo Tarantino demais. Seu final é idêntico ao de “Cães de Aluguel”, tirando a inteligência, a criatividade e a ousadia. Há uma carnificina e todo mundo morre. Menos a Vera Loyola, que Deus a tenha.

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