Não, "A Mexicana" não é sobre a Jennifer Lopez, nem sobre a Penelope Cruz ou a Salma Hayek ou qualquer "latina" do momento em Hollywood. Tampouco é sobre a Julia Roberts arranhando o espanhol. Portanto, se você está pensando em assistir a esta película achando que vai ver mulher caliente, desista. "A Mexicana" é sobre a paixão dos americanos: uma pistola, o que mais? Como já cantavam os Beatles, "felicidade é um revólver quente". Não tem nada que os ianques gostem mais.
Pra disfarçar a verdadeira temática, tacaram lá o Brad Pitt, que está mais perdido que galã cego em tiroteio. Ele interpreta um carinha que deve ir até o México pegar uma lendária pistola e... Olha, não vou nem fingir que resumirei a estória do filme, pois não há estória. Vamos ser sinceros, né? O pessoal decidiu fazer algo agitado, convocou o Brad e a Julia Roberts, que mal aparecem juntos, e chamou aquilo de cinema. E a gente vai lá, feito boi pro abatedouro, prestigiar.
Tem quem goste. Um grupo de umas seis adolescentes na minha frente suspirava sempre que colocavam o Brad em close. Acho que era uma torcida organizada, porque elas tinham o mesmo penteado e as mesmas roupas, mas, sei lá, de repente é o jeito que a juventude se veste hoje em dia pra se diferenciar. Muito mais interessante era um casal do meu lado fazendo sexo. Juro por tudo que é mais sagrado! Apesar de não ficar olhando, eu senti a movimentação. Até comentei com o maridão, mas ele não reconheceria um ato sexual num local iluminado, que dizer no escurinho do cinema. Como não sou moralista, nem liguei. Pensei, "Bom, pelo menos alguém está gostando do filme".
Quanto a mim, fazia tempo que não sentia tanta vontade de sair no meio da projeção. "A Mexicana" não acaba nunca. Preocupada, mencionei pro maridão que, neste ritmo, iríamos perder o Natal. O filme mente que é rápido porque copia o estilo edição picotada, mas preste atenção nos diálogos. Sabe "De Olhos Bem Fechados"? Um ator declama umas linhas e leva cinco minutos pro outro responder. "A Mexicana" é igual, e nem tem a desculpa de ser um sonho. O cara balbucia qualquer baboseira, e segue-se uma pausa enorme. Concluí que os intérpretes estavam prestando homenagem: um minuto de silêncio por cada besteira. Ou então os produtores sentiram que, com um enredo tão frágil, "A Mexicana" daria um curta-metragem que pouca gente pagaria pra ver. Aí eles instruíram: "rapaziada, falem bem devagar, que o filme precisa durar duas horas".
Na realidade, esta aventura é o paraíso dos republicanos, aqueles caipiras que agora retomaram o poder nos EUA (não que os democratas sejam muito diferentes). Fora o amor declarado por armamento pesado, nesta produção são mortos dois homossexuais, o único negro que aparece, e vários mexicanos. "É o que fazemos na América", justifica o personagem do Brad à certa altura. Esta obra-prima da intolerância tem lugar reservado na videoteca da Ku Klux Klan e de qualquer psicopata adepto da cultura "trigger happy" – homens brancos que têm ereção ao disparar seus revólveres, que medem sua potência pelos alvos que acertam, que escolheram a violência como seu maior fetiche. A gente é terceiro mundo, mas pelo menos ainda possui nossa saúde mental. O máximo de insanidade a que nos permitimos é assistir a estas porcarias de vez em quando.
Se você é colecionador de armas ou adora caçar animais indefesos, esta é a sua praia. Se você prefere ouvir conselhos românticos dignos de livro de auto-ajuda proferidos por um matador de aluguel gay (a filosofia é "deixem o cara se expressar que ele vai morrer logo"), são boas as chances que "A Mexicana" te agrade. Caso contrário, fuja.
E, para não afirmar que o bangue-bangue provocou uma imensa apatia letárgica no público, houve uma hora em que escutei urros e gemidos. Imaginei que fosse o casal ao lado, mas percebi que era o fã-clube do Brad. No final, ouvi a moça sussurrar ao seu namorado: "Valeu, amor, foi bom". Aposto toda minha munição que ela não estava se referindo ao filme.
Pra disfarçar a verdadeira temática, tacaram lá o Brad Pitt, que está mais perdido que galã cego em tiroteio. Ele interpreta um carinha que deve ir até o México pegar uma lendária pistola e... Olha, não vou nem fingir que resumirei a estória do filme, pois não há estória. Vamos ser sinceros, né? O pessoal decidiu fazer algo agitado, convocou o Brad e a Julia Roberts, que mal aparecem juntos, e chamou aquilo de cinema. E a gente vai lá, feito boi pro abatedouro, prestigiar.
Tem quem goste. Um grupo de umas seis adolescentes na minha frente suspirava sempre que colocavam o Brad em close. Acho que era uma torcida organizada, porque elas tinham o mesmo penteado e as mesmas roupas, mas, sei lá, de repente é o jeito que a juventude se veste hoje em dia pra se diferenciar. Muito mais interessante era um casal do meu lado fazendo sexo. Juro por tudo que é mais sagrado! Apesar de não ficar olhando, eu senti a movimentação. Até comentei com o maridão, mas ele não reconheceria um ato sexual num local iluminado, que dizer no escurinho do cinema. Como não sou moralista, nem liguei. Pensei, "Bom, pelo menos alguém está gostando do filme".
Quanto a mim, fazia tempo que não sentia tanta vontade de sair no meio da projeção. "A Mexicana" não acaba nunca. Preocupada, mencionei pro maridão que, neste ritmo, iríamos perder o Natal. O filme mente que é rápido porque copia o estilo edição picotada, mas preste atenção nos diálogos. Sabe "De Olhos Bem Fechados"? Um ator declama umas linhas e leva cinco minutos pro outro responder. "A Mexicana" é igual, e nem tem a desculpa de ser um sonho. O cara balbucia qualquer baboseira, e segue-se uma pausa enorme. Concluí que os intérpretes estavam prestando homenagem: um minuto de silêncio por cada besteira. Ou então os produtores sentiram que, com um enredo tão frágil, "A Mexicana" daria um curta-metragem que pouca gente pagaria pra ver. Aí eles instruíram: "rapaziada, falem bem devagar, que o filme precisa durar duas horas".
Na realidade, esta aventura é o paraíso dos republicanos, aqueles caipiras que agora retomaram o poder nos EUA (não que os democratas sejam muito diferentes). Fora o amor declarado por armamento pesado, nesta produção são mortos dois homossexuais, o único negro que aparece, e vários mexicanos. "É o que fazemos na América", justifica o personagem do Brad à certa altura. Esta obra-prima da intolerância tem lugar reservado na videoteca da Ku Klux Klan e de qualquer psicopata adepto da cultura "trigger happy" – homens brancos que têm ereção ao disparar seus revólveres, que medem sua potência pelos alvos que acertam, que escolheram a violência como seu maior fetiche. A gente é terceiro mundo, mas pelo menos ainda possui nossa saúde mental. O máximo de insanidade a que nos permitimos é assistir a estas porcarias de vez em quando.
Se você é colecionador de armas ou adora caçar animais indefesos, esta é a sua praia. Se você prefere ouvir conselhos românticos dignos de livro de auto-ajuda proferidos por um matador de aluguel gay (a filosofia é "deixem o cara se expressar que ele vai morrer logo"), são boas as chances que "A Mexicana" te agrade. Caso contrário, fuja.
E, para não afirmar que o bangue-bangue provocou uma imensa apatia letárgica no público, houve uma hora em que escutei urros e gemidos. Imaginei que fosse o casal ao lado, mas percebi que era o fã-clube do Brad. No final, ouvi a moça sussurrar ao seu namorado: "Valeu, amor, foi bom". Aposto toda minha munição que ela não estava se referindo ao filme.
Um comentário:
EU tinha esse filme em casa há séculos e acho que nunca consegui assistir ele todo...
Aí na semana passada estava sem nada pra fazer e fui ver...
Tem uma parte em que Julia praticamente diz que estupro e sexo são sinônimos, pqp. Joguei o filme fora, não vale a pena nem pelo Brad.
Postar um comentário