Um leitor muito amável enviou-me uma mensagem que dizia: “Acabei de ouvir a notícia que a crítica favorita da minha crítica favorita morreu”. Ele estava falando de Pauline Kael, que se foi desta para melhor no início de setembro, aos 82 anos, velhinha, acabada, vítima de mal de Parkinson. Se Pauline houvesse sido apenas a minha crítica favorita, ela não teria a menor importância, claro. Eu não sou ninguém, não existo, tenho este leitor caridoso e talvez, com sorte, mais meia dúzia (estou sendo generosa). Mas Pauline foi A crítica, com a maiúsculo, numa época em que isso tinha alguma influência.
Quando esta americana frágil e minúscula surgiu para abalar o circuito das resenhas, ela já estava na meia idade. Ela começou malhando um filme de Chaplin e depois massacrou “A Noviça Rebelde”, sem jamais temer ir contra a opinião da massa ou da crítica especializada. Em 1967, ela viu e amou “Bonnie e Clyde, Uma Rajada de Balas”, cuja exibição os produtores queriam restringir a drive-ins do Sul dos EUA. Pauline redigiu um artigo de nove mil palavras sobre o filme, elevando-o à arte e mostrando que não só os europeus faziam cinema de qualidade. A revista para qual ela escrevia na época recusou-se a publicar o artigo, e ele foi parar na prestigiosa “The New Yorker”, onde Pauline arranjou um emprego que durou décadas. O texto salvou “Bonnie e Clyde” do ostracismo e lançou Pauline como irrefutável formadora de opiniões.
Ela tinha seus preferidos, como Robert Altman e Scorcese, mas em geral era justa e seguia seus impulsos. Era extremamente pessoal nos seus artigos (ué, opinião não é sempre pessoal?) e escrevia brilhantemente, cheia de som e fúria, denunciando excessos de comercialismo e de pretensões. Não se impressionava com Bergman e teve a audácia de sair no meio da projeção de “Casanova” de Fellini. Ela colocava tantas análises e tiradas em seus artigos que, geralmente, eles eram muito mais divertidos do que os filmes em questão.
É lógico que, com tanto poder, ela não era fácil. Tinha inúmeros inimigos. George Lucas nomeou o vilão de “Willow” de General Kael, em sua “homenagem”. E quem liga pra “Willow”? Alguns produtores referiam-se a ela como “aquela vaca miserável”. Uma das lendas conta que, ainda no começo de sua fase na “New Yorker”, Pauline vociferou contra “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick. Antes de publicar o artigo, o editor quis tentar dissuadi-la com um “acho que você não sabe que o Terrence é como um filho pra mim”. A resposta de Pauline foi curta e grossa: “grande m****”. O texto foi publicado rapidinho.
Mais recentemente, já aposentada, ela declarou que “a pior corrupção de um crítico é o desejo de manter seus leitores felizes a todo custo, elogiando filmes que o público irá adorar, como ‘Independence Day’”. Dá pra discordar? Pessoalmente, eu ficava orgulhosa quando, depois de tecer meu próprio comentário, lia em algum lugar que a Pauline pensava igual. Isto ocorreu, por exemplo, no nosso total desprezo pelo Oliver Stone e na paixão pelo Jim Carrey. Mas o que eu sinto é irrelevante, e a verdade é uma só: morreu a maior crítica de todos os tempos. Os cinéfilos sentirão saudades.
Quando esta americana frágil e minúscula surgiu para abalar o circuito das resenhas, ela já estava na meia idade. Ela começou malhando um filme de Chaplin e depois massacrou “A Noviça Rebelde”, sem jamais temer ir contra a opinião da massa ou da crítica especializada. Em 1967, ela viu e amou “Bonnie e Clyde, Uma Rajada de Balas”, cuja exibição os produtores queriam restringir a drive-ins do Sul dos EUA. Pauline redigiu um artigo de nove mil palavras sobre o filme, elevando-o à arte e mostrando que não só os europeus faziam cinema de qualidade. A revista para qual ela escrevia na época recusou-se a publicar o artigo, e ele foi parar na prestigiosa “The New Yorker”, onde Pauline arranjou um emprego que durou décadas. O texto salvou “Bonnie e Clyde” do ostracismo e lançou Pauline como irrefutável formadora de opiniões.
Ela tinha seus preferidos, como Robert Altman e Scorcese, mas em geral era justa e seguia seus impulsos. Era extremamente pessoal nos seus artigos (ué, opinião não é sempre pessoal?) e escrevia brilhantemente, cheia de som e fúria, denunciando excessos de comercialismo e de pretensões. Não se impressionava com Bergman e teve a audácia de sair no meio da projeção de “Casanova” de Fellini. Ela colocava tantas análises e tiradas em seus artigos que, geralmente, eles eram muito mais divertidos do que os filmes em questão.
É lógico que, com tanto poder, ela não era fácil. Tinha inúmeros inimigos. George Lucas nomeou o vilão de “Willow” de General Kael, em sua “homenagem”. E quem liga pra “Willow”? Alguns produtores referiam-se a ela como “aquela vaca miserável”. Uma das lendas conta que, ainda no começo de sua fase na “New Yorker”, Pauline vociferou contra “Terra de Ninguém”, de Terrence Malick. Antes de publicar o artigo, o editor quis tentar dissuadi-la com um “acho que você não sabe que o Terrence é como um filho pra mim”. A resposta de Pauline foi curta e grossa: “grande m****”. O texto foi publicado rapidinho.
Mais recentemente, já aposentada, ela declarou que “a pior corrupção de um crítico é o desejo de manter seus leitores felizes a todo custo, elogiando filmes que o público irá adorar, como ‘Independence Day’”. Dá pra discordar? Pessoalmente, eu ficava orgulhosa quando, depois de tecer meu próprio comentário, lia em algum lugar que a Pauline pensava igual. Isto ocorreu, por exemplo, no nosso total desprezo pelo Oliver Stone e na paixão pelo Jim Carrey. Mas o que eu sinto é irrelevante, e a verdade é uma só: morreu a maior crítica de todos os tempos. Os cinéfilos sentirão saudades.
Um comentário:
as pessoas elegem mitos e rotulam quem não gosta de burro. acho gritos e sussurros um pé no saco, não me fez refletir, não me emocionou, dormi assistindo - o que é raro - e tive que me esforçar pra ver o resto.
Postar um comentário