terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: O DOM DA PREMONIÇÃO / Vidente evidente

Nunca consegui distinguir mais que três linhas na mão de alguém e nunca ninguém leu o meu destino. Não acredito nessas coisas de Nostradamus, previsões, feitiços... Mesmo assim, fui ver “O Dom da Premonição”, e até que encontrei um suspensezinho maneiro, não muito criativo, mas eficiente. Por coincidência, depois assisti a um vídeo que continha o trailer de “O Sexto Sentido” e pude constatar: “Dom” tenta copiar vários momentos de “I see dead people”. Colocaram uma mãe de família no lugar do menininho atormentado, esperando repetir o sucesso. Não deu.

Sai Haley Joel Osment, entra Cate Blanchett (de “Elizabeth”). Ela faz uma vidente viúva, com três bocas pra alimentar, que lê a sorte numa cidadezinha do Sul dos EUA. Uma de suas clientes mais assíduas é uma pobre coitada interpretada pela Hillary Swank, aquela que levou o Oscar fingindo ser uma menina que finge ser rapaz em “Garotos Não Choram”. Não dá pra entender o que uma moça que apanha regularmente do marido pode esperar do futuro, mas a Hillary vai até a Cate e ouve sempre o mesmo estribilho: largue aquele crápula. O crápula não gosta da sugestão e ameaça a Cate. Enquanto isso, uma dama da parte mais proeminente da vila é achada no fundo de um lago pela Cate. O crápula é condenado. Evidente que não foi ele. Adivinha quem faz o crápula, o vilão unilateral da história? O Keanu Reeves, de barba. Seu personagem é um extremista americano, um racista que bate em qualquer exemplar do sexo feminino, assusta criancinhas, esfola esquilos e, nas horas vagas, persegue gatos de rua. Merece mofar na cadeia.

Nossa heroína não é exatamente um modelo de inteligência. Parece que ela jamais foi ao cinema para aprender que não se deve visitar o banheiro à noite, quanto mais tomar banho de banheira à luz de velas, especialmente depois de presenciar um cadáver sendo retirado de um lago. Tá certo que é um filme pra sentir medo, mas ela não devia exagerar. Na hora H, o clima é temperado com uma trilha sonora cheia de batidas de coração. Os sustos são um tanto previsíveis, mas assustam.

Outra da nossa intrépida vidente – um dos principais suspeitos a convida para um passeio no pântano onde ocorreu o assassinato. Tá a maior escuridão, com chuva, sozinha com um cara perigoso... e ela vai?! Gostei do thriller, mas não é preciso ser nenhum bidu pra saber o que vai acontecer, né?

A mensagem subliminar é que todos os homens são maníacos dementes e todas as mulheres são vítimas, o que a gente, aliás, já desconfiava. Curioso é que o roteiro é do Billy Bob Thornton, aquele um de “Na Corda Bamba”, atual marido da Angelina Jolie (se bem que faz umas semanas que não leio revista de fofoca; eles podem ter se separado neste ínterim). A direção é de Sam Raimi, que havia trabalhado com Thornton antes em “Um Plano Simples”. Sam é cultuado por seu pavor de baixo orçamento, “Uma Noite Alucinante”. Mas sua passagem para os megadólares ainda não rendeu nada de muito memorável, vide “Rápida e Mortal” e este “Dim-Dom”. É tudo morninho.

Pois é, algum vidente infalível precisa urgentemente ler a palma de Hollywood. Já sabíamos que premonição não é um dom desde o estupendo “A Hora da Zona Morta”, talvez antes. Agora a dúvida é: depois de “O Sexto Sentido”, não tem mais suspense que não veja pessoas em decomposição?

Um comentário:

Anônimo disse...

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