Permita-me comentar um pouquinho da história pra você se situar. O Sean Penn (que passou a década de 80 batendo na Madonna e nos fotógrafos) faz um bom homem com idade mental de uma criança de 7 anos. Uma sem-teto que ele engravidou dá a luz a uma menina e some rapidinho. Como ele adora os Beatles, o bebê recebe o nome de Lucy (in the Sky with) Diamonds. De alguma forma, ele consegue criar a garotinha numa boa, até que ela vira mais inteligente que ele e se nega a superá-lo intelectualmente. Aparecem uns assistentes sociais que querem entregá-la pra uma família mais capacitada. Com a ajuda de seus amigos deficientes, Sean encontra Michelle Pfeiffer, uma advogada que não se relaciona bem com o filho. Sentiu o drama? Nos primeiros quinze minutos, assim que me acostumei com o Sean no papel, eu já tinha derramado umas lágrimas. Mais um tiquinho de celulóide e havia uma poça considerável na minha poltrona. Lá pelo final, fiquei preocupada com um dilúvio e, se eu não estivesse concentrada na trama e soluçando sem parar, pediria pro gerente providenciar coletes salva-vidas. Devo andar muito sensível, já que este é o terceiro filme consecutivo em que choro (os outros foram “Amélie” e “Entre Quatro Paredes”). E é o terceiro seguido que eu gosto. Meus leitores fiéis não me reconhecerão. A verdade é que tenho um lado sentimentalóide acentuado. O maridão não me chama de farrapinho humano à toa. Ele jura que choro em comercial de ovo de chocolate (o que é compreensível).
Por falar em enxurradas, a maioria da crítica torceu o nariz pra “Uma Lição de Amor” e despejou artigos violentos em cima dele, malhando a chantagem emocional. Ora, o pessoal não entende o valor terapêutico desses filmes lacrimejantes. Se rindo a gente desopila o fígado, chorar também faz bem. Sabia que as lágrimas produzem uma substância que serve como analgésico natural? Por isso, nos sentimos melhor depois de uns buááás. Mas a sociedade condena, principalmente nos homens, esta que é uma atividade fisiológica das mais normais. O jeito é chorar no escurinho do cinema, daí a popularidade dos dramalhões. Desconfio que vários críticos detestem este tipo de filme por achar que homem que é homem não encharca lencinhos nem numa sala de projeção. Ficam revoltados por serem manipulados ao ponto de acionar seus dutos lacrimais, sempre tão fechadinhos. Obviamente, não considero uma produção boa (ou ruim) só por fazer a platéia chorar. Mas este é o objetivo de “Lição”, e ele cumpre sua premissa. Com louvor.
Claro que o drama tá cheio de defeitos. A advogada é um personagem mal-delineado, e a Michelle ma belle parece estar em outro filme. O Sean é o atoraço de primeira de costume, mas aqui ele não tem tanto que fazer, fora ficar de boca aberta e falar mais alto. Outras interpretações dele, como em “Os Últimos Passos de Um Homem” e “Poucas e Boas”, são mais complexas. Às vezes, as maravilhosas canções dos Beatles descambam em videoclips, e a vida de um deficiente soa fácil demais, mesmo num país rico como os EUA. O cara muda de apartamento na maior e ganha 8 dólares por hora pra servir café. Disse pro maridão que EU não ganho isso, e ele respondeu que eu não seria capaz de servir café sem derramar tudo. Mas “Lição de Amor” supera suas limitações por ser um filme honesto e que faz pensar, além de comover um bocado. Pode me chamar de trapinho, que não ligo.
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