Até que enfim venci os preconceitos e fui ver “Harry Potter”! Como assim, agora é tarde e o filme já saiu de cartaz? Não, acho que ele continua até chegar a próxima superprodução baseada em sucesso literário e repleta de gnomos e velhinhos com barbas brancas quilométricas. É óbvio que não me refiro a “Xuxa e os Duendes” (daí não dá pra me pegar fazendo o sinal da cruz), e sim a “O Senhor dos Anéis”. Oh céus, entra o período de férias escolares e as salas de exibição são tomadas por historinhas infanto-juvenis. Acho que as crianças merecem seu cineminha (afinal, elas também são filhas de Deus), mas e eu, que passei dos dez anos há décadas?! Espectador adulto, prepare-se para um longo e tenebroso verão.
Opa, falando desse jeito até parece que não me diverti às pampas com “Harry Potter”. O novo campeão de bilheteria (será que baterá mesmo o “Titanic”? Será que o público mirim irá assisti-lo mais de sete vezes, média da freqüência com que as menininhas prestigiaram os olhos azuis do Leo?) é ágil, e suas duas horas e meia são rápidas e pra cima. Já ouvi argumentos do tipo “oooh, essa temática ensina os infantes que bruxaria é algo bom, o que é muito perigoso”. Claro, estas opiniões vêm de fanáticos religiosos que consideram o Halloween uma influência igualmente temerária. Olha, os feitiços do filme são 100% inocentes. Aliás, se ser bruxa significa voar de vassoura, levitar, morar num castelo e poder avistar um sapo sem urrar de terror, eu também queria ser uma. Ih, já tô vendo leitor metido a engraçadinho dizendo “queria?!”. Vou ignorar estas provocações.
Antes de prosseguir com esta minha crônica, devo esclarecer que qualquer pessoa que haja lido um dos volumes da J. K. Rowling manja muito mais de pedra filosofal e afins do que eu. Portanto, não tenho a pretensão de me dirigir a pottermaníacos. Para eles, sou apenas uma trouxa (não no sentido ruim da palavra, como você está pensando. Segundo o vocabulário peculiar da série, trouxa é quem não é mago). Escrevo a você, leigo no assunto, você que nunca ouviu falar do menino órfão levado a uma escola de feitiçaria e seus amiguinhos bruxos. Ou seja, você que vive numa caverna ou num abrigo anti-nuclear, sem comunicação com o resto do mundo.
Será que fui a última pessoa na face da Terra a assistir a “Harry Potter”? Meus alunos adolescentes já estão na terceira. Pra se entender o charme que essa espécie de trama contém, é preciso recuar no tempo. No fundo, “HP” é similar a “Os Goonies” ou “O Enigma da Pirâmide” – aquele negócio da pureza e criatividade das crianças contra a maldade dos “de maior”. Não podemos esquecer que quem tem entre 6 e 15 anos hoje nem era nascido em 82, ano de “ET”. Tudo parece novo.
“HP” tem lá sua magia em várias cenas. Os dois companheiros do guri são inclusive divertidos, uns fofos. Me identifiquei com o gigante, não apenas pelo nosso tamanho em comum, mas pelo seu lema “não deveria ter dito isso”. Sei como ele se sente. Na verdade, confesso que me conectei totalmente com a produção. Eu mais parecia uma platéia-teste. Vibrava e ria nos lugares certos. O maridão jura que até soltei um “Oh!” durante a exibição, mas isso vou negar até a morte.
Triste que chega uma hora em que o filme desanda. É pouco antes do jogo de xadrez com peças vivas. Entramos no final, e o final é banal. O roteiro se encarrega de buscar motivos para premiar todos os coleguinhas do herói. A menina é laureada pela lógica e inteligência, o garoto por jogar a melhor partida de xadrez já vista no local. Uau! A melhor partida de xadrez é uma em que o adversário não vê mate em um?! Soa falso. Seria mais honesto se eles simplesmente ganhassem pontinhos por serem amigos do Harry.
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