Quais as chances de um adolescente, invadindo o apartamento de um ermitão, dar de cara com um consagrado escritor recluso? Quais as chances deste adolescente, hoje em dia, saber o significado da palavra "escritor"? Quais as chances do adolescente, ainda por cima, gostar de ler e escrever? Quais as chances do escritor se interessar pelos rabiscos do adolescente e os dois se tornarem amigos? Na vida real, as chances são mínimas. Porém, para Hollywood, isso acontece em toda esquina.
É mais ou menos este o ponto de partida de "Encontrando Forrester", um drama improvável, embora interessante. E honesto, dentro do possível, pois ele não fica piegas no fim. Não é um "baita filme", como definiu o gerente do cinema, mas, comparando com o que andam passando por aqui no planeta, é uma obra-prima. Para a última edição do Oscar, havia duas produções (três, se contarmos "Marquês de Sade") que envolviam o duro ofício de escrever: "Garotos Incríveis" e "Encontrando Forrester". Tanto o Michael Douglas quanto o Sean Connery davam como certa uma indicação à estatueta de melhor ator, como se interpretar alguém alfabetizado já os distinguisse dos outros estetas (pensando bem...). Ambos foram esnobados pela Academia, talvez injustamente.
A verdade é que o Sean nem é o protagonista de "Forrester". Esta honra cabe a Rob Brown, que também está bem no papel do aprendiz. Anna Paquin, a garotinha de "O Piano", cresceu e virou um mulherão. F. Murray Abraham faz o vilão de sempre. E, suprema curiosidade, da série "ele tá vivo?!", quem faz o pai da Anna é o Michael Couri. Certo, talvez o nome não signifique grande coisa. Mas, se você tem mais de trinta anos, se lembrará do galã de "Flashdance". Aliás, estes que tiveram seus quinze minutos vêm sendo trazidos à tona. Não ressuscitaram até o Steven Bauer (de "Scarface" e "Ladrão de Corações") em "Traffic"?
Além do seu talento para as letras, o garoto Rob é um exímio jogador de basquete. Quando ele e um colega encestam umas cinqüenta bolas consecutivas, a gente, que não é boba nem nada, sabe que ele vai errar uma cesta no momento decisivo. Também prevemos que tudo acabará bem. O que é bastante imprevisível, e preciso revelar esta bomba aqui, é que o Rob, negro, jamais beija a Anna, branca. Tudo bem, sei que não estamos falando da vida real, mas imaginem assim, dois adolescentes com os hormônios explodindo, e tudo que o jovem casal ousa é dar-se as mãos e jogar basquete?! Os relacionamentos inter-raciais permanecem tabusérrimos no cinemão americano.
É irônico que nem um cara como o diretor Gus Van Sant, um homossexual assumido, se arrisque a romper tabus. Ainda estamos de mal com o Gus por causa da sua releitura (se podemos chamar assim uma refilmagem cena por cena de um clássico) de "Psicose". "Encontrando Forrester" tem muito de seu filme mais convencional e bem-aceito pelo público, "Gênio Indomável". Tem até o Matt Damon numa ponta como advogado.
Graças a Deus, "Forrester" não é nenhum Forrest Gump, e não menospreza a inteligência do espectador. Até nos identificamos com o filme quando o Rob humilha seu professor de literatura. Imagino que qualquer pessoa minimamente esperta já sentiu o que é saber mais que o mestre... e não poder fazer nada a respeito.
Bom, não espere enormes sutilezas deste drama. Pra começar, o personagem do escritor é francamente baseado na maior lenda viva da literatura atual, J. D. Salinger. Ele também publicou "O Apanhador no Campo de Centeio", um dos romances mais influentes do século, quando ainda era jovem e se isolou para sempre. Hollywood vive flertando com ele, que totalmente despreza a indústria do entretenimento. Os produtores não arriscam citá-lo pelo nome, pois levariam um processo no meio da testa, mas volta e meia fazem-lhe referências mil. Salinger, Forrester, até os nomes rimam. Quiçá o autor, do alto da sua solidão, não esteja ajudando um jogador de basquete a escrever direito? A gente quer acreditar que o mundo é lindo e que tudo é possível.
A verdade é que o Sean nem é o protagonista de "Forrester". Esta honra cabe a Rob Brown, que também está bem no papel do aprendiz. Anna Paquin, a garotinha de "O Piano", cresceu e virou um mulherão. F. Murray Abraham faz o vilão de sempre. E, suprema curiosidade, da série "ele tá vivo?!", quem faz o pai da Anna é o Michael Couri. Certo, talvez o nome não signifique grande coisa. Mas, se você tem mais de trinta anos, se lembrará do galã de "Flashdance". Aliás, estes que tiveram seus quinze minutos vêm sendo trazidos à tona. Não ressuscitaram até o Steven Bauer (de "Scarface" e "Ladrão de Corações") em "Traffic"?
Além do seu talento para as letras, o garoto Rob é um exímio jogador de basquete. Quando ele e um colega encestam umas cinqüenta bolas consecutivas, a gente, que não é boba nem nada, sabe que ele vai errar uma cesta no momento decisivo. Também prevemos que tudo acabará bem. O que é bastante imprevisível, e preciso revelar esta bomba aqui, é que o Rob, negro, jamais beija a Anna, branca. Tudo bem, sei que não estamos falando da vida real, mas imaginem assim, dois adolescentes com os hormônios explodindo, e tudo que o jovem casal ousa é dar-se as mãos e jogar basquete?! Os relacionamentos inter-raciais permanecem tabusérrimos no cinemão americano.
É irônico que nem um cara como o diretor Gus Van Sant, um homossexual assumido, se arrisque a romper tabus. Ainda estamos de mal com o Gus por causa da sua releitura (se podemos chamar assim uma refilmagem cena por cena de um clássico) de "Psicose". "Encontrando Forrester" tem muito de seu filme mais convencional e bem-aceito pelo público, "Gênio Indomável". Tem até o Matt Damon numa ponta como advogado.
Graças a Deus, "Forrester" não é nenhum Forrest Gump, e não menospreza a inteligência do espectador. Até nos identificamos com o filme quando o Rob humilha seu professor de literatura. Imagino que qualquer pessoa minimamente esperta já sentiu o que é saber mais que o mestre... e não poder fazer nada a respeito.
Bom, não espere enormes sutilezas deste drama. Pra começar, o personagem do escritor é francamente baseado na maior lenda viva da literatura atual, J. D. Salinger. Ele também publicou "O Apanhador no Campo de Centeio", um dos romances mais influentes do século, quando ainda era jovem e se isolou para sempre. Hollywood vive flertando com ele, que totalmente despreza a indústria do entretenimento. Os produtores não arriscam citá-lo pelo nome, pois levariam um processo no meio da testa, mas volta e meia fazem-lhe referências mil. Salinger, Forrester, até os nomes rimam. Quiçá o autor, do alto da sua solidão, não esteja ajudando um jogador de basquete a escrever direito? A gente quer acreditar que o mundo é lindo e que tudo é possível.
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