terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: VELOZES E FURIOSOS / Carrão sem motor

Fui ver “Velozes e Furiosos” porque a outra opção era um infantil que destilava ódio pelos gatos, e estou fazendo o possível e o impossível para manter minha cota de ir ao cinema uma vez por semana. Tá, a parte do velozes eu entendi; a do furiosos, não. Por que cargas d’água os adolescentes estão tão brabinhos? E por que eles têm que descontar tudo na gente, fazendo esses filmes juvenis?

“Velocípede” nem é tão ruim. Segundo o maridão, trata-se de um Mad Max sem causa. Ele amou a aventura, lembrou-se dos seus tempos de assistir racha na universidade, ficou todo nostálgico, enquanto eu olhava pra ele, incrédula. Tento compreender seu ponto de vista e relevar um eventual déficit mental – velocidade é algo essencialmente masculino, eu sei. Nós, mulheres, podemos até ter inveja do pênis, que é mesmo um órgão digno de louvor, mas pelo menos não inventamos tantos símbolos fálicos pra ele. Os homens sabem disso e, em “Ferozes”, as fêmeas não passam de objetos sexuais e troféus. Quem ganha leva.

“Vorazes” mais parece um videoclipe, um longo trailer cheio de som e fúria, significando nada. A trama já foi melhor contada em, por exemplo, “Caçadores de Emoção”, onde o detetive Keanu Reeves fingia ser surfista pra prender o ladrão de bancos parafinado Patrick Swayze. É a mesma coisa, só muda o cenário. Ao invés de pranchas de surfe, carrões envenenados. O policial infiltrado acaba se identificando com a galera. No fundo, é tudo uma desculpa para manobras radicais e closes de pneus fritando no asfalto. É uma corrida de automóveis travestida de filme, com a desvantagem de não podermos torcer pelo Schumacher.

Há baldes de defeitos. Sabe aquele filme pornô que começa direto nos finalmentes, sem o menor envolvimento? “VF” é assim. De cara, sem preliminares, surge uma perseguição automobilística. E tem um zé mané que, por qualquer motivo mal explicado, desaparece na metade do filme. Ele volta no final, só para receber um tiro e bater as botinhas. Adivinha quem são os vilões? Os orientais, claro, que americano é sempre vítima.

A respeito dos atores, pode-se afirmar que os dublês são ótimos. Que tipo de cinema acéfalo é este em que os dublês são decididamente mais importantes que os intérpretes? A Jordana Brewster, cujo único mérito é ser brasileira, é até bonitinha, mas não deu pra avaliar seus dotes de atriz. Sua participação na história se restringe a gritar “Não, Dom, não!” Há uma outra latina no elenco, uma perfeita desconhecida, e seu nome aparece antes do da Jordana nos créditos.

A gente aprende muito assistindo “Velados e Curiosos”. Uma das lições imprescindíveis é que racha não mata. Capotar vinte e cinco vezes sem usar cinto de segurança talvez cause alguns arranhões, nada que não desapareça até a próxima tomada. Bater correndo a quase 300 km por hora pode até danificar o carro, nunca o motorista. Morte mesmo, aqui, só com revólver. Disparado por orientais, aqueles maus perdedores. É possível que algum americano num caminhão descarregue armas em cima de nossos heróis, mas não vemos seu rosto. Vai ver o caminhoneiro também é japonês.

“Varizes e Furúnculos” não é exatamente uma boa influência pros adolescentes, que devem sair do cinema a mil por hora. Logo eles, tão cansados de saber que velocidade geralmente se confunde com ejaculação precoce...

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