quinta-feira, 29 de novembro de 2001

CRÍTICA: A PROMESSA / Promete e cumpre

Aproveite a maré alta. Quem diria que em pleno mês de férias da criançada haveria dois filmes adultos em cartaz? Estou falando de “Longe do Paraíso” e “A Promessa”. Vários leitores andam me escrevendo pra jurar que “Procurando Nemo” é uma maravilha, mas tenho trauma de desenho animado que todos adoram menos eu. Pensando bem, o que uma personagem diz em “Cecil Bem Demente” – que o termo “para toda família” nada mais é que um eufemismo pra censura – é pura verdade. Mas não quero polemizar. Quero é convencer você a ver “A Promessa” o quanto antes, pois duvido que ele fique mais de uma semana em cartaz.

O início traz o Jack Nicholson, um policial honesto, pronto pra se aposentar, e eu pensei, opa, tudo bem que o Jack tá velhinho, mas agora ele vai fazer papel de aposentado ganhando festa de despedida pro resto da vida? É que me lembrei do começo do excelente “As Confissões de Schmidt”. Eu nem sabia que “A Promessa” é anterior a “Confissões”. Então, acabou de acontecer um crime pavoroso na cidade onde ele mora: uma menina foi trucidada. Cabe a ele contar aos pais. A mãe da criança pede pra ele jurar que o assassino será preso. E logo aparece um suspeito, um índio com problemas mentais interpretado pelo Benicio Del Toro (“Traffic”), bem irreconhecível. Mas Jack não acredita que foi ele, e desvendar o crime será sua nova obsessão. Como não tem vida própria e nenhum outro prazer além de pescar, ele passa a investigar assassinatos parecidos e compra um posto de gasolina no meio do nada, crente que o serial killer atacará de novo por lá. Inclusive, ele faz amizade com uma garçonete que, por coincidência, tem uma filhinha que se encaixa direitinho no perfil das vítimas. Uma das coisas fascinantes do filme é que ele não deixa claro de cara se o Jack está usando a menina como isca. Ele coloca o balanço na frente do posto pra atrair os carros ou pra poder vigiar a guria, como ele alega? Quanto do que ele faz é premeditado?

Ou seja, “A Promessa” é um policial de primeira, mas não espere tiroteios, rachas de carro e explosões. Sean Penn, o diretor, se preocupa mais em desenvolver os personagens. Pessoalmente, não achei o filme lento em nenhum momento, mas imagino que tenha quem ache. Outro ponto em falta é a catarse coletiva. Não vou entregar o final, mas digamos que, pro espectador comum, acostumado a ver o herói matando o vilão de meia dúzia de formas diferentes, uma pra cada paladar, ele pode ser frustrante. Mas o que esperar de um filme tão supimpa que a gente até duvida do heroísmo do Jack?

Uma palavrinha sobre o Sean Penn. Como ator (“Os Últimos Passos de um Homem”), seu nome geralmente vem acompanhado do clichê “o melhor de sua geração”. Como diretor, esta é sua terceira tentativa – ele e o Jack já trabalharam juntos no irregular “Acerto Final”. E o Sean é tão, mas tão ousado que seu episódio em “11 de Setembro”, onde ele é o único representante americano entre os onze cineastas, consegue ser o mais ofensivo de todos. Hum, a história dele trata de um velhinho em Nova York cujo apartamento (e vida) fica muito mais iluminado após a queda das torres gêmeas. Não sei como o Sean ainda não foi expulso dos EUA. Eu me recordo dele na década de 80, já com uma super reputação como ator, mas com a vida em frangalhos por causa do escândalo que foi o casamento dele com a Madonna. Ele se separou, casou com a Robin Wright (de “Forest Gump”, que em “A Promessa” faz a garçonete 100% sem glamour), teve uma penca de filhos, e despontou como diretor com fama de auteur. Agora todo mundo quer trabalhar pra ele de graça. Aqui, Aaron Eckhart, Vanessa Redgrave e Mickey Rourke (sim, ele vive!) dão uma canjinha. Nada mal pro Sean, que em sua época de astro dos tablóides era mais conhecido por bater nos paparazzi. Minhas dúvidas cruéis são duas: por que um filme bom assim como “A Promessa” foi ignorado pelo Oscar? Por que ele só chega aqui dois anos após seu lançamento, se qualquer terrorzinho de quinta ganha distribuição imediata? Vai entender...

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