terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: QUERIDINHOS DA AMÉRICA / A América já foi mais querida

A última moda em Hollywood deve ser zoofilia. O trailer já apresentava uma comédia que não verei nem morta sobre um sujeito interessado em transar com animais. Em “Queridinhos da América”, um doberman, coitado, lambe o Billy Crystal naquele lugar. Cadê as associações protetoras dos animais? Até acho engraçadinho o Billy chamar o cão de nazista, mas eu conseguiria sobreviver sem a parte do sexo oral. Há várias outras piadas em “Q.A.” que enfocam o pênis. Tantas que talvez um nome mais adequado pro filme fosse o Queridinho da América. Tem espinhos de cacto na calça, gozações sobre tamanho... É totalmente falocêntrico. Vamos torcer para que Billy, o roteirista, supere seu problema eréctil e volte a fazer sexo logo, para que pare de fazer pilhéria sobre sexo.

O maior culpado por “Q.A.” ser uma estupidez é ele. Tanto como ator, que mais parece uma tia velha, um coadjuvante constrangido, quanto como roteirista. Tudo é previsível. Eu só tinha visto algum brilhantismo no Billy em “Harry e Sally” e nas apresentações do Oscar. Aqui, porém, ele decepciona 100%. Observe a história criativa que ele inventou: um assessor de imprensa precisa juntar um casal de estrelas separado recentemente para o lançamento de um filme. A irmã da vedete é apaixonada pelo galã. Desde o comecinho, dá pra notar que Billy errou a mão, pois todas as paródias falham em fazer rir. Ahn, isto pro público em geral, porque sentado perto de mim, lá estava o sonho dos estúdios. Este espectador alegre quase valeu o ingresso. Ele gargalhava de tudo. A platéia só muito raramente dava o ar de sua graça, nas cenas mais pastelão, mas não este elemento. Ele entendia todas as piadas, e sua risada alta e prolongada ecoava na sala. Tem uma seqüência em que os atores fazem “uh!” para algum insulto sobre tamanho do pênis, e este cara também soltou um “uh!” na hora certa. Exija um sujeito desses nas comédias que assistir. Se os States se preocupassem conosco, eles providenciariam um para todas as sessões.

A crítica especializada se apressou em explicar que “Chatinhos da América” satiriza os “junkets”, os eventos montados para a divulgação de um filme, quando jornalistas entrevistam os astros. Não é bem assim. Fala mais da vida íntima das celebridades e de como as aparências enganam – um tema que já foi melhor explorado em, por exemplo, “Cantando na Chuva”. Inclusive, o tema dos junkets é infinitamente mais divertido em “Um Lugar Chamado Notting Hill”, com a mesma Julia Roberts, mais a presença carismática do Hugh Grant.

Aliás, ainda bem que a Julia trocou seu papel em “Nojentinhos da América”. Seria embaraçoso se ela interpretasse a estrela, e Catherine Zeta-Jones, sua irmã patinho-feio. Desconfio que, se este fosse o caso, a Catherine não seria convocada. Ela é evidentemente mais bonita que a Miss Sorriso. Deu até pena da Julia. Estou pensando em escrever pra ela, pra levantar o astral: “Julinha, apesar da Catherine colocar você no chinelo, você não é má atriz.” Mas que não dá pra entender porque o fofo do John Cusack troca a Catherine pela Julia, isso não dá mesmo. Ambas são curtas das idéias.

Existe UM diálogo risível em “Enjoadinhos da América”, quando um assessor demonstra não ter a mínima idéia de quem foi Audrey Hepburn, e Billy lhe aconselha a não contar pra ninguém que trabalha com cinema. O espectador alegre aprovou esta piada. Vale um selinho de qualidade?

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