terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: OS OUTROS / O inferno são os outros

Uma bela mulher sozinha numa mansão com um par de filhos, dois empregados idosos e uma muda, enfrentando a perspectiva de nunca mais fazer sexo pelo resto de sua vida. Pois é, é este o enredo de terror de “Os Outros”. Só a sinopse já assusta, certo? O filme é um ótimo programa pra se celebrar o Dia das Bruxas. Opa! Sempre esqueço que não devemos, de maneira alguma, mencionar o Halloween, que, afinal, como todos sabem, faz parte da estratégia imperialista ianque de dominar culturalmente o planeta. Desculpa, foi mal aí.

“Os Outros” funciona muito bem na primeira meia hora. A platéia inteira calada, gelada, antevendo o pior. Depois, o pior não chega, mas a maionese desanda. A prova disso é que o distinto público começou a emitir risadinhas nervosas. Quebra-se o encanto e o ritmo, apesar de ser um horror que vale a pena ser visto. A história é mais ou menos a que descrevi acima, com alguns agravantes. Estamos em 1945, no fim da guerra. A neblina cobre todo o lugar. A casa, como não poderia deixar de ser, é mal assombrada. As crianças são bastante insuportáveis e, além de sofrerem da velha síndrome de “I see dead people”, também conhecida como “Ah, se deu certo com O Sexto Sentido, vamos imitar, ueba”, sofrem de uma doença rara. Se forem expostas à luz, sua pele se encherá de bolhas e elas morrerão sufocadas, algo assim. Esta expectativa, pra mim, é o grande achado do filme. Por isso que, no final, quando isso não ocorre, ficamos com um gostinho anti-climático. Há uma sub-trama no meio, do marido que volta da guerra, que não diz a que veio. O que só vem corroborar minha tese de que homem não faz falta nenhuma mesmo. Quer dizer, se ao menos fosse o Tom Cruise, o produtor do filme, dando uma canjinha... “Os Outros” marca a última parceria entre o Mr. Sorriso e a Sra. Nicole Kidman. Espero, do fundo do coração, que isto não signifique que teremos uma enxurrada de produções com a Penélope Cruz.

Enquanto assistia ao filme e via os três serviçais parodiando, ao que parece não intencionalmente, “A Volta dos Mortos Vivos”, não pude parar de pensar em como está difícil de se conseguir bons empregados hoje em dia. Também me passaram pela cabecinha dois filmes mais interessantes, “Beetlejuice, Os Fantasmas se Divertem” e “Os Inocentes”, de 61, baseado no romance de Henry James. Este último é igualzinho, só que com um clima mais opressivo ainda. Outro pensamento que dominava minha mente era o fator cão. Explico. Se Dona Nicole tivesse um cachorro na mansão, não teria metade dos problemas. Certamente, um totó seria capaz de farejar os plufts. Digo isso por experiência própria. Meu gatinho enterrou uma lagartixa morta embaixo da estante e meu cachorrinho não parou de gemer até encontrá-la. Esta é uma prova irrefutável da importância canina, principalmente em situações de pânico. Ademais, sempre que ouvirmos passos ou portas fechando, podemos acusar o cãozinho: foi ele! Isso sem falar no xixi que será usado como rastro. Se os fantasmas pisarem no líquido amarelo, eles deixarão pegadas? Talvez não, mas aposto como hesitarão em permanecer assombrando a casa.

Acho fundamental acrescentar que “Os Outros” foi dirigido e escrito por um chileno, embora eu não tenha a menor idéia de quem seja. Aliás, você constatará nos créditos que todo o staff é hispânico, o que não deixa de ser motivo de orgulho pra nós, cucarachas. Não vejo tal hegemonia na ficha de produção desde “Nova York, Cidade Sitiada”, aquele filme racista onde os muçulmanos são colocados em campos de concentração. Lembra dos créditos finais? Só dava sobrenome judeu.

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