terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: ONZE HOMENS E UM SEGREDO / Vamos roubar uns cassininhos?

É meio difícil não gostar de “Onze Homens e Um Segredo”, ainda mais se alguns desses onze homens incluem George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon. O segredo é que o filme é altamente olvidável. Assisti à aventura dois dias atrás e já me esqueci. Acho que tinha algo a ver com um assalto a três cassinos. Ah, é isso. Las Vegas. Luxo. Garanhões se passando por ladrões. Julia Roberts numa pontinha. Diretor conceituado procurando descolar uma grana fácil. George e Brad num elevador. Recordo-me mais da piadinha da minha ídola, a crítica Libby Gelman-Waxner (“gostaria que este elevador parasse no meu andar”) do que do filme propriamente dito.

Mas tudo bem. Pouco a pouco as memórias voltam. “Onze Homões” é uma refilmagem de uma produção de 1960 que nunca vi. O original não é um clássico por ser velhinho. Embora medíocre, reunia Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr e mais uma turma aí da qual você provavelmente nunca viu mais gorda se tiver menos de trinta anos. Esta galera animada que adorava transar, beber, jogar (e cantar nas horas vagas), foi apelidada de “Rat Pack”. Eles tinham pressa pra encerrar o trabalho e se dedicar à diversão, e isso se nota nas atuações. Ah, o importante é que os astros se divirtam. Ganhar bem não é suficiente. Tem que se gostar do que faz. Aí você lê as entrevistas pra imprensa do George e percebe que o bonitão não quis apenas refilmar uma obra, mas um estilo de vida. Fico até comovida.

Se o “Onze Homens” de 60 trazia o Rat Pack, o de hoje juntou um Cat Pack (pacote de gatões). O problema é que os personagens são ralinhos e ninguém tem muito que fazer. O George sai da prisão disposto a cometer um roubo gigante pra tirar uns trocados e, unindo o útil ao agradável, vingar-se do milionário que lhe furtou a esposa. Este milionário é o dono do cassino, ou dos cassinos, sei lá, dizem que são três, pra mim todo cassino é idêntico, e filmes assim só consolidam minha posição contra a regulamentação do jogo no Brasil. Fugi do assunto! Então, o dono é o Andy Garcia, bem no estilo “Chefão 3”, e ele é o único com a mínima profundidade. Rouba o filme. A mulher dele é a Julia, que, como não sorri, nem bonita está. E não espere faíscas saindo das cenas entre ela e o George. Tá mais pra cubos de gelo.

Tem também o Brad Pitt, que ao menos recebeu a parte mais engraçada do negócio, logo no começo, durante um jogo de pôquer. Pena que seja tão pouquinho. Pois é, “Onze” não tem graça. Mas o Brad... Ele está cada vez mais a cara do Robert Redford. O George tem razão em reclamar nas entrevistas: apesar d’ele ser só uns dois anos mais velho que o Brad, ele parece ter 45 anos, e o Brad, 25. Claro que eu jamais discriminaria alguém pela idade. Ficaria com ambos, sabe, pra não ferir os sentimentos de ninguém. Bem, o título verdadeiro é “Ocean’s Eleven”, já que o protagonista é o George, que recebe o sobrenome Oceano. São os onze do Oceano. É um nome conveniente, se bem que “Terremoto” é mais realista quando penso no que o George faz com as minhas estruturas.

“Os Doze Condenados” não explica como a gangue chega a um golpe tão elaborado. Parece tudo um passeio. “Cartada Final” é mais didático. Tem uma hora que eles jogam um baratinho do lado dos guardas, fecham a porta, e segundos depois, os guardas estão desmaiados. Custava explicar como isso funciona?! Onde posso conseguir um? Gostaria de usá-lo no meu banheiro, pra acabar com as baratas.

O assalto renderá ao grupo US$ 150 milhões. Não é um valor que me impressiona, considerando que “Doze Homens e uma Sentença” custou 90 milhões, ou que o salário da Julia esteja nos 20. Não neste filme, claro, onde ela fez um abatimento pra trabalhar com seu diretor preferido. O Soderbergh lhe deu um Oscar por “Erin Brockovich” e proporcionou ao George seu melhor veículo, “Irresistível Paixão”. Ou seja, é uma boa alma. Mas “Onze” não é grande coisa. Aliás, quase termina numa cópia de “Manhattan”, trocando a NY ao som de “Rhapsody in Blue” por Vegas ao som de Debussy. Deve ser uma homenagem. Como dizia minha outra ídola, Pauline Kael, “homenagem é o plágio que os advogados não levam ao tribunal”.

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