terça-feira, 27 de novembro de 2001

CRÍTICA: VIDA BANDIDA / Colcha de retalhos bandida

Joinville, sábado à tarde. Estão exibindo “Independence Day” na televisão. O maridão assiste. Pedi a ele que me chamasse quando explodissem a Casa Branca. Ainda não fui ver “Harry Potter”, mas desconfio que desta semana não passa. Compareci, no entanto, à estréia de “Vida Bandida” que, ao contrário do que dizem as más línguas, não serve como título da minha biografia.

Gostei do filme. Meu maridão afirma que eu estava fora de si, então minha opinião não conta. Consta que passei mal durante a projeção. Meu fígado não existe mais. Não foi bebida. Foi chocolate mesmo. Mas vamos ao pouco que me lembro de “Bandida”. Era com o Bruce Willis, disso tenho quase certeza. Ele estava bem charmoso. Talvez eu estivesse alucinando, mas tenho a impressão que ele usava uma peruca estranha, com pouco cabelo em cima e um monte embaixo. Tinha também o Billy Bob Thornton, o esposo da Angelina Jolie. Ela o considera o homem mais sexy do mundo. Meio difícil compartilhar desta convicção. Fiquei procurando o vidrinho com sangue dela que ele usa no pescoço, mas não encontrei. Estas criaturas são um tanto exóticas. Se não fossem ricas, diria que são loucas.

Continuando, o Bruce e o Bob fazem dois assaltantes de banco super bem sucedidos. Eles roubam tudo só com um sorriso, sem nunca disparar um tiro. Parecia que as vítimas tinham o maior prazer em ser larapiadas. No momento, dada a confusão mental, não me recordo com exatidão das últimas tungadas que sofri em SP, mas “felicidade” não é a palavra que vem à tona. Quiçá porque nenhum dos trombadinhas fosse similar ao Bruce. Bom, a dupla dinâmica rapa tantos bancos que deve ter acumulado fortuna próxima à do Amador Aguiar. Porém, o safadinho do Bruce gasta US$ 200 mil em uma noitada, ou coisa do gênero. E assim eles não conseguem realizar a fantasia de ir pra Acapulco abrir um hotel. Em “Um Sonho de Liberdade”, se não me engano, nossos presidiários heróis também queriam morar no Caribe. Até aí, tudo bem. Deve ser um sonho coletivo.

Aí eles esbarram numa ruiva, interpretada pela Cate Blanchett (de “Elizabeth” e “O Dom da Premonição”). Impossível não gostar da Cate. Ela é mais doidinha que a Bárbara Paz. Como que a gente sabe? Porque sua primeira tomada mostra alguns minutos da sua cabeça dentro da geladeira, com a luz azulada. Em seguida, ela dança “I need a hero” (“Preciso de um herói”) enquanto cozinha. É a deixa pra entrada do Bruce. Ela começa a acompanhá-los em seus assaltinhos. Sem querer, envolve-se com o Bob também. Os dois companheiros se enciumam. A moça decide ser incapaz de decidir. Ficará com os dois; logo, com nenhum. Se Hollywood não fosse tão conservadora, mostraria um ménage-à-trois bem interessante. Mas não. Depois desta opção, a Cate não dá nem mais beijinho de boa noite nos carinhas. Ué. Qual a vantagem de sair com o Bruce se não pra aproveitar os abdominais dele? Por essas e outras, “Bandida” tem um quê de “Butch Cassidy”. Eu preferia o Paul Newman e o Robert Redford, mas cada época merece os astros que tem, né?

Se não me falha a memória, no final o filme apela para “Golpe de Mestre”. Mas sua maior “inspiração” é “Bonnie & Clyde, Uma Rajada de Balas”. Assim como os bandidões da depressão, esta dupla também é amada pelo grande público. Aposto como não foi coincidência o cúmplice motorista de carro se chamar Pollard. Adivinha quem mais era Pollard? O cúmplice motorista de carro de “Rajada”, feito pelo ator Michael J. Pollard. Homenagem? Plágio descarado? Depende do ponto de vista.

Antes de bater minhas botinhas, declaro que meu roubo a banco favorito está em “Não Tenho Troco”, onde o Bill Murray se veste de palhaço, num arroubo para escapar do seu physique-du-rôle. Até nisso “Vida Bandida” pega sua caroninha. Não importa; ainda assim é uma colcha de retalhos legal. Acabou “Independence Day”. O maridão vem avisar que ganhamos.

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