Até agora não ouvi uma só alma falar algo positivo de "60 Segundos", mas as filas e as salas lotadas dão a impressão de que, mais uma vez, posso estar errada. Talvez este simplesmente não seja meu estilo - eu que tenho dificuldades em diferenciar um Fusca de um ônibus. Pode ser que "60 Segundos" seja um representante maravilhoso do (acéfalo) cinema de ação. Ou vai ver que a gente se divertiria mais em um ferro velho, assistindo desmanche de carro.
Pra mim, "60 Segundos" é sério candidato a pior filme do ano. Lembra de como todo mundo abominou "A Praia"? Bom, em retrospecto, até que aquela bobagem com Leo tinha suas qualidades. "60 Segundos" não tem nada que preste. A estória lida com a lenda do melhor ladrão de carros de todos os tempos, "interpretado" (na falta de outra palavra) por Nicolas Cage, que deve abandonar temporariamente sua aposentadoria e roubar 50 automóveis de luxo em 72 horas para salvar o irmão.
Geralmente, quando um filme é muito ruim mas os críticos não querem arrasar com ele e perturbar os anunciantes, eles elogiam a linguagem das histórias em quadrinhos. Desta vez, nem isso pode ser louvado. "60 Segundos" mostra um árduo duelo entre atuações e diálogos, ambos risivelmente tenebrosos. Liderando a trupe, o cada vez mais cara-de-pedra Nicolas Cage, que não deve estar exatamente prendendo a respiração à espera de seu segundo Oscar. Pobre Cage. Será que ele não tem agente que leia os roteiros pra ele? Angelina Jolie é a moça do filme. Como este não é um programa pramulheres, ela faz apenas uma ponta. Por exemplo, ela passa batom em uma das cenas. Em outra, um rapaz diz que ela é sexy. E há duas piadinhas explorando o lado bissexual da atriz. Numa delas, ela olha para Ferraris e dispara, "Sou louca por estas ruivas." Entendeu? Não é hilário? Já não vale o ingresso?
Quanto aos diálogos, "infames" é uma definição delicada. O filme todo gira em torno de vinhetas. São esquetes praticamente sem conexão entre si. Parece que os roteiristas pensaram nas gags e tentaram criar uma trama em volta delas, aproveitando as linhas gerais de um filme B dos anos 70. Assim, o vilão ser fascinado por madeira só serve para que o herói possa pronunciar uma fala com duplo sentido, "oh, você gosta de madeira" (wood é também gíria para órgão sexual masculino). E, ficando nos malvados, apesar de todas as explosões, perseguições e atropelamentos, quem você acha que é a única vítima fatal de "60 Segundos" (além de você, caro espectador)? O vilão, dããã.
Se este filmeco durasse 60 segundos, já seria longo demais. Mas ele insiste em se prolongar ad eternum e ad nauseum e, para isso, recheia os fotogramas com rachas e dublês. Tem perseguição em marcha a ré, ora ora. Mas o público racha o bico mesmo quando o carro do protagonista passa por uma rampa numa ponte e voa por cima de dezenas de automóveis.
Essa fixação toda por carros não é coisa de mulher, que tem inclusive problemas para estacioná-los. "60 Segundos" é filme pra macho que não esqueceu a infância e exibe seus grandes brinquedos; pra essa garotada que mede potência através de velocidade, o que invariavelmente acaba em ejaculação precoce. Se você é mulher e acha que transar dentro de um carro é bastante broxante, experimente com um cara buzinando partes automobilísticas no seu ouvido. Juro que o Nicolas faz isso com a Angelina no único momento romântico do filme.
Felizmente, um dia "60 Segundos" termina. Você nota que a verba da produção chegou ao fim quando o protagonista quebra o espelho retrovisor de seu carrão roubado. Em seguida, como que para nos assegurar que o orçamento já deu o que tinha que dar, nosso herói destrói uma cadeira. É o fim, louvado seja.
Todo o desastre que é "60 Segundos" pode ser evitado observando o currículo do produtor. Bruckheimer é especialista em bombas cinematográficas de enorme alcance quanto ao público, casos de "Ases Indomáveis" e "Armageddon". Comparado a ele, ladrão de carro leva jeito de profissão de gente de bem. Tomara que "60 Segundos" siga seu título original e desapareça em 60 segundos. Ou menos, se possível.
Geralmente, quando um filme é muito ruim mas os críticos não querem arrasar com ele e perturbar os anunciantes, eles elogiam a linguagem das histórias em quadrinhos. Desta vez, nem isso pode ser louvado. "60 Segundos" mostra um árduo duelo entre atuações e diálogos, ambos risivelmente tenebrosos. Liderando a trupe, o cada vez mais cara-de-pedra Nicolas Cage, que não deve estar exatamente prendendo a respiração à espera de seu segundo Oscar. Pobre Cage. Será que ele não tem agente que leia os roteiros pra ele? Angelina Jolie é a moça do filme. Como este não é um programa pramulheres, ela faz apenas uma ponta. Por exemplo, ela passa batom em uma das cenas. Em outra, um rapaz diz que ela é sexy. E há duas piadinhas explorando o lado bissexual da atriz. Numa delas, ela olha para Ferraris e dispara, "Sou louca por estas ruivas." Entendeu? Não é hilário? Já não vale o ingresso?
Quanto aos diálogos, "infames" é uma definição delicada. O filme todo gira em torno de vinhetas. São esquetes praticamente sem conexão entre si. Parece que os roteiristas pensaram nas gags e tentaram criar uma trama em volta delas, aproveitando as linhas gerais de um filme B dos anos 70. Assim, o vilão ser fascinado por madeira só serve para que o herói possa pronunciar uma fala com duplo sentido, "oh, você gosta de madeira" (wood é também gíria para órgão sexual masculino). E, ficando nos malvados, apesar de todas as explosões, perseguições e atropelamentos, quem você acha que é a única vítima fatal de "60 Segundos" (além de você, caro espectador)? O vilão, dããã.
Se este filmeco durasse 60 segundos, já seria longo demais. Mas ele insiste em se prolongar ad eternum e ad nauseum e, para isso, recheia os fotogramas com rachas e dublês. Tem perseguição em marcha a ré, ora ora. Mas o público racha o bico mesmo quando o carro do protagonista passa por uma rampa numa ponte e voa por cima de dezenas de automóveis.
Essa fixação toda por carros não é coisa de mulher, que tem inclusive problemas para estacioná-los. "60 Segundos" é filme pra macho que não esqueceu a infância e exibe seus grandes brinquedos; pra essa garotada que mede potência através de velocidade, o que invariavelmente acaba em ejaculação precoce. Se você é mulher e acha que transar dentro de um carro é bastante broxante, experimente com um cara buzinando partes automobilísticas no seu ouvido. Juro que o Nicolas faz isso com a Angelina no único momento romântico do filme.
Felizmente, um dia "60 Segundos" termina. Você nota que a verba da produção chegou ao fim quando o protagonista quebra o espelho retrovisor de seu carrão roubado. Em seguida, como que para nos assegurar que o orçamento já deu o que tinha que dar, nosso herói destrói uma cadeira. É o fim, louvado seja.
Todo o desastre que é "60 Segundos" pode ser evitado observando o currículo do produtor. Bruckheimer é especialista em bombas cinematográficas de enorme alcance quanto ao público, casos de "Ases Indomáveis" e "Armageddon". Comparado a ele, ladrão de carro leva jeito de profissão de gente de bem. Tomara que "60 Segundos" siga seu título original e desapareça em 60 segundos. Ou menos, se possível.
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