Vitor tem 21 anos, mora em MG, é graduando em Publicidade e Propaganda, e trabalha em uma agência como redator e social media, além de ser colaborador do blog Weird Fishes, onde escreve sobre o cenário da cultura pop e underground de Belo Horizonte.
Ele me enviou esta crítica sobre um filme que ainda não vi, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (trailer aqui), baseado no curta que eu (e um montão de gente) vi e recomendo.
Hoje eu quero voltar sozinho, que venceu o prêmio da crítica no Festival de Berlim, estreou recentemente em 140 salas de todo o Brasil.
O longa é um encontro com a tolerância e a descoberta de uma realidade muito próxima a de qualquer um de nós. A história de Leonardo, um adolescente cego que busca pelo seu lugar e descobre sentimentos até então desconhecidos, é a representação de uma fase importantíssima na vida dos jovens, hoje despercebida devido à crença de que a felicidade é um direito e não uma consequência.
A narrativa retratada atualmente nos cinemas está na cabeça das pessoas desde 2010, quando Daniel Ribeiro, já premiado em Berlim pelo curta Café com Leite, resolveu fazer um curta-metragem, devido à dificuldade em financiar um longa, apresentando os seus personagens e contando a história de Eu não quero voltar sozinho, que somou mais de 3 milhões de visualizações no Youtube. A popularidade da história na rede social não é por acaso.
Ainda que o tema retratado pelo curta fosse categorizado, na época, como representativo para a “minoria”, a internet já contava com mais de 1,97 bilhões de usuários no mundo, sendo 204,7 milhões só na América Latina.
Diferente do curta, o longa não trata apenas da descoberta e construção da sexualidade, mas também de desbravar as relações com a família e com o mundo. De maneira profunda e carismática, nossas certezas e expectativas se misturam com as dos personagens Leonardo (Guilherme Lobo), Giovana (Tess Amorim) e Gabriel (Fabio Audi), que permeiam o roteiro como um reflexo de todos nós, tornando o discurso real e palpável, de maneira que se torna essencial tal experimentação para qualquer idade.
Com mais tempo e recurso, era evidente que seria necessário explorar com a mesma sensibilidade presente no curta, todas as nuances que envolvem a sexualidade dos jovens e as dificuldades de uma pessoa cega na luta pela sua independência. E isso, apesar de um detalhe ou outro, é feito.
Com uma pegada leve, o longa trata sobre bullying e homossexualidade de maneira atual e sem exageros, fazendo com que o telespectador, sem forçar a barra, reflita sobre o seu posicionamento perante as mudanças da própria sociedade.
É através das expressões com intensidade entre Leonardo e Gabriel, que descobrimos que é preciso coragem para ultrapassar a barreira do cinema em busca de uma realidade com mais compreensão, liberdade e amor. Ao olhar atentamente para as pessoas presentes na sala de cinema, percebo o espanto, a felicidade e a aceitação gerados pelo amadurecimento do curta para o longa – não apenas no roteiro e nos personagens – é algo muito mais particular.
Depois do êxtase, quando as luzes se acendem, o contato com o mundo mudou. Percebemos que somos pouco diferentes de Leonardo, que com olhos repletos de curiosidade, soube dar novas cores a um mundo tão cinzento.