encontrei seu blog através de um compartilhamento no Facebook às 13h38, segundo o histórico do Chrome, e sete horas depois, com uma interrupçãozinha pro lanche da tarde, sigo nos seus posts, morrendo de identificação com tudo.
Posts sobre bullying: aquela vez em que eu caminhava sozinha para a academia e passaram por mim dois guris. Antes de passarem por mim, um deles disse "Tá bem, hein". Nem olhei e segui meu caminho com os olhos no chão adiante de mim. Dois passos depois, ouço às minhas costas: "Bem gorda!" Nunca os tinha visto. Nunca tinha feito nada contra eles. Depois, naquele dia, me perguntei por que não virei e perguntei: que foi que eu te fiz? Pra que essa agressão gratuita? Não, fiquei calada, e eu que sou uma desmemoriada de marca maior lembro até hoje dessa cena. Entre tantas.
Post sobre ser vítima consciente desse padrãozinho estreito de beleza: minha redução nos seios pós-super-emagrecimento, que me permitiu olhar para eles novamente sem desgosto. Eram feios? Eu sinceramente os acho mais bonitos agora, menos caídos, mesmo com as cicatrizes. Será que é legítimo o meu senso estético? Até onde eu tenho um gosto, e até onde o meu gosto foi implantado na minha cabeça?
Post da ex-modelo contando o que tinha por trás da vida de glamour: meu último ano e meio, finalmente mantendo um peso aceitável e estável, mas às custas de trocar refeições por doce, já que do doce em quantidades anormais eu ainda não consigo abdicar. Minha luta atual por comer melhor, nutricionista e psicóloga iniciadas na semana passada. Horas e horas lendo e tentando me convencer de que é mais importante buscar ser saudável do que estar com um peso razoável. Bonita pra quem? Eu que nem vítima de moda nem nada do tipo sou. Trabalho de tênis e não uso maquiagem.
Direciono minha vida para a simplicidade, quero valer a pena por dentro, ser uma pessoa decente de sentimentos e valores, e é isso o que eu valorizo nos outros. Por que raios eu preciso me torturar tanto por um peito caído, por manchinhas no rosto, por furos na bunda? Queria poder sentir no meu emocional a tranquilidade e a segurança das minhas racionalizações sobre o assunto.
Direciono minha vida para a simplicidade, quero valer a pena por dentro, ser uma pessoa decente de sentimentos e valores, e é isso o que eu valorizo nos outros. Por que raios eu preciso me torturar tanto por um peito caído, por manchinhas no rosto, por furos na bunda? Queria poder sentir no meu emocional a tranquilidade e a segurança das minhas racionalizações sobre o assunto.
Post da invisibilidade: desde que passei de uma adolescente normal pra uma adolescente gorda, aos 17 anos, na primeira das minhas intermináveis idas e vindas na balança, eu pensava que bom mesmo deve ser estar velhinha, quando ninguém mais tem expectativas de aparência sobre nós. Nem adianta mais ter 40 ou 50: a mídia vive dizendo que essas ainda são idades em que com força de vontade dá pra estar com tudo no lugar, inteiraça, nem-se-diz-que-tem-essa-idade. "Puxa, Fulana envelheceu muito mal, a cara parece um campo arado".
Saco, será que vou ter que esperar os 60, 70? Pra poder ser gentil, humana, solidária com um homem sem que ele ache que estou dando mole? Enquanto eu estiver "inteira", tenho que me defender dos jugamentos, dos assédios. Paraíso são os 80 e a aura de imaterialidade dos velhinhos.
Saco, será que vou ter que esperar os 60, 70? Pra poder ser gentil, humana, solidária com um homem sem que ele ache que estou dando mole? Enquanto eu estiver "inteira", tenho que me defender dos jugamentos, dos assédios. Paraíso são os 80 e a aura de imaterialidade dos velhinhos.
Post sobre condicionamentos familiares: eu sentada em uma sala de reunião dos Comedores Compulsivos Anônimos (grupo de mútua ajuda de 12 passos, como o Alcoólicos Anônimos), com uns 10 anos de idade, levada contra a vontade pela minha mãe, que além de me arrastar até lá, me pressionava a dar depoimento, desconsiderando minha timidez e a tortura que era ter que inventar o que dizer para aquelas pessoas. Antes disso, ela me levava no Vigilantes do Peso.
Me criou me fazendo acreditar que eu era gorda, sentindo asco de gente gorda, inclusive dela própria. Na porta da geladeira tinha adesivos que diziam "Tenha força de vontade", "Lembre do seu regime". E eu nem era gorda, ainda -- mas isso só fui saber dezenas de quilos depois. Não me ressinto dela, pois sei que ela foi e é presa do meu mesmo condicionamento, mas penso que com todas as minhas forças não posso deixar transparecer esse sofrimento se eu tiver uma filha.
Me criou me fazendo acreditar que eu era gorda, sentindo asco de gente gorda, inclusive dela própria. Na porta da geladeira tinha adesivos que diziam "Tenha força de vontade", "Lembre do seu regime". E eu nem era gorda, ainda -- mas isso só fui saber dezenas de quilos depois. Não me ressinto dela, pois sei que ela foi e é presa do meu mesmo condicionamento, mas penso que com todas as minhas forças não posso deixar transparecer esse sofrimento se eu tiver uma filha.
Post sobre como conviver com os familiares machistas: meu marido querido, criatura tão sem vícios, não entende nada de autoboicote e por dentro deve pensar que estou catando pelo em ovo indo atrás de psicóloga. Meu marido que quer loucamente ser pai daqui a algum tempo e que acha bonito mulher gostosa como a TV mostra. Não que ele seja uma pessoa superficial, longe disso; mas fala que se cuidar no exterior também faz parte do amor-próprio, e que sem amor-próprio ninguém vai conseguir nos amar.
Entendo o raciocínio dele, mas com minha autoestima minguada fico pensando o que exatamente eu vou achar do meu corpo depois de uns filhos, e consequentemente o que ele vai achar. O óbvio é que preciso urgentemente me amar de verdade, irredutivelmente, inquebrantavelmente, como estou hoje e com qualquer corpo que o futuro me reserve! Quero sempre ser uma amante nua e sorridente (qual foi o post em que li isso?), e não ficar pensando que, vixi, essa posição faz minha perna virar pura celulite e meu braço balançar. É ridículo pensar nisso fazendo sexo! Não deixo de curtir muito, mas sei que curtiria mais ainda se não fossem esses pensamentos bestas se infiltrando feito guerrilha na minha cabeça.
Entendo o raciocínio dele, mas com minha autoestima minguada fico pensando o que exatamente eu vou achar do meu corpo depois de uns filhos, e consequentemente o que ele vai achar. O óbvio é que preciso urgentemente me amar de verdade, irredutivelmente, inquebrantavelmente, como estou hoje e com qualquer corpo que o futuro me reserve! Quero sempre ser uma amante nua e sorridente (qual foi o post em que li isso?), e não ficar pensando que, vixi, essa posição faz minha perna virar pura celulite e meu braço balançar. É ridículo pensar nisso fazendo sexo! Não deixo de curtir muito, mas sei que curtiria mais ainda se não fossem esses pensamentos bestas se infiltrando feito guerrilha na minha cabeça.
Eu poderia aumentar a lista de reminiscências dessa tarde indeterminadamente, não fosse uma festinha de aniversário daqui a pouco.
Você fez o meu sábado, estou me sentindo como se tivesse passado a tarde trocando ideias com uma amiga muito, muito próxima... com aquele sentimento bom de não se estar sozinha no mundo.
11 comentários:
Foi na internet que eu também descobri que não estou sozinha, sempre achei que estava, que era a esquisita que queria ser aparecer não sendo que nem todo mundo.
Vai na festinha e come muito brigadeiro pq vc é linda anyway. :3
Eu tenho facilidade para ganhar e perder peso, vendo isso, eu pensei o que eu poderia fazer de "útil"... sempre soube que IMPLICITAMENTE TODAS AS PESSOAS SÃO PRECONCEITUOSAS, INCLUSIVE AS PESSOAS QUE SOFREM PRECONCEITO.
Eu engordei uns 7kg, e já comecei escutar piadinha até de pessoas ACIMA DO PESO.
Estamos todas no mesmo barco... bom saber que temos companhia para mudar o mundo.
Descobri recentemente o movimento das Crespas e Cacheadas e estou em transição rumo à liberdade de ser como sou, de cuidar do cabelo que tenho sem progressiva, de me aceitar por completo.
Fê, boa sorte na caminhada. Beijas de luz.
Só pra deixar muitas beijas pra todas vcs
Processo de auto aceitação e mandar as pessoas a merda é um caminho longo , mas vale a pena eu já me aceitei muito e me julgo bem menos
Gostaria de ouvir a opinião da Lola sobre as recentes declarações da Dilma aos evangélicos e das edições fa Wikipedia feitas de computadores do planalto. Me decepcionei muito com o governo e estou pensando duas vezes em votar na Dilma
Lola,
Eu gostaria de saber sua opinião sobre pornografia.
Fiquei sabendo que já faz algum tempo que a Comunidade de Sedução vem assumindo um caráter anti pornografia e incentivando seus membros a deixarem de assistir pornô pois ele cria expectativas irrealistas do que é uma relação sexual normal e pode ser tornar um vício para alguns homens.
Por isso quero saber qual o seu posicionamento quanto a pornografia, pois sei que é um assunto polêmico entre feministas com algumas dizendo que a indústria é empoderadora das mulheres sendo um reflexo de sua liberdade sexual, enquanto outras a considera degradante às mulheres.
Nossa. Minha mãe fez da minha vida um inferno por um bom tempo.
Eu na realidade fui uma criança magra. Na infância sofri abuso sexual sogro da minha tia, meus pais logicamente me protegeram, mas a família da minha mãe nunca acreditou e mais tarde faziam pescariam e festas com o sujeito. Isso me tornou ansiosa e alem de tudo era asmática, e na minha infância não se utilizava cortiesteroides para tratamento, mas aos 12 eu comecei a usar. A quem usa sabe a forma ANIMAL que ele dá, e fora que seu corpo incha.Foi horrível.
Apesar de no começo não ter engordado tanto, minha mãe começou com um terrorismo primeiramente sútil, um " ai filha, vamos comer salada hoje porque é melhor". Outro " Filha, vamos para de comer doce, juntas". Minha mãe era magra. Nunca precisou. Mas fazia como modo de me convencer.
Com 15 anos, eu ainda não era tão alta como sou, mas já estava mais pesada.Então até meu pai e o aquela família ( que havia me negado atendimento na infância) partia para cima de mim. " Você é tão linda, devia emagrecer".
Eu era retraída devido ao abuso, então nunca tinha beijado, namorado. E isso era pior, na família, as escondidas me chamavam de " a gorda lésbica". Foi difícil. Minha mãe defendia o gorda e lésbica, como se fosse impossível sua filha ser assim (eu qual seria o problema?). E depois jogava em cima de mim, para eu me comprometer em mudar.
Acho que o dia que mais me magoei, foi quando tinha uns 16 anos. Meu pai quase nunca havia falado sobre isso. Mas minha mãe tinha pentelhado ele tanto, mas tanto, que ele veio falar pra mim que nunca a nenhum garoto ia olhar pra mim daquele jeito. Eu me sinto quebrar até hoje, com este momento.
Eu não emagreci.Mas comecei a namorar. Um idiota que dizia pra mim, que se eu emagrece-se 10 kg eu ia fazer inveja para os amigos dele. Terminei sofri pensando sempre neste 10 kg.
Ai eu emagreci. E nunca fui tão triste.Minha mãe me acha linda, todo mundo me acha linda. E eu me achava destruída.
Eu comecei a namorar outro cara. Meu atual namorido há 7 anos.Eu tinha medo de comer, e ele cozinhava. Eu tinha medo de engordar e ele sempre me acha linda e que eu tenho todo direito do mundo em ser quem eu sou.
Não culpo meus pais, eles vivem neste mundo em que eles se encaixaram. Eu encontrei outro mundo.
Hoje eu sou magra, mas porque mudei minha ética. Eu trabalho aquela 80 10 10, então praticamente só como vegetais. MAS foi por que EU quis, EU decidi isso. E não me sinto mais bonita, mais feia, mais magra e tals. Me sinto melhor, pq hoje eu posso ser quem eu desejo ser.
A quem tem dúvidas. Tem medo, ou ouve estas pessoas. Esqueça delas e ache o seu próprio meio. Encontre o seu jeito de se fazer feliz. E entenda que eles se encaixaram em um padrão, mas você não precisa fazer isso.
Fernanda
Puts eu coloquei lá em cima 80 10 10 parece uma dieta. Mas não é isso.rss
80 10 10 é uma numeração para o crudivorismo moderno. Eu sou vegetariana.
Fernanda
Família: essa sagrada instituição destruindo a vida de seus filhos desde... SEMPRE.
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