terça-feira, 21 de abril de 2009

CRÍTICA: SIMPLESMENTE FELIZ / A boba-alegre e o instrutor do inferno

Criança feliz não vira adulto traumatizado e preconceituoso.

Vou continuando minhas mini-críticas sobre filmes que vi sem anotar. Fique com esta:
Simplesmente Feliz - bem antes de ver esta comédia, li a crítica da Lauren, que detestou o troço com todas as suas forças. Eu comecei a tentar vê-lo duas vezes (no computador), mas tive que parar. Achei as primeiras cenas, com a boba-alegre Poppy (Sally Hawkins) rindo com as amigas, usando um pedaço de frango pra fazer gracinhas, bastante insuportável. Mas insisti, porque gosto do Mike Leigh (Segredos e Mentiras, Vera Drake), e porque, na verdade, eu também sou uma meio boba-alegre que gosta de ver o lado bom da vida (mas não brinco com comida). Acho que valeu a pena insistir, porque o filme melhora depois da primeira metade. O personagem da Poppy é fascinante na sua passividade (como alguém pode suportar tanto abuso sorrindo? Acorda, moça! Reaja!), mas pra mim, quem roubou as cenas foi o instrutor de autoescola, um carinha insuportável, preconceituoso, e rude. Um carinha que precisa se tratar urgentemente pra aprender a conviver em sociedade. Ou pelo menos que deveria parar de se relacionar com pessoas na vida real e só virar troll numa existência virtual, sabe?
Eu lembrei de quando fiz autoescola em SP. Tinha uns 19 anos e dei o azar de pegar um instrutor vindo do inferno diretamente pra me servir. Não entendo como alguém nervoso e impaciente pode virar professor de qualquer coisa, ainda mais de autoescola. Nunca aprendi a dirigir com o Atacadinho. Tive umas três aulas e só voltei a procurar uma autoescola anos depois, quando me mudei pra Joinville (um lugar muito mais apropriado pra dirigir que uma selva urbana como SP, diga-se de passagem).
Mas o legal de Simplesmente é que Poppy é professora, e o instrutor também é. Sinceramente, mesmo que discordando da meiguice exagerada da Poppy, quem a gente preferiria ter como professor: ela ou o psicopata? E pra ensinar nossos filhinhos? Um mundo cheio de Poppies de repente não me pareceu assim tão deplorável.

20 comentários:

Alfredo disse...

Deixei anotado na minha agenda pra baixar esse filme. Acho que esse filme, pela sua resenha, deveria ser renomeado como o encontro fisico entre Lola e Santiago.
huahuauhahua

lola aronovich disse...

Ha ha, até que desta vez vc acertou, Asnalfa...

Anônimo disse...

"Instrutor do inferno" é ótimo! E será que no final do filme ele fica bonzinho? haha aí seria clichêzão mesmo.
Puxa, eu já conheci muitos bobos alegres na minha vida.. Tinha uma chefe que obrigava todo mundo a sorrir e dizer bom dia a TODOS os colegas. (Esse tal de espírito corporativo me mata.) Mas também conheci pessoas que realmente fazia a gente sentir-se bem com seu bom-humor. Dosar é fundamental!
P.S -Lola, dei a dica da Judy, porque li que será feito um filme em homenagem a ela, com a Anne Hathaway interpretando a grande atriz. beijos. link: http://www.cosmo.com.br/noticia/24409/2009-03-24/tituloLink.html

Andrea disse...

Aff! Instrutores de auto escola conseguem ser ignorantes ao extremo! O meu era um verdadeiro "mala", mas com o tempo fui aprendendo a conviver, ou seja, usando bastante sarcasmo e ironia pra cada comentário maldoso dele. Como ele tinha dificuldade para entender meus comentários(leia-se: faltava um tanto de inteligência para a criatura)era melhor ainda. Pois eu me divertia às custas dele e ele ainda fazia cara de "porta".

Mônica disse...

Não vi o filme (ainda), mas me pareceu uma coisa assim, meio Amélie Poulain on steroids... É por aí?

Sou 100% a favor do otimismo, mas como a vida não é exatamente um filme de Doris Day, de vez em quando esse povo excessivamente Pollyanna me dá um pouquinho de aflição. Mas muito melhor tê-los à nossa volta do que os que a turma que está de mal com a vida, né?

Júlio César disse...

Já eu adorei este filme com todas as minhas forças. Aquela parte em que ela vai visitar a irmã grávida e faz seu dicurso é a mais pura verdade. Para que se casar e engravidar se isto vai se tornar a sua prisão? Viva a liberdade de Poppy!

lola aronovich disse...

Prity, vc vai ter que ver o filme pra saber se o instrutor do inferno fica bonzinho... Pois é, isso do espírito corporativo é um tédio mesmo, mas há pessoas que levantam o astral de qualquer um. Eu gosto delas. Ah, já tinha lido que a Anne Hathaway fará a Judy Garland. Será que dá certo?


Andrea, que bom saber que mais gente já teve uma experiência ruim com instrutores de autoescola! A que eu tive em Joinville (uma mulher) era muito paciente, não posso me queixar. Mas aquele de SP...

lola aronovich disse...

Mônica, eu nem tinha pensado em Amelie Poulain. Acho que dá pra ver algumas semelhanças, agora que vc falou. Bom, eu prefiro uma Pollyanna a um Santiago da vida. A qualquer momento do dia e da noite.


Julio, nem me lembro dessa parte! E não sei se a Poppy é tão livre assim. Ela depende demais da aprovação dos outros (muito “eager to please”). Dá pra ser livre desse jeito?

Júlio César disse...

Eu acho que se ela dependesse da aprovação dos outros, o instrutor a dispensaria na primeira aula. Mas ela insiste em continuar porque não é obrigada a agradar ninguém (pelo menos foi a forma que eu entendi a personagem). O mundo que ela visualiza em sua mente a faz daquele jeito. "Eu sou assim e não vou mudar, goste de mim ou não".

lola aronovich disse...

Julio, o que eu quis dizer é que a Poppy tenta pra caramba agradar os outros. Ela quer ser aceita. Não sei por que o instrutor não a dispensa (ele precisa do dinheiro, ou tem algo mais, algum tipo de atração logo de cara apesar de todo o desgosto que ele sente por ela?), mas acho que ELA não dispensa o instrutor porque quer lutar pra conquistá-lo. Acho que ela leva a opinião dos outros sobre ela muito a sério, e é difícil ser livre assim. Ela não quer ou vai mudar, mas quer que os outros mudem e a aceitem. O que eu acho válido, apesar de inútil. Algumas pessoas nunca vão nos aceitar - e que se danem, né?

Pura Especulação disse...

Li-o e vê-lo-ei, Lola. Li-o e vê-lo-ei, Lola (experimente repetir isso 20 vezes rapidamente).

jac rizzo disse...
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Ollie disse...

Pelo que você falou eu fiquei com mais medo da Poppy do que do instrutor dela.
Psicopatas aparentemente são pessoas boazinhas e que estão sempre sorrindo. Sorrindo até mesmo quando enfiam uma faca (bem lentamente) na sua garganta.
Eu heim? Não sei, mas eu tenho medo de pessoas que vivem sorrindo e nunca (eu disse NUNCA) tem um dia ruim. Já o outro lado da moeda é mais fácil (e comum) de encontrar, principalmente nas cidades grandes.

Débora disse...

Eu gostei do filme. Muito. Achei que ela deixou bem claro (na última cena no lago) que viver assim é escolha dela. Que ela poderia muito bem reclamar, ficar com raiva e sair gritando com todo mundo, não que ela não fique triste, mas ela respira fundo e decide não ter essas reações. E pra nós que estamos acostumados a brigar achamos que ela é uma boba porque não se defende. Mas ninguém realmente a atacou, todo tipo de agressão tinha a ver com os outros não com ela. O instrutor é um exemplo disso, ele é quem tinha problemas, não ela.

Srta.T disse...

Ai, eu não confio em gente feliz demais, e tenho HORROR a gente efusiva. Sério, se quer que eu me afaste pra sempre é só juntar um pessoal numa rodinha e começar com gritinho, palminhas e abracinhos histéricos. Uuurgh.

Acho que eu prefiro os azedos, pelo menos dou risada deles. E sim, eu sou bastante orimista, mas sem ser ridícula (acho).

Vi o trailer desse filme e decidi nos primeiros segundos que não perderia meu tempo assistindo. E acho que não vou mudar de opinião.

Ah, eu não dirijo ate hoje porque o primeiro instrutor que eu tive era um boçal. Inclusive se envolveu em um acidente na frente da auto-escola, enquanto eu o esperava. Acho que ele estava certo, mas mesmo assim... foda né?

Karen disse...

hahaha

a atração acontece sempre muito rápido, as pessoas que não a rconhecem tão rápido. E.. a bem da verdade... talvez seja melhor não reconhecê-la tão instantaneamente...

Amo Amélie... rsrs ela pulou até na minha monografia extamente como a boa demais. Ela era o contraponto da minha personagem central..

Quanto ao filme.. é irritante a obstinação por se manter feliz.. claroq ue sempre é preciso tentar. Há um esforço. Sobretudo acho legal quando ela sem te mais a bicicleta finalmente se entrega a auto-escola.. e apesar do chatão ela descobre outro lado que tem...

HUm.. quanto ao instrutor.. imainem.. um senhor dono da auto-escola que na primeira aula com uma senhora é mega grosso e a faz andar com muita velocidade... é preconceituoso com negros e gays. NAO AVISA DA PROVA PRATICA... rsrs pois é... pois é. Ah, tem mais... se vc marca aula com um instrutor e ele não vai por alguma razao ou vc tem aula com o grosseirao ou vc PERDE a aula ( paga por ela ). Pois é. Eu gosto muito de gente certinha... Mas Deus faz a parte dele.

Eu vi o filme porque vi no festival aqui no Rio.. era o horario... bem médio... leve... médio e docemente irritante... rsrs

Karen disse...
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Karen disse...
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Beth Blue disse...

Descobri este blog por acaso e certamente voltarei para ler mais suas críticas de cinema! Sou cinéfila de carteirinha e também assisti este filme do Mike Leigh )que como você, também adoro) e fiquei irritada com a moça, rsrsrsrs.

Ah, e eu escrevo sobre filmes no meu blog também...sem pretensões a ser crítica de cinema mas pelo simples prazer de especular. ;-)

Elaine Cris disse...

Que bom ver uma crítica a esse filme aqui porque eu simplesmente adorei.
Concordo que da segunda metade para o final ele fica bem melhor, o começo é chato, não acontece nada e, eu acho, que o problema é exatamente esse, tem muitas cenas desnecessárias, sobrando, acho que com cenas excluídas ele ficaria bem melhor... Mas gosto da mensagem do filme e o cara que faz o instrutor tá muito bem nesse papel.