segunda-feira, 26 de maio de 2008

NÃO FUI CONVIDADA PARA ESSA FESTA. E SE FOSSE NÃO IRIA

Não sei pra você, mas pra mim a cena de Taxi Driver que mostra que Travis (interpretado por Robert De Niro) não bate bem não é quando ele raspa a cabeça, quebra a TV, mata um gigolô ou planeja assassinar um candidato a presidente. Não. É quando ele leva, num primeiro encontro, a moça por quem está fascinado (Cybill Shepherd) para ver um filme pornô. Esse momento revela que ele desconhece o funcionamento da sociedade, e não tem a menor idéia do que pensa uma mulher.

Na época do filme, 1976, ainda existiam cinemas desse tipo. Hoje esses inferninhos foram substituídos pelo DVD e a internet. De qualquer modo, mais pessoas vêem filmes pornôs do que vão ao cinema comercial de Hollywood. Ainda assim não seria aceitável a um casal no seu primeiro encontro assistir a algo pornô. Mas depois de quantas saídas pode-se convidar a parceira pra ver um pornô? Uma semana? Meses? Anos, quando a paixão já deu lugar à monotonia da monogamia? Bom, eu tentei ver um filme pornô com meu marido. Como cinéfila, escolhi logo um clássico, Garganta Profunda. No entanto, se o objetivo era despertar vontade, não funcionou. Como crítica de cinema, fiquei centrada demais nos diálogos risíveis e nas atuações canastronas. Quando a trama tornou-se repetitiva, desliguei o aparelho de vídeo, porque ver cena de sexo seguida de cena de sexo equivale a ver um filme de ação só com perseguições de carros e explosões. Puro tédio.

Tá certo que não sou consumidora padrão de nada, então logicamente não o seria de pornografia. Noutra encarnação, quando trabalhei numa locadora, achava graciosos os títulos pornôs que imitavam grandes sucessos do cinema, como Mamãezinha Querida, e havia também algum com uma referência ao templo da perdição. Mas pornografia sempre me pareceu ter muito mais ligação com comércio que com sexo. E as cenas pornôs são tão cheias de detalhes e closes que definitivamente não me despertam desejo. Se eu quisesse ver uma vagina tão de perto, pediria um espelhinho pra minha ginecologista durante o papanicolau. É gráfico demais, e reduz as atrizes a pedaços de carne. A questão se ver um filme pornô me faz ficar com vontade de transar é parecida com outra: após ver um Albergue ou Jogos Mortais da vida (um gênero não por coincidência apelidado de torture porn), eu fico com vontade de sair por aí matando e torturando? Preciso deixar claro que a resposta pra ambas é não.

Mas essa sou eu. Desconheço o efeito dos filmes pornôs nos homens, e pra ser honesta, conheço poucas mulheres que vêem pornôs. E não é por causa do velho clichê que mulher tem menos tesão que homem, mas porque a indústria pornô simplesmente nos ignora. É uma indústria comandada por homens e pra homens. O mercado é quase todo masculino. Filme com dois ou mais homens transando é pro público masculino, filme com homem e mulher transando é pro público masculino, e filme com duas mulheres transando (cena obrigatória em qualquer filme hetero) é pro público masculino. Pornografia pra mulher é romance vendido em banca de jornal.

Um homem que vê montes de filmes pornôs vai cometer estupro? Provavelmente não, assim como um homem que vê dezenas de bang-bangs não vai sacar sua pistola e matar gente. Mas é certo que esse tipo de exposição causa algum efeito. Ver tiroteios atenua a violência, faz com que o espectador não lhe dê tanta importância, e ver uma demonstração tão comercial do sexo pode fazer o mesmo. Andrea Dworkin diz que pornografia pode tornar os homens ainda mais predadores por fazê-los confundir as mulheres da vida real com estrelas pornôs. Já Naomi Wolf acha o contrário: que a pornografia faz as pessoas mais solitárias, e torna os homens menos desejosos de transar, porque eles esperam que as mulheres sejam estrelas pornôs. Não há mais mistério e sedução em ver uma mulher pelada na sua frente. Graças aos filmes pornôs, não há mais mistério no sexo (e isso pode ser bom e ruim).

Só sei que pobre do menino que tiver apenas a pornografia como única forma de educação sexual, porque filmes pornôs passam uma idéia errada da sexualidade. Pros adolescentes do sexo masculino, pornografia pode causar obsessões tão sérias quanto a provocada nas meninas que só vêem modelos magérrimas na mídia (anorexia, bulimia). Rapazes comparam seus pênis com o do astro pornô e pensam que tem algo de errado com eles. Acham que não são ou serão bons parceiros sexuais porque não ejaculam litros de esperma, ou porque o ato não dura tanto como nos filmes pornôs. Ignoram que exista edição, Viagra, efeitos especiais, retoques. Muito parecido mesmo com uma menina reparando que seu corpo não é idêntico ao da Giselle. A diferença entre essas obsessões femininas e masculinas é que os meninos precisam pegar um filme ou uma revista pornô para sofrer essa má influência. Nós mulheres somos expostas a um só padrão de beleza diariamente, sem precisar adquirir nada. É o “privilégio” da nossa condição feminina.

Pois é, outro problema pra minha aceitação da indústria pornô é que sempre fui feminista. E consigo pensar em poucos lugares menos aconchegantes pra mulheres que na indústria pornô. Provavelmente a situação mudou desde que a Linda Lovelace recebeu 200 dólares para fazer Garganta, que rendeu milhões aos produtores. Porém, ainda é uma indústria em que astros geralmente ganham mais que estrelas e que, por causa de um padrão duplo de sexualidade, vê promiscuidade para homens e mulheres de um jeito muito diferente (uma camisa feminista diz: “Eu achava que era uma vadia, até notar que estava agindo como um homem”). Há várias cenas de humilhações de mulheres em filmes pornôs, para satisfazer um nicho do mercado. Sem mencionar as cenas que incluem violência contra as mulheres, atrocidades como simulações de estupros. Esse é um dos exemplos que prova que a indústria pornô é pensada por homens para homens, pois assistir a uma cena de estupro provoca um efeito totalmente diverso num homem e numa mulher. Para uma mulher, a ameaça de estupro é constante e real. Portanto, ver uma cena de estupro num filme é diferente de ver um assassinato, porque não é uma em cada sete pessoas que é morta, sabe?

Tem quem ache que filmes pornôs dão poder às mulheres. Pessoalmente, esse argumento me soa tão fraco quanto o de uma moça muçulmana que tentou me convencer dizendo que sua religião trata hiper bem suas mulheres, apesar de obrigá-las a usar véus, promover, em vários casos, a mutilação do clitóris, e incentivar maridos a punirem fisicamente suas esposas. Segundo essa moça, os homens islâmicos idolatram suas mulheres: “Somos mães de seus filhos! Eles nos põem num altar!”. Ou seja, desde que a mulher seja mãe, ela será bem tratada. Nos filmes pornôs, a garantia dos bons tratos não existe nem que a mulher cumpra suas únicas duas funções – ser bonita e estar disponível pra fazer sexo com todas as pessoas (e animais) que aparecerem na sua frente.

No entanto, embora eu não tenha nenhum apreço pela pornografia, sou contra a censura (sou a favor dela apenas para a parte da indústria que lida com pedofilia e zoofilia). Mas me dou o direito de sonhar com um mundo onde a sexualidade não precise ser vendida em pacotes para ser consumida. Também não sou muito fã de sex shops, porque é mais um meio de tentar lucrar em cima de uma coisa que deveria ser de graça. Sexo não deveria envolver uma competição preocupada em criar atletas sexuais e bater recorde de número de parceiras. Sexo é um dos raríssimos prazeres grátis que temos na vida. Essa necessidade capitalista de agregar valor a algo tão natural me lembra Admirável Mundo Novo, em que os cidadãos sofrem lavagem cerebral para detestar ficar ao ar livre (que é nada rentável), ao mesmo tempo que são condicionados a sair para praticar esportes – esportes que pedem equipamento caríssimo, lógico. Uma simples caminhada não vale.


Este texto meu sobre pornografia foi publicado na revista eletrônica Woof Magazine de maio.

40 comentários:

lu disse...

Lola, discordo desse texto - mas isso a gente já sabia... rs
ele está bem escrito e é interessante: acho que vou começar recomendando esse post recente meu. lá tem o link pra um post que eu escrevi também sobre a linda lovelace e o movimento anti-pornografia.
o que eu acho interessante no seu texto é que é na primeira pessoa: que você diz que não gosta também de sex shops, e que você diz só ter visto um pedaço de um único filme uma vez - e de um filme bem velho. Mas quero corrigir algumas informações: 1) linda lovelace ganhou 1250 dólares - ainda assim, ridiculamente pouco, mas um valor que não é emblemático de nada. marilyn chambers no mesmo ano ganhou mais de 20 vezes mais pra fazer "atrás da porta verde". 2)exite pornografia feita por mulheres também, e existe pornografia feita pra mulheres; existe até pornografia feminista e uma premiação específica dessa categoria de pornografia, o feminist porn awards. Mas mais importante, a pornografia mainstream, ou pelo menos uma boa parte dela, é direcionada pra casais héteros, compostos por um homem e uma mulher. (ainda que você não ache "aceitável" "um casal no seu primeiro encontro assistir a algo pornô", o tino comercial dos pornógrafos viu nos casais ht um público-alvo promissor...) 3) eu, diferente de você, sempre gostei de pornografia - e sou feminista - e assito sempre: e nunca nunca vi, nem ouvi falar, de ter, em filme pornô, um sequer, uma cena de simulação de estupro. Isso me parece completamente descabido - e você acha que, ainda que fosse (o que não é) uma coisa só feita por homens e pra homens, que seria considerado excitante uma cena de estupro? estupro não é trepada.
Por outro lado, achei interessante sua reflexão sobre o sexo dever ser algo "grátis". Acho que a comercialização de filmes e brinquedos é algo diferente do sexo em si, que continua tão grátis como sempre (descontando o preço da camisinha, mas enfim...), e de qualquer forma a sexualidade é algo maior que sexo e pornografia e sex shops - nesse sentido ela tem muito campo pra ser explorado monetariamente... - mas ainda assim é uma crítica que eu nunca tinha visto antes e pertinente. Enfim! desculpe o tratado aqui. Beijo!

Gisela Lacerda disse...

Eu gosto e vejo sempre. E conheço uma penca de homens (inclusive meu namorado) que é totalmente ou quase.. longe desse mundo. Gosto e assumo que gosto, mas sei que é uma excitação totalmente rápida e como já diz o nome "gra-fa-da", toda direcionada. Não é erotismo e não se propõe a sê-lo.

Quem é ensinado só com isso, sofre mesmo. É preciso conhecer Bataille e ler uma "função do Orgasmo" (de Wilhelm Reich) e também conhecer, como você bem disse, o lado da "comercialização do sexo". Realmente, tem muito menos a ver com sexo do que qualquer outra coisa. São performances; é explícito; é frenético, é histérico. É válvula de escape e não tem a ver com amor, erotismo, pacto sagrado, nada disso. É preciso entender a porno-grafia, até mesmo pra mergulhar no erotismo e saber diferenciar o profano do sublime.

Gisela Lacerda disse...

Aproveitando o ensejo proposto pela Lu, cito Ovidie: a rainha do "x français". Ela dirige filmes pornográficos feitos para mulheres e term esse site: www.pornomanifesto.com/

Lu, há muitos filmes com simulação de estupro sim e um é estrelado por nada mais nada menos do que Rocco. But.. a mulher que conctracena com ele é, evidentemente, uma superatriz.

Tem o "Romance" da Catherine Breillat, ótima cineasta francesa, mas não tem nada a ver com pornô. Apenas ela revoluciona a imagem da mulher. Uma cinesta que se utiliza de "tomadas pornôs" (o explícito), mas sem ser pornô.

Tem também um filme (longa normal - categoria: ação) de Hollywood com o Nicholas Cage no papel principal e eles mostram uma, digamos, "petite mafia" de um supermilionário onde simplesmente o fim é a morte da "vítima", aliás, algo já falado por Camille Paglia (a única feminista que conheço mais) em "O Estupro e a Guerra dos sexos". Ela se refere ao "ato consumado" na cabeça do criminoso.

De feminista e feminismo eu não entendo muito, mas sobre esse assunto discutido aqui, eu entendo bastante, modéstia à parte. ;-)

lola aronovich disse...

Oi, Lu, eu fui lá no seu blog e escrevi um comentário. Ahn, não sei se disse no meu texto que Deep Throat é o único filme pornô que já vi. Acho que nunca vi um inteiro, mas já vi vários pedaços. Talvez com o maridão D.T. tenha sido o único, nem tenho certeza. Mas o meu texto tá escrito em 1a pessoa porque ele é o meu ponto de vista pessoal. Não quero acabar com a pornografia nem nada (sou contra a censura), só digo que eu, pessoalmente, não gosto de pornografia. E um dos motivos pra isso é o tratamento da indústria pornô às mulheres.
O negócio dos 200 dólares eu vi num documentário da HBO, Inside Deep Throat (acho que é esse o nome), muito interessante, que fala sobre como um filme pornô, D.T., foi vendido pro público mainstream pela primeira vez na vida. Até então filmes pornôs estavam restritos a cinemas específicos. Mas passar filmes pornôs em cinemas convencionais foi um movimento dos anos 70 que não se repetiu mais.
Acho fascinantes as posturas das feministas em relação à pornografia. Isso mostra que não dá pra estereotipar feministas. Há feministas que são contra a porn. e gostariam de bani-la, censurá-la, e imagino que haja outras feministas como eu que não gostam, mas não querem censurá-las. Há feministas que acham que porn. subverte regras e dá poder às mulheres. E por aí vai.
Sim, sei que um dos nichos de mercado da indústria pornô é pra casais heteros. É como eu te falei no meu comentário no seu blog, há toda uma indústria, que tenta atender vários nichos de mercado. Outro nicho de mercado realmente é o que inclui violência e humilhações contra mulheres. Vai me dizer que não há filmes pornôs com gang rapes? Sei que gang rapes não são incomuns na indústria pornô gay. Por que não fariam com mulheres, se há mercado misógino pra isso? É só ver os google searches que recebo por aqui: "cenas de estupro de mulheres", "vídeo pornô com estupro" etc. E eu sou só um bloguinho (que, aliás, não tem nada de pornô). Vai me dizer que a indústria pornô, que taí pra fazer muito dinheiro, ignora todo esse nicho de mercado? Ué, muitos homens consideram excitantes cenas de estupro. Assim como muitos homens consideram excitante ver o rosto de uma mulher na privada. Uma coisa não tem que ter muita relação com sexo pra ser excitante pra algumas pessoas.
Acho que existe um exagero de comercialização do sexo na sociedade. Sexo vira uma competição. Não basta ter orgasmo, tem que ter orgasmos múltiplos. Não basta ter orgamos múltiplos, uma mulher deve ejacular também. Não basta ficar nua, tem que usar lingerie sexy. Não basta um pênis, tem que ter um dildo. É tudo pra fazer dinheiro em cima de um dos poucos prazeres grátis que temos.

lola aronovich disse...

Existem muitas mulheres que gostam de pornografia, Gi. Só que mulher ver filme pornô não faz tanto parte de um rito de passagem como faz pros meninos. É diferente. E acho que deve ser mais individual tb, não? Ao contrário dos meninos, que às vezes se reúnem pra ver filme pornô. O filme que vc cita com o Nicolas Cage é um filme horrível, o 8 mm. Tem até sequência (que eu não vi). Mas aí é outra coisa, é snuff movie mesmo. Não é uma indústria. Tem quem diga que nem existe e que é lenda urbana. Nesses filmes, que são vendidos por muito dinheiro, e apenas restritamente, uma mulher é estuprada e morta em frente à camêra. Mas matar uma pessoa de verdade pode custar caro e gerar complicações com a lei. Então muitas vezes, para satisfazer esse nicho de mercado, há simulações. Tem um filme interessante da década de 70 chamado "Hardcore", do Paul Schrader, com o George C. Scott, sobre um pai que procura sua filha desaparecida no submundo pornô, e descobre que talvez ela tenha sido vítima num snuff film.

Anônimo disse...

Meio sem tempo e sumido hehehe, mas passando rapido,

Saramago após assistir Blindness *
com legenda

http://www.youtube.com/watch?v=Y1hzDzAvJOY

-----------------------------

Vou ler e comento os textos que me passei nesse fds. Abração Lolinha

/mode off hahaha.

Gisela Lacerda disse...

Como você falou no último parágrafo, Lola, também sinto isso, que "nada basta", daí essa histeria. Eu acho que cada um (em relação a qualquer tipo de "grafia do sexo"/imagens) tem seu limite. O meu até que é grande. ;-)

lola aronovich disse...

Oi, Pedrinho meio sumido. Meio sumido não! Totalmente sumido! Eu tenho lista de presença aqui e, segundo os meus cálculos, faz dez dias que vc não aparece. Triste.
Ah, que bonito o video do Saramago chorando após ver Blindness... É sempre comovente pra um autor ver sua obra ser tirada de suas mãos e adaptadas pra outro meio. Eu mais ou menos sei como é isso (em outra dimensão, outro nível, claro), porque uma vez, na faculdade de Propaganda, um rapaz de uma outra turma montou uma peça inteira em cima de um poema que eu havia escrito. Me emocionei ao ver a peça, porque era uma outra interpretação, um outro olhar. Ou seja, eu e o Saramago temos muito em comum. E que simpático o Meirelles, não?

Gisela Lacerda disse...

Aliás, adoro Taxi Driver e acho que sou na verdade um homem tentando me encontrar na minha feminilidade. Sou hiperdual. Me veio isso à mente agora ao ler a figurinha da mulher dizendo "Once I thought..."

lola aronovich disse...

Gi, não foi bem isso que eu quis dizer. Acho que primeiro vem a histeria pra criar um clima de "nada basta". Não o contrário. E, como todas as histerias, essa também é feita pra vender.

Anônimo disse...

Acho que quase toda a gente passa por uma fase na vida em que lida com a pornografia, não é?. Eu aprendi e me diverti muito com ela. Tá certo que via coisa mais erótica do que pornografica, como as coisas do Tinto Bras que são óptimas. As mulheres sempre estavam por cima:"I have the pussy...so, I make the rules".
E concordo que hoje em dia tem troca de fluidos desnecessárias na maioria dos filmes...pouca gente faz sexo daquela maneira. É por isso que eles são profissionais! As mulheres inclusive não são nada obrigadas a participarem daquilo não é?
E os USA posam tanto de puritanos e no entanto é o maior produtor de pornografia do mundo. Na minha época os pais não falavam com a gente sobre sexo, a pornografia tinha esse papel. Ajudava...embora não da melhor maneira.

Renata disse...

Oi Lola,
nao sei exatamente como me sinto em relação a isso... sei que gosto de assistir filmes pornôs às vezes... e até já encontrei filmes feitos por e para lésbicas...
Tem uma série de documentários sobre isso, se chama "Lesbian Sex and Sexuality", sobre essa discussão entre as feministas e os novos nichos do mercado, dá pra baixar pelo eMule se quiser.
Sobre sex shops eu discordo da sua opinião. Acho legal a idéia de acessórios e não vejo nada de muito errado nisso. Existe no entanto uma discussão muito grande na comunidade lésbica sobre isso, e minha opinião está longe de ser unânime.
Um abraço,
Renata.
www.oraculodelesbos.blogspot.com

Gisela Lacerda disse...

Eu entendi sim, Lola. A diferença é que não fiquei pensando em quem vem primeiro: o ovo ou a galinha.

Adendo sobre as mulheres muçulmanas: eu já tive relacionamentos (tanto de amizade quanto amorosos) com muçulmanos e, tirando a parte pessoal (referente a mim com essas pessoas, família, religião, cultura), acho que é preciso conhecê-los (cada um no que eles têm de diferente e cada família inserida no país "não-muçulmano") antes de falar qualquer coisa. E eu tive essa chance de conhecer. Não posso dar mais detalhes pra você, somente te dizer que é melhor separar o joio do trigo pra "não surtar". Não dá simplesmente pra chegar e falar "ah, essa muçulmana tentou me convencer disso e daquilo, mas a minha vida é melhor". Acho isso exagero. Pra você e pra fulana isso não é felicidade, mas pra ela é. E eu sinceramente estou na coluna do meio (lembrando a zebrinha..), porque não me acho nada liberta na "nossa cultura ocidental". Aliás, ocidente entre aspas porque isso não tem nada a ver com geografia muitas vezes.Aliás, muitas das coisas que são próprias do ocidente e nasceram conosco, nas culturas (mesmo nômades, imigrantes eles preservam) e nos países muçulmanos não ocorrem muitas das perversões que ocorrem "perto da gente". Isso gera uma boa análise pra todos, não?

Gisela Lacerda disse...

E tem uma coisa muito engraçada que acontece e me lembra muito quando digo "o mundo é de quem tem o falus" (não vale só o mental) é o seguinte: nos filmes dirigidos a lésbicas, simplesmente sempre tem um "pau". E é isso que as feministas não conseguem aturar: mundo sem "pau" não existe. ;-)))) Ele está em tudo, em toda parte. E isso não é uma invenção minha. ;-0

Gisela Lacerda disse...

Não é à toa que se vocês perguntarem a qualquer homem, eles nem vão sbaer conscientemente, mas com certeza na psique tem a idéia de "perfuração". Se a mulher possuísse mais de 3 orifícios penetráveis, digamos assim, eles "mandariam ver" nesses também. Porque assim é a natureza. E isso não tem a ver com cultura. e é isso que deve doer nas mulheres, feministas ou não: a dor de não "terem". Daí, é preciso recalcar (e lanço Freud sim, porque a raíz está no nosso "pai da psy") e depois procurar "onde sentiremos prazer" na nossa condição feminina. Isso que dói fundo, minha gente! E ele teve preguiça de analisar!! ;-)))

Anônimo disse...

Caramba, já nem sei mais o que eu ia comentar...
Enfim, não curto pornô, não consigo me excitar com os gemidos em série, as caras e bocas (e salto altos) das atrizes, é tudo muito fake.
Concordo com sua opinião sobre a
(de)formação que os filmes podem exercer sobre adolescentes, lógico. Conheço um caso desses, super bizarro... enfim, não julgo quem gosta/curte, mas esta não é a minha praia!
Beijos

lola aronovich disse...

Cavaca, como assim, na sua época os seus pais não falavam contigo sobre sexo?! Mas vc não tem 26 anos?! Acho que, em muitos casos, os pais continuam sem falar com os filhos sobre sexo. E isso é tão ruim! Tem muito menino que vê filme pornô como se fosse aula de educação sexual. Acho que dá uma idéia muito deturpada sobre o que é sexo. E é justamente uma sociedade puritana, onde o sexo é mais tabu, que vai lançar idéias deturpadas em relação ao sexo. E tem o lance da religião, que condena o sexo.

Oi, Rê. Obrigada pela dica do documentário. Sim, deve haver filmes pornôs feito por lésbicas e pra lésbicas, embora o mercado não deve ser um décimo do que é o mercado pornô gay. Sobre os sex shops, quem sou eu pra condenar quem goste? Só não gosto dessa imposição da mídia: "Mantenha seu casamento quente! Use lingerie! Compre brinquedinhos no sex shop! Veja filme pornô!". Porque é tudo feito pra vender, e será que não dá pra ter prazer sem tudo isso? Pagar pra ter prazer, pra mim, soa como pagar pra respirar. Mas acho que cada um deve fazer o que quer. De preferência sem ser tão influenciado(a) pela mídia. Essa conversa agora tá indo pro campo da pureza. Sabe como a gente acha ingênuo quem acredita na pureza da escrita? Aqueles escritores que não querer se corromper com dinheiro? Acho que ainda quero o meu sexo puro, sem comércio no meio.

lola aronovich disse...

Gi, concordo contigo que nós, mulheres ocidentais, não somos livres coisa nenhuma. (já escrevi um post sobre isso, só falta publicar). E acredito que muitas mulheres muçulmanas possam ser felizes. Conheço muçulmanas que são felizes. Mas essas mulheres não têm muita escolha. Se elas não forem felizes, não vão poder fazer muita coisa a respeito.
Sobre perversões, não sei o que vc quer dizer. Outro dia no blog da Lu vc definiu transar com travestis como perversão, e eu não usaria esse termo. Pra mim perversões são pedofilia, zoofilia e necrofilia. Só. E tenho certeza que isso acontece nos países muçulmanos tb.
E sorry, Gi, por mais que eu goste do Freud (e gosto mesmo!), não tenho nenhuma inveja do pênis. Quer dizer, só um tiquinho, porque poder fazer xixi em pé deve ser o que há!

Chris, essa é exatamente a minha opinião a respeito da pornografia. Pra mim não funciona. Bom que funciona com outros.

Ale Picoli disse...

Ai, todo mundo já escreveu tudo, não sobrou nada pra mim :)
Então, só pra pontuar: eu sou das feministas que acham que pornografia dá poder às mulheres.

lola aronovich disse...

Ai, Ale, eu so consigo ver pornografia dando poder as mulheres em pouquissimos casos, mas obrigada por expor sua opiniao.

Anônimo disse...

Olha, eu sou das que acha graça em alguns tipos de pornografia, e penso que não tem como proibir nem fazer de conta que não existe, pois expressões da sexualidade fazem parte da natureza humana. Individualmente, cada um/a escolhe o que lhe dá mais prazer.

Concordo com as suas observações sobre a produção dos filmes, sobre os closes, a sucessão de performances (como se ser performático fosse a única forma de se fazer sexo), as perversões e o duplo padrão (amei o "Once I thought I was a slut...", é bem por aí mesmo).

Mas a minha conclusão seria por criar pornografia que superasse isso, proporcionando outros tipos de expressão. Acho que temos é divulgar mais, abrir mais espaço para olhares diferentes, que não tratem mulheres como substitutas de bonecas infláveis (é essa a impressão que eu tenho quando assisto alguns filmes, a mulher é tão jogada de um lado pra outro, sem vontade própria, que se for trocada por uma boneca inflável, provavelmente o cara não vai notar a diferença).

Gisela Lacerda disse...

Lola, não disse que nunca acontece, mas a Psicanálise não foi inventada na cultura oriental; é daí que vem meu raciocínio. Aliás, nessas "conversas de blog", ele é quase sempre pautado nas teorias freudianas.

Sobre a "inveja do pênis", eu deveria ter explicado melhor (mas até os "psicoterapeutas da mídia" fazem besteira!): esse conceito é totalmente inconsciente, Lola, ou seja, não é possível puxá-lo para o consciente. Ele é a base de todos os problemas humanos a partir da estrutura da psique e toda essa falta de entendimento entre homens e mulheres é o que, aliás, rende a tensão (tensão esta que é quase inexistente na cultura/religião muçulmana), responsável também pelo "belo encaixe" - e aí voltamos pra natureza.

"Ter inveja que o homem faz pipi em pé" não tem nada a ver com a "inveja do pênis". Aí é uma questão de anatomia. ;-)

Gisela Lacerda disse...

Já ia esquecendo: se você ler algum livro de Freud e consultar alguns psicanalistas, transar com travestis está na lista das "père-versions". Evidentemente, isso não quer dizer que quem faça isso seja maluco ou doente ou que eu que estou escrevendo aqui concorde com isso, ou queira estabelecer regras quanto a esse assunto. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa ;-))

lola aronovich disse...

Bom, Cynthia, minha proposta nunca foi censurar ou proibir pornografia. Só estou manifestando minha opinião: não gosto. E um dos motivos é que acho que a indústria pornô não me inclui, não pensa em mim, e em muitas mulheres. O outro motivo é que, do jeito que é, pornografia me parece ter muito mais a ver com dinheiro que com sexo. Mas eu quero que haja mais diversidade em TODAS as áreas, e pornografia é uma delas.

Gi, a idéia do Freud sobre a inveja do pênis já foi tão discutida, e tão arrasada pelas feministas, que não tem muito mais gente que a leva a sério hoje. Pelo menos faz muito tempo que não leio algum texto sobre isso que não seja pra desprezar totalmente essa hipótese.
E como assim, " 'Ter inveja que o homem faz pipi em pé' não tem nada a ver com a 'inveja do pênis'. Aí é uma questão de anatomia. ;-)" ? E o pênis é um órgão apenas sexual? Pensei que tb fosse um órgão fisiológico, que serve pra fazer xixi. Sei que o conceito da inveja do pênis não se refere a isso, mas tô querendo ilustrar que a minha inveja do pênis se refere apenas a essa parte. Pra parte sexual do pênis não tenho inveja nenhuma, só admiração.
E Gi, quanto às "perversões", vc não acha que a definição sobre o que é e não é perversão deve ter mudado bastante nos últimos 60 anos? Não creio que hoje deve haver muitos psicanalistas que chamem transar com travestis de perversão. Ao menos espero que não. Inclusive porque a palavra "perversão" tem uma conotação muito pesada, de algo condenável mesmo. Um termo assim, usado por psicanalistas, serviria pra hostilizar um grupo que já é suficientemente hostilizado (não que os psicanalistas não tenham feito isso antes, mas a gente espera que, no século 21, eles tenham aprendido a lição?).

Gisela Lacerda disse...

Lola, não é pra "hostilizar um grupo", seja o travesti ou quem o procura, não interessando o motivo (quase sempre de ordem sexual). Isso faz parte de um tratamento com o paciente em questão. Todos procuram analistas e não tem nada a ver com loucura ou doença. E perversão tem menos a ver com doença do que com o complexo propriamente dito. Não sei quais psicanalistas você anda lendo e sobre os quais você fala; ninguém abandonaria os conceitos do "pai da psicanálise", ainda que seguisse "outra linha de pensamento", outro analista famoso. A palavra "perversão" só pode ser mal interpretada por quem nunca leu seu significado e arrisca pegar na cultura uma explicação. Vai se enganar sempre porque essa visão é desprovida de estudo aprofundado e carregada (esta sim o é) de preconceitos, aquilo que as próprias feministas tanto combatem.

E o meu ponto de vista sobre o travesti é o mais liberal possível e por isso faço questão de ratificá-lo aqui porque venho percebendo que as pessoas subvertem o que escrevo e tiram frases de um contexto e colocam noutro ao seu bel prazer. Isso me aconteceu, faz um tempo. E podem não compreender o que escrevo e me classificar de preconceituosa sem me conhecer, especialmente se eu uso de vez em quando "uma linguagem do povo". Coisa que não acho nada demais, porque a linguagem falada, popular não desqualifica ninguém por ser popular e também não indica que essas mesmas pessoas que alguma vez se utilizam dela são preconceituosas mais ou menos que uma feminista escrevendo um texto politicamente correto. Preconceito existe e todo mundo tem e está mais encalacrado do que pensamos.

Escrevi um texto no meu antigo blog (em 2003) cujo título era algo em torno, lembrando a personagem de Ted Levine e dizendo o quanto os travestis "apenas servem" para as "alegrias" e "oba obas" da burguesia sedenta por jogar suas "père-versions" em cima deles e especialmente no carnaval. É porque você não mora aqui no Rio. Não sei se já viveu aqui. Portanto, acho ridículo tomar alguma posição "contra ou a favor" qualquer coisa, porque desmerece e reduz os discursos e a análise.

Gostaria de ler os textos das feministas criticando e debatendo a "inveja do pênis". Poderia me indicar alguns?

Anônimo disse...

Eu tinha 26 há quatro anos atrás...e no principio da minha adolescência nunca tive uma conversa a respeito de sexo com meus pais. Sequer meus amigos tinham. Morríamos de vergonha inclusive. Nessa época não saberia reconhecer um ato sexual mesmo que ele dançasse pelado na minha frente. Por isso a pornografia me fez conhecer alguns mistérios.

lola aronovich disse...

Gi, quando vc usa uma palavra hiper carregada de significado como "perversão", não pode esperar que ela seja interpretada apenas do jeito que vc gostaria. Não adianta pedir pra ler um compêndio psicanalítico pra entender o que vc quer dizer. É muito provável que, dentro da psicanálise, a palavra seja usada com outras intenções, mais "imparciais", digamos, mas vc não é psicanalista nem está falando com psicanalistas. E não está usando linguagem específica em nenhum momento (aliás, nem eu. Se não uso linguagem acadêmica nem na minha tese, não vou usá-la aqui. E eu certamente não uso linguagem politicamente correta). Não acho legal usar a palavra "traveco", como vc usou num outro blog. As palavras têm significados, e uma palavra como "traveco" tem conotação mais negativa que "travesti", a meu ver. O povo é preconceituoso, e a linguagem reflete isso. Hoje em dia tem gente nos EUA se irritando com a palavra "retard", "retardado", que é usada pra tudo que é conotação negativa. Outras expressões do povo, como um termo ostensivamente racista como "nigger", hoje só são usadas por brancos racistas, ou por negros. Mas enfim, eu não estava me referindo ao seu uso da palavra traveco. Estava falando de "perversão". Não é contraditório vc dizer que usa "linguagem do povo", mas se alguém aponta que essa palavra vem carregada de significados negativos, vc diga que não na linguagem psicanalítica, só na do povo? Não tem jeito, a gente sempre corre o risco de ser mal-interpretada quando fala ou escreve alguma coisa, porque não tem como prever como cada um vai ouvir ou ler sua mensagem. Mas minha sugestão é que, talvez, escolher algumas palavras com maior cuidado pode ajudar a ser mal-interpretada.
Não entendi o que vc quer dizer no seu comentário sobre o Ted Levine. Não li o seu texto. Vc sabe que o filme (que eu amo) Silêncio dos Inocentes até hoje é considerado homofóbico por causa do personagem do Ted, né?
Eu morei no Rio durante 6 anos, um tempão atrás. Mas não sei o que isso tem a ver. E na nossa vida a gente vive tomando posição "contra ou a favor" um monte de coisas (o que não significa que não possa mudar de opinião).
Sobre as feministas debatendo a inveja do pênis, bom, só queria esclarecer que não tenho muito conhecimento de teoria feminista. Na minha tese, no meu doutorado, li poucas análises feministas. A mais próxima da minha tese é a Laura Mulvey, quando ela discute Lacan e o "male gaze", no seu clássico artigo "Visual Pleasure and Narrative Cinema" (que vc pode ler aqui: https://wiki.brown.edu/confluence/
display/MarkTribe/Visual+
Pleasure+and+Narrative+Cinema )
Li tb um pouco de Kristeva e Irigaray, que também falam da inveja do pênis.
Mas tudo isso é discussão antiga. Por exemplo, tem um artigo da Betty Friedan de 1963 sobre isso aqui:
http://www.marxists.org/reference/
subject/philosophy/works/us/
friedan.htm
E nem é preciso ir atrás de textos feministas. Até num site “popular”, não-feminista como o Answers.com pipocam opiniões como essa, que são quase senso comum hoje em dia: “Freud's position is linked to his phallocentrism and he failed to assess the degree to which it derived from the patriarchal culture in which he lived. He studied only the case of boys in depth and deducted from it, mutatis mutandis, conclusions concerning girls. He could not conceive of women except in negative terms: in order to become a woman, a man would have to renounce his penis. He was unable to conceive of women in a positive manner, as equipped with organs in which the man is lacking. He could conceive that a man might be afraid of women who want to take his penis from him. He could not conceive of men desiring femininity, maternity, or breasts. Women could have the fantasy of being no more than castrated men. Freud asserted that the castration of women was a reality that they had to accept. He thus forced them into a feeling of inferiority from which it is difficult to see a way out.”
Bom, espero ter ajudado um pouco. Agora preciso voltar correndo a minha tese!

lola aronovich disse...

É, vc tem razão, Cavaca. Às vezes eu penso que, só porque eu tive pais liberais, que andavam nus na frente dos filhos e eram bastante desencanados quanto a sexo (eu e meus irmãos podíamos levar nossos namorados pra dormir no quarto numa boa), essa é uma regra. E sei que não é. A maior parte dos meus amigos não teve nada parecido com a educação sexual que recebi dos meus pais. Será que isso está mudando hoje em dia? Eu realmente gostaria de acreditar que sim, mas muitas vezes vejo que é mais wishful thinking meu do que a realidade.

Lolla disse...

"Sexo é um dos raríssimos prazeres grátis que temos na vida."

eu acho sex shops risíveis, já entrei nas ann summers e beate uhse da vida e me acabei de rir nos dildos do red light district em amsterdan. mas apesar de não ver necessidade dessas coisas na minha vida, acredito que somos todos diferentes, e contanto que a Maria e o João se divirtam com essas coisas, o mundo é deles.

mas também acho que em alguns pornôs (já vi exceções) a mulher é posta numa condição de submissão. é sempre o homem jogando a mulher para um lado e para outro como se ela fosse uma boneca inflável. mas enfim, elas exercitaram uma opção por isso, sempre tiveram a liberdade de não fazê-lo.

sei lá. pornografia não me excita, mas me diverte e não me deixa indignada. e pô, foi uma espécie de rito de passagem pra mim alugar minha primeira fita pornô aos 12 anos (eu morria de curiosidade) e assiti-las com as amiguinhas na sala, comendo pipoca e morrendo de rir.

Gisela Lacerda disse...

Lola, você que acha que a palavra perversão é carregada. Isso é uma opinião pessoal. Se você admite que ela possa ser interpretada de outras formas, então porque não da forma "normal" ou da "forma onde ela nasceu"? Você só sabe que eu não sou psicanalista porque eu disse, senão você nunca saberia e isso nem de longe é motivo pra você desqualificar minha argumentação. O fato de não "ser uma coisa" não me impede de ler vários livros sobre a área/"essa coisa" e de ter feito minha monografia de fim de curso sob a orientação de um psicanalista.
Sobre "imparcialidades nos termos:" que eu saiba, não existe eufemismo na Psicanálise.

Expressões do povo utilizadas num comentário de blog não excluem absolutamente uma argumentação. A pessoa que a usa não pode ser acusada de preconceituosa apenas porque usou "uma expressão do populáceo". Isso é uma invenção sua. ;-))

Que coisa, o filme é considerado homofóbico? Ahahaha! Coisas dos "pcs", sempre procurando cabelo em ovo. Na arte não fazemos concessões e eles ainda não aprenderam isso. Só porque o cara é um assassino no filme. Que ridículo. Ai, ai.. as pessoas, o mundo tão chatinho... Aliás, eu nunca poderia morar num país como os EUA. Uff.. Só de ter experimentado o Canadá, já me deu náuseas. ;-))))))

Adorei os textos indicados por você. Bacios e lerei mais! E até mais porque eu q não tenho mais tempo! Viu que demorei a responder, né? Tem que aproveitar essa vida! Tanto trabalho, né? Precisamos de diversão! ;-)

lola aronovich disse...

Lolla, concordo totalmente. Qualquer coisa que dê prazer a alguém, desde que não invada o espaço de outra pessoa, e desde que haja permissão pra isso, é válida. Eu não condeno ninguém por querer ter prazer com filme pornô, brinquedinhos em sex shops, whatever. Só vejo que existe uma histeria na mídia pra que as pessoas corram atrás disso. E o objetivo nessa histeria não é o prazer, mas o lucro. Fora isso, continuo achando que, na maior parte dos filmes pornôs, a mulher tem pouca autonomia. E não tenho nenhum respeito por pornôs misóginos, que fazem caras se excitarem humilhando mulheres. Mas sou contra a censura, e desde que seja só ficção, só encenação, e a atriz tá lá porque quis, eu não ligo. Não tem a ver comigo. Só não vão me convencer que filme assim dá poder às mulheres.
E como tá a readaptação a Jersey? A Chantilly tá amigona da Maluca agora?

lola aronovich disse...

Gi, não sei se eu achar que "perversão" tenha uma conotação negativa muito forte seja apenas uma opinião pessoal. Mas fica a minha sugestão, já que vc disse, inclusive, que teve suas opiniões mal-interpretadas: cuidado com as palavras. Se vc chamar um grupo ou uma ação de pervertido/a, as chances de que muita gente não vão entender a palavra no sentido psicanalítico são grandes. E não estava desqualificando sua argumentação por vc não ser psicanalista, apenas apontando uma contradição na sua defesa dos termos populares ao mesmo tempo que vc deseja que uma palavra como "perversão" não seja entendida popularmente. Pra quem é de Letras ou Jornalismo, não existe vocabulário "neutro", "imparcial", "objetivo".
Sobre Silêncio dos Inocentes, houve muitos protestos dos gays contra o filme, quando ele foi lançado. Na época achei besteira - não pode haver um serial killer travesti? E no filme eles falam que um caso desses é raríssimo. Mas, com o tempo, e principalmente depois de ver o ótimo documentário The Celluloid Closet, eu concodo com os protestos. Isoladamente, o filme não tem nada de mais. Porém, dentro de um contexto, de Hollywood sempre satirizar ou vilanizar os gays, Silêncio vem se juntar à coleção. Continuo achando-o um grande filme, mas entendo o protesto dos gays. E o Jonathan Demme, que aparentemente sempre foi pró-gay, ficou chateado com os protestos. Tanto que seu próximo filme foi Filadélfia (que muita gente critica também por não mostrar manifestações de carinho mais sensuais entre o casal gay, mas não dá pra negar que seja um filme abertamente pró-gay, que levou um tema importante pro público mainstream).
Ah, vc morou no Canadá? Quando? Por quanto tempo? Eu tô aqui na fronteira. Dá pra ver o Canadá daqui de Detroit. Ainda tenho que decidir se gasto uns 400 dólares pra passar uns 3 dias no Canadá... Quer dizer, nem sei se vou ter tempo, do jeito que estou atrasadérrima com a tese. Vc recomenda Toronto?

Gisela Lacerda disse...

Lola, pode rir: dois meses foram suficientes pra mim. Tirando a parte da vida pessoal, realmente não curti, não gostei do país. Tem muita coisa em jogo também.
Passei esse "tempão" em Montreal e conheci rapidamente a capital. Minha irmã morou por 3 anos em Vancouver mas nunca fui vê-la, imagine.. Pra você ver o que não fazemos quando gostamos 'de alguém", no caso, era namorado! É passado.

Minha prima está aí em Ottawa desde outubro de 2006; fez uma pós e agora faz mestrado em Hematologia.

Gostaria muito de conhecer os EUA e a gente nunca pode dizer "dessa água não beberei", mas eu curto demais a Europa e se tivesse de morar de novo fora do Brasil, seria esse continente o escolhido. ;-))

Gisela Lacerda disse...

Ops, até porque já conheço muito bem.

lola aronovich disse...

Não rio, não. Dois meses muitas vezes são mais que suficientes pra saber se a gente gosta de um lugar ou não. Bom, os canadenses têm uma reputação em matéria de tolerância muito maior que os americanos. Mas vc não respondeu a pergunta: recomenda que eu gaste 400 dólares pra dar um pulo em Toronto? É que só de visto eu e o maridão precisaríamos gastar uns 75 dólares cada um.
Ah, muitos anos atrás eu já tive vontade de morar na Austrália (só de ouvir falar, porque nunca fui lá. Todo mundo fala bem), mas passou. Eu gosto muito do Brasil, e não quero morar fora (quer dizer, se precisar ficar até um ano no exterior é uma coisa. Tempo limitado, tudo bem. Mas morar pra sempre? Ou mesmo fazer um doutorado inteiro fora? Aí não).
E eu não moraria no Canadá por um motivo principal: é muito frio!

Gisela Lacerda disse...

Ah é! Super frio. hihi Olha, quem pode te falar mais a respeito de Toronto é a Alexandra do blog "Building Bridges" - www.guerson.wordpress.com Ela mora lá. Eu só fiz escala. ;-)) Mas acho q vc deve ir sim. Uma viagem é sempre algo bom de se fazer.

Lola, moraria fora pra sempre. O único problema seria a comida. Apesar de ter sentido muitas saudades da comida, do mar principalmente, acho que viveria bem sim. Mas não deu pra mim. Tive q voltar e cá estou. Acredito em destino e também em livre-arbítrio, mas acho que as coisas acontecem na hora que devem acontecer, mesmo com aquela famosa "luta por um objetivo". Quando não tem de ser já reparou q não dá certo?

Lolla disse...

haha, chantilly está causando mais problemas com a maluca do que o contrário - o que é deveras surpreendente. fico com pena da maluca, que agora está se sentindo rejeitada pelo new cat in the house, mas espero que isso melhore... hopefully. :)

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Anônimo disse...

A parte em que diz que o homem ganha mais que a mulher nos pornôs não é válida. Como diz Sasha Grey nesse anúncio, o pornô é um dos poucos lugares onde a mulher ganha mais que o homem.

http://www.youtube.com/watch?v=42EIKQP4Mto

Anônimo disse...

Apesar do post ser antigo, ainda vale a pena fazer alguns pontos sobre ele:

1 - O sexo continua sendo de graça e abundante, e não existe um padrão correto para consumi-lo.
Trabalhar com sexo exige preparação, paciência e determinação, como em qualquer outra profissão. Por que o sexo não pode ser comercializado? Por motivos morais? Por você achar que ele não deve?
O objetivo da indústria pornográfica é o prazer sim, mas o prazer do cliente, o que gera lucro para ela.
Ninguém te obriga a assistir aos filmes pornográficos ou ir a um sex shop. A natureza também nunca impôs uma programação sobre como a interação sexual deve ser executada, portanto, é viável comercializar o sexo sim. Se não podemos comercializar o que é natural, por que deveríamos então comercializar nossas habilidades? O cientista comercializa sua intelectualidade, o operário de construção vende sua força física, o faxineiro vende sua habilidade de limpar, o motorista vende sua competência para conduzir um automóvel e por aí vai. Por que um ator/atriz pornô não pode vender sua capacidade de fazer um sexo mais ajustado ao entretenimento? É uma força de trabalho também. O sexo não vai deixar de ser de graça por causa disso.
O fato de você não gostar de pornografia não significa que a mesma não seja da apreciação de outros.

2 - Que tipo de consumidor acharia prazeroso uma cena de simulação de estupro? Só um psicopata.
Existe violência na indústria pornográfica? Claro, assim como também existe em todas as indústrias desreguladas cujo comportamento agressivo dos detentores dos meios de produção é irrestrito. A violência não é uma exclusividade da indústria pornô.
A indústria das armas e das drogas são violentas também, porque carecem de regulação e desfrutam de liberdade ilimitada, para explorar e abusar.
A única via para evitar o comportamento agressivo de uma indústria no capitalismo é a regulação. Sem ela, os trabalhadores de indústrias estarão vulneráveis ás piores humilhações que um humano pode sofrer.

3 - O prazer é relativo, não homogêneo e invariável.

4 - Os filmes pornográficos são FILMES, não instrumentos educacionais. Eles não querem passar uma ideia de sexualidade e tampouco fazer com que as pessoas sigam os métodos empregados na indústria.
Assim como os filmes de Hollywood mostram cenas improváveis de ocorrer no mundo material e com contextos irrealísticos apenas para alimentar o drama fictício, a mesma coisa acontece nos filmes pornográficos. É ÓBVIO que uma pessoa comum não deve tentar gozar litros ou repetir as cenas do filme pornô, assim como ela não deve vestir uma máscara do Batman e sair voando para combater os crimes e ser reconhecida como justiceiro.
O filme pornô tem exageros e potencializações sim, mas TODO filme que não seja documentário terá.

5 - O único motivo válido, na minha opinião, para extinguir os filmes pornôs seria a ausência de demanda social significativa.
Eu não gosto de drogas, mas não posso condenar quem usa e tampouco proibir alguém de usa-las.
Não há problemas em trabalhar com o corpo ou sexualidade, mas temos que fazer disso uma escolha e enxergar tais funções como PROFISSÕES, não como papel de gênero.
Apesar do post ser antigo e eu permanecer incerto sobre sua opinião em relação ao assunto atualmente, acredito ser relevante fazer estes pontos sobre ele.
Até mais.