sábado, 3 de maio de 2008

CONTRA O ABORTO, A FAVOR DA SUA LEGALIZAÇÃO

Vi em DVD o forte documentário Lago de Fogo (Lake of Fire), cujo título refere-se ao que acontece com os que vão pro inferno. Talvez o filme definitivo sobre aborto nos EUA, Lake, do polêmico diretor Tony Kaye (do excelente Uma Outra História Americana), tenta e consegue apresentar todos os pontos de vista, que na realidade são apenas dois. De um lado, temos a direita cristã, que é pro-life, pró-vida, radicalmente contra aborto (e contra homossexualismo, e eutanásia, e testes com embriões), apesar de ser a favor da pena de morte. Do outro lado há o movimento pro-choice, pró-escolha - os seculares, feministas, filósofos, gente que prega a separação entre Igreja e Estado, e defende que as mulheres sejam as donas de seus corpos. Se você passou mais de dois minutos no meu blog sabe perfeitamente em que lado me situo.

Mas foi muito difícil e doloroso assistir ao documentário, que é explicitamente gráfico (embora seja em preto e branco). As clínicas que fazem abortos nos EUA precisam separar e medir, no fim do procedimento, cada pezinho e mãozinha que foi mutilada. É terrível. Mas também é terrível condenar as mulheres, pensar que elas recorrem a abortos como método anticoncepcional, como se não tivessem uma consciência moral, como se não sentissem culpa. No final do filme, a câmera acompanha uma moça de 28 anos e mostra todo o seu aborto, da entrevista inicial à consulta ao procedimento aos restos mortais que ficam numa tijela. E, quando tudo acaba, o documentário entrevista a moça, que se faz de forte o quanto pode, diz que está emocional e fisicamente devastada, mas aliviada, que agora vai pra casa recomeçar sua vida – até que ela desaba. Passa a chorar desesperadamente, e nesse momento eu desabei também. E chorei muito. Chorei pelas mãozinhas abortadas, mas também, e principalmente, pela mulher e por sua dor.

Se eu engravidasse, na maior parte dos casos não abortaria. Se a gravidez pusesse em risco a minha vida, sim, abortaria. Se fosse produto de um estupro, possivelmente sim. Se o feto tivesse anencefalia, lógico – é uma violência indescritível exigir que uma mãe mantenha uma gravidez pra, depois de nove meses, o bebê nascer sem cérebro e morrer minutos após o parto. Ou seja, pessoalmente, sou contra o aborto. Mas essa é a minha posição, e querer impor meus valores a todas as outras mulheres não me parece justo. Dá pra ser contra o aborto e a favor da legalização do aborto. Mal comparando, eu pessoalmente sou contra a prostituição. Não seria prostituta, e não vejo com bons olhos homens que procuram prostitutas. Mas a prostituição seguirá existindo, seja lá qual for a minha opinião. E prefiro mil vezes que ela seja legalizada e que prostitutas sejam protegidas por leis, ao invés de serem consideradas marginais, sujeitas à coerção da polícia.

O que acontece é que existe uma guerra santa nos EUA. Não ajuda que, entre as nações desenvolvidas, a América seja a mais religiosa. Essa religiosidade afeta diretamente o cotidiano das pessoas e dita as leis. É curioso que, em termos econômicos, a direita cristã pregue um Estado mínimo. Não quer pagar impostos, não quer que o governo se meta em como deve gastar ou guardar dinheiro. Porém, em termos morais, essa mesma gente defende um Estado máximo. Não quer que Darwin e evolução sejam ensinados em escolas. É contra a educação sexual. Quer censurar filmes e livros. Acha que que ateus e agnósticos não deveriam poder ser professores, governantes ou ter qualquer cargo público (porque liberdade religiosa tem limites, ora!). Insiste que a Bíblia substitua a constituição. E quer promover guerra aos infiéis. Lá fora, esses são os muçulmanos. Dentro dos EUA, os inimigos são as pessoas que acreditam que Igreja e Estado não devem se misturar. Se depender da direita cristã, a América vira um novo Irã - versão cristã, claro. E aí quero ver alguém fazer inspeção nuclear no país mais poderoso do planeta.

É difícil se dar conta de como americano é conservador. Por exemplo, estava lendo um site sobre finanças pessoais em que o autor, uma vez por semana, responde perguntas dos leitores. E às vezes as perguntas ficam mais pessoais. Uma delas perguntava o que ele achava de um casal viver junto antes de casar. Ele, cheio de dedos, disse que não tinha nada contra, mas deixando claro estar se referindo à coabitação pura e simples, sem querer emitir opinião sobre esse assunto cabuloso de fazer sexo antes do sagrado matrimônio. Sim, claro, porque um casal vai viver junto e não fazer sexo antes de ter um pedaço de papel na gaveta. E a discussão entre os leitores rendeu. A maior parte dizia ser um erro grotesco viver junto sem casar. Eu não consigo imaginar muitos outros países ditos civilizados em que esse tema siga sendo polêmico. Mas aí lembrei que nos EUA os casais que dividem o mesmo teto sem casar nunca se chamam de marido e mulher. Podem viver trinta anos juntos que continuarão sendo “boyfriend” e “girlfriend”.

Mas o que isso tem a ver com a discussão sobre o aborto? Tudo. É só pensar em como os países mais desenvolvidos conseguem passar leis importantes para toda a população, independente das posições religiosas. Os EUA não estão entre esses países desenvovidos. E, óbvio, nem o Brasil, onde o poder da Igreja Católica segue emperrando um projeto de legalização do aborto que já se arrasta há quinze anos.

Mais sobre o documentário e a legalização do aborto aqui.

18 comentários:

Liris Tribuzzi disse...

Eu sei que o assunto do post é mais voltado ao aborto, mas o que mais me intriga é a questão da igreja. Eu não consigo aceitar a idéia de uma código de regras morais milenar , que pra mim é o que religião significa, sirva como molde para as minhas decisões.
Idéias como espalhar o amor, não matar, entre outras, são extremamente válidas em todas as épocas, mas daí a condenar o uso da camisinha, seguindo a premissa de que sexo só para fins reprodutivos, é inviável nos dias de hoje. Várias religiões culpam o capeta pelos homossexuais existentes ou não permitem que fieis 'amigados' freqüentem cultos, missas, comunguem.
Muitos dogmas da igreja católica surgiram na idade média como forma de controlar a massa popular que morria de velhice aos 40 anos. Naquela época, a igreja era dona de grande parte das terras férteis e quase morreu de cólera quando as terras do atual vaticano lhe foram 'tiradas'.
É inacreditável pensar que uma igreja que condene a riqueza, o que faz com até hoje muitas pessoas vejam dinheiro como algo amaldiçoado, tem seus mais altos representantes vivendo mergulhados em ouro e obras de arte caríssimas.

lola aronovich disse...

Vitor, mil desculpas! Pulei um comentário seu no Fala Gente Fala do Bem-Vindos, Mais um Clássico Adolescente. É que agora estou relendo os comentários pra fazer a seleção dos mais interessantes, como faço toda semana. Bom, se vc puder voltar lá, eu respondi o seu comentário. E se mais alguém notar que eu não registrei o comentário, avise. É sem querer.

lola aronovich disse...

Li, tenho mais ou menos dois artigos sobre este mesmo tema do aborto. O segundo, que publicarei só no próximo sábado, lida um pouco mais com isso que vc comenta. Mas concordo contigo - é uma total irresponsabilidade da Igreja Católica (entre outras) condenar a camisinha e outros métodos contraceptivos. No caso da camisinha é pior porque tem a AIDs. Mas as religiões não estão nem aí pra AIDs ou pra gravidez precoce: o que elas pregam é que só deve haver sexo no casamento. Qualquer coisa fora desse dogma e a pessoa merece ser castigada. Ao mesmo tempo, eu me sinto pouco à vontade pra criticar as religiões, principalmente a dominante no Brasil, a católica, porque não faço parte delas. Quem aceita fazer parte de uma religião sabe que precisará optar quais regras vai seguir e quais vai ignorar. Por isso que eu prefiro o catolicismo "relaxado" no Brasil. Vejo muito pouca brasileiro levando o Vaticano a sério. Já as religiões evangélicas têm muito mais poder sobre o seu rebanho. Mas o que eu gostaria é que as religiões não se misturassem na política. Elas podem e devem ter suas próprias leis, e exigir que seus fiéis as cumpram, mas querer que toda a constituição de um país as siga é querer mandar demais.

Anônimo disse...

Não sei se esses 2 grupos seriam tão definidos assim, já que muitas vezes, nesses tempos em que grupos identitários são tão definidores nos EUA, acaba-se misturando e diversas razões são as que levam ou não ao aborto. Mas para mim não entendo como essa questão continua tão polêmica, já que deveria ser algo tão simples: o aborto deve sim ser legal. É incrível que os EUA hoje vivam esse revés, com essas políticas infundadas como o "True Love Waits" patrocinado pelo Estado e tudo mais. Ninguém pensa que a mulher é a última pessoa que quer fazer o aborto porque seu corpo a partir do momento que engravida se prepara totalmente para receber o feto, não acredito em determinismos biológicos, mas a descarga de hormônios são tamanhas que quando ela toma essa decisão é por ela realmente não acreditar que seja o momento, ou por não querer realmente continuar com aquele feto. Se alguém quer fazer 1, 2, 10 abortos o que as outras pessoas tem com isso? Afinal, quem vai arca com as consequências é essa mulher. Esse amor cristão por seres que nem são pessoas não deveria ser convertido para aqueles que já estão aí vivos e sofrendo, é o que não falta no mundo!
Beijos, Alexandra

Renata disse...

Ai Lola, como sempre adorei seu post, e super queria deixar um comentário eloquente pra contribuir na discussão... mas to morta demais pra pensar... acabei de chegar da Parada da Diversidade de Floripa, onde também estamos lutando pra separar a Igreja do Estado e respeitar nossos direitos.
Olha como eu apóio a causa: tem um ciclone extra-tropical passando por aqui, tá o maior frio, chovendo, e eu caminhei e fiquei em pé horas nesse tempo... tudo pela causa hauahauaahuah
Um beijão!

www.oraculodelesbos.blogspot.com

Antônio Wilson Corrêa Ribeiro disse...

Lola, você respondeu a contento, em seu artigo diz que dá pra ser contra o aborto e a favor da legalização, sob o meu ponto de vista um projeto para tramitar no Congresso Nacional deve constar em que situações podem e deve haver: Você escreve em seu artigo: Se a gravidez coloca em risco a vida da mãe, produto de estupro, anencefalia e etc. Quem arca com as despesas nessa situação e qual a função do Estado?
Você é contra a prostituição, eu também, mas não sou contra as prostitutas, os gays e etc. Pois a prostituição muitas vezes acontece na infância e nós não podemos acabar com ela, em muitas partes do mundo, a prostituição infantil é uma realidade assustadora, com resultados trágicos. Muitas prostitutas infantis, ocasionais ou por tempo integral, acabam se envolvendo também no crime (aborto) e no abuso de drogas. Muitas se sentem frustradas e sem valor, vendo pouca ou nenhuma perspectiva de sair dessa vida miserável.
Temos no Brasil a prostituição infantil que é um crime bárbaro e sabemos que o tráfico de seres humanos representa a terceira maior atividade econômica do mundo, inferior apenas ao tráfico de drogas e de armas. Segundo a ONU para a Educação, a Ciência e Cultura, há um aumento constante em todos os tipos de prostituição.
A prostituição infantil prospera num ambiente de pobreza extrema, sendo que os pais acabam vendendo os seus filhos.
Segundo a revista veja, a polícia encontrou 92 fitas de vídeo nas quais um médico registrava as sessões de tortura a que submetia mais de 50 mulheres, e algumas eram menores.
Como é que a sociedade pode se mobilizar para ajudar estes seres humanos desafortunados. "Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Nações Unidas proclamaram que a infância tem direito a cuidados e assitência especiais", diz o preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança. A respeito da importância da família, acrescenta: " A criança, para o desenvolvimento pleno e harmonioso de sua personalidade, deve crescer em um ambiente familiar, em clima de felicidade, amor e compreensão". Mas esse ideal está longe de ser alcançado.
Apenas falar sobre um mundo melhor para as crianças não basta. A degradação moral é generalizada, e muitos consideram normal isso.
A ampla depravação e a ganância não podem ser controladas por força de lei. Que esperança temos?
Tinha muito prá falar, mas obrigado também por visitar o meu Blog.

lola aronovich disse...

Oi, Ale! É verdade, esse é o argumento dos ativistas pro-life (geralmente homens) que mais me revolta: eles falam como se uma mulher GOSTASSE de fazer aborto. Eu conheci algumas mulheres que abortaram, e nenhuma se orgulha disso. É o último recurso mesmo! Até porque é uma invasão ao seu corpo e uma violência não apenas contra o feto, mas contra o próprio corpo da mulher. "Pílula do dia seguinte" é uma coisa, mas um procedimento cirúrgico como aborto é completamente diferente. Pode até haver mulheres que fazem mais de um aborto, mas acho que são minoria. É irresponsabilidade. É muito mais fácil e indolor tomar precauções antes de transar (claro que ajudaria se o homem não achasse que isso é responsabilidade da mulher unicamente). É legal, né? Na hora de evitar a gravidez, vários homens não querem participar muito. Mas na hora de proteger o feto, eles querem mandar no corpo da mulher. Por que não colaboraram antes?

lola aronovich disse...

Que jóia, Rê! Como foi a Parada da Diversidade? Vc vai falar sobre isso no seu blog?
Antônio, obrigada pelo comentário. Não, não dá pra ser contra as prostitutas. Elas são vítimas, em muitos casos, de uma sociedade que não lhe dá outras opções. E muitas foram abusadas sexualmente quando crianças.
Agora, prostituição infantil é um assunto completamente diferente. Acho que a prostituição (adulta) deve ser legalizada, mas a infantil não, de jeito nenhum. Pedofilia é crime e deve ser crime. Pedófilos que fazem mais do que fantasiar devem ir presos. A prostituição infantil é uma chaga terrível nos países pobres, Brasil incluso, e precisa ser combatida com força total. Mais um bom motivo pra polícia não perder tempo com prostituição adulta... Apareça sempre, Antônio!

Unknown disse...

Então Lola, a parada foi um pouco cansativa, eu segurei muita vela... e senti bastante falta da ju...
mas no fim acabei me divertindo um monte e apoiando o movimento. O legal desses eventos é que pelo menos uma vez por ano você sente que é a maioria e num lugar completamente seguro, e essa sensação é meio rara pra gente. Mas acho que não vou falar dela no blog porque não consigo pensar num filme gancho...
Um abraço,
Renata.
www.oraculodelesbos.blogspot.com

lola aronovich disse...

Ah, tadinha, Re! Segurar vela eh chato mesmo. Serio que vc se sente insegura no dia a dia? Se vc andar de maos dada com a Ju o pessoal pode ate olhar, mas nao vai fazer nada ou mesmo dizer nada... ou vai? Floripa parece liberal!

lola aronovich disse...

O Pedro fica postando comentarios nos posts errados, mas ele fez uma observacao interessante acima, no post "resultado da enquete", sobre abortar em caso de fetos com anencefalia. E isso me lembrou de um outro argumento. Muitas vezes vejo pessoas contra a legalizacao nao so do aborto, como das drogas e do jogo (sobre esses dois ultimos nao tenho opiniao totalmente formada), confundindo PODER fazer tal coisa com QUERER fazer tal coisa. No caso do aborto, quem eh contra a legalizacao acredita, erroneamente, que com o aborto legal as mulheres vao invadir clinicas pra fazer abortos. Isso eh ridiculo! Claro que num primeiro momento os numeros de abortos vao aumentar, porque o que era ilegal antes (nao havia estatisticas confiaveis) vai finalmente poder ser contabilizado. Mas, a medio prazo, os numeros caem. Paises que legalizaram o aborto nao tiveram uma explosao de casos. Pelo contrario, geralmente ha menos abortos nesses paises que em paises onde o aborto eh ilegal. Mas o pessoal confunde. Acha que legalizar uma coisa significa forcar (nao tenho cedilha) as pessoas a fazerem aquilo.

Julio Cesar disse...

"eles falam como se uma mulher GOSTASSE de fazer aborto"
Lola, essa sua frase me lembrou o caso da garota britânica (?) que fez uma inseminação artificial e foi tomando drogas para ir abortando aos poucos. Ela estava fazendo um "projeto artístico", ia guardando o sangue eliminado para uma exibição. Não sei que fim levou. Ouvir falar?

Renata disse...

Não me sinto insegura quando ando com a ju... não é bem isso. Floripa é bem tranquila mesmo neste aspecto. Acho que eu descreveria como não estar totalmente à vontade, saber que as pessoas ficam te olhando, que você se destaca... e eventos como a parada te dão um warm fuzzy feeling de ser acolhida... de pertencer...
Em outras épocas eu só sinto isso quando estou com minhas amigas sapas. Por isso é importante pro homossexual a tal da comunidade, pra de vez em quando a gente não se sentir tão diferente do resto do mundo.
Beijos,
Renata.

lola aronovich disse...

Julio, ouvi falar sim. Acho horrivel. As pessoas fazem cada coisa pra chamar a atencao no mundo artistico... Pra mim isso nao eh arte, eh apelacao. So pra causar polemica. Mesmo assim, "abortar" com pilulas eh bem diferente de abortar numa clinica. E so pode ser feito nos primeiros dias da "gravidez". Aborto mesmo eh algo bem traumatico, pelo que sei atraves de amigas, conhecidas, filmes e livros.
Tem razao, Re, pouca gente quer ser o centro das atencoes o tempo todo. E mesmo que nao haja violencia, eh ruim ser olhada e julgada. Mas, digamos, muitos homens fazem isso direto com as mulheres, nao? Mas sei como vc se sente. Nas poucas vezes que fui a restaurantes mais chiques me senti um pouco assim. Todo mundo olha pra mim, ora porque nao estou vestida a contento, ora por ser a unica gorda em todo o recinto. Acho que o sentido de pertencer a uma comunidade acaba sendo importante pra quase todo mundo em algum momento da vida.

Lolla disse...

o único tipo de prostituição que condeno é a infantil.

e às vezes penso e acho contraditório ser contra o aborto de modo geral mas defendê-lo no caso de estupro. a criança, que será a principal prejudicada (afinal é ela quem vai morrer, right?) é inocente nos dois casos. é evidente que, para a mãe, o trauma seria enorme. passar seis meses gerando e depois dar a luz a algo que a remete a um ato de violência. mas se o bem estar da mãe fosse sempre posto em primeiro plano, o aborto seria legal em todos os países.

estou com você: é preciso prevenir sempre. mas não deve ser nada fácil para uma criança nascer no seio de uma família e ainda assim não ser amada.

lola aronovich disse...

Lolla, eu não gosto de prostituição. Até hoje lembro de um grande amigo meu que foi levado pelo pai, aos 15 anos, a um prostíbulo para perder a virgindade. Claro que quando eu tinha 15 anos (quando isso aconteceu) eu já havia lido que isso era comum no passado, mas foi traumático saber que continuava existindo. Imagina os "valores" que um pai desses passa ao filho. Imagina a visão que esse rapaz tem das mulheres e do sexo. Eu vejo o cara que procura prostitutas um pouco "loser". Precisar pagar pra sexo parece tão irreal. Mas não condeno as prostitutas. Elas estão fazendo um trabalho, e é um trabalho que deve ser regulamentado, que deve permitir-lhes proteção e segurança. Já prostituição infantil é outra história. Isso é proibido por lei. E quem transa com criança deveria ir preso, e só sair depois de tratado, quando possa se comportar numa sociedade. E quem promove e lucra com a prostituição infantil não deveria sair nunca da cadeia.
Quanto ao aborto: o fato de aborto em caso de estupro ser legalizado tem a ver com a questão da responsabilidade. Se uma mulher transa com alguém sem um método anticoncepcional, ela (e o cara) tem responsabilidade em engravidar. Se tivessem se precavido, não haveria gravidez, e não haveria a necessidade de um aborto. Mas, no caso de um estupro, a mulher não tem responsabilidade nenhuma. Ela é 100% vítima, assim como o feto (mas a vida da mulher deveria vir antes da vida do feto). Agora, em geral, quem é contra o aborto é contra em TODOS os casos. A direita cristã não quer nem saber de aborto em caso de estupro (e um dos meios que utiliza pra negar esse direito é apontar a mulher como co-responsável no estupro). E quem é a favor da legalização do aborto, como eu, em geral é a favor em todos os casos.
Mas é contraditório mesmo, e aí que está: quem é contra a legalização do aborto só pensa no feto. Nunca na mulher.

Bruno disse...

Professora, desde quando o aborto é um método anticoncepcional?

A senhora deve saber muito bem que um método anticoncepcional é justamente para evitar a concepção.

É estranho uma professora fazer uma coisa dessas. É para ter mais apoio das massas?

Desculpe-me pela desconfiança, mas textos assim são apelativos sem ética.

lola aronovich disse...

Interpretação de texto, Bruninho, interpretação de texto... Eu digo exatamente o contrário: aborto NÃO é um método anticoncepcional. Quem é contra a legalização do aborto e contra a liberdade de escolha das mulheres é quem diz que, se o aborto for legalizado, as mulheres o usarão como anticoncepcional. Sendo que em nenhum país em que o aborto foi legalizado (e em TODOS os países mais desenvolvidos o aborto é legalizado) isso aconteceu.