quarta-feira, 14 de maio de 2008

ESPERANÇA E SAUDADE

Este é certamente o artigo mais otimista que já li sobre o Brasil numa publicação estrangeira. Deu no inglês The Guardian do sábado, com o título “O País do Futuro Finalmente Chegou”. Menciona um monte de dados mostrando os avanços na economia que fazem com que milhões de brasileiros deixem a classe baixa pra integrar a média (baixa). Comemora que o Brasil tenha sido recomendado como investimento seguro. Fala das descobertas da Petrobrás (que bom que ela não foi privatizada, né? Não, dirão alguns. Se ela fosse privatizada estaria sendo gerada com mais competência e descobrindo mais petróleo ainda. E certamente os donos do petróleo continuariam financiando a cultura brasileira, porque empreendedor privado é tão altruísta...). E lembra que a inflação segue sob controle (de 2,490% em 1993 para os atuais 4,7%). Eu fico muito feliz em ver o meu país ser retratado tão positivamente na mídia. E não vejo esse oba-oba todo desde que visitei o Uruguai, no dia da posse do Lula em Brasília em janeiro de 2003, e nossos hermanos aplaudiam e buzinavam pra gente só porque nosso carrinho tinha adesivo do Lula. Sabe qual a manchete do jornal uruguaio no dia seguinte? “Assume o Torneiro-Mecânico da Esperança Latino-Americana”.

Não sei se a gente fica mais patriota ainda quando está longe do país. Não sei se começa a ver que nos países ricos nem tudo funciona a mil maravilhas, como nos foi vendido. Mas que eu tô com uma saudade imensa do Brasil, ah, isso eu tô.

Artigo meu relacionado: Antes Bumbum que Cassetete do Mundo.

31 comentários:

Anônimo disse...

É o Brasil que tá com saudade de ti, Lola!
:-)

Juliana disse...

a gente fica realmente mais patriota, homesick, mesmo tendo mil coisas pra reclamar. O país da gente é que nem a nossa família: sempre vai ter defeitos e problemas, nós sempre vamos reclamar dele, mas ai de quem falar mal dele na nossa frente...

Fico super feliz cada vez que ouço o Nick falando com a família e tecendo mil elogios ao Brasil. =) Parece que ele realmente está gostando, mesmo não falando a língua...

E vc já está quase voltando, já vai matar as saudades.

Renata disse...

Eu também não sei se comecei a ser patriota antes ou depois de fazer intercâmbio... mas certamente ajudou...
o que me irrita por aqui é que sendo patriota eu às vezes me sinto contra a corrente... se eu aprovo os resultados e ações do governo então... me olham como se eu fosse uma alienígena ignorante...
Abraço,
Renata
www.oraculodelesbos.blogspot.com

Gisela Lacerda disse...

Pois é, mas enquanto meu "pão de batata" custar 4 reais, o pãozinho francês uns 0,40, 0,45 centavos e "meus" lindos sapatos e botas não conseguirem despencar dos 150, 200 não tem nada de futuro "blanc". C´est tout noir devant moi. Tudo bem que tem o aluguel do shopping no Rio de Janeiro, mas... ainda assim.. É difícil. Terra de turistas, nunca dos moradores. Talvez noutros estados a coisa seja mais "senta no pudim".

Stefan Zweig, um dos meus escritores preferidos se matou (em cia da própria esposa) em Petrópolis e não conheceu o seu "Brésil, terre d´avenir" (é que li em francês; não leio alemão!).. Que pena.

Mesmo assim, sejamos otimistas!

A "Lola" é em homenagem a Dietrich?

lola aronovich disse...

Ah, Ricardinho, que fofo, que terno... Vc não faz nada pra aumentar as visitas do meu site, mas sei que vc me ama mesmo assim, do seu jeito paradão/pedinte de batata assada...

Pois é, Ju, parece que a gente pode falar mal do Brasil à vontade, mas ai de algum estrangeiro criticar o nosso país! Que bom que o Nick tá gostando. Como ele é muito simpático, não deve estar com nenhum problema de entrosamento. Agora convença o desafortunado a não votar no McCain, vai.

lola aronovich disse...

Rê, pra gente que tá numa universidade pública, é muito fácil ver que o governo do PT é infinitamente melhor ao do PSDB. Tem universidade sendo inaugurada, muitas vagas pra novos professores, e as bolsas receberam e vão receber novo aumento. Eu tenho um pouco de dificuldade pra entender colegas nossas que planejam prestar concurso odiarem o Lula. Elas não se lembram o que aconteceu com as universidades em 8 anos de FHC? Mas eu sou classe média, sobrevivo bem em qualquer governo, e só essa parte das universidades me afeta diretamente. Portanto, não é focando em mim que o governo deve atuar. Eu tô satisfeita com o governo porque realmente vejo gente melhorando de vida, gente, por exemplo, que nunca ninguém na família fez faculdade, e de repente a pessoa tá lá, estudando. E, sorry, eu não tenho nada de ignorante. Sou uma pessoa politizada. Esse pessoal elitista que considera ignorante 65% da população (é pelo menos isso que apóia o Lula, não?) não tem o meu respeito.

Não sei como é a situação no Rio, Gi. E eu já me sentia defasada em relação aos preços antes de viajar pros EUA! Um americano aluno de português do meu marido disse que a mulher dele, que é brasileira, esteve no Brasil recentemente e ficou assustadíssima com os preços. Ele disse "Prepare-se", e ele é rico! Eu gosto de gastar bem, bem pouquinho, sabe? Quase nada.
Meu nome real é Dolores, mas não espalhe, por favor. Meus pais cometeram o grave erro de me dar um nome oficial e, desde que nasci, só me chamarem pelo apelido, que é naturalmente Lola. Acho que é mais homenagem ao Garcia Lorca, que tem um poema chamado "La Lola", que à Dietrich. E a senhorita, qual o seu nome?

Juliana disse...

Sim, o Nick está se entrosando muito bem. Minha família está apaixonada por ele, precisa ver. =) Bem feliz.

Mas me metendo no papo de vcs, a Lola é tão "la lola" que esqueço às vezes o nome "de verdade". E é também a única pessoa que já vi com o "apelido" (porque Lola é nome mesmo pra gente) até na dissertação de mestrado -- que, por acaso, estou lendo =) hehe

Andrea disse...

Sim, é natural ficar um pouco mais patriota, é a saudade... daquelas que fazem com que choremos quando ouvimos o hino nacional. Por aqui só mesmo tendo muita esperança. Sabe aquele ditado "se melhorar, estraga"? Aqui com certeza ele nao se aplica...

Saudades de vc Lola! Abração!

lola aronovich disse...

Ju, então vai sair casamento da jogada?! Brincadeirinha, sei que vcs são muito jovens. Mas não tinha como sua família não gostar dele, tinha? Ele é muito querido.
Ai, não gosto do meu nome "de verdade". E acho que não sou eu quando assino Dolores. Por isso pus Dolores (Lola) na tese. Deixaram! Mas isso de ter dois nomes me traz problemas. Tem montes de artigos que assino como "Lola Aronovich", que é o que considero meu nome real. Mas tem alguns que sou "Dolores Aronovich". Aqui nos EUA, então, não querem nem saber do Aronovich. Sou apenas Dolores Aguero. Lá no Plataforma Lattes pensam que eu sou duas pessoas diferentes. É um transtorno. Prometa que quando tiver um filhinho com o Nick vai dar um nome só - de preferência, o nome pelo qual vcs vão chamá-lo. Se não causa esquizofrenia.

lola aronovich disse...

Andrea, vc por aqui?! Como tá o mestrado? Agora já deve ter alguns cursos quase no fim, ou ainda não? Não me pergunte da tese, por favor. Apareça mais! (e classe média reclama de barriga cheia ou reclama de barriga cheia?).

Andrea disse...

Lola, eu estou sempre por aqui, rindo das suas tiradinhas maravilhas, refletindo sobre suas criticas à sociedade, e tals... mas com o tempo apertado eu quase nao escrevo. Mas parar de ler teu blog, nuncaaaa!!!
Qto à tese eu prometo nao perguntar se vc nao me perguntar sobre o fim dos cursos! Está algo caótico, para dizer o mínimo... mil trabalhos, aula, aula, aula, e o famosissimo projeto. Mas vai indo bem, eu é q estou cansada da correria.
Vou tentar postar mais, mas saiba q além dos tradicionais links para emails, orkut e para o site da pgi,seu blog tb está na minha barra de acesso rápido. Nao passo um dia sem vir te ver... é tao primordial como um bom café da manha!
Abraços!

lola aronovich disse...

Ah bom, Andrea! Pensei que vc tivesse me riscado da sua vida pra sempre. Eu sabia que não podia ser por "something I wrote", porque eu escrevo sempre as mesmas baboseiras desde que comecei o blog, mas pensei que vc estivesse tão ocupada que não tivesse mais tempo de frequentar o blog. Ótimo saber que continuo sendo sua leitura obrigatória. E, convenhamos, mais agradável que muitos dos calhamaços teóricos escritos em linguagem acadêmica que temos que ler! Tenho certeza que vc é uma excelente aluna e deve estar arrasando no mestrado.

Gisela Lacerda disse...

Já li alguns poemas de Garcia Lorca nos livros de Hilda Hilst, se não me engano. Realmente, estou por fora, mas é claro que eu citei a Lola mais famosa. ;-)) Lola, eu não consigo ter pseudônimos por aqui; uma vez até usei bem de brincadeira no meu antigo blog: é "Gi" de Gisela mesmo.

ps: também não gasto muito simplesmente porque me falta, mas acho que seria superconsumista se tivesse como partir pra essa maneira de viver. É muito triste que o nosso país seja assim.

lola aronovich disse...

Gi, não entendi a correlação em vc querer ser superconsumista mas não poder e "nosso país ser assim". Que eu saiba, tem muita gente consumista no Brasil. E rica também. Esse artigo no The Guardian, inclusive, diz que o Brasil tem um dos maiores crescimentos no mundo em número de milionários. Eu não gosto disso, porque um dos nossos maiores problemas é a péssima distribuição de renda (melhorada, um pouquinho, pelos programas assistenciais como Bolsa Família, que a classe média tanto despreza). Não acho que ter um país com muitos milionários melhora a vida de muita gente, fora a deles mesmos.

Leo disse...

Ai Lola, não concordo com você não. Ou melhor, concordo que a gente fica mais patriota quando tá fora. Mas fora isso, acho que ouve-se dizer que o Brasil é o país do futuro desde o 2o reinado, né? Mas esse futuro parece cada vez mais distante. A começar pelo fato de não haver investimento em educação. Também estudei em escola pública e o que eu vejo é uma UFRJ totalmente sucateada. De que adianta novas universidades e milhões de vagas se o ensino por elas promovido está cada vez mais decadente? No ensino de base, o governo agora resolveu que não vai mais haver reprovação para diminuir a evasão escolar (!). Isso sem falar no Rio, onde cada vez fica mais difícil sair de casa. O tráfico se apoderou da cidade e as crianças pobres que não trabalham para eles estão nas ruas pedindo dinheiro. Quem não morre de dengue, morre de bala perdida. Só nos primeiros 4 meses do ano foram mais de 5000 mortos.
Até acredito que isso possa ser melhorado, mas não vejo vontade política pra que isso aconteça. Os programas assistencialistas (ou populistas?) do Lula certamente não ajudam. Mas não acho que a culpa seja só dele e também não vejo ninguém muito melhor na oposição.
Enquanto isso o povo vai pra praia, pensando em como a cidade é maravilhosa e o sol brilha.
Gosto daqui. O povo é alegre. Mas as minhas malas estão prontas há algum tempo. Não sei pra onde ainda. Qualquer lugar vai ter problemas, e ás vezes é melhor ficar com os problemas que nós já conhecemos, junto do povo com a nossa cultura. Mas no nosso caso, acho que os problemas estão ficando grandes demais.

Anônimo disse...

WHAT! Ok lola, viva...Estive de férias no Brasil no último carnaval, vi "mudanças", que em regra geral são: Compre a sua casa e o seu carro e pague até a morte, já que nós melhoramos os financiamentos e aumentamos os preços. Pode assinar com sangue.
A economia é uma beleza, mas eu que sou pobre digo-te, isso não está a ter retorno para o pobre ainda. Nem sei se vai ter. Aqui na europa as companhias telefonicas oferecem-te a linha telefonica e o aparelho, para um contrato de exclusividade. No Brasil se paga uma taxa apenas para ter a linha mesmo que não a use. As companhias que investem por lá e que são de cá, querem ter o seus lucros em euros ou dólar. Isso é justo? Pode ser a hora do Brasil, mas tem muito parasita se preparando para roubar ainda mais. Lula inclusive, que se aproveitou do real - de FHC - (que também era um cretino) para fazer o que quer. Em quantas negociatas nebulosas sem explicações ele já não esteve envolvido. Além de se ter cercado de gente honesta e trabalhadora, que por ser assim quase foi caçada...alguém pensou em José Dirceu?
Não sei se há muitos brasileiros aí, onde você está, mas aqui é cheio. E nós não temos boa reputação por aqui...os portugueses tem razão em não nos apreciar...o número de gente que desembarca não para trabalhar honestamente mas para fazer coisa errada é enorme. E muitas pessoas não estão preparadas para uma experiência no exterior. Posso escrever um livro sobre esse tema, embora você pudesse fazer um post, mas esses exemplos faz com que brasileiros sejam de facto mal vistos em vários países.

lola aronovich disse...

É, Leo, a gente ouve sempre falar do Brasil como o país do futuro. E não sei nem muito bem o que esse termo significa, mas é bom saber que a gente tá ocupando um lugar de maior destaque no mundo - suficiente pra que um jornal como o The Guardian diga que a gente tá chegando lá (lá onde, eu não sei). Mas acho inegável que muitas coisas melhoraram no Brasil nos últimos tempos. Pra mim, francamente, a vida mais ou menos continua na mesma, mas eu sou de classe média, tenho tudo que preciso. Eu não sofri no governo Sarney, nem no Collor (eu não tinha poupança pra ele confiscar! Naquela época, comprava dólares), nem no Itamar, nem no FHC, e certamente não estou sofrendo agora. Porque sou classe média e dependo muito pouco do governo. Agora que estudo em universidade federal, dependo muito mais do que já dependi em toda a minha vida. Eu recebo bolsa - uma bolsa que teve exatamente 0% de aumento durante 8 anos do governo FHC, e que já teve 3 aumentos durante o governo Lula. Eu gostaria de aproveitar meu doutorado (que algum dia vou terminar!) e algum dia dar aula numa universidade. De preferência numa universidade que dê condições de pesquisa ao professor. Ou seja, numa pública, porque nas privadas é raríssimo haver pesquisa. Durante o governo FHC, não houve abertura de vagas. Montes de prof. se aposentaram e não houve novos concursos. Isso sim que é sucateamento, e um sucateamento planejado, porque o que o PSDB/PFL queria mesmo era privatizar as universidades públicas (e todo o serviço público). Agora, chamar o ensino de "decadente" é muito relativo. É difícil medir educação. Na UFSC, eu ouço sempre um prof. dizer que o nível das universidades tá cada vez pior, que no mestrado se ensina o que deveria ser ensinado na graduação, e no doutorado, o que deveria ser ensinado no mestrado. Ele vem dizendo isso há anos, muito antes do governo Lula. No mesmo curso há um outro prof. que acha que o nível tem melhorado, e muito. Ele diz que, no curso de Letras - Inglês da UFSC, por exemplo, dez anos atrás era comum encontrar aluno na graduação que mal falava inglês. E hoje todos falam inglês muito bem (eu posso comprovar porque já dei aula de estágio-docência). Claro que é só UM aspecto do curso, mas é um aspecto importante, pô. Os dois prof. são excelentes, por sinal. Os melhores que já tive na vida. Mas quem tem razão? Os dois? Nenhum?
E isso de não haver reprovação pra evitar a evasão escolar não é de hoje, Leo. Esse debate já tem bem mais de uma década. E é um debate, sim. Apesar de os leigos acharem que não reprovar é errado e pronto, os educadores e pesquisadores divergem sobre o assunto. Não dá pra simplesmente condenar, como se fosse um erro grotesco.
"Vontade política" pra melhorar o país está havendo, e o país tá melhorando. Quais dados vc tá contestando, exatamente? Só fazer comentários vagos é meio emocional demais, depende da opinião de cada um. Vc pode chamar os programas assistenciais de populistas (qual programa assistencial não é?), mas isso não muda o fato de que esses programas tiraram milhões de brasileiros da miséria.
Quanto ao Rio, não posso opinar. Faz tempo que não vou aí, acompanho pouco os noticiários locais. Mas o Rio é uma cidade com problemas, assim como o Brasil é um país com problemas. Que nunca será perfeito. Eu não tenho plano de saúde, sabe? Devo ser uma das poucas pessoas de classe média que não tem. Mas eu moro em Joinville, que ainda tem um bom sistema público. Quem dá as verbas é o governo federal, mas quem as aplica é o governo municipal e estadual. No Rio vcs tem o César Maia, né? Quer dizer...
Vai muito do sentimento de cada um. Se vc sempre quis morar em outro país, a situação do Brasil não vai fazer vc mudar de idéia. Pense só no quanto o governo te afeta diretamente. Pra quem é de classe média, pode ter certeza que afeta muito mais.
E por que o povo não iria à praia?! Vc acha que o governo é uma droga, e o país tá afundando, e isso deve afetar a felicidade de todo mundo? E mesmo que o país estivesse uma droga, por que o pessoal deveria deixar de ter algum lazer? Eu acho ótimo o povo ser alegre. Eu sou alegre.

lola aronovich disse...

Cavaca, que eu saiba, o tal de "compre seu carro e sua casa e pague até a morte" é bem antigo. Ou desde quando que brasileiro (e americano!) comprou carro e casa à vista? Aliás, de que classe social de brasileiros vc tá falando? A sua, que é "pobre"? Não tem muito pobre que tem carro e casa própria... Por que tanta gente de classe média se diz pobre, e tanto rico se diz classe média?
Os contratos telefônicos são uma tristeza, vc tem toda razão. Infelizmente, há regras, que foram assinadas quando o FHC privatizou a telefonia. Eu me lembro de quando minha taxa telefônica por mês era de R$ 3,86! Isso foi subindo, subindo, e tá tudo no contrato. E eu me lembro também que paguei 2 mil reais pelo meu telefone, mas depois vendi as ações por esse valor. Sabe, o monopólio da telefonia super atrasada que a classe média tanto criticava? Agradeça o Sergio Motta, ministro do FHC. As Telefônicas da vida realmente não têm nada do que reclamar.
Não, aqui na região dos EUA onde estou praticamente não há brasileiros. Mas acho que nós brasileiros somos o povo mais querido do mundo. Tenho um textinho sobre isso, aqui:
http://escrevalolaescreva.blogspot.
com/2008/01/living-la-
vida-lola-1-primeiros-dias.html
(tem que por tudo junto).
Toda vez que a gente fala que é do Brasil o interlocutor abre um sorriso. Essa não deve ser a reação em Portugal, como não é em várias cidades americanas onde há muitos brasileiros que competem nas vagas de emprego. Isso não é preconceito contra brasileiro em si, é contra imigrante (ilegal). Onde há muitos mexicanos o preconceito é contra os mexicanos, onde há chineses é contra os chineses, onde há haitianos é contra os haitianos... Isso é também xenofobia, e me espanta que vc dê razão a gente preconceituosa! Deve haver alguns brasileiros que desembarcam aí para "fazer coisa errada", mas generalizar e achar que é a maioria é um erro grave. Fiquei chocada ao ver, recentemente, um fórum de discussão português durante a Copa de 2006. Um comentarista brasileiro, o Nilton Neves, fez alguma observação triste sobre Portugal (ou sobre a seleção portuguesa? Não tem como saber, não sei o que ele falou), e o fórum se encheu de português dizendo que brasileiro é tudo ladrão e brasileira é tudo prostituta. Que horror! Claro que não vou generalizar e pensar que todos os portugueses, nem mesmo a maioria, pensam assim sobre os brasileiros. Mas foi chocante ver tanto ódio. E "sobre estar preparada pra ter uma experiência no exterior", suponho que vc saiba que é lugar comum alguém que mora no exterior há mais tempo tecer um comentário desses sobre alguém recém-chegado. Há uma hierarquia entre os imigrantes (de qualquer nacionalidade). E há muita discriminação entre eles mesmos.
Mas, no geral, acho que vc está enganado: brasileiro é muito bem visto na maior parte dos lugares. Não sei se existe uma outra nacionalidade mais querida no mundo (eu ia te recomendar um outro post, mas acabei de descobrir que ele não tá no blog! Deve ter ficado no outro computador. Assim que eu colocá-lo, te aviso).

Anônimo disse...

Lolá, olá. O que eu quis dizer é que o poder aquisitivo, que é o que interessa, de facto não aumentou como algumas pessoas dizem. Muito do que se fala sobre o futuro é concreto, nosso país tem tudo para ser grande, mas o presente está envolvido em muita ilusão. Aqueles preços, que deveriam estar caindo, especialmente os de serviços públicos, seguem uma outra corrente. E isso pesa muito nas despesas de uma casa. Claro que tem gente ganhando mais dinheiro agora que discorda do que eu digo...no entanto quando falo, penso nas pessoas onde os benefícios do desenvolvimento sempre chega por último. O Assalariado de baixa renda. E quando digo pobre me refiro as pessoas que não tem acesso aquilo que o governo deveria lhe fornecer por direito.
Meus inimigos me acusam de já ter me tornado português. O que me causa desconforto. Tenho orgulho de ser brasileiro, e cá entre nós posso lhe dar mil exemplos de comportamentos típico dos portugueses que me fariam optar em ser ET.
Eu sou gerente no mais conhecido restaurante italiano daqui, um local que está sempre nos jornais e revistas pelos personagens importantes que atrai. Não passa um dia sem que uma pessoa famosa de as caras por ali. Nossa clientela também é turística, gente de todas as partes do mundo. É um trabalho onde se aprende muito sobre o comportamento das pessoas, e das pessoas em si.
O patrão, italiano, por regra sempre contrata brasileiros, lhes dá casa e duas refeições diárias...e os legaliza. No entanto o salário não é lá essas coisas, mas é uma grande oportunidade para se legalizar e aprender uma nova profissão, uma nova língua e depois conseguir coisa melhor.
Eu estou sempre a procura de brasileiros para recrutar para o trabalho, essa área sempre necessita de pessoal. E tenho que os ensinar tudo desde o principio, uma coisa que me satisfaz.
No começo sempre me ofendia quando um português depreciava as brasileiras e brasileiros em geral. Eu nunca fui de generalizar nada, procuro ver as pessoas como pessoas independente de qualquer coisa. E assim cheguei a partir em defesa dos meus paesanos, como um instinto natural. Mas existe uma verdade difícil de explicar que causa uma desilusão ao correr dos tempos. Muitas meninas que eu empreguei conhecerem certos clientes e foram ser putas, hoje voltam aqui vestidas de dolce e gabanna da cabeça aos pés em lugar da humildade e simpatia, que desaparece na mesma medida que o dinheiro entra. Uma puta simpática praticamente não existe. Não ligo por ela ser puta...muitas delas até se orgulham disso... mas qual o problema em ser simpática ao invés daquela pose de femme fatale provocante que faz o homens temerem. E o comportamento dessas meninas aqui, antes dizer o carácter, longe da autoridade dos país, quebra-se. Evidentemente não são todas, mas é a maioria sim. Falo das coisas que acontecem por aqui, especificamente. Amigos meus em Inglaterra e Itália dizem que o mesmo se passa por lá.
Acho que as pessoas devem ter o direito de ir em busca do que quiserem em outro lugar, por isso quando digo estarem preparadas para o exterior digo que não é aconselhável procurar emprego com a camisa do São Paulo, bermuda e havaianas. Ou, sem ao menos dizer um bom dia e perguntar pelo responsável, disparar logo: Não tá precisando de ninguém pra trabalhar aí não?
_ Eu tô chegando do Brasil agora sabe, caçando um serviço...também não aconselho. Eles não querem saber esse detalhe.
Na minha opinião para tentar uma vida de imigrante tem que se adaptar ao local onde vc está. Andar no metro com a camisa da selecção, ouvindo sertanejo num volume que incomoda quando a maioria das pessoas está lendo o jornal é incoveniente. E só faz as pessoas pensarem no rótulo e na caricatura do brasileiro.
Eu entendo a pessoa que chega sem saber nada a respeito de como são as coisas por aqui, mas pô, tenha vontade e a mente aberta para crescer.
Eu me vejo forçado a dispensar algumas pessoas depois de tanto esforço para treiná-la, porquê no nosso trabalho não se diz aquele cara quer uma cerveja, é aquele senhor... não se diz véio, brother nem mano ou guri...tem que ser dizer bom dia, boa tarde, boa noite e algumas pessoas não estão dispostas a sequer fazerem isso...além do facto de muito cedo demonstrarem insubordinação.
Tenho cá diversos amigos, tanto brasileiros como portugueses (embora os portugueses sejam em menor quantidade...na verdade três), e falei muito com todos eles antes de escrever aqui.
Todos me aconselharam a não fazer, porquê esta é a nossa realidade e as pessoas não vão entender porque não vivem as mesmas situações diariamente. Você está tornando as coisas especificas enquanto as pessoas estão pensando no povo brasileiro todo.
O brasileiro é bem visto, não digo o contrário, mas o brasileiro imigrante, assim como muitos imigrantes de países em desenvolvimento não o são porque o choque cultural (entenda-se a diferença na educação) é muito grande. Alemães, Italianos e Ingleses que vivem em Lisboa não se sentem picados nesse sentido, conheço muitos deles. Mas sobre os portugueses as opiniões convergem para um consenso...o de que eles não se misturam com ninguém. O que penso muito as vezes é que de tantos brasileiros que entrevisto para um emprego a maioria deixa muito a desejar...e olha que nós não exigimos muito. E concluo que os brasileiros do qual eu tanto me orgulho se calhar estão todos no Brasil e por cá vemos apenas aventureiros confusos ou desesperados ignorantes.
Eu prometi que não me estenderia, desculpe, não sei se me fiz entender bem. Acho que tudo isso foi para dizer que falar bem de brasileiro por ser brasileiro ou falar mal de português apenas pelo desígnio da etnia é errado. O Brasil é muito grande, nós que estamos aqui viemos de muitas partes diferentes, com educação diferente e tudo mais...num país ainda mais diferente.

Gisela Lacerda disse...

Não entendeu? Simples, Lola: eu não falei em "ser milionário". Falei em preços terem a ver com o que se ganha. É totalmente diferente de uma parcela da população ser triliardária e a maioria viver à míngua. Falei em simples "poder de compra" que é o responsável sim por alguma felicidade, senão vou ser obrigada a usar aquela velha frase com a outra réplica pra mesma; alguém escreve no quadro-negro "dinheiro não traz felicidade". Vem o realista e escreve embaixo na maior tranquilidade: "me dá o teu e seja feliz!" ;-))

lola aronovich disse...

Gi, até concordo que o poder de compra é importante pra alguma felicidade, ainda mais numa sociedade consumista como a nossa, que faz lavagem cerebral nas pessoas pra elas acreditarem que é só comprar pra se sentir bem. "Tá chateada? Vá fazer compras! Vc vai se sentir muito melhor!" - a gente ouve isso sempre, principalmente nós, mulheres. É que no seu outro comentário vc escreveu "É muito triste que nosso país seja assim", e aí acho que há um certo exagero. Não sei, eu acho muito "triste que nosso país seja assim na péssima distribuição de renda", no fato de que ainda há gente que passa fome e não tem onde morar. Não acho tão triste assim que pessoas de classe média não possam comprar todos os pares de sapato de 150 reais que desejam. Sei que não sou exemplo de nada, mas eu sou bem felizinha com meus Moleca Comfort.

lola aronovich disse...

Cavaca, obrigada por seu depoimento, achei-o muito interessante, e fico feliz que vc se dispos a contar isso aqui. Mas continuo achando que vc está generalizando. A maioria das brasileiras que vai praí vira prostituta? Talvez muitas já o eram no Brasil, e foram pra Portugal ganhar em euro. Talvez algumas brasileiras não conseguiram um emprego que pagasse bem, e foram por esse caminho, que de "vida fácil" não tem nada. Mas realmente não acho que seja a maioria. (E, como vc disse, mesmo que algumas virem prost., têm o direito de fazerem isso). Falta de educação tem em todo lugar, vc não acha? Eu concordo que brasileiro, em geral, seja mais simpático que educado, ao contrário de muitos outros povos que não costumam ser simpáticos, mas ao menos são educados. Infelizmente, tem muito brasileiro no Brasil que joga papel no chão, que dirige mal pacas, que ouve seu som no volume que quiser, sem dar a mínima se está incomodando o próximo ou não. Mais do que falta de educação, eu diria que é completa falta de cidadania, de não saber que ele é parte do país, e que o país pertence a ele. E certamente muitos desses brasileiros se mudam pro exterior e continuam se comportando mal, como faziam no Brasil. A gente sabe muito bem que brasileiro não é perfeito (ninguém é, nem sueco!). E essas pessoas realmente deixam uma imagem muito ruim do brasileiro - aliás, no Brasil tb. Mas eu ainda sou otimista o bastante pra achar que a maioria dos brasileiros não é assim. Eu não sou assim, meus amigos tampouco. E alguma coisa brasileiro deve estar fazendo certo, porque o pessoal adora o Brasil em todo o mundo. Tem a ver com o futebol, tem a ver com mulher bonita, com carnaval. Mas acho que acima de tudo tem a ver com a alegria. Outro dia, num blog americano, o autor decidiu colocar 10 motivos pelos quais vale a pena preservar o planeta. O primeirão da lista que ele pôs foi "Brazilians". Meu irmão, que é argentino e viaja o mundo todo, diz que está ansioso pra se naturalizar brasileiro e usar apenas passaporte brasileiro, porque ele vê a diferença de tratamento que ele recebe e que a mulher dele, brasileira, recebe. Todo mundo abre um sorriso pra brasileiro. Nesse artigo que escrevi ano passado e que não tô conseguindo achar de jeito nenhum, eu falo de uma reportagem da Vanity Fair sobre o Brasil. É um amor escancarado ao Brasil e ao jeito de ser dos brasileiros. Eu insisto que brasileiro deve ser o povo mais amado do mundo (onde não há muitos imigrantes ilegais brasileiros pegando empregos - mas aí é preconceito contra imigrantes, de qualquer nacionalidade).
Agora, no seu ramo de trabalho (empregar e treinar pessoas para trabalhar num restaurante, um emprego que paga pouco, e que, portanto, atrai primeiramente pessoas com baixa qualificação), vc não acha que teria muitas queixas pra contar em qualquer lugar que vc vivesse? Se o seu patrão italiano empregasse majoritariamente pessoas de um outro país "em desenvolvimento" (porque pessoas de países ricos não vão querer trabalhar num lugar que pague mal), seria muito diferente?

lola aronovich disse...

Cavaca, achei o artigo que queria que vc lesse. Adicionei o link no final do post. Na realidade, não é que eu "achei" o texto. Ele realmente não tava no blog. Mas graças a vc, agora está. Obrigada!

Gisela Lacerda disse...

Eu não sou totalmente feliz com os sapatos baratos, porque eles geralmente são de má qualidade - falo do Brasil. Claro que tem aquelas "coisas" que a gente compra achando que está fazendo um "bom negócio", promoção, loja famosa e aí.. nada disso. Bem, graças a Deus, não acontece comigo, pois simplesmente não compro. Mas gostaria de poder ter o dinheiro pra comprar.

Eu acho que o vil-metal move o mundo e é a razão pra todos os males. Mas também é a felicidade. Não falo em poder de compra nesse estilo "bolsa família" ou eletrodoméstico no barraco da favela. Se você perceber, eu penso igualzinho a você, até porque vivi quase toda minha vida no Rio de Janeiro, uma das cidades mais conflituosas e onde o rico está constantemente junto do pobre. Estou acostumada a lidar com estrangeiros e eles ficam chocados com as "diferenças próximas". Não sei até que ponto isso soa hipócrita, do tipo "ah, não queria ver esse miserento sugismundo perto de mim, afinal de contas a miséria é tão separada, lá longe no meu país de origem". Às vezes, eu percebo que não é o ato de se solidarizar e sim o repúdio ao estilo "seja pobre, mas longe de mim". É fácil fazer teses e trabalhar ajudando pobres, fazendo doações mas vivendo em países do primeiro mundo. É essa a minha crítica.

O bem público é apedrejado no Brasil, o Estado não funciona e o "poder de compra" realmente não é tudo. No entando, por outro lado, nunca vão me fazer acreditar e engolir de que "dinheiro não traz felicidade". Aqui traz sim. E traria a muita, muita gente.
;-) Claro, mas não vale morar num barraco tendo o tênis da moda.

Gisela Lacerda disse...

Lola, adoro essa discussão. Tanto o dinheiro (ou seria o poder que ele dá?) traz felicidade que o ser humano está sempre em busca dele. Ele é a mola propulsora desse mundo. Só que algumas buscas são ocultas e outras assumidas. Há vários meios mas os fins são exatamente os mesmos.

Não é que "eu queria comprar o sapato caro", mas eu queria que o sapato de boa qualidade não fosse caro e que a matéria prima de meu país e talvez outros produtos não fossem embora ou não voltassem pra cá (de onde saíram) por um preço exorbitante. Eu gosto de $ sim.
;-)) Mas o mais engraçado é que sempre vivi bem sem muito. Isso que é o mais paradoxal. Acabei descobrindo outras vias pra canalizar minha libido insaciável. hehe

Gisela Lacerda disse...
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lola aronovich disse...

Eh, Gi, eu tb nao fico muito feliz com minhas Moleca Comforts. Elas duram bem pouquinho. Mas sao confortaveis enquanto duram. Na realidade, eu odeio sapato, e se pudesse so andava de chinelo. Mas descobri que andar longas distancias de chinelo machuca os pes. Pelo menos os meus. Aqui em Detroit comprei UM par de sapatos meio botas, eu acho, usados. Custou menos de 10 dolares. Eu uso isso e um outro sapatinho de pano que trouxe do Brasil, e so (eu tinha trazido dois pares de Molecas tb, mas eles nao duram 10 meses. Ja foram jogados fora). Nao tem jeito, eu nao sou consumista MESMO. Posso ficar meses sem gastar em nada alem de comida e as contas do dia a dia. E o maridao eh igual. Ainda bem! Ja pensou os conflitos matrimoniais se uma das partes do casal fosse gastona e a outra pao dura?
Nao sei se acredito ou nao no "dinheiro nao traz felicidade". Pessoalmente, eu me sinto muito bem em saber que nunca, jamais, vou passar fome na vida. Simplesmente porque pertenco a uma classe social (media) em que isso eh praticamente impossivel de acontecer. Mas entre as pessoas pobres nao existe esse nivel de conforto mental. Deve ser terrivel nao poder alimentar os filhos, por exemplo, ou nao saber se vai conseguir pagar o aluguel ou se vai ter que dormir na rua. Classe media nao sabe o que eh isso. Portanto, ter dinheiro pra cobrir as necessidades basicas (comida, moradia, transporte) ja traz muita felicidade - ou pelo menos alivio.
Acho que nao sobra tempo pra ser feliz se a pessoa tem que se preocupar o tempo todo em cobrir essas necessidades basicas. Por outro lado, tenho amigos e conhecidos que pelos meus padroes sao ricos, e eles vivem angustiados porque gastam mais do que ganham. Seriam felizes se ganhassem mais? Provavelmente nao, porque gastariam mais. Pra mim, felicidade e liberdade andam juntos. Eu me sinto livre por nao precisar trabalhar 40 horas por semana. Ou por nao precisar engolir sapos. Se eu nao gosto de um trabalho, eu saio (quer dizer, mais ou menos). E essa liberdade de poder fazer o que gosto me faz feliz.
Eu nao falaria tao categoricamente que o Estado nao funciona no Brasil. Eu fiz mestrado e estou fazendo doutorado numa universidade publica de alta qualidade. Nao tenho plano de saude mas, quando preciso, posso contar com o SUS, que ainda funciona na cidade onde moro (Joinville). E o transporte publico nao eh ruim. No que eu pessoalmente dependo do Estado, nao posso me queixar muito.
E se o sujeito que mora num barraco quiser ter o tenis da moda, quem sou eu pra condena-lo? A vida eh feita de escolhas, o tempo todo. Essa pessoa deixou de comprar alguma coisa pra comprar aquele tenis. Como isso eh diferente da patricinha que tem 300pares de sapatos? Minha opiniao eh "vc nao precisa disso" pra ambos os casos. Mas cada um vive como quer. E o cara do barraco certamente contribui menos na destruicao dos recursos do planeta que a moca dos 300 sapatos.
Olha, eu gosto de dinheiro. Penso muito em dinheiro. Vivo fazendo calculos. Adoro ganhar dinheiro. So nao gosto de gasta-lo...
Eu queria criar um movimento, Hedonismo sem Consumismo. Ou seja, faca o que quiser (desde que nao prejudique os outros) e seja feliz, tentando gastar o minimo possivel.

Gisela Lacerda disse...

Lola, eu também nunca fui consumista, mas por pura e simplesmente por falta de paciência pra fazer o tour "andar, ver e comprar", por pão-durice e DURICE! ;-)

Claro que quando nascemos num meio privilegiado, muda tudo.

A propósito, o estado deve funcionar só em Floripa. ;-))

Por outro lado: eu não tenho plano de saúde desde 2002 (estava fora do Brasil), todos insistem pra eu pagar, mas cadê o $? Entregar assim de bandeja quando nem uso? Já utilizei (como uma cirurgia simples) os serviços de hospital público e foi muito bom. O problema é a escassez de tudo e a quantidade de pessoas pra atender, porque médicos têm! E de qualidade até. Apesar de eu odiar a "classe".

Agora voltando ao assunto do dinheiro. Acho que você não entendeu o que eu quis dizer em relação ao cara que mora na favela (ou em qualquer lugar considerado ruim). Falei em termos de pesquisa do que é qualidade de vida, do significado do que é verdadeiramente um desenvolvimento:

- não trabalhar tanto e
ganhar o suficiente pra viver, mas pra consumir sim. Eu não acredito que ninguém queira isso.
- ter um sistema funcionando.

O ato de "comprar um tênis" vai virar apenas uma estatística. Você levou pro lado da compaixão: "o pobrezinho que compra o tênis, quem sou eu pra condená-lo?" Quando você fala isso, pressupõe imediatamente que eu o esteja condenando. E não disse isso aqui.
O meu "tom" é outro. É simples e calculista. Você colocou ecologia e uma espécie de compaixão no meio e misturou "direito do cidadão; direito a consumir" com "ter pra consumir o sapato e ainda poder viver com dignidade." Favelas apresentam condições precárias de vida. O ato de consumir virará SOMENTE estatística. No entanto e apesar disso, o poder de compra diferencia sim um país de outro. A prova é o que você acabou de escrever: se você possui poder de compra (ainda que sejam 10 dólares e que bom que são apenas 10 dólares) e ao mesmo tempo uma cidade sem calçadas esburacadas, contas justas, preços idem, e outros tantos itens que caracterizam uma nação, digamos, justa, você tem praticamente tudo.

Poder de compra (não significa consumismo exacerbado) + um estado que funcione. Voilà.

Hedonismo no capitalismo é outra coisa. ;-)

Gisela Lacerda disse...

Corrigindo a frase "não acredito que ninguém queira isso": "eu não acredito que as pessoas não desejem fazer parte da torre de babel e consumir bastante".

lola aronovich disse...

Gi, nao sei se o Estado funciona em Floripa. Eu to falando de Joinville! Mas sei o que vc quer dizer. Minha mae mora numa casa no mesmo terreno que eu, e ela nao tem plano de saude. E, como a gente vive em Joinville, conseguimos nos virar bem sem plano. Mas, quando eu me mudar de cidade/estado, se ela tiver que se mudar tb, nao sei se poderiamos nos dar ao luxo de nao ter um plano pra ela. E eh carissimo pra alguem com mais de 70 anos.
Nao entendo como "comprar um tenis" vira uma estatistica. Em favelas nao ha estatisticas. Favelas em geral sao invisiveis, fora da margem. Mas eu nao tenho compaixao pela pessoa que mora em favela e compra um tenis de marca. Se alguem quiser minha opiniao, eu nao acho que ele deveria estar gastando dinheiro com algo tao futil como um tenis de marca. O que eu acho chato eh essa mentalidade classe media de achar que tudo bem uma patricinha ter 300 pares de sapato, ou comprar sapato por 150 reais, mas eh desprezivel um favelado comprar tenis de marca. Foi o que o seu "Claro, mas não vale morar num barraco tendo o tênis da moda" me passou. E esse eh um preconceito muito comum que vejo entre a classe media, usar medidas diferentes pra pessoas da sua classe e pros pobres. Eh parecido com aquelas pessoas que dizem "Ui, que horror, como que essa favelada pode ter dez filhos?!", mas nao ve absolutamente nada de errado com um casal rico ter 10 filhos. Nao eh que eu tenha compaixao pela favelada com 10 filhos - eu nao acho que ela deveria ter 10 filhos -, mas nao gosto de ver gente em posicao socio-economica muito melhor a dela julgando-a, determinando quantos filhos alguem deveria ter. Condene 10 filhos pra todo mundo, po! E considere sapatos de 150 reais futeis e desnecessarios pra todas as classes, nao so pros pobres.
Sobre poder de compra, sim, logico, isso nao eh sinonimo de consumismo exacerbado nem de longe. E eh importante medir o "poder de compra" em cada pais. So que geralmente esse poder de compra eh medido pra coisas mais simples, nao sapatos de 150 reais. Ate porque, se um favelado pode comprar um tenis de marca, qualquer outra classe social tem poder de compra pra isso, certo?
A parte de um comentario seu que gerou toda essa birrinha minha foi: "também não gasto muito simplesmente porque me falta, mas acho que seria superconsumista se tivesse como partir pra essa maneira de viver. É muito triste que o nosso país seja assim". A correlacao que eu entendi do seu comentario foi que vc seria superconsumista se pudesse, mas nao pode porque nao tem dinheiro, e acha "muito triste que o nosso pais seja assim". E ai eu repito o meu comentario anterior: eu posso achar triste que o nosso pais seja assim em muitas areas, mas o fato de vc nao poder ser superconsumista nao esta entre elas.
E desculpe, mas tambem nao entendi o ultimo paragrafo do seu penultimo comentario. Vc diz que o pais em que estou vivendo temporariamente, os EUA (so ate agosto), eh justo porque aqui posso comprar um sapato usado por 10 dolares e muitas ruas nao sao esburacadas? No Brasil eu nao posso comprar um sapato usado por 10 reais? Um pobre nao pode comprar sapato por 10 reais? Se ele pode ate comprar tenis de marca, cade a injustica?

Gisela Lacerda disse...

Olha, Lola, poder até pode comprar, mas acho meio difícil. ;-)

Sobre a cidade: confundi tudo. Floripa com Joinville! Bem, mas ambas estão em Santa Catarina.
;-))

Respondendo, digamos, um terço do comentário:

- "pessoas da favela" (ou de outros lugares onde as condições de vida são precárias a péssimas) não são estatísticas pra quase nada, apenas quando convém aos responsáveis, aos governantes e poderosos, ou seja, na hora da morte (crimes, balas perdidas, etc) ou na hora de engordar candidatura de político aproveitador: "ah, ele ganhou isso por causa do amável bolsa família" ou "ele comprou uma tv e um vídeo e tem um tênis da moda".

Sobre o consumismo: foi exatamente isso que quis dizer; que seria consumista se pudesse! E não vejo isso como vil e nem "enterro" da minha 'vontade' e sublimação pra outras áreas da vida, como por exemplo, lutar por um país mais justo, no caso aquele/este onde nasci, e cresci e vivi a maior parte da minha vida. a comparação com os EUA foi a título de pesquisa e porque você comentou sobre a sandália e porque, enfim, vivemos num mundo, uma "rodela grande". Sou meio "think globally, act locally".

Bjs ;-)