quinta-feira, 29 de maio de 2008

“JESUS ME FEZ VOMITAR”

Se você tiver um tempinho e souber bem inglês, leia isso aqui (o artigo meio que sumiu depois de ser atacado pela direita cristã). Eu morri de rir com o artigo de um jornalista da Rolling Stone, Matt Taibbi, que se infiltrou num retiro espiritual de uma das várias igrejas evangélicas que prosperam nos EUA. O título já é desrespeitoso, “Jesus Made me Puke” (“Jesus me Fez Vomitar”). Lógico que é totalmente preconceituoso, mas acho que se tem um grupo que não pode reclamar de preconceito é a direita cristã americana, que deseja que mulheres pilotem fogão a vida inteira e que gays e feministas ardam no inferno. Minha parte favorita do texto é quando, numa espécie de terapia em grupo, cada fiel precisa expor qual o seu trauma de infância. O moderador relata que o fato mais terrível de sua existência foi quando seu pai não deixou que ele continuasse brincando com um aviãozinho. E aí chega a hora de Matt relatar a sua experiência dolorosa, e ele tem que mentir um pouco: “Olá, meu nome é Matt, e meu pai era um palhaço de circo alcóolatra que batia em mim com seus enormes sapatos de palhaço”. Como o trauma deve ser recontado à exaustão, Matt relata que, numa ocasião, seu pai largou o emprego no circo e foi trabalhar como garoto-propaganda de uma sorveteria, onde precisava se fantasiar de Fudgie, a Baleia. Matt fala ao grupo: “Eu rio disso agora, mas uma vez ele me perseguiu, bêbado, vestindo sua fantasia de Fudgie, a Baleia, e me bateu com suas barbatanas”. E um dos colegas do retiro olha pra Matt com um olhar que diz: “Sei como são essas barbatanas”.
Meu segundo momento favorito do artigo vem com Matt falando do pastor, que num de seus discursos explica que nossos pecados são transmitidos de geração pra geração. E ele dá um exemplo: uma vez seu sobrinho ligou desesperado, no meio da noite, pra pedir ajuda. Seus dois filhos estavam morrendo sufocados por falta de ar. O pastor imediatamente lhe perguntou se eles tinham livros do Harry Potter em casa. O sobrinho respondeu que sim, o pastor mandou jogar os livros fora, e milagrosamente, os meninos voltaram a respirar.
E, finalmente, a descrição da sessão de descarrego também é impagável. Todos os fiéis devem ficar de boca aberta enquanto o pastor grita, durante mais de duas horas: “Em nome de Jesus, eu expulso o demônio do incesto! Saia, demônio do câncer! Saia, demônio da bruxaria! Saia, demônio da astrologia! Saia, demônio da filosofia!”. O pessoal tem convulsões “no estilo Linda Blair” e vomita, pondo os demônios pra fora. Matt pede um saquinho (desses pra vomitar nos aviões).
Em seguida, chega a hora de falar em línguas estranhas. Segundo o autor, nessas horas difíceis, todo mundo imita os extras de Indiana Jones e o Templo da Perdição. É tudo “Balabum turum gam”. Mas Matt passa a declamar a letra de uma canção da banda russa DDT. O pastor fica satisfeito.
E a gente ri, esquecendo-se que o Bush, presidente do maior império do mundo, como bom born-again Christian, também passou por isso. E levou a sério.

11 comentários:

Ale Picoli disse...

Vou ler com calma depois. Tem duas coisas ótimas que eu li/passei nos últimos dias. Uma era sobre um documentário sobre escultores de balões (não sei como chama em português, são aqueles caras que torcem balões e fazem figuras). Neste documentário são mostrados tanto os "escultores de balões de cristo", que usam os balões pra pregar o evangelho, como os escultores "adultos", que usam os balões pra fins mais eróticos. E os de cristo estavam boicotando o documentário pq ele retratava gays junto com eles! Não estou conseguindo lembrar muitos detalhes nem nomes, a gripe tá me consumindo os neurônios, mas quando eu lembrar, te mando.
Já esse aqui eu coloquei nos favoritos: http://www.youtube.com/watch?v=qCzbNkyXO50
Acho que é um programa de comédia australiana, pelo sotaque. Mas é FANTÁSTICO: gay scientists isolate christian gene.

Juliana disse...

Só li o teu texto, mas esse papo de sessão de descarrego, me fez lembrar outra coisa hilária/deprimente:
http://www.kibeloco.globolog.com.br/Ronildo%20Pecanha.jpg

Juliana disse...

Sei que não dá pra ver o link todo, mas clica duas vezes em cima dele que ele é todo selecionado. Aí dá o ctrl+c ctrl+v básico =)

Anônimo disse...

Há muito disso no Brasil também não é? E não é preciso participar para querer vomitar, basta apenas ver os programas religiosos da madrugada. Aqueles que vão além da conta e usam a palavra dinheiro mais de dez vezes... Sabe Lola, cada um que siga a religião que quiser, não é verdade?, e posso estar viajando mas talvez se não fosse esse crescimento dos evangelicos ...não sei...quem sabe a violencia e outras coisas não estariam ainda pior. É que muita gente de facto encontra conforto...ou sejá lá o que elas estiverem procurando...nesses lugares, mesmo que estejam sendo vitimas de lavagem cerebral.
Por isso não consigo deixar de pensar em ditadura-social quando vejo aqueles fiéis que se vestem da mesma maneira e procuram não se misturar com "o mundo" ... uma expressão que muito deles usam. Tem gente que deixa de fazer amizades, se envolver em paixões, ler certos livros, ver tv, comer certa comida, deixa de fazer sexo e muitas outras coisas pela religião. E não por Deus. Acho que Ele na verdade não liga para a maioria dessas coisas.

lola aronovich disse...

Ale, pois é, dificilmente gays evitariam estar num documentário em que evangélicos estão presentes, mas o oposto é bem comum. Enfim, esse pedacinho do programa que vc indicou do YouTube indica que tem gente que se cansa de apanhar calada e decide revidar um pouquinho. É um problema, porque gays, ateus, feministas, etcc - toda essa gente que os fanáticos religiosos odeiam - geralmente são mais polidos que os fanáticos. Assim: a gente faz o possível pra não ofender nem condenar ninguém, mas os fanáticos nos ofendem e condenam diariamente. É gostoso ver um artigo como esse do Matt de vez em quando. Melhoras da gripe!

lola aronovich disse...

Ju, o que eu mais gosto dessas sessões é quando o pastor manda todos jogarem fora seus óculos...

Cavaca, de vez em quando eu via o Fala que eu te Escuto, que é quase um cult. É divertido (e tenho certeza que os realizadores sabem que parte do público não é de fiéis). Olha, eu não condeno a religião de ninguém. Só peço pra não insistirem em querer converter a todos, e que respeitem a separação entre Estado e religião. Só isso. Acho que as religiões podem ser benéficas pra muita gente, e talvez, como vc diz, pra sociedade como um todo. Eu fico feliz quando um assassino na prisão se converte e vira evangélico. Se isso significa que ele nunca mais vai matar, que ele está arrependido, só posso fazer coro ao Aleluia. Muitas pessoas são mais felizes por terem uma religião. E se elas querem dar o dízimo a um pastor ou padre, ao invés de gastar em templos de consumo como shoppings, quem sou eu pra dizer que estão erradas? E, se eu não condeno quem faz muito sexo, por que iria condenar quem não faz? (não que evangélicos não façam sexo, só estou seguindo o seu raciocínio). Cada um vive como quer. Mas, assim como eu não condeno os religiosos e nem quero convertê-los, seria legal se eles fizessem o mesmo comigo, e com todos que não pensam como eles.

Suzana Elvas disse...

Faz tempo eu li (e na mesma época, escrevi) uma matéria falando do crescimento do número de evangélicos no Brasil e o envelhecimento da Igreja Católica. E uma das coisas que mais me impressionou foi constatar a ação dos evangélicos onde os padres simplesmente não pisam, em particular penitenciárias e carceragem. Ali, padre que vai é para dizer que o fulano deve se arrepender porque vai queimar no inferno. Manda rezar isso e aquilo e fim de papo. Os evangélicos conversam, levam sabonete e pasta de dente, pegam telefone da família (e ligam), dão apoio à mulher e aos filhos do dito preso.

O problema, ao meu ver, não é ser dessa seita, religião ou corrente messiânica; o problema é quando, detentor de poder, o sujeito impõe o que acredita a uma grande multidão. Hoje estamos acompanhando no Brasil a votação sobre a liberação (ou não) do uso de células-tronco de embriões humanos em pesquisas médicas. A argumentação para o veto à liberação é, basicamente, católico. Mas a Justiça deveria ser, em seu cerne, laico. Se você é ateu, porque não deve se beneficiar de uma pesquisa porque o juiz do Supremo é cristão reformado, batista, católico ou pentecostal? O que deve ser seguido é o que está escrito na Constituição, e não na Bíblia, no Torá ou no Alcorão.

BTW, fui batizada católica, mas jamais acreditei que, pra falar com quem estiver lá em cima preciso de intermediário ou de um lugar especial.

Meu novo modem chega hoje, Lolita. :o)
Bjs

lola aronovich disse...

Ah, que bom, Su, porque sinto falta dos seus comentários inteligentes por aqui (não estou dizendo que os outros comentários de outros queridos e corajosos leitores que escrevem aqui não são inteligentes, mas é que a Suzana é uma das mais participativas, e tava meio ausente). Então, concordo 100% com vc, Su. Acho muito positivo que igrejas evangélicas entrem nas prisões. Por eu ser de esquerda, sempre gostei da Teologia da Libertação, porque tudo bem acreditar que o paraíso virá depois da morte, mas muitas crenças realmente funcionam como ópio do povo. Como o papa anterior fez questão de exterminar a Teologia da Libertação, que foram substituídas no Brasil pelos carismáticos, hoje não sei se há muita diferença entre os evangélicos e católicos. Os padres da Teologia não queriam substituir a constituição pela bíblia, mas os padres conservadores... E eu vejo a igreja católica cada vez mais conservadora, no Brasil e no mundo. Só acho que as religiões deveriam pregar pros seus fiéis, inclusive impor um estilo de vida aos seus fiéis. Mas querer governar um país como se todos fossemos fiéis é muito errado.

Caleb disse...

Well, what i can say? they don´t have greace and God is Grace:

Religião é você fazer isso ou aquilo tentando conseguir a aprovação de Deus. É você fazer as coisas tentando agradar a Deus. Se eu ajudo os necessitados, freqüento um templo ou realizo rituais porque me sinto na obrigação de conseguir algo de Deus isso é religião. Me esforço para ser aceito por Deus, me sacrifico para chegar até Deus. Isso é religião e isso não nos leva a lugar nenhum. Por que? Porque não conseguimos, simplesmente. Somos imperfeitos demais, erramos demais, egoístas demais, não podemos fazer o suficiente, somos pecadores, não está em nosso poder alcançar a Deus, nunca estará. Assustador não é? Bom, na verdade é um alívio, porque ai que entra a Graça.

Graça é o que Deus faz por nós, e não o contrário. É Deus nos aceitando porque Ele nos ama, não porque merecemos. Deus se sacrifica porque quer ficar com a gente, não porque somos bonzinhos. Ele nos criou para isso, Ele sacrificou o filho dEle para que pudéssemos conhece-lO. Esse é o foco da vida cristã. Você fará as coisas para Deus porque quer ser aceito por Ele? Não! Você deve ler a bíblia e seguir os ensinamentos de Jesus por obrigação ou dívida? Não! Você faz algo por Deus porque deve ou precisa? Não!

Eu faço porque eu o Amo! Simplesmente por isso. Façamos por amor, porque fomos agraciados com seu amor. É um ciclo movimentado pelo amor.

Entendi, que Deus vem até a mim e me oferece, por amor, um sacrifício completo, um perdão completo, purificação completa. Apenas cabe a mim dizer sim ou não para este sacrifício e favor dEle. Não posso mais viver com culpa, não preciso mais viver com culpa, posso viver com a Paz verdadeira no meu peito. E isso faz toda a diferença. Isso é real!

lola aronovich disse...

Forgotenmemoris, que bom que vc tenha tão delineado, e com tanto fervor, o que Deus faz pra vc e o que ele espera de vc. Às vezes parece bom ter tanta certeza.

André Gonçalves disse...

ah, não...
isso é verdade, mesmo?
não pode.
ainda tem gente nos esteites que faz isso?