sexta-feira, 30 de novembro de 2001

TAPINHAS NAS COSTAS

O Oscar 2001 de domingo à noite até que foi rápido – só três horas, ao invés das quatro habituais. Eu errei várias previsões, como era de se esperar, mas, de maneira geral, acho que minha promissora carreira como crítica cinematográfica está salva. Se você estiver lendo este artigo é porque eu ainda tenho esta boquinha.

Na contagem final, parece que todo mundo saiu ganhando. “Gladiador” levou cinco estatuetas pra casa, incluindo as prestigiadas melhor filme e ator. O pessoal deixou a reserva de mercado de lado e premiou “O Tigre e o Dragão” (ou, como os comentaristas não se cansavam de pronunciar, “O Trigue e o Dagrão”, eta nominho difícil) com quatro. E é possível que o grande vencedor da noite tenha sido mesmo “Traffic”, que, indicado para cinco categorias, ganhou em quatro – só perdeu na principal.

Surpresa de verdade só na categoria de atriz coadjuvante e, talvez, em escala menor, na de roteiro original. Na primeira, a estatueta escapou das mãos da favorita Kate Hudson e foi parar nas de Marcia Gay Harden, por “Pollock” (alguma chance deste filme chegar aqui?). E, na segunda, nem “Gladiador”, nem “Erin Brockovich”, e sim “Quase Famosos”, bastante inesperado.

Steve Martin se deu muitíssimo bem como o mestre de cerimônias, esteve à vontade, fez boas piadas... Uma delas dizia que um jantar reuniu Mel, Julia, Tom e outros “acima do título” (referência a quando o nome do astro aparece antes do do filme), e que foi uma noite agradável, onde Mel elogiou “Erin”, Julia elogiou “Náufrago”, Tom elogiou “Do que as Mulheres Gostam”, e todo mundo divertiu-se falando sobre ARTE. Tudo bem, talvez você não esteja rolando de rir no chão, mas a piada é ótima porque as produções citadas, apesar de legalzinhas, não tem nada a ver com arte. E também porque capta bem o espírito do Oscar, que é justamente esse de auto-congratulações. É um carinha dando tapinha nas costas do outro e dizendo “você está fantástico em...”. É um concurso de popularidade, o que pode ser constatado pelo histriônico-porém-sincero discurso de agradecimento de Julia Roberts. No fundo, todos os vencedores gostariam de gritar o que Sally Field berrou em seu lendário monólogo: “Vocês gostam de mim! Vocês realmente gostam de mim!”.

E é por isso que seria infinitamente mais interessante pra nós, público, ralé, extras e figurantes não-convidados, se a Academia divulgasse números. Tá, o Russell Crowe ganhou, mas ficou quantos votos na frente do Tom Hanks? Já que é mesmo uma corrida de cavalos, por que não transparência total?

E por falar no Russell, não deve existir em Hollywood um sujeito tão mal humorado, tão carrancudo, tão mala. Se ele não gosta de competir, se acha o Oscar uma babaquice, deveria fazer como tantos outros: não comparecer, inventar uma desculpa, mandar uma índia para fazer discurso político no seu lugar. A câmera não se cansava de focalizá-lo, e ele não sorriu nem quando venceu. Desse jeito vai ser difícil fazer papéis cômicos...

Outra que foi focalizada e citada do começo ao fim foi a Julia. Foi nesta previsão que eu mais me enganei: a verdadeira Erin nem foi convidada. Pouparam-nos do constrangimento. Este negócio de ninguém se lembrar do filme que deu o Oscar à Julia um dia depois da entrega não procede – ninguém se recordava do filme até antes da Julia ganhar.

Os números musicais foram aquela cafonice de sempre, mas pelo menos tivemos o sabor de um paladar diferente ao ouvirmos Bjork e Bob Dylan. Uhn, Bjork fantasiada de cisne. Mas não quero entrar no assunto de roupas, do qual não entendo bulhufas. Pergunte a mim e a qualquer homem hetero do planeta o que a atriz mais linda da festa estava vestindo e você receberá o mesmo olhar confuso. Não me lembro de um só traje. Ah, tinha um amarelo, né? Bom, é certo que o Armani não fica cada vez mais rico às minhas custas. Tão certo quanto malhar o Oscar e não perder nenhuma edição.

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