Eu gostei muito dos anos 80 (1980, bem entendido) porque foi quando curti minha adolescência, mas pessoas mais capacitadas e isentas do que eu os apelidaram de década perdida. O que teriam sido os 90, então, pensará você, coberto de razão. Mas vamos nos concentrar naquele período de Reagan, Menudos, Donald Trump, e nos símbolos de uma geração: os yuppies. Lembra deles? Eram aqueles carinhas hiper bem vestidos que mais ou menos trabalhavam em Wall Street, ganhavam uns 200 mil dólares por ano e torravam tudo – boa parte em cocaína. Eram, enfim, os mestres do universo.
Para entender melhor a época, vale a pena ler "Psicopata Americano", obra de 1991 de Bret Easton Ellis. O livro é extremamente violento e, por isso, polêmico. Expõe um yuppie que passa seu tempo comendo em restaurantes da moda (cada conta sai US$ 300), cultuando sua forma física, competindo com colegas – que são idênticos a ele –, namorando e, como hobby, matando e torturando pessoas. Se você acha que o Dr. Hannibal Lecter é o ápice do serial killismo, é porque você não conhece Patrick Bateman. Ele também belisca o cérebro de suas vítimas. E Ellis é um escritor mais competente que Thomas Harris. Harris fez um best-seller sobre o FBI e canibalismo; Ellis desenvolveu o testamento de uma era.
O livro foi acusado de misógino e condenado pelas feministas, o que é ridículo. Afinal, saber a opinião de um psicopata sobre as mulheres não significa que vamos nos deixar influenciar. Assim, imagine que o Bush Jr. soubesse escrever e, via ghost-writer, publicasse suas visões sobre ecologia. Ao lê-lo, a gente não sairia por aí querendo destruir o mundo. Pelo contrário, talvez a gente se postasse contra a opinião deste outro psicopata americano. É lógico que no livro de Ellis as moças são todas fúteis e ligadas às aparências. Mas o que são os homens? Esses mauricinhos imitam os estereótipos que temos ao pensar no sexo feminino. Eles só se preocupam com roupas de grife, penteados, manicure, bronzeado artificial, e estão sempre falando nisso. E, com tantas coisas importantes na cabeça, não sobra tempo pro labor. O trabalho consiste em ouvir walkman (os músicos favoritos do protagonista são Phil Collins e Whitney Houston), assistir TV e ir a longos almoços de "negócios". Eta vida dura.
No ano passado, por ironia do destino, duas feministas adaptaram o livro para as telas. Por contrato, elas tinham que entregar uma produção "rated R" (maiores de 17 anos), e não o temido "X", que costuma liquidar um filme comercialmente. Então, cortaram várias partes asquerosas e atenuaram o material. E não é que "Psicopata Americano", o filme, é fiel ao livro? Ele capta bem o espírito de sátira de costumes. Os fundamentos da obra literária são mantidos numa deliciosa exibição de cartões de negócios ou quando Patrick leva um cadáver em um saco caro e um de seus amiguinhos yuppies lhe pergunta a marca.
Graças a Deus, o filme foi parar nas mãos de mulheres. Outro que estava cobiçando a adaptação era Oliver Stone (cruz credo!), e por muito pouco Leonardo de Caprio não interpretou o psicopata. Felizmente, o papel caiu como uma luva para Christian Bale (o menininho de "Império do Sol"). O terrível é que ele se parece demais com o Collor, o nosso primeiro psicopata brasileiro (depois vieram outros). Mas, se você pegar o DVD e assistir ao making-of, notará que o ator em si não lembra o ex-presidente. É o personagem que é tal e qual; é o olhar maníaco que tá a cara do caçador de maracujás. Realmente assustador.
Tanto o filme quanto o livro deixam bem claro que Patrick não é o único psicopata. Seus companheiros (que se divertem humilhando mendigos e usando seus cartões de crédito para dividir a cocaína em fileiras) não são diferentes, apenas não levam seu ódio às últimas consequências. Não sei se os yuppies desapareceram ou se só ficaram menos ostensivos. Talvez eles só tenham trocado o walkman pelo discman, a coca pelo ecstasy, o telefone comum pelo celular. Talvez o capitalismo seja o verdadeiro psicopata desta história.
O livro foi acusado de misógino e condenado pelas feministas, o que é ridículo. Afinal, saber a opinião de um psicopata sobre as mulheres não significa que vamos nos deixar influenciar. Assim, imagine que o Bush Jr. soubesse escrever e, via ghost-writer, publicasse suas visões sobre ecologia. Ao lê-lo, a gente não sairia por aí querendo destruir o mundo. Pelo contrário, talvez a gente se postasse contra a opinião deste outro psicopata americano. É lógico que no livro de Ellis as moças são todas fúteis e ligadas às aparências. Mas o que são os homens? Esses mauricinhos imitam os estereótipos que temos ao pensar no sexo feminino. Eles só se preocupam com roupas de grife, penteados, manicure, bronzeado artificial, e estão sempre falando nisso. E, com tantas coisas importantes na cabeça, não sobra tempo pro labor. O trabalho consiste em ouvir walkman (os músicos favoritos do protagonista são Phil Collins e Whitney Houston), assistir TV e ir a longos almoços de "negócios". Eta vida dura.
No ano passado, por ironia do destino, duas feministas adaptaram o livro para as telas. Por contrato, elas tinham que entregar uma produção "rated R" (maiores de 17 anos), e não o temido "X", que costuma liquidar um filme comercialmente. Então, cortaram várias partes asquerosas e atenuaram o material. E não é que "Psicopata Americano", o filme, é fiel ao livro? Ele capta bem o espírito de sátira de costumes. Os fundamentos da obra literária são mantidos numa deliciosa exibição de cartões de negócios ou quando Patrick leva um cadáver em um saco caro e um de seus amiguinhos yuppies lhe pergunta a marca.
Graças a Deus, o filme foi parar nas mãos de mulheres. Outro que estava cobiçando a adaptação era Oliver Stone (cruz credo!), e por muito pouco Leonardo de Caprio não interpretou o psicopata. Felizmente, o papel caiu como uma luva para Christian Bale (o menininho de "Império do Sol"). O terrível é que ele se parece demais com o Collor, o nosso primeiro psicopata brasileiro (depois vieram outros). Mas, se você pegar o DVD e assistir ao making-of, notará que o ator em si não lembra o ex-presidente. É o personagem que é tal e qual; é o olhar maníaco que tá a cara do caçador de maracujás. Realmente assustador.
Tanto o filme quanto o livro deixam bem claro que Patrick não é o único psicopata. Seus companheiros (que se divertem humilhando mendigos e usando seus cartões de crédito para dividir a cocaína em fileiras) não são diferentes, apenas não levam seu ódio às últimas consequências. Não sei se os yuppies desapareceram ou se só ficaram menos ostensivos. Talvez eles só tenham trocado o walkman pelo discman, a coca pelo ecstasy, o telefone comum pelo celular. Talvez o capitalismo seja o verdadeiro psicopata desta história.
2 comentários:
Oi Lola, faltou citar o nome da diretora (e roteirista) de American Psycho. Ela se chama Mary Harron.
Eu assisti ao filme, mas não li o livro. Fica ambíguo se o Patrick praticava os crimes mesmo ou se era tudo fantasia dele. E não é que ele parecia o Collor mesmo? Só que bonito, né? haha
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