quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

GUEST POST: SEMÂNTICA E MACHISMO, TUDO A VER

Finalmente a Madrasta do Texto Ruim, famosa como Bruxa no Twitter, escreveu um guest post pra cá. Não deixem de visitar seu hilário blog.

Tava eu conversando com Lola no Twitter e saiu a ideia desse guest post. A intersecção entre a língua e o machismo. “Ah, para, Bruxa, isso não existe!”, dirá você. Mas eu vou provar que o troço existe e a gente nem percebe.
Não, não vou falar sobre o presidentA. Esse assunto já torrou, e pode ser resumido da seguinte forma: é tudo uma questão de acostumar os ouvidos. Antes que você me diga que essa palavra não existe, eu digo que morfologicamente ela pode existir, sim. É só trocar o E pelo A, e pronto. Tá certinha! E pra você parar de encher o saco, só lembro do governante e da governanta. Duas palavras existentes e possíveis. Agora pense direitinho e responda por que uma mulher prefere ser governante a ser governanta. Peça ajuda ao dicionário, se for necessário, pra entender a carga de preconceito da palavra governanta.
Mas eu estou aqui lolamente a fugir do assunto (= fazendo parágrafos enormes, deliciosos e pertinentes, mas sem falar do assunto propriamente dito). [Nota da Lola: Calúnia, injúria e difamação!] Quero mostrar aqui como a sintaxe e a semântica trabalham maquiavelicamente a favor do machismo.
Antes de começar os trabalhos, vamos nomear alhos e bugalhos. Sintaxe é o estudo das funções das palavras numa frase, e semântica é o estudo do sentido dessas palavras na frase. E pra que você entenda de uma vez por todas a diferença entre as duas e nunca mais faça confusão, imagine-as como duas gêmeas xifópagas, que compartilham o mesmo corpo, mas com duas cabeças diferentes. Pois a sintaxe é uma gêmea abobalhadinha, e a semântica é a que manja mais dos paranauê. Aí, eu apresento à sintaxe duas frases:
-       Eu quero ver barraco armado no Big Brother
e
-       Eu quero ver barraca armada no Big Brother
A Sintaxe vai me dizer que as duas frases são muito semelhantes: o sujeito é eu, barraco armado/ barraca armada são objeto direto e no Big Brother é adjunto adverbial de lugar. E se questionada qual a diferença entre barraco armado e barraca armada, vai simplesmente dizer: gênero. Um sintagma está no masculino, e outro no feminino. E Dona Sintaxe ainda vai lembrar que adjunto adverbial é função de segunda grandeza, não é tão importante quanto um objeto. (Guardem essa informação para mais tarde, porque ela é importante!)
Já Dona Semântica vai ler as duas frases, soltar uma sonora gargalhada e entender que na primeira, barraco armado é sinônimo de confusão, briga; e barraca armada é uma alusão ao membro masculino em posição erétil. E ainda vai tirar sarro da minha cara: Ê, Bruxa tarada! Tá querendo ver os homens com o bilau em pé, é? (Ah, quando se enfia sacanagem no meio fica mais fácil de entender, né? De nada! :D)
Isto posto, vamos aqui pensar nas aulinhas em que você aprendeu a diferença entre voz passiva e voz ativa. Vamos relembrar voz verbal com a seguinte frase:
-       João e Pedro estupraram Maria.
É, é pra chocar mesmo.
Dona Sintaxe analisa essa frase friamente: João e Pedro são sujeito, pois regem o verbo (duas pessoas agindo, o verbo foi para o plural, se o sujeito fosse apenas João, o verbo usado seria estuprou, no singular); Maria é objeto direto, pois o verbo estuprar é transitivo direto.
E tá certinho.
Na voz ativa, o sujeito é também o agente da ação, e, mais do que isso, aquele que altera o estado final do complemento verbal (no caso, o objeto direto).
Essa noção fica pouco clara na frase João deu uma caneta a Maria, ainda que Maria tenha começado a frase sem caneta e a tenha terminado com uma caneta na mão. Mas na frase João e Pedro estupraram Maria, essa noção fica claríssima, pois o estado final de Maria foi totalmente alterado -– e pra pior.
O que acontece se passarmos essa frase pra voz passiva? Aliás, pra que diabos serve uma voz passiva?
Vamos fazer a análise sintática e depois a semântica da frase do estupro na voz passiva, daí eu digo qual a finalidade e mostro um vídeo estupefaciante a respeito disso.
Então, nossa frase estupradora fica assim na voz passiva:
-       Maria foi estuprada por João e Pedro
E aí, o que aconteceu?
Ah, Bruxa, eu aprendi que na voz passiva o que era sujeito vira objeto, e o que era objeto vira sujeito!
Pois eu vou conter o pescotapa que eu quero lhe dar. Vou apenas mostrar que:
De fato, o que era objeto direto em João e Pedro estupraram Maria virou sujeito em Maria foi estuprada por João e Pedro
Mas a recíproca não é verdadeira! Pois é, segura o queixo que Dona Sintaxe, mais uma vez de forma fria, explica:
Na primeira frase, o objeto direto é complemento obrigatório para o entendimento da frase. Não se pode dizer apenas João e Pedro estupraram sem que seja apresentado um objeto direto, um complemento.
Mas na segunda frase, João e Pedro não viraram objeto indireto, como nos faz supor erroneamente a preposição. Eles viraram adjunto adverbial. Lembra que eu falei lá em cima que adjunto adverbial é função de segunda grandeza? Então... a frase Maria foi estuprada por João e Pedro pode acabar depois do verbo:
Maria foi estuprada.
Por quem? Não importa, essa informação é supérflua numa construção passiva.
Isto posto, vamos pensar direitinho no que aconteceu com o verbo de uma voz para outra. O estupraram da ativa virou foi estuprada na passiva.
Mais uma vez, o verbo concorda com o sujeito, Maria (que, como vocês já repararam, só se ferra nessa droga, coitada...). Mas agora ele se vestiu de locução verbal, um esconjuro morfossintático no qual um verbo auxiliar começa a mandar na parada, e faz com que o verbo principal tenha um único trabalho: o de emprestar seu significado. Então, o verbo ser fez o trabalho de concordância e de informar o tempo e o modo, e ainda por cima jogou um pouquinho do seu significado no molho final da frase. 
Ser traz o sentido de estado final, concluído, imutável. Apenas pense na diferença entre as frases eu sou bonita e eu estou bonita. Percebeu, né? Então, Maria foi estuprada. Ela saiu da condição de não-estuprada e ingressou no terrível time das sim-estupradas. E de lá nunca mais sairá. 
Seu estado final foi alterado por dois caras que lá em cima eram sujeito e agentes, e aqui embaixo foram relegados a segundo plano, perderam a importância sintática, mas não deixaram de alterar o estado final de uma pessoa que deixou de ser objeto e ascendeu sintaticamente a sujeito, mas que, nas duas construções, permanece como vítima.
Mas se você pensar bem, a coisa é mais maquiavélica, porque quando dizemos Maria foi estuprada - ponto, tiramos os holofotes dos estupradores e jogamos as luzes todas na vítima, que se torna a culpada por falta de informação relevante na frase. (Ah, ela tava procurando / ah, ela tava vestida feito periguete / ah, quem mandou ficar sozinha com homem? Enfim, esses discursos mais que manjados).
E é disso que fala Jackson Katz nessa palestra brilhante (com legendas em inglês). Observem o que ele fala, mais ou menos aos 2 minutos e 40 segundos de vídeo (mas, por favor, veja a palestra inteira, ainda mais se você for homem):

Tudo isso pra te mostrar que, ao transformar um sujeitão todo-poderoso num reles adjunto adverbial, uma das funções da voz passiva é tirar do foco o agente. 
E jogar a atenção toda pra quem sofre com a ação. E isso significa, muitas vezes, ocultar o poder. Neste caso, ocultar quem comete a violência, e silenciar uma discussão sobre estupro e violência doméstica que obviamente deveria envolver os homens (o foco da palestra de Katz). Essa é uma das funções maquiavélicas de uma língua.
Ah, Bruxa, mas isso só acontece com línguas com estruturas como a do português e do inglês! O que acontece em outras línguas? O que acontece com o agente?
Bom, não vou saber falar de todas as línguas do mundo, mas posso te dizer que no grego, por exemplo, o verbo estuprar é conjugado apenas em voz média -– uma voz que, dentre outras funções, expressa ações executadas em proveito próprio
(P.S.: tive essa aula magistral com o lindo do Dioney Moreira Gomes, que vai orientar meu mestrado. A aula de voz verbal do Dioney é que nem o final do filme Curtindo a Vida Adoidado: você fica lá, parado, processando todas as informações que você recebeu em duas horas, e mal consegue se levantar da carteira e ir embora.) 

56 comentários:

Anônimo disse...

Quando o presidente for homem, vamos exigir que seja chamado de presidentO

lola aronovich disse...

Ha ha, mascutroll! Pois é, QUANDO o presidente for homem! Porque, né, isso nunca aconteceu!

Cão do Mato disse...

Mas então Lola, quando é que você, grande defensora dos direitos humanos, vai nos brindar com um texto abordando a questão palestina?

Anônimo disse...

E como será que dica nas línguas ergativas? Alguém aí que manja de línguas ergativas pode comentar?

Anônimo disse...

como será que fica*

lola aronovich disse...

Falar do post em questão é impossível pra vcs mascus, né, Cão? Grande defensora dos direitos humanos que sou, eu falo do que quiser, quando quiser, e, principalmente, quando tenho tempo, o que é bem raro. Mas já falei sobre a questão palestina em alguns posts:
Minha opinião sobre os ataques de Israel em Gaza
Minha heresia do dia: Israel num outro continente
A guerra perdida de Israel
Os três post são de janeiro de 2009, mas minha opinião não mudou. E, infelizmente, não mudou muito o imperialismo israelense.

Anônimo disse...

Lola vc é muito boazinha rsrs, ainda se dá ao trabalho de responder ao Cão do Mato. Se fosse eu só comentava com os links dos posts e deu, ele que clicasse pra ver o que era.

Anônimo disse...

Israel e um país cercado por inimigos por todos os lados, que querem dizima-los da face da terra.

Mas então Lola, quando é que você, grande defensora dos direitos humanos, vai nos brindar com um texto abordando a questão do extermínio e perseguição a cristãos por islamicos na Siria Libano e norte da Africa?

Kittsu disse...

A lola não precisa abordar a questão da perseguição e massacre dos cristãos porquê é óbvio que ela adora massacres de cristãos. ela é pagã-satanista-macumbeira, como todas as feministas, portanto apoiamos cegamente a destruição de todos os seres humanos que possuam qualquer tipo de religião deísta.


...SÉRIO que você acha que alguém seria a favor de um massacre por motivos religiosos (ou qualquer motivo que seja)? Sério que precisa falar do óbvio!?

Mê Carvalho disse...

Grande texto da Madrasta! E é incrivel como podemos perceber que a mídia se utiliza dos truques linguagem em suas manchetes, principalmente quando se tratam de noticias sobre violência contra a mulher. Parando agora e analisando rapidamente a internet pode-se perceber que em noticias desse tema sempre se utiliza a voz passiva e isso faz com que os verdadeiros agressores fiquem ocultos por trás de um véu, reforçado ainda mais a "tendência" que as pessoas tem de culpabilizar a vítima.

lica disse...

Achei bacana a ideia e a aula de português, mas fiquei esperando algum dado como: "a maioria das notícias sobre estupro e violência doméstica são dadas em voz passiva, mostrando a perversidade do machismo no jornalismo e na sociedade ao ocultar o agressor.

Porque pelo que entendi, a mudança não acontece somente com o verbo estuprar, mas com todos (ou muitos?) dos verbos quando usados na voz passiva. Então a frase poderia ser 'Maria foi amada', e não existiria machismo em ocultar quem amou Maria.Seria apenas uma característica da língua, certo?

Anônimo disse...

Post ótimo, parabéns.
Nunca tinha pensando nessas coisas. Sou da área de exatas e não tive esse aprofundamento no conhecimento da língua portuguesa. Eu tenho certeza que a partir de agora vou olhar as manchetes de jornais e as notícias da TV de uma outra maneira.
E isso serve pra outros crimes. Fiz um "teste mental" com os verbos assassinar, roubar, etc. Com estuprar fica ainda pior porque é um crime que é pautado pela culpabilização da vítima. A mulher sempre é tida como a culpada pela violência que sofreu.

Mari R disse...

Texto maravilhoso! Ey nunca tinha olhado a estrutura de uma frase por esse ângulo.

Anônimo disse...

Lola, me peguei pensando... jura?!?!?

o texto é uma aulinha de portugues da tia Sueli: voz passiva dá destaque a quem sofre a ação.

daí pega uma frase de violência feminina e vira post????

e se pegasse a frase: a mulher, por ciúmes infundado, matou o homem?
daí a voz passiva é: o homem foi morto por ciúmes.

veja como a lingua é nada machista, ela não mostra quem matou o homem....

ou a língua seria totalmente simpatizante pois deixa no ar se o caso seria um caso homossexual?

jura que esse texto tem relevância? se fosse um texto curtinho acharia que era uma piadinha e daria um sorriso amarelo...

tamis disse...

muito interessante seu post, Lola. Engraçado é que nenhum dos professores que eu tive comentaram algo do tipo.
Mas Lola, quando é que você vai abordar a questão dos gatos que preferem filhotes de atobá e deixam ratos de lado em Abrolhos?

lola aronovich disse...

Ha ha, boa, Tamis! "E dos gatos que preferem filhotes de atobá e deixam ratos de lado em Abrolhos a Lola não fala!"
Mas lembre-se, por favor, que este ótimo post não é meu. É um guest post. A autora é a Madrasta do Texto Ruim, ou Bruxa OD.


Ai, anon das 13:02, leia o post de novo, reflita minimamente na bobagem que vc está falando, veja a palestra do Katz linkada no post, e aí volta pra conversar, ok?

Anônimo disse...

O vídeo trata de um assunto serissimo e desconfortável para os homens. Katz não nos considera como "potenciais estupradores" mas diz que se trata de uma questão, também, masculina e da qual não podemos fugir às responsabilidades.No mesmo site tem também o artigo de Tony Porter, com o título traduzido de "Um chamado dos homens" onde nos convida "a se libertar da caixa de macho". Pelo visto a pressão para que abandonemos o machismo é grande e a tendência é aumentar cada vez mais! Será que assim a coisa vai?
Estou postando como anômimo devido dificuldade de fazer login com minha conta de gmail.
José Silvério.

Anônimo disse...

SÉRIO que você acha que alguém seria a favor de um massacre por motivos religiosos (ou qualquer motivo que seja)? Sério que precisa falar do óbvio!?

kkkk se ninguém fosse a favor,os massacres n existiram n é mesmo?
homens bombas matando todo mundo pela religião.

donadio disse...

"Ha ha, mascutroll! Pois é, QUANDO o presidente for homem! Porque, né, isso nunca aconteceu!

Lola, você precisa entender uma coisa, se pretende entender os mascus - ou os reacionários em geral. Para eles, o Brasil não foi descoberto em 1500, mas em 2003, por Luís Inácio Lula da Silva Álvares Cabral. Tudo que aconteceu antes não conta. Ou, se conta, já era, de alguma forma, culpa do PT.

E aí, evidentemente a gente pode questionar se de fato o Lula é homem. Se fosse, se chamaria LulO, não é?

Erres Errantes disse...

Eu já vi uma explicação gramática dizendo que presidentA não existe, assim como não existe estudantA.
Realmenter, eu nunca vi a palavra estudantA em nenhum lugar. Mas no que se refere à atual ocupação de Dilma Roussef, eu já vim sim a palvra presidentA em vários lugares, considerada como uma forma correta.
Parece que a negação do presidentA serve mais a interesses machistas, que recusam a importância do gênero na condição de uma mulher que governa um país. Ainda mais no Brasil, já que temos pela primeira vez em nossa história uma mulher no posto de maior mandatária.
Achei interessante o exemplo de governante e governanta. O que é um governantE? Alguém (homem) que governa. E o que é uma governantA? Uma mulher que comanda um lar.
Engraçado que só conhecemos governantA no âmbito privado de uma casa. Mas não temos mulheres que ocupam cargos de governo sendo chamadas como tal.

Anônimo disse...

Bruxa e Lola, e a função sintática de agente da passiva? Aprendo errado a vida toda?

Anônimo disse...

Pilar diz no documentário "José e Pilar": não existia o termo presidenta porque não existiam mulheres na presidência. Agora que elas existem o termo deve existir também.

Anônimo disse...

Já que tem aulinha de português por aqui, vamos lá: o termo correto é XIFÓPAGAs e não "Xipófagas"...
Quanto ao termo "presidenta"...embora meio fora de moda o livro impresso em papel, é só ir a um sebo e folhear os dicionários Aurélio e Houaiss... a palavra "presidenta" não só existe oficialmente na língua portuguesa, como também já foi usada por escritores clássicos brasileiros.

donadio disse...

Olha, eu acho esse negócio de politizar a sintaxe uma bobagem.

Primeiro que o sujeito, sintaticamente, não é o agente. "O vidro quebrou". O vidro é o agente? De jeito nenhum. Sujeito, sintaticamente, é aquilo com que o verbo concorda. Pode ser o agente, como em "João estuprou Maria". Pode ser o paciente, como em "Maria foi estuprada", ou "O vidro quebrou", ou "Joana foi aprovada no vestibular". Pode ser o instrumento, como em "O martelo quebrou o vidro".

Dizer que a voz passiva serve para tirar o foco do agente? Às vezes, a gente não sabe quem foi o agente. "Maria foi estuprada", "Quebraram o vidro", "Joana foi aprovada no vestibular"... porque nem Maria sabe quem foi o estuprador, nem nós sabemos quem quebrou o vidro, nem interessa o nome do funcionário que contou os pontos de Joana e decidiu que ela vai ser universitária ano que vem.

Como a gente expressaria vebalmente essas situações em que o agente é desconhecido, ou irrelevante para o entendimento da (situ)ação? Usualmente usa-se a voz passiva (pronto, estou escondendo quem é o monstro que usa a voz passiva, né?) Outra opção é usar o "sujeito indeterminado", como em "estupraram Maria". Nada disso tem necessariamente a ver com machismo ou com desresponsabilização de criminosos. É uma necessidade da língua.

Quanto à presidenta ou à presidente... se todo mundo quer ser governante e ninguém quer ser governantA, por que alguém quereria ser presidentA?

Uma coisa é que "governanta" não é o feminino de "governante", assim como "porta" não é o feminino de "porto". São palavras diferentes, com significados diferentes. Portanto, é irrelevante para a discussão sobre presidente/presidenta. Que é simplesmente uma discussão (bastante tola e inútil, na minha opinião) sobre qual é a forma feminina da palavra "presidente". Como eu digo "a estudante", e não "a estudanta", "a poeta" e não "a poetisa", "a almirante" e não "a almiranta", eu digo "a presidente". Mas não acho que quem diz "a presidenta" é meu inimigo. O importante é que votei nela, como vou certamente votar de novo daqui a nove meses. Por que é quem representa o melhor projeto político para o país, não porque é "a presidenta"...

Do ponto de vista da correção gramatical, as duas formas são corretas, variantes aceitáveis no português padrão ou popular. Politicamente, uma não implica apoio e a outra oposição. Então qual a grande questão?

donadio disse...

"Pilar diz no documentário "José e Pilar": não existia o termo presidenta porque não existiam mulheres na presidência. Agora que elas existem o termo deve existir também."

Nem toda presidência é Presidência da República... há muito tempo que há mulheres presidentes (ou presidentas, se você prefere) de sindicatos, clubes, diretórios acadêmicos, associações, etc.

Talita disse...

Parabéns, Bruxa!
Estou agora mesmo que nem vc na aula do seu querido orientador: de queixo caído!
Um beijo e obrigada pela luz!

Unknown disse...

ir em um sebo procurar em um dicionário a palavra presidenta hahahahaha por que se for numa loja de livros atuais, ou buscar na internet, pode ser que tu encontre algum que contenha a palavra. não que uma palavra precise estar no dicionário para existir ou ser "correta". sim sim naqueles livrinhos mais comumente de mais ou menos 10x20 e 300 páginas não possuem TODAS as palavras da língua portuguesa.

como disse a bruxa esse é um assunto chatérrimo, bha como não se cansam?! e como disse um leitor nos comentário, tem que ser muito machista pra implicar com o fato de se definir uma palavra própria para designar uma mulher no cargo mais alto de um país/empresa/organização.

Anônimo disse...

Por favor, consertem o xifópagas.Num texto (ótimo para refletir) como esse, incomoda.

lola aronovich disse...

Quando estava editando o texto, procurei o XIPÓFAGO, porque também achei estranho. E encontrei que é sinônimo de XIFÓPAGO. Certamente, antes de mim, a Madrasta, autora do texto, também se certificou. Por isso, deixei a grafia como ela colocou. Mas, já que vcs vão se ater a essa grafia, e já que "corrigir" a palavra não faz a menor diferença no texto, vou trocar por XIFÓPAGO, grafia mais convencional. (Antes de vc, anon das 16:21, o maridão também cismou com a grafia).

Anônimo disse...

vao me chamar de troll por nao concordar com um ponto do texto, mas fazer o quê.

ao contrario do que afirma a autora, nao acho que a voz passiva, na frase "Maria foi estuprada", jogue "as luzes todas na vítima, que se torna a culpada por falta de informação relevante na frase. (Ah, ela tava procurando / ah, ela tava vestida feito periguete / ah, quem mandou ficar sozinha com homem? Enfim, esses discursos mais que manjados)."

essa leitura foi redutora, simplificadora e parcial, e a interpretaçao que segue entre parênteses foi pior ainda. a interpretaçao pertece unica e exclusivamente à autora do texto.

ainda que o agente da passiva tenha sido omitido e tirado de foco, a vitima so se tornou culpada na visao de quem escreveu. o foco foi jogado tambem na açao cometida.

o machismo esta sim presente na lingua, em muitos casos, sem duvida. mas nao nesse.

maria alice.

Anônimo disse...

E lembrando aos puristas protetores da ultima flor do lacio que o dicionario muitas vezes torna oficial aquilo que ja esta oficializado na boca do povo.

Se nao me engano, o termo periguete (ou piriguete) ja foi incluido por alguns dicionarios

termos como esse sim sao machistas. ninguém diz "o perigueto" ou "o dondoco".

e vejam também a diferença entre vadia e vadio. machismo puro.

maria alice.

Anônimo disse...

sintaxe não é só o estudo de "funções de palavras na frase", e o par governante/governanta não tem como ser comparado com presidente/presidenta, porque governanta não é feminino de governante. ela tbm confunde linguística e sintaxe com gramática tradicional, porque todos os exemplos e explicações são usando apenas gramática tradicional escolar.

mas lá embaixo ela diz que ainda vai entrar no mestrado. dá pra entender a fragilidade da argumentação, quando tentar lançar mão dessas analogias e explicações via linguística.

mas sim, a questão de usar voz passiva e voz ativa é relevante, ainda que já bastante trilhada, e denuncia intenções de fala.

Anônimo disse...

e, no caso das funções e intenções dos atos de fala, quem dá conta disso, como sabemos, não é a amiga semântica, né? é a linda praprá.

Anônimo disse...

Donadio, a Pilar fala exatamente sobre isso. Ela foi nomeada presidenta e uma associação e o Saramago a chamara de presidente. Por incrível que pareça, mulheres não são tão presidentas assim como você diz.

Raven Deschain disse...

E que raios é xipófago afinal? Huashuashu T.T

Stephanie disse...

Apenas chateada com o recalque acadêmico sempre presente entre semântica e sintaxe. O texto é tão agressivo com os estudos sintáticos que dá quase a entender que a culpada por nossa visão como sociedade sobre estupro é a sintaxe, e não que a sintaxe é guiada pela nossa visão! Dona sintaxe não é tão fria/burra assim como querem nos fazer crer.

Eva disse...

Ai os infelizes falam merda sobre "mimimi tão politizando a sintaxe é bobagem" e jogam a Análise do Discurso pela janela. Mas até ai essa gente não tem muita coisa na cabeça mesmo.

Anônimo disse...

O texto é ótimo, parabéns madrasta!
Independente das minhas restrições quanto a valorização da semântica em detrimento da sintaxe (no meu ponto de vista, a teoria mais adequada para esse tipo de análise é a pragmática ou a análise do discurso) é muito bom que se chame a atenção dos leitores para as estratégias discursivas que os jornalistas usam para darem seu ponto de vista como se fosse "imparcial". Uma notícia nunca é imparcial. Basta observar o uso da língua. A língua nunca foi neutra. Não existe neutralidade.

Rose disse...

Explicar o machismo tudo bem, mas usar a gramática pra isso já é misandria com os mascus da Lola (fuleragem da Bruxa)rsrs

Acho que essa matéria ilustra bem o post. A menina foi abusada e está grávida e o título da matéria é: "Menina de 11 anos engravida do próprio tio e mãe quer aborto" ( ideia que passa é que ela transou com o tio e não que ela foi estuprada). http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2014/01/menina-de-11-anos-e-estuprada-e-engravida-do-tio-em-sao-vicente.html

PS.: Por favor Bruxinha, perdoa meus erros de português :(

Madrasta do Texto Ruim disse...

Mas gemt, quanto comentário legal!!!
Vamos por partes:
1- Querido ergativo: não estudei o fenômeno da voz passiva em línguas ergativas. e juro, cê me deixou morrendo de curiosidade para fazer isso! Obrigada!

2- Quanto ao gêmeas xipófagas ou xilófagas, ofereço meu pulso para corte. Eu errei, e errei feio. Sempre escrevi xipófagas pelo seguinte raciocínio: durante a gestação, um embrião "comia" (fagia) o outro, mas o raciocínio é outro: duas cabeças (xipo) dividindo um corpo. Lolitcha, parabéns, seus leitores são muito legais!

3- Muitos estão dizendo que a voz passiva não significa machismo etcetcetc e tal. E eu concordo, gente! A voz passiva em si não significa machismo nem ocultar o agente da coisa. E, dependendo do contexto e das informações disponíveis, só é possível usar voz passiva. Mas vamos combinar que a ESCOLHA por informar "Maria foi estuprada" em vez de "José e Pedro estupraram Maria" traz em sia uma carga de opressão, de machismo. Depende do contexto, sempre! E sim, aí quem entra na parada é dona Pragmática, mas eu não vou envolvê-la nessa história, não. Minha ideia aqui é escrever para leigos.

madrasta do Texto Ruim disse...

Lica, existem vários estudos acadêmicos sobre a escolha/opção pelo uso da voz passiva em manchetes de jornal. O fato é que trata-se de uma construção pouco usual na língua, dá-se preferência à voz ativa sempre que possível.

Madrasta do Texto Ruim disse...

Anônimo agente da passiva: na voz passiva, o que temos, se vc quiser forçar a barra, é um adjunto adverbial de agência (trolls rindo de mim em 3, 2, 1...). "agente da passiva" é apenas a indicação de quem foi... er... o agente da coisa toda! O sintagma que, na voz ativa, deve ser o sujeito.

Madrasta do Texto Ruim disse...

Donadio, você abordou o tema da aula II de voz passiva. as transformações q, na língua falada, uma frase sofre:
- João quebrou o vidro
- O vidro foi quebrado por João
- O vidro foi quebrado
- O vidro quebrou
As duas últimas frases são intransitivas. Mas a última é um intransitivo forçado, que muitos linguistas chamam de inacusativo; esse intransitivo se opõe a frases como "o bebê chorou" (porque ninguém chora o bebê), conhecidas como inergativas. Daí minha curiosidade pra estudar a voz passiva em línguas inergativas!
Maria ALice das 17:28: quem faz a interpretação "sociológica" do uso da voz passiva é o Katz, não eu. Pode conferir no vídeo!

Madrasta do Texto Ruim disse...

Anônimo das 17:50, vamos lá:
Anônimo disse...
1- sintaxe não é só o estudo de "funções de palavras na frase",

Não. Mas, para se entender a questão que eu apresentei, essa explicação parcial já basta.

2- e o par governante/governanta não tem como ser comparado com presidente/presidenta, porque governanta não é feminino de governante.

engano seu! Eis a definição do dicionário Houaiss:

governante

adjetivo e substantivo de dois gêneros ( sXIV)
1 que ou aquele que governa
2 adm jur pol que ou aquele que é legalmente instituído para governar um estado

******
substantivo feminino
m.q. governanta
******


e

governanta


substantivo feminino ( 1881)
1 mulher que administra uma casa alheia
2 mulher contratada numa casa de família para cuidar da educação de crianças


ela tbm confunde linguística e sintaxe com
gramática tradicional,

Não! Eu sei muito bem a diferença entre elas! E se você for "do ramo", vai entender que meu texto é lingüística pura! E que eu não confundi gramática tradicional em canto algum, pelo contrário: apresentei questões que mostram como a gramática tradicional é falha para explicar voz passiva e voz ativa.

mas lá embaixo ela diz que ainda vai entrar no
mestrado. dá pra entender a fragilidade da
argumentação, quando tentar lançar mão dessas
analogias e explicações via linguística.

Meu querido, só não me caio porque estou sentada. Esta aula me foi dada por um doutor em linguística. E eu não "lancei mão de analogias", caramba, eu usei exemplos!!!!!

Madrasta do Texto Ruim disse...

Stéphanie,

A sintaxe é burocrática; a semântica é quem nos mostra o sentido das palavras na frase.
Não quis ser agressiva. Apenas mostrei como a coisa nos é apresentada na escola. Fiz uma análise sintática fria, sim - e quem nos deu o "calor" da interpretação foi dona semântica.
E o que mais me irrita nas aulas da faculdade é a forma como os professores mostram que "existe uma mistura entre sintaxe e semântica, como se isso fosse pecado!

fab disse...

Confesso que comecei a ler o texto apavorado. "Eta nós, ela vai falar que a coitada da língua tem culpa do emprego das palavras e do uso da sintaxe". E quando chegou na parte de "Maria é o objeto"... pronto, ela vai dizer que "objeto" quer dizer que o machismo objetificou o coitado do sujeito (ou "sujeita"?). O mesmo com "governanta" (a acepção não é machista, é apenas acepção).

Mas não, a ideia disso tudo faz muito sentido. O emprego das palavras e a construção têm um objetivo elíptico muito claro, na compreensão da leitura.

Gostei muito, mas senti falta de uma conclusão, como alguém mencionou aí. Um tchan.

Hm, e esperar um "presidento" é algo bem idiota. Presidente já é um substantivo masculino (dois gêneros, na verdá). É como esperar um cientisto, alpinisto ou ciclisto.

Sara disse...

Para os que ADORAM dizer que a mulher é culpada de estupro pelas roupas que usam, vejam mais uma pérola que esse lixo de religião esta ofertando para o mundo.

http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3622664&seccao=M%E9dio

Sara disse...

É inacreditavel não adianta se cobrir inteiramente com uma burka, a culpa do estupro é do rímel.

Kittsu disse...

Sobre noticias e a forma de atuação da mídia:
http://g1.globo.com/goias/noticia/2014/01/mae-de-bebe-com-doenca-rara-quer-doar-crianca-nao-tenho-condicao.html
em TODAS as noticias está "mãe doa bebê alegando não ter como cuidar". Está assim: "a MÃÃÃÃÃE" quer doar. Ninguém tem falado do pai, é como se ele sequer existisse, não tivesse responsabilidade nenhuma e não importasse para a história toda. A conselheira tutelar disse que ela poderia ser autuada por abandono de incapaz por entregar a criança para adoção por meios completamente dentro da lei.

E todo mundo massacrando a mãe... e todo mundo fala "podia ter entregue para adoção!" quando uma criança é abandonada, mas quando ela é entregue para adoção o povo estigmatiza também! bando de doido.


Ps.: Crianças são GENTE, seres humanos, completinhos e tudo mais. Mas está uma onda maluca de dizer que a criança FOI ROUBADA para dizer que foi sequestrada, que está sendo DOADA ao invés de dizer que está sendo posta pra adoção... bizarro.

donadio disse...

"Donadio, a Pilar fala exatamente sobre isso. Ela foi nomeada presidenta e uma associação e o Saramago a chamara de presidente. Por incrível que pareça, mulheres não são tão presidentas assim como você diz.

Muito antigamente, também não havia mulheres estudantes. Mas elas começaram a estudar, e a palavra "estudanta", embora teoricamente correta, continua a ser uma raridade, e uma raridade com um inconfundível aroma de século XIX. O que não impede as mullheres de estudarem, aliás cada vez mais. Então por que a existência de mulheres na presidência requereria o uso da forma "presidenta"?

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É engraçado, por que em outras línguas o argumento é exatamente o contrário: a existência de uma forma feminina diferente da masculina é que é considerada um sintoma de machismo. Experimenta chamar uma poeta de língua inglesa de "poetess" pra ver a tempestade que se arma... coisa que agora tem sido extendida para palavras em que o uso da forma feminina é muito mais extensivo, como "actress": a quantidade de atrizes de língua inglesa que fazem questão de serem chamadas "actors" cresce a cada dia.

donadio disse...

Para que ninguém ache que eu estou inventando:

http://www.theguardian.com/theobserver/2011/sep/25/readers-editor-actor-or-actress

"As Whoopi Goldberg put it in an interview with the paper: 'An actress can only play a woman. I'm an actor – I can play anything.'"

Rafael disse...

a extrema-esquerda não quer saber de ciência nem nada disso, o que importa é a ideologia. Principalmente a ideologia do vitimismo.


http://hypescience.com/amor-de-pai-e-uma-das-principais-influencias-na-personalidade-humana/




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donadio disse...

"a extrema-esquerda não quer saber de ciência nem nada disso, o que importa é a ideologia."

Ah, é?

Eu sou de extrema-esquerda, filhote, e quero saber de ciência sim.

Agora, ciência é uma coisa, jornalismo "científico" (ou seja, jornalismo cujo tema é a ciência, ou os cientistas), é outra bem diferente; o link que você apresenta, por exemplo, não é ciência, é ideologia. Cita um estudo, não descreve a metodologia, não dá nenhum argumento para acreditarmos nas conclusões do dito estudo... não, peraí, sequer nos relata de forma coerente e inteligível quais seriam as conclusões do tal estudo. Não define termos (rejeição? que rejeição? abandono total e completo, agressões diárias, ou simplesmente rejeitar caprichos?).

É puro argumento ad autoritatem: se foi um cientista quem disse, então tem de ser verdade... mesmo que nem sequer descrevam as credenciais do co-autor do estudo!

E, é claro, há a falácia lógica fundamental: o estudo, aparentemente, conclui que todas as crianças no mundo reagem da mesma forma ao serem rejeitadas pelos que deveriam cuidar delas. Daí, sem nenhuma base em nada, conclui-se que esses cuidadores necessariamente são... os pais biológicos. Porque não seriam a mãe e o tio materno, por exemplo? Ou a avó e o cunhado do pai?

Se a interpretação tosca dessa reportagem fosse verdadeira, haveria uma diferença enorme entre crianças adotadas e crianças criadas por seus pais biológicos. Não conheço nenhuma pesquisa científica que aponte para isso.

Mas, é claro, como bom direitista, você não está nem aí para a ciência, para a lógica, para a metodologia. O que importa para você é a ideologia, sobretudo a ideologia da autoridade.

Poupe-me...

Amana disse...

Fui chacoalhada pelo guest post.

:)

Que luxo de explanação, gente!

donadio disse...

"o agente da coisa toda! O sintagma que, na voz ativa, deve ser o sujeito."

Isso não é verdade. O agente depende do verbo; tem verbos que não admitem agente (chover, dormir, desmaiar, morrer...), e tem verbos que mais comumente tem o paciente na condição de sujeito (derreter, quebrar, acordar...) Essa idéia da gramática tradicional, de que o sujeito é "quem pratica a ação" é completamente furada (e é uma dessas misturas sem sentido entre sintaxe e semântica). Agente é uma categoria semântica; sujeito é uma categoria sintática. Sujeito é aquilo com que o verbo concorda; às vezes, por acaso, o sujeito é agente - mas, mais comumente, não é.

Este comentário, por exemplo, não tem um único sujeito que seja agente. Pode conferir.

Anônimo disse...

O problema do pensamento contemporâneo é que ele confere muita autoridade para conceitos absolutamente equivocados. Como esta frase de Simone de Beauvoir, por exemplo: 'Não se nasce mulher, torna-se'. Uma frase bonita. Apenas isso.
Com base nos conhecimentos espiritualistas, entendo que todos já nascem homens ou mulheres, PORÉM de modo independente do órgão genital que trazem em seus corpos. É só ver como seres geneticamente machos passam a se comportar de modo completamente feminino depois de certa idade (quando a sexualidade se manifesta) e opostamente, como seres geneticamente fêmeas se comportam como “homens” depois de certa idade.
Não me parece algo que surja assim, voluntariamente, como se ali pelos 12 ou 13 anos de idade o menino pare e formalize: “Então tá, quando eu crescer, vou ser homem”.
Não é algo que o indivíduo escolha deliberadamente para tornar-se, como quem escolhe uma profissão.
O pensamento contemporâneo acredita que conceitos de masculino e feminino são construções sociais. Certamente são. Contudo, eu já vejo que esses conceitos transcendem a existência material. É algo que fica na alma.
O problema é admitir isso com base na filosofia existencialista, que a meu ver, é outro equívoco grotesco do panorama intelectual contemporâneo, já que prega que a essência espiritual do homem se constrói após a formação e nascimento do corpo. Para o existencialista, a alma não existe antes do nascimento, é algo que, se existe, se forma junto ao desenvolvimento da personalidade do indivíduo.
É uma visão amplamente aceita, que fundamenta muito do ceticismo contemporâneo quanto a manifestações espirituais, porém também amplamente equivocada, dadas as inúmeras manifestações espirituais que ocorrem o tempo todo mundo afora e que o paradigma materialista, por não saber lidar com elas, rotula insegura e preguiçosamente como anomalias.
Quando as anomalias ocorrem com muita frequência e por todo o mundo, então não são anomalias, são fenômenos desconhecidos.