sábado, 24 de agosto de 2013

GUEST POST: "ACHAVA POSITIVO MULHER PASSAR FOME"

A T. me enviou anteontem este relato muito tocante (e ao mesmo tempo carinhoso), escrito a partir da reação que teve à morte de uma linda jovem por complicações decorrentes da anorexia. 

Querida Lola, não sei se o tratamento é apropriado. Mas me sinto à vontade para te chamar de “querida”, pois você, através do seu blog, me fez uma pessoa muito mais feliz, livre e realizada. Dona Beauvoir deve te aplaudir do túmulo todos os dias.
Do instagram da Dai Dornelles
Enfim, o assunto do desabafo é outro. Não sei se você leu a história da Dai Dornelles, (mais) uma vítima da anorexia nervosa. Se não leu, leia aqui
Como toda mulher, sofri várias pauladas do patriarcado nos meus quase 19 anos de existência.
Toda minha família sempre foi gordinha. Mas, ao mesmo tempo, todos eram extremamente gordofóbicos (só com mulher, afinal homem gordo “tem tamanho”). "Meu Deus, como ela engordou!", disseram ao ver Britney Spears na Bad. Não, o fato de ela ter se afundado nas drogas e ter perdido a guarda dos filhos não os espantava; o fato de ela ter engordado, sim. Hoje olho para trás e sinto pena de todos, pois se odiavam sem perceber.
Fui mais gordinha que "o normal” na infância. Não cheguei a ser obesa, era apenas rechonchuda. Porém, uma das minhas tias sempre me censurou. Comentava sobre o tamanho do meu prato na frente de todos, colocava sobremesas fenomenais na minha frente e me olhava feio se eu repetia, e botava toda e qualquer familiar do sexo feminino que perdesse peso em cima de um zilhão de pedestais empilhados. Ela sempre fazia questão que eu processasse a informação: eu era uma gorda nojenta. 
Minha mãe ia na onda e também me dizia coisas horríveis. Nunca me esquecerei de um dia, quando eu tinha sete anos de idade, em que ela virou pra mim e disse “Você vai voltar da escola chorando porque seus amiguinhos vão te chamar de baleia, e eu não vou fazer nada. Você está muito gorda!”. Eu sempre filtrei e consegui ir levando, mesmo com as duas me arrastando de nutricionista em nutricionista desde os meus dez anos, tentando me salvar da minha banha.
Cresci ouvindo que meu corpo era feio, inaceitável, repugnante. Que eu devia ter vergonha de mim mesma. E eu aprendi a ter. O colégio onde estudei tinha uma chácara, e todo ano levavam os alunos para passar um dia lá. Havia uma cachoeira onde todos os meus amigos tomavam banho. Eu não, pois tinha vergonha de usar roupa de banho em público. Só usava preto, afinal, emagrece. Passava longe de listras horizontais, afinal, engorda. Me sentia desconfortável comendo na frente dos outros. Me tornei uma pessoa arisca e insegura.
Completei 15 anos e minha família bela e conservadora decidiu que eu faria uma daquelas festas cheias de pompa. Eu estava farta do meu corpo, de me limitar por conta dele. Usei a festa como pretexto pra perder peso. Emagreci um pouco, mas não cheguei a ficar magra. Estagnei. No final do mesmo ano, resolvi que perderia o peso restante a qualquer custo, e consegui. Atingi o peso de 58 quilos que a endocrinologista que visitei apontou como ideal. Porém, havia uma pedra no meu caminho: meu tipo físico. 
Eu sou baixinha, tenho ossatura larga e meu tipo é curvilíneo. Eu queria ser reta como as modelos que dominavam (e ainda dominam) o mundo. Comecei uma série de dietas radicais. Contava cada caloria. Não conseguia parar. Eu não sabia, mas havia desenvolvido a famosa anorexia nervosa. Comia muito pouco, apenas o suficiente para não desmaiar. Na frente dos outros, eu disfarçava: nas festas com os amigos, eu comia. 
Chegava em casa e enfiava os dedos na garganta. Este comportamento me rendeu uma gastrite que hoje, anos depois, me incomoda. E eu me punia pela “escapada” passando mais fome que o normal no dia seguinte. No auge, cheguei a 52 quilos, e me frustrava por não conseguir ir abaixo disso. Pode não parecer nada (a moça do relato chegou aos 38 kg), mas para o meu tipo físico, era muito pouco. Minhas costelas apareciam sob minhas blusas justas e eu ainda achava que precisava emagrecer. Continuava me odiando.
O mais triste é que só entendi que sofri de um distúrbio alimentar depois que descobri o feminismo e passei a pesquisar mais sobre a opressão sofrida pelas mulheres. Eu achava normal, até positivo, passar fome e andar por aí exibindo minhas costelas expostas.
Mais triste do que isso foi constatar que a anorexia nervosa é contagiosa. Todos ao seu redor, de repente, adquirem a doença e reforçam a sua. Todos aplaudiam de pé minha perda de peso. Meu namorado na época sempre enfatizava como eu estava “ficando ainda mais linda”. 
Voltando ao desabafo, quando li a notícia da morte da Dai, fiquei chocada. Larguei o trabalho da faculdade que estava fazendo e desatei a chorar. Vi, na história dela e no relato acima, muitos paralelos com a minha história. O instagram da Dai mostrava sua intimidade, e me fez voltar ao tempo em que eu deitava para dormir e acariciava minhas costelas, que saltavam para fora do meu corpo, com satisfação. 
Eu me enxerguei na Dai. Eu fui uma Dai. A diferença entre nós é que eu fui resgatada de um buraco escuro, úmido e fétido que cavei para mim dentro de mim mesma. As semelhanças ultrapassam minha capacidade em pontuá-las, portanto, vou me ater à mais escancarada: para nós duas, nosso corpo não era nossa única propriedade, nosso reino, como deve ser. Era uma prisão. Eu e ela já soubemos como é olhar do espelho e ter vontade de arrancar boa parte de você fora (literalmente), pois “há muito”.
Outras Dais virão. E, no fundo, eu sempre chorarei por elas, pelo resto dos meus dias.
Pelo que observo você lê praticamente todos os meus e-mails, então vou me adiantar e agradecer pela sua paciência de ler esta releitura da Odisseia que escrevi pra você. Se você decidir que isto é material para o blog, peço que não me identifique. Depois de tudo que passei, ainda tenho vergonha de admitir para os outros que quase cometi suicídio gradual.
Continue assim, querida Lola. Espero que você resgate muitas outras Dais e Eus por aí.

40 comentários:

Caroles disse...

Minha vida foi parecida com a da T. no quesito gordofobia em casa. Minha família toda é gordinha, mas se odeiam, estão sempre fazendo dietas e frequentemente meu pai fala coisas tipo "ai deve ser muito bom ser magro", até hoje. Imagina, um homem de 52 anos que ainda não se acostumou com o próprio corpo. Quando eu era criança e meus pais se separaram, meu pai dizia pra minha mãe que ela não cuidava direito de mim e da minha irmã porque nós éramos gordinha. E lá íamos nós pra nutricionistas e endocrinologistas, chorando num consultório aos 8, 9 anos porque éramos "gordas". Mesmo que as duas fizessem ginástica olímpica e jazz e fossem saudáveis, só que gordinhas. Acho que nós duas tivemos épocas em que comíamos muito pouco e tínhamos hábitos pouco saudáveis, mas nessas épocas fomos magras. E esses dias mesmo minha vó disse pro namorado da minha irmã que "teve uma época que ela tava tão bonita e magrinha". Minha irmã tem 21 anos e é linda, e bem mais bem resolvida com o próprio corpo do que eu. A resposta do namorado dela pra minha vó foi: "eu acho que ela tá linda agora".
Eu também tenho quem me ache linda. Na verdade, todo mundo sempre me elogia. Só que eu não concordo, e rebato os elogios com respostas tipo "tu só diz isso porque eu sou legal, daí pareço bonita". Sempre entrei em discussões com meus namorados e meus amigos por não aceitar elogios, não aceitar que me achem bonita, fico rebatendo com argumentos e sendo categórica: "tu não pode achar isso de mim". Sempre acho que estão mentindo pra mim. Lola, teu blog me ajudou muito. Mas ainda me olho no espelho e queria ser completamente diferente. Enxergo em mim coisas absurdas, acho que sou tão gorda que minha cabeça é pequena demais pro resto do meu corpo em proporção haha quando eu falo isso pras pessoas elas não sabem se riem ou se choram. Só que é claro que como cresci ouvindo de colegas que eu era um elefante, que eu deveria ser a goleira do jogo de futebol porque eu ocuparia a goleira toda e não deixaria as bolas passarem, que enfim, eu era gorda e feia, é muito difícil pensar de um jeito diferente. Ouvir versões disso em casa também não ajudava muito. Hoje eu tenho 23 anos, e só agora meu pai me diz que eu sou "linda", por exemplo, e só porque a namorada dele sempre diz, e talvez tenha mudado a opinião dele, não sei. Acho que ele sempre foi muito frustrado por ter duas filhas gordas. É bem difícil se amar quando parece que o mundo te rejeita. Vejo amigas magras dizendo que precisam emagrecer e não consigo não me perguntar como é possível que elas me achem bonita. Mesmo quando é óbvio que um cara tá a fim de mim, eu não acredito, por que como seria possível? Eu nunca demonstro meu interesse por ninguém porque rejeição dói demais e nunca passa pela minha cabeça que o cara possa estar interessado. Tenho estrias, e todo mundo sempre fala "ai ter estria é normal, todo mundo tem", mas as minhas são na barriga e eu tenho muita vergonha, a ponto de por vezes transar de blusa. Enfim, acho que vivo coisas que todo mundo que está fora do padrão vive. E apesar de tudo isso que falei, reitero que teu blog me ajudou muito Lola, e tem dias em que eu consigo me achar bonita, e frequentemente fico bem whatever, é assim que eu sou e deu, mas ainda tem um finzinho amargo, porque eu queria que fosse de outro jeito.
T., parabéns pela superação e vamos continuar na luta pra que ninguém mais sinta que seu corpo é uma prisão, pra que todo mundo se sinta à vontade para ser como é, sempre, sem ressalvas. :)

A. A. disse...

Triste é saber que tem gente que incentiva mulheres a passarem fome. Um dia mesmo, na faculdade, estava pegando um lanchinho e ouvi umas meninas da minha idade reclamando umas com as outras que elas possuem barriga, possuem dobrinhas, etc. Eu sinceramente queria chegar para elas e falar que isso é normal, mas como explicar isso para pessoas que passam anos sofrendo lavagem cerebral de que seu corpo nunca vai ser suficiente?
Vi minha irmã mais nova fazer dieta e apelar para suplementos e foi insano o quão doente ela parecia. Tenho amigas que vivem levando bronca das mães por.... comerem.
É algo triste saber que não apenas meninas acima do peso, mas também as magrinhas, baixinhas,altas, todas sofrem algum tipo de perseguição apenas por suas características físicas. Espero o dia chegar em que não terei que ouvir mais minha família dizer "Aquelas suas amigas são tão bonitas,mas seriam tão mais se emagrecessem,etc."

Anônimo disse...

Que loucura esse negócio de levar criança em nutricionista. Não sei, mas acho que criança tem que ir no pediatra e pronto, a não ser que seja encaminhado pra um especialista por um bom motivo. E se a família toda era gordinha e se eles desconfiavam que além da genética, tinha alguma coisa a ver com a alimentação, então quem tinha que procurar nutricionista eram os pais. Porque a nutricionista pode ensinar quais são os melhores alimentos, combinações bacanas, coisas que podem substituir aquelas guloseimas de vez em quando. Só que ela vai ensinar isso para os pais, porque criança não faz compra, não cozinha e sempre tem a mesma alimentação que os pais tem. Quero dizer que se a criança se alimentar razoavelmente bem ela será saudável, pode ser magra, pode ser gordinha, mas vai ser saudável. E a responsabilidade por isso é dos pais, não adianta empurrar pra nutricionista.

lrm disse...

Eu me sinto muito confusa com tudo isso... Digo porque sou e sempre fui (muito) magra sem nenhum esforço. E pensar que - e já ouvi isso - meninas com anorexia podem se espelhar no meu tipo físico é simplesmente assustador.
Em uma das épocas que o assunto anorexia veio à tona eu, saudável mesmo sendo magrinha, sofri o tal do bullying porque era "com toda certeza uma doente". Isso me fez ver também o quanto a sociedade prefere descriminar à oferecer ajuda.
É triste, é tudo muito triste...

Ana disse...

Nossa,chorei muito lendo isso,que bom que ela conseguiu se libertar desse padrão doentio de beleza mas minha irmã não teve a mesma sorte.
Faz um ano que minha irmã se matou porque não aguentou esse massacre a nossa auto estima que sofremos todos os dias.
Ela sempre foi gorda,da nossa familia ela nunca sofreu preconceito mas das pessoas de fora sofreu muito.
Na escola,na rua.não conseguia emprego,ela já estava com depressão,não saia de casa.
Até que um dia não surportou mais e tomou chumbinho,ela só tinha 24 anos,eu e minha mãe trabalhamos,por isso não tinha ninguém em casa para impedir,foi desesperador, Muito triste,ainda dói muito,só me deu mais ódio de viver nesse mundo,ódio dos homens quem pensaç que estamos aqui só para servi-los.
Uma vez ela me disse que estava andando na rua e do nada um infeliz que ela nunca tinha vista na vida passou e chamou ela de baleia e foi embora rindo,ela ficou arrasada.que direito esse fdp tinha de fazer isso? Quem ele pensa que é para achar que pode debochar dos outros?

lica disse...

Lola,
Acabei de acessar o site pra te perguntar pra você ou pra quem saber, tem como denunciar a novela das 9h por GORDOFOBIA?

Gente, eu não me conformo com tanta humilhação que a personagem da Fabiana Carla sofre... Ela já foi drogada, teve a casa assaltada, pegou fogo, foi algemada e chicoteada por um desconhecido. Pq ela quer perder a virgindade e não consegue por ser GORDA?!?!?

Sinto que a gente devia fazer alguma coisa, algum protesto...

Anônimo disse...

A anorexia deve ser tratada por nós como Violência contra Mulheres, claro que há homens que morrem disso, mas o número de mulheres é imensamente maior. Mas olha, olhando de fora não dá pra entender mesmo gente, eu vejo gente comentando "seus doentes" nas fotos do instagram da Dai, pq eles "incentivam" e dizem que ela está/estava muito bem. Mas é aquela velha história, só quem ta dentro sabe como é, sabe comoé horrível olhar no espelho e enxergar outra coisa, enxergar uma coisa q nao é real. Eu mesma, esclarecida como sou já fui de enfiar dedo na garganta pra vomitar o jantar, às vzs eu me cuido, ás vezes eu dou uma boa "relaxada" e como tudo q eu quero, às vzs eu fico paranoica e como dizem as ANA/MIA fico no NF. O feminismo e gente como vc lola, têm me ajudado bastante, obrigada.

Anônimo disse...

já passei por isso de ser xingada na rua por um estranho: "sua gorda, estou tão na seca que até te comeria" .

esse dia eu quis morrer, essa vida de insultos gratuitos cansa, não julgue sua irmã. Que Deus conforte a familia!

patricia. disse...

Nunca fui gorda, tem épocas que fico mais cheinha, mas volta e meia emagreço outra vez, porque tenho bem mais facilidade de perder do que ganhar peso, mas nunca tive uma relação muito boa com meu corpo.

Fui a várias nutricionistas quando era criança para ganhar peso, porque meus pais se preocupavam que eu fosse fraca por que era muito pequena e magricela, e eu odiava. Era sempre uma tortura tomar os suplementos vitamínicos que passavam para mim. Sei que parece extremamente bobo, mas acho que um dos motivos de eu detestar leite e frutas é por causa que tinha que tomar os benditos suplementos juntos com eles.

Minha irmã que foi uma criança gordinha e nunca recebia elogios quando era pequena, é bem mais bem resolvida em relação ao corpo dela do que eu, e ela é 8 anos mais nova também.
Eu sinceramente acho que o que diferencia nossa relação com a nossa auto estima foi a experiência escolar de cada uma.

Minha irmã sempre foi mais extrovertida e confiante, mesmo na época que era gordinha,andava com a turma das meninas populares.

Eu era o oposto.Sempre fui tímida e bem mais reservada, e apesar de quase não ter sofrido bullying era ignorada pela maioria da sala, nenhum menino pedia para ficar comigo eu sempre me achei feia, apesar das pessoas sempre discordarem .

Confesso que em determinada época cheguei a ficar muito magra por conta de problemas emocionais. Não acho que se enquadre como distúrbio alimentar, pois não estava emagrecendo por motivo de estética, nem estava fazendo dietas, apenas não sentia vontade de comer porque estava bastante deprimida.
Gente,juro,essa foi a época em que mais recebi elogios na minha vida.Estava pálida, cheia de olheiras, parecia doente mesmo(tanto por causa da depressão como pela perca de peso),e todo mundo me falava que eu estava ótima.

A mesma coisa eu vi acontecer com a Dai pelas fotos do instagram. A menina estava literalmente definhando e parece que quanto mais emagrecia, mais recebia elogios. Assustador.

Anônimo disse...

Que eu saiba essa moça Dai Dornelles morreu de hepatite A - já não sei se a anorexia causou ou complicou isso - porém essa ditadura da magreza é uma bosta. Quando tenho um problema e vou ao médico, a primeira coisa que eles me dizem é que eu preciso emagrecer. Uma ainda me disse que se eu fosse mais magra um problema meu sumiria. OI? Agora eu ignoro e apenas respondo: "Gosto do meu peso além do mais, quando morrer, ficarei magrinha mas não tenho pressa. Passar bem."

lica disse...

#corrigindo

Acabei de acessar o site pra perguntar pra você ou pra quem souber, tem como denunciar a novela das 9h por GORDOFOBIA?

Mariana disse...

Aconteceu comigo mais ou menos o que aconteceu com a Patricia, que comentou mais acima. E também achei assustador.

Eu sou a famosa sanfona, tenho facilidade tanto pra emagrecer como pra engordar, não consigo manter o peso. Há 4 anos, trabalhei por 4 meses num ambiente super insalubre, um navio de cruzeiro. A comida era HORROROSA e, como eu já sou chata pra comer (no sentido de gostar de pouca coisa e ter frescura com outras), praticamente me recusava a comer aquela comida e só me alimentava "direito" (aqui em termos de quantidade, não de qualidade) quando saía do navio e ia pros Burger Kings e Mc Donald's da vida. No navio, minha dieta era uma ou outra fatia de pizza e refrigerante, mas isso poucas vezes ao dia e o trabalho era pesado, 12 horas por dia sem folga.

Em 4 meses, virei um esqueleto. Não me pesei, mas pela mudança na aparência, calculo ter perdido uns 15 kg. Minhas roupas caíam ou me engoliam e eu sentia os ossos dos joelhos se tocando quando eu dormia de lado. A reação das pessoas? Muitos elogios, talvez mais do que eu já tenha recebido em qualquer outra época da minha vida. Havia uma ou outra pessoa que me perguntava sobre a minha saúde ou se eu tava com anorexia (não estava), mas a maioria esmagadora dizia que eu estava linda, que meu rosto se destacava mais magro (na verdade, eu tava cabeçuda, parecia um pirulito) e que perder peso valorizava a minha altura (que nem é tanta assim, 1,69).

Quando saí do navio, arrumei um emprego em uma agência de publicidade e voltei a comer como uma pessoa normal. O que aconteceu? Engordei tudo de novo e mais um pouco, chegando ao limite do meu IMC com 69kg, o maior peso da minha vida. Acho que emagrecer do jeito que eu emagreci no navio fez com que meu corpo se descontrolasse e compensasse por toda a privação. Daí, é ÓBVIO que os elogios viraram críticas e "conselhos" sobre ir pra academia, fazer dieta... O povo parecia decepcionado e algumas críticas deixavam claro que me achavam "desleixada" por ter engordado. E olha que nunca fui exatamente gorda, no máximo quase lá.

Hoje, como estou morando em outro país e minhas refeições mudaram de acordo com a comida daqui, perdi 9kg. Voltei a ter elogios, só que bem mais moderados do que na fase esqueleto. Enfim, acho bem irônico o fato de as pessoas, influenciadas pela mídia, glorificarem um padrão esquelético mas mudarem para um tom de preocupação com a saúde (ou até de crítica à "futilidade", vi isso no Instagram da Daiane) assim que alguém passa dos limites ou morre.

ana disse...

anom de 15:27 eu não julgo ela,sinto muita tristeza e raiva desse mundo nojento em que vivemos,se nós mulheres fossemos respeitadas e tratadas com dignidade isso não teria acontecido com minha irmã,ela não teria passado a vida se achando um lixo.

Anônimo disse...

Muita força pra você T.
É tão difícil entender como alguém pode se sentir livre pra ofender, debochar e humilhar um outro ser humano, principalmente quando esse está passando por alguma dificuldade. Às vezes penso que um dos agravantes do preconceito é que todo mundo se sente no direito de interferir na vida dos outros, pautar como a OUTRA pessoa deve se portar, sentir, agir.
E quanto ao "padrão de beleza", é muito foda isso, mesmo com todo meu feminismo, é difícil amar meu corpo, sem dúvida melhorei muuuito, mas em muitos momentos bate aquela tristeza e parece que somos só nossa aparência.

Anônimo disse...

Acho ótimo a T não ter se tornado anorexica, mas achei complicada essa relação com a família. Pelo que eu entendi nunca foi chamada de gorda nojenta.

Na minha casa, a única pessoa magra inferniza todo mundo cada vez que ganha 2 quilo e ai se vc disser que ela está ótima do jeito que está. Faz um enorme drama quando a mãe diz que não deveria comer 2 Big Macs de uma vez ou comer melhor durante os regimes extremos. Se recusa a fazer terapia e fica ressentida se alguém começa a emagrecer e morre de rir quando as amigas engordam.
Se alguém perguntar a culpa é da família.

Não tô dizendo que seja o caso da T, só afirmando que muitas vezes essas questões tem mais de um lado. Se em relação a abusos sexuais, verbais e físicos não há o que discutir.Na questão dos pequenos traumas, faz parte do amadurecimento olhar por outro ângulo.

Clara disse...

tive muita sorte de nascer com bem menos tendência a engordar do que meus dois irmãos. Hj, todos adultos, eles continuam gordos, um deles obeso. Já eu chegue a estar cheinha, mas com a alimentação cada vez melhor (nunca foi ruim) pra dar o exemplo pro meu filho, acho q nunca mais engordo.
De qquer forma, vi meus irmãos, principalmente o que é obeso, sendo responsabilizados pelo seu peso desde crianças. Minha mãe, que era magra qdo nova mas engordou bastante depois dos fihos, colocava toda a culpa nas costas dele. Eu, que já era bem mais velha, cheguei a falar pra minha mãe que ele até podia comer muito, mas o tipo de coisa que ele comia era o que ela oferecia. De fato é um absurdo fazer esse terrorismo com crianças, dá até uma agonia.
Não que seja bonito julgar adultos pelo peso, mas com criança o negócio é muito pior.

Sara disse...

Os padrões estéticos doentios que a sociedade impinge as mulheres é revoltante, as vezes fico me perguntando se não é proposital para nos debilitar física e mentalmente, que sentido tem perseguir um padrão de beleza que só pode ser obtido se beirarmos a inanição.

André disse...

Sei que existem pressões para que as mulheres sejam magricelas, mas não acreditem que seja para agradar os homens, a maioria dos homens prefere as mais cheinhas.

Anônimo disse...

Nunca cheguei a ser anoréxica, mas já perdi peso por conta de depressão, e atualmente por fazer reeeducação alimentar.

Os elogios que a gente escuta é como se nos impulsionassem sempre a emagrecer mais, pois quem não gosta de se sentir amada, aceita, etc?

Problema é quando a pessoa termina de emagrecer o que deseja, atinge peso ideal e se martiriza pra continuar emagrecendo porque quer ouvir elogios. Pra mim, esse é o ponto chave da anorexia. A mulher acaba emagrecendo não porque quer ficar magra, mas porque quer se sentir aceita e amada.

liana disse...

sou do tipo magérrimo, que perde peso com facilidade impressionante e quase nunca engorda. tenho praticamente o mesmo peso desde os 13 anos. sou magra e com muito pouco seio desde sempre.

para quem acha que isso pode ser bom:
eu tinha uma auto estima destruída até os 18, 20 anos, qdo comecei a namorar e de tanto meu namorado insistir que eu era bonita, resolvi "acreditar" nele.

quando eu era criança e adolescente, nao usava biquini. amigos iam a praia, excursoes de final de ano do colegio, todos iam e eu sempre dava uma desculpa p escapar. a partir dos 10 anos tomei consciencia q meu corpo era horrivel e me privei de muitas coisas. nao poderia jamais exibir meu corpo, e menos ainda admitir que era por isso q nao participava dessas viagens, para ninguem eu poderia admitir.

aos 14, lendo uma entrevista da gisele bundchen, descobri que ela usava duas calças por baixo da calça jeans pra parecer mais gorda qdo era nova. adorei a ideia, e mesmo no calor escaldante do verao eu usava duas calças de lã (pq eram mais grossas) por baixo da calça jeans. qdo comecei a sair a noite, usava o mesmo truque. morria de calor, mas morreria mais se saisse magra como eu era. ninguem sabia disso, e eu morreria se alguem soubesse q meu corpo nao era como eu fingia que fosse. nem minhas melhores amigas sabiam.

primeira vez q fui a praia depois dos 10 anos foi aos 20, por muita insistência do namorado.

dos 10 aos 16 anos so usava roupas larguissimas para esconder meu corpo. isso me deixou com fama de esquisita do colegio e da vizinhança. minha mae me criticava muito por esse estilo, pois eu devia ser mais feminina. eu era completamente introspectiva nessa epoca. so passei a usar calças justas quando descobri o truque de usar mais calças.

eu vivia um inferno. eu tinha melhores amigas q eram do tipo gostosas, eu nunca era observada pelos meninos e mesmo q fosse era timida demais pra conversar e achava q nao merecia. eu morria de raiva de mim, de ser magra e timida e nunca ficar com ninguem, ao contrario das minhas amigas. felizmente minhas amigas me apoiavam, senao acho q teria sido pior.

eu tinha uma lista das plasticas que queria fazer. mil implantes e modificações.

eu tenho 27 anos hoje e tudo isso passou. o meu corpo continua igual, o q eu aprendi foi a conviver com ele, acha-lo normal e hoje as vezes me sinto descontente, mas aprendi a gostar de mim como sou, graças a esse primeiro namorado em grande parte, e tb pelo feminismo.
mas ainda hoje nao tenho coragem de contar p ninguem como eu me sentia nessa epoca, e esse lance das calças acho que nunca terei coragem, pois morro de vergonha.

hj eu nao dou mais bola, tenho pouco peito, pouca bunda, mas ja nao acho que isso eh importante, tenho outros objetivos da vida alem de pensar que agrado ou nao agrado os homens. maioria dos dias me acho lynda mesmo.

queria muito ter aceitado meu corpo desde os 13 anos. passei muitos anos desperdiçando minha energia e concentração odiando algo que eu simplesmente nao existiria sem. essa sociedade eh mesmo doente, faz as mulheres odiarem a si. eh muito forte isso, so quem viveu pode entender.

eh uma lavagem cerebral, um dia estarei completamente livre, cada vez com menos recaidas. eh dificil nao ceder a algo q te pressiona todos os dias, tem q ter muita força p ir contra a mare.

vivian disse...

estava olhando o twitter desta menina q se matou, a dai dornelles.

da muita pena, pq ela era linda e pelo jeito nao sabia q era.

ao mesmo tempo, se percebe a imensa necessidade q ela tinha de aprovação do olhar masculino. muito vaidosa, maquiada, tinha silicone, fotos sensuais, e no twitter fazia uma imensa menção aos implantes de silicone e em como isso a deixava um imã de olhares de homens.

no twitter fiquei chocada com o que li. ela era, alem de machista, racista e extremamente gordofobica. tinha odio descarado das gordas, escrito em muitos tuites, q mesmo eu sendo magra me deu nojo lendo. nao sei o que dizer, mas foi assustador ver q ela escrevia isso...

sem duvida a vida dela girava em torno da aparencia, em julgar a si e aos outros (ou melhor, outras neh?). no fundo provavelmente devia ser o odio q sentia pela propria aparencia... muito contraditorio tudo isso. enfim.

vivian disse...

@andre é esse que é o problema.
as mulheres nao devem modificar seus corpos a partir do que os homens preferem. se preferem magras, gordas, peitudas, sem peito, malhadas, qualquer uma dessas caracteristicas se torna uma prisao q as mulheres vao querer entrar e ficar para agradar aos homens, pq sempre algumas se encaixarao na definição do q agrada, mas um bom numero nao vai, e essas eh q vao sofrer.

o corpo é lindo, é nosso suporte na terra, nao eh feito exclusivamente para agradar o sexo masculino.

no mais é unanime que gostos variam enormente, inclusive entre homens, e inclusive as vezes homens tb nao se importam com forma fisica pra se apaixonar e ficar com alguem, entao de modo algum qualquer tipo de padrão deveria ser aceito, e muito menos seguido.

foda.

L. G. Alves disse...

Acho que por um tempo eu vivi algo semelhante. Fui até diagnosticada com esta doença horrível, mas até hoje eu não acredito que era isso, embora eu tivesse colocado na mente, na época, que precisava perder "a barriga" e como não queria fazer esporte ou malhar, eu comecei a fazer uma dieta por conta própria e parei de comer como antes. Eu cheguei a ficar com 47kg e quando vi que estava desmaiando, fraca, cansada, com dores, sem apetite e ficando bem magra, com as costelas aparecendo, me deu um medo danado. Eu estava passando por momentos complicados (como sempre) e não tinha ajuda para sair do poço, então tive que eu mesma procurar sair dele sozinha. Ainda bem que consegui. Fiz de tudo para engordar. A barriga cresceu mas eu prefiro a minha barriga e dobrinhas do que aquilo tudo. Eu tenho 1.65 de altura, mas com 47kg eu fiquei bem magra. Quando consegui entrar na calça tamanho 36 fiquei pasma. Acho que a "ficha caiu" ali. Não era modelo nem nada assim e nem achava bonito "mulher palito" ou sem curvas, então por que estava tão magra? Tive que tomar uma nova atitude. Desta vez para melhor. Olha, para mim o ideal é não ser nem 8 nem 80. Todo mundo sabe que para ter uma vida saudável é preciso fazer certas coisas.

Anônimo disse...

Homem gordo é "ok" em que lugar?
HAHAHAHAHAAHAH uma gordinha SEMPRE vai ter alguém para transar ou namorar. Um gordo é um pedaço de bosta invisível e que enoja as mulheres. A não ser é claro que ele seja rico.

Essa é a realidade. Sem vitmismo.

E quanto aos cerumanos que estão falando de denunciar novela e mimimi, porra, se toca, parem de tentar impor seus pensamentos à sociedade. Liberdade de expressão é para os dois lados, o que te agrada e o que não te agrada, se não é censura igual na ditadura militar, só que beneficiando suas crenças e não as dos outros.

Abram os olhos. Além disso o estado tira de um agradando o outro num primeiro momento, mas pra isso ele tem que estar poderoso, e o estado poderoso no futuro vai tirar de voce e de quem ele quiser.

Anônimo disse...

OFF-TOPIC: Lola, por que você nunca escreveu nada sobre os estupros coletivos que são praticados em aldeias Camaiurás?

http://pt.wikipedia.org/wiki/Camaiur%C3%A1s

Thaís B disse...

Como sempre mais um anônimo, como o das 12:16, defecando pelos dedos impondo o que ele acha com a justificativa de "é assim que as coisas são e ponto". HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

L. G. Alves disse...

Como é? Li isso agora. "Denunciar a novela das 9h por GORDOFOBIA?" Aí é demais, não? Eu ODIARIA que pessoas tentassem se meter com a história dos meus personagens. Se o autor criou para ser assim, tem que ser assim.

S. disse...

A gordofobia é muito presente mesmo e existe uma imposição muito grande da mídia para que toda mulher tenha corpo de modelo. Mas - não querendo inverter o foco do problema - a verdade é que rola preconceitos de tudo que é jeito, quando o assunto é peso de uma mulher. Digo isso porque eu sempre fui magra, com uma tendência a ficar de 1 a 3kg abaixo do meu "peso ideal", mas sem chegar a ser magérrima... e, no geral, eu gosto do meu corpo, só me preocupo de não emagrecer demais pra não ficar fraca e tal... mas o fato é que eu SEMPRE tenho que ouvir das pessoas que eu estou magra ou que eu estou emagrecendo ou que eu estou "conseguindo ficar ainda mais magra". Elas usam esse termo, sabe: "conseguir" ficar mais magra, com um mix de desdém e admiração. Às vezes, elas acham que estão elogiando, às vezes, acham que estão se preocupando com a minha saúde. Seja como for, é um saco. Tipo, eu como bem, eu faço atividade física, eu cuido da minha saúde e - ACIMA DE TUDO - sei muito bem quanto eu peso, obrigada! Ninguém precisa ficar apontando a variação de massa corpórea alheia. Mas as pessoas - por algum motivo que eu desconheço - têm essa obsessão em ficar comentando sobre o corpo das outras (principalmente das mulheres), elas se sentem nesse direito. E, mesmo quando elas acham que estão elogiando, isso me incomoda muito.
É meu corpo, sabe, território particular, autônomo e insuscetível de avaliação pseudoelogiosa alheia.

patricia. disse...

Como confiar em alguém que escreve 'cerumanos'?

Anônimo disse...

Passar fome?!?!?!
Só mesmo sendo muito ignorante para dizer que para ser saudável e ter um corpo saudável e atlético precisa passar fome.
O problema é que as pessoas querem emagrecer comendo pizza, bolacha, chocolate e tudo regado a muito refrigerante.
Qdo se fala em alimentos integrais, saladas, verduras etc., torcem o nariz.
Aí fica difícil.

O problema é que as mulheres têm uma visão distorcida do próprio corpo.
E a culpa não é dos homens, não é e provo isto!
Pesquisas já foram feitas e se chegou à conclusão que o padrão de corpo feminino preferido pelos homens é de mulheres curvilíneas, já o padrão das mulheres é de mulheres longilíneas.
Por isso que propaganda de cerveja é sempre com mulheres peitudas e bundudas e propagandas de moda, roupas, lingerie etc usam modelos mais magrinhas.
Mas as mulheres querem sempre ficar mais magras, não é uma imposição masculina.

Anônimo disse...

Ô, amigos. Só quero ressaltar que vejo homens gordos sofrerem demais também.

Anônimo disse...

patricia. disse...
Como confiar em alguém que escreve 'cerumanos'?

25 DE AGOSTO DE 2013 19:56

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Que tal pensando um pouco antes de postar merda e percebendo que é ÓBVIO que o erro foi proposital querida?

Quanto à cerumana que disse que eu estou defecando pelos dedos e esse blablabla, demontre que o que falei está errado em vez de simplesmente atacar.

Ah é, você não consegue nem nunca vai conseguir, porque faz parte dos famosos idiotas de internet, aqueles que sabem tudo sobre tudo e nunca apresentam um argumento sequer.

donadio disse...

"Que tal pensando um pouco antes de postar merda e percebendo que é ÓBVIO que o erro foi proposital querida?"

E como diabos confiar em alguém que escreve dessa forma, ainda por cima de propósito?

Carol disse...

Gente, pode ser maldade, mas do fundo do coração, ainda bem que essa mina morreu, sinceramente ela pode fazer falta pra família e amigos, mas era um lixo de ser humano, espaço/desperdício de ar e tempo, uma pessoa que era extremamente gordofobica, racista, machista, era a definição de classe média porca, não faz diferença no mundo, eu simplesmente não consigo sentir pena de um ser humano assim...

Unknown disse...

Lola, os comentários dessa noticia são a prova perfeita de que não adianta, por mais que vc faça TUDO para se encaixar em um padrão de beleza impossível, sempre irão dizer que vc tem defeitos, sempre, é enlouquecedor.

http://ego.globo.com/famosos/noticia/2013/08/renato-gaucho-fala-sobre-silicone-da-filha-ela-me-convenceu-deixar.html

Anônimo disse...

Minha família é mais uma dessas em que todo mundo é gordinho, dos ossos largos e propenso a engordar e ser aquela luta pra emagrecer. Minha mãe viveu isso a vida inteira (4 horas de academia por dia + dietas loucas, que por sorte só foderam o joelho dela). E a história não foi muito diferente pra mim, meu irmão, um primo especificamente, minha tia...

Desde que eu me entendo por gente, eu sou gorda. Lembro de quando criança eu vivia de dietas que chamavam de reeducação alimentar (não sei reeducar de que, até hoje, porque minha alimentação não incluía doces, refrigerantes, biscoitos recheados, danete, nada dessas coisas, bem como massas era eventual, enfim, a alimentação padrão de brasileiros e eu nunca comi em quantidades exageradas, só no quando tive bulimia). Quando eu tinha oito anos eu decidi que não participaria mais das apresentações da escola, porque eu era feia e gorda. Também fugia das festas de aniversários porque tinha fotos, e ninguém que se acha feia, gorda e enorme quer se ver em fotos. Nessa mesma época, parei de participar das aulas de educação física e das brincadeiras, porque gordo era lerdo, pesado, só atrapalhava tudo e eu não queria decepcionar ninguém. Depois dessa idade, são raras as fotos que existem de mim e até hoje tenho vergonha delas. Eu deixei de acreditar em Deus com nove anos, quando por diversas vezes eu rezava antes de dormir pedindo pra ele me fazer mais magra, porque eu não aguentava mais ser horrível. E quão cruel é imaginar uma criança passando por isso? De toda forma, foram várias noites rezando sem nada de eu me tornar uma princesa da Disney. E eu entendi que ou ele me odiava (e não era pra ele ser bom?), ou ele não existia. Desafiei algumas vezes pra ele me provar que existia e me tornar bonita, mas bem, nada. Continuei me odiando pra sempre e sendo uma pessoa apagada. A menina que ninguém conhece, a que tem dois amigos e olhe lá, a que todo mundo esquece o nome. Tudo isso acompanhado pela minha super protetora mãe, que além de eu não ter muito convite pra nada, não me deixava ir quando eu tinha. Passei a adolescência assim. Me odiando e me certificando de ser invisível, porque se me vissem seria pra apontar quão feia e gorda eu era. No meio disso, comecei a "comprar" o afeto das pessoas, dando presentes, fazendo almoços na minha casa pros meus colegas (eu sempre cozinhei) e "conquistando", assim, amizades. Ninguém sabia dos meus problemas. Ninguém me conhecia. Mas eu dava chocolates, bonés de marca no aniversário e assim foi.

Cheguei na faculdade e continuei no meu papel seguro de invisibilidade que adoto até hoje, mas todas as minhas amigas são lindas e magras e eu queria me enquadrar um pouquinho só ali. No meio disso, entrei em uma disputa pelo meu namorado, que na época namorava outra, e ficava comigo quando queria sob o pretexto duplo (dele e meu) de que era só uma amizade e que nada do que a gente fazia junto era significante (bom, esse é um assunto extremamente complexo e confuso e até hoje eu não tenho uma conclusão sobre nada), mas claro que, assim como eu culpava meu insucesso para ter um namorado pelo fato de ser gorda e feia (sempre foi a culpa), eu interpretava que era óbvio que eu não era boa o bastante pra ser visível, pra andar na rua juntos, eu tinha que ser só amiga, porque tudo bem ter uma amiga baleia.

No meio dessa neura eu comecei uma dieta que se resumia a comer um tomate por dia, às vezes nem isso, e consegui perder 25kgs, queria perder mais 10, pelo menos. Em meio a crises de bulimia e óbvia anorexia.

Desculpem. Não quero acabar de contar essa história. =/

O importante tá lá trás.

Nenhuma criança deveria passar por nada disso.

E os pais deveriam aprender a lidar melhor com isso.

Meu comentário foi um lixo. Desculpem.

Anônimo disse...

Achei bizarro o relato que o namorado achava você com 52kg cada vez mais linda. Eu absolutamente não conheço UM homem que goste de mulher muito magra. Estou falando em homem, não garotinho de sexualidade indefinida que faz questão de estar 24/7 na moda. Na prática, quem acha bonito mulher só osso é tia velha recalcada mesmo.

Mas também tem o outro lado da moeda. Tem um pessoal indo para o outro lado da força e achando que ser obeso é legal, que é ótimo, que mesmo tendo trocentos quilos está muito saudável, etc. Estou cada dia mais vendo isso nos meios de comunicação e até no dia a dia. E, assim, as crianças estão chegando aos 5, 10 anos de idade cada vez mais obesas. Calcula-se que a nova geração americana será a primeira na história a ter uma expectativa de vida menor que a dos pais. Resultado de muita comida, sedentarismo, e a justificativa de que "eu como pouco, meu problema é genético".

Em resumo, acho que o ser humano tem muita dificuldade de encontrar o meio termo.

Anônimo disse...

Amanda.

Oi Lola, posso parecer cruel e fria no que vou dizer, mas antes de tudo gosto de dizer o que penso sem ficar enrrolando e usando delicadezas e indiretas só pra agradar ou não "machucar" gente sensível demais, mas esse pessoal que fica o tempo todo falando: "ai com é doloroso isso e aquilo" toda hora relembrando que se identifica com algum "coitado" ou "sofredor", "sabendo a dor que o outro sente", francamente, no fundo da minha alma, do meu coração (eu escondo pra não ter problemas) tenho um bocado de desprezo (se não nojo) por esse tipo de atitude, esse excesso de auto-piedade, comiseração e sei lá mais o que, eu vejo isso tudo como formas rídiculas de querer dizer:"eu sou um coitadinho e por isso vou ficar lambendo minhas feridas pois eu mereço que tenham pena de mim, sintam pena de mim por tudo que passei", sinceramente isso me irrita, acho ridículo, e no fundo acabo achando que merecem mesmo e serem ainda mais sacaneados e sofrerem mais.

Cara eu detesto isso, eu nunca fui perfeita como um monte também não é, Não tenho peitões, uma barriga lisinha, uma bunda sem estrias, um cabelo liso e sedoso, quando criança era magrela e sem corpo, agora uma adulta sem corpo acima do peso (sonho em botar silicone e fazer plastica, mas não tenho nem grana e medo de agulhas kkk), me criticavam, falavam que eu era feia, parecia um garoto, agia feito uma sapata, que eu devia agir assim, assado, frito e torrado, em fim, o que acontece com muita gente, e como eu reagia diante disso? Eu reagia do jeito que eu queria reagir, se eu ficava com raiva e queria xingar?, xingava, queria bater? batia, queria moder ate arrancar um pedaço ou sangue?, mordia.

Me deram varios apelidos pelo meu comportamento "violento", cachorro, pitbull, animal, selvagem e etc e eu como reagia?

Continuava do jeito que eu sou, comia o que queria, vestia o que queria, alisava o cabelo quando tava afim, não alisava quando não tava afim, fazia o que todo mundo quer fazer em algum momento e nunca me senti mal em nenhum momento mesmo sendo censurada e criticada por todo mundo, quer fosse pela minha aparência fora dos padrões, quer fosse pelo meu comportamento fora dos padrões.

Eu sempre me lembro de coisas o tempo todo e dessas também (mesmo que algumas me deixem triste as vezes) e não deixo de dormir por isso.

"Há mas deve ter algo em voce ou nas suas experiências que é diferente da do resto"

Não mesmo, meus pais me criticavam? sim
Meus familiares me criticavam? sim
Eles ainda me criticam? sim
E o que eu faço diante disso? (nada, porque eu escuto tudo e desconsidero como sempre desconsiderei.)

Anônimo disse...

Amanda

(continuando meu comentário)

Sabe porque?
(muitos vão dizer: voce é uma psicopata, como uma "psico-pedagoga" e muitos "professores" já me disseram.)

Minha resposta: Não caralho, eu só não sou BURRA.

Isso mesmo, eu não sou idiota, tola burra e imbecil ( mesmo que o meu Português insista em dizer o contrário rsrsr)

Voltando ao início
do que eu dizia, eu não gosto daquele tipo de pensamento que relatei lá em cima, aquilo sim me deixa incomodada quando eu vejo, me deixa indignada, me da raiva e desgosto de ver, porque as pessoas agem como se não tivessem consiência de que elas podem governar a própria vida, elas parecem que possuem uma ideia encrustada em suas almas de que são fracas e deficiêntes e sempre precisam de ajuda e compania, que o importante é ter feridas pra ficar abrindo e expondo esperando outros desgraçados se amontoarem pra todos entrarem num coro dos infernos de choramingação e auto-comiseração, onde eles pegam o pús que sai dessa merda toda, jogam por cima das feridas e dizem que estão "vacinados" e por isso ficaram "fortes", mas não vejo ninguém na prática "fechando as feridas", é uma gente que adora ficar cutucando e reabrindo elas, sempre pra ter uma desculpa esfarrapada pra choramingar, reclamar, mentir que se "identifica com a dor do outro", que "sabe o que é que os outros passam", pra se juntarem e ficarem trocando "piedade" e "misericordia", serio tenho nojo disso, é uma desgraça.

Anônimo disse...

Amanda

(continuando meu comentário parte III XD)

Eu sou assim pq desde que me entendo por gente, eu não me vejo na obrigação de agradar ninguem, de seguir ninguem, de gostar de ninguem ou de algo, nem de amar alguem ou alguma coisa, portanto não tenho que perder meu tempo querendo saber o que pensam ou deixam de pensar ao meu respeito, o que eu vou levar em consideração ou não sou eu que decido e não o mundo lá fora, o mundo não sou eu e eu não sou o mundo pra entrar no desespero de querer me encaixar em nada e em lugar algum, as pessoas acreditam que "devem" estar em "algum lugar", e por isso deixam que "O Mundo" diga o que devem e não devem ser (na ilusão de que existe um lugar nesse mundinho de mentirinha, que só existe nos mitos da sociedade, reservado só pra elas, e correm atraz disso, que nem crianças que ficam acordadas na madrugada esperando ver o Papai Noel), por isso são fracas e sempre vão sofrer, acreditam na ilusão de que a existencia tem que ter uma "razão" e um "sentido", ai ficam buscando o que não existe, apenas pra quebrarem a cara e sofrerem, não entendem que elas apenas existem e só, já eu penso que já que existo, foda-se, vou fazer tudo o que eu puder, porque eu quero fazer e não porque eu "tenho" que fazer, e elas parecem não perceber, quem faz a sua vida é voce e não "O Mundo", que voce é voce e só e não "O Mundo", que elas só vivem nesse mundo mas não são ele e não tem que ser "ele" se não quiserem.