sexta-feira, 23 de novembro de 2018

REGISTRAR PARA INVESTIGAR E JAMAIS ESQUECER

Gostaria de destacar dois trechos do longo e excelente artigo de Eliane Brum no ótimo El País. O primeiro é sobre o movimento #EleNão, que precisa ser mais estudado. Que já entrou pra história como a maior manifestação de mulheres da história do Brasil. E que continua ecoando na nossa resistência.

A maior manifestação organizada por mulheres da história do Brasil foi o #EleNão, que colocou centenas de milhares de pessoas nas ruas em 29 de setembro. O #EleNão foi também a maior manifestação da eleição de 2018. Esse protesto foi contra Bolsonaro. E começou numa página de Facebook -- “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” -- criada por Ludmilla Teixeira, uma mulher nordestina da Bahia, de origem periférica e negra.
Negar a centralidade desse movimento de mulheres na oposição a Bolsonaro e ao autoritarismo que ele representa, na eleição mais complexa da democracia brasileira, obedece à mesma lógica sexista, machista e patriarcal que o presidente eleito representa. Parte da esquerda foi rápida em “culpar” o movimento #EleNão pelo aumento das intenções de voto em Bolsonaro. Intelectuais inteligentes fizeram questão de esquecer de outras variáveis e também que política não é instante, mas processo.
Vou sempre me orgulhar de lutar
Excluído o #EleNão, haveria muito pouco para a parcela dos brasileiros que rejeitou Bolsonaro poder contar ao mundo, assim como afirmar que fez oposição consistente ao projeto autoritário de poder. O #EleNão foi o principal movimento de resistência a Bolsonaro e, num momento tão polarizado, conseguiu unir pessoas que até então nem se falavam, para muito além dos partidos políticos. Provou algo transgressor em um contexto tão precário: é possível conviver com as diferenças e lutar por aquilo que é comum.
E destaco também este trecho do artigo de Brum porque é fundamental registrar a violência sofrida por uma heroína brasileira, Amelinha Teles. 
Esta senhora de 74 anos, com quem tive a honra de compartilhar uma mesa-redonda na UFPB, não se cala. Ela foi presa e torturada durante a ditadura militar. Seu crime? Ela mantinha uma gráfica clandestina do PCdoB. Faz muitos anos que Amelinha tem a coragem de contar sua história de luta. E essa história inclui torturas horríveis. Ela foi uma das vítimas do coronel Ustra, idolatrado por Bolsonaro (e condenado pelo Superior Tribunal de Justiça). 
Em outubro de 2018, Amelinha foi proibida pelo TSE de contar sua narrativa num programa de Haddad (que ela já havia contado várias vezes, como neste depoimento dado na novela Amor e Revolução). E bolsominions, em uma de suas inúmeras campanhas orquestradas de fake news, inventaram e espalharam a mentira de que Amelinha havia sido guerrilheira e matado gente. Eis o que escreve Eliane Brum:

Durante o processo eleitoral, outra vítima de tortura foi atacada pelos seguidores de Bolsonaro. De novo, uma mulher. E, de novo, não acredito que sexo e gênero sejam coincidências. De Amélia Teles, o herói de Bolsonaro primeiro mandou que lhe arrancassem a roupa. Depois, aplicaram choques em seus seios, na vagina, no ânus, no umbigo, nos ouvidos e dentro da boca. Em outra sala de tortura estava seu marido, também sendo torturado. Ele entraria em coma pelos golpes infligidos em seu corpo. Quando Amelinha já estava urinada e vomitada, o militar mandou chamar seus dois filhos: uma menina de cinco anos, um menino de quatro. O menino não reconheceu a mãe, pelo tanto que a tortura a tinha desfigurado. “Só reconheci você pela voz”, ele lembraria muito mais tarde. A menina perguntou: “Mãe, por que você está azul?”. Só então Amelinha percebeu que os hematomas tinham deixado seu corpo inteiramente azul.
No segundo turno da campanha eleitoral, a pedido da equipe de Fernando Haddad (PT), Amélia e sua filha gravaram um depoimento para o programa político na TV, testemunhando o que viveram. Na sequência, seguidores de Bolsonaro promoveram um linchamento nas redes sociais: inventaram que ela tinha esquartejado dois militares quando fazia a resistência à ditadura. Criaram uma ficção em que a vítima seria a torturadora e assassina. Inverteram e subverteram a realidade. E a ameaçaram de morte. Agora com 74 anos, é como se Amélia estivesse sendo torturada mais uma vez. O judiciário, que nada fez com relação a apologia ao torturador, cometida por Bolsonaro, desta vez censurou a voz de Amelinha, ao proibir o programa. A liminar que a calou foi concedida pelo ministro Luis Felipe Salomão, do Tribunal Superior Eleitoral, com a justificativa de que o programa promovia uma “distopia simulada”.
Os depoimentos das torturadas na ditadura revelam que havia um sadismo particular no ato de infligir sofrimento às mulheres. Primeiro, muitas delas foram estupradas. Ou seja. A violência sexual era usada como tortura. Baratas e ratos enfiados em suas vaginas era outra “técnica” habitual. Ao dar seu depoimento sobre a tortura que sofreu no regime de opressão, a jornalista Miriam Leitão relatou que os torturadores botaram uma jiboia viva em sua cela, apagaram a luz e a deixaram lá. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, comentou na ocasião: “Coitada da cobra!”.
Choques nos seios, no ânus e na vagina eram habituais. Muitas mulheres, como Crimeia Schmidt, foram torturadas mesmo estando grávidas. Irmã de Amelinha, Crimeia foi espancada diretamente por Ustra. Ela estava com sete meses de gestação. Ustra a tirou da cela pelos cabelos e começou dando tapas em seu rosto. Ela foi sendo arrastada pelo corredor, sempre apanhando. Desmaiou e, quando recuperou a consciência, já estava na sala de tortura, toda urinada. Era só o primeiro dia. Nos seguintes, Crimeia foi torturada pela equipe do coronel. 
Ustra só entrava na sala de tortura para dar uns tapas e ia embora. Este é o homem que inspira Bolsonaro e cujo rosto foi estampado em camisetas exibidas por seus filhos e seguidores durante a campanha eleitoral, sem que o judiciário achasse que fosse um problema.

32 comentários:

Anônimo disse...

Lola vc eh muito chata. 63 mil mortos anUalmente e vc ai FALANDO DE 50 anos atras
: REGIME MILITAR BLABLABLABLABLA BLABLA BLABLLAB ABLAB

Marina disse...

É, tem uma página no facebook que chama "Eu queria ser Brizolista, mas o pós-modernismo me obriga a ser Stalinista". É pra ser cômica, claro, mas qdo eu leio esses relatos e vejo as ações do Salnorabo e sua gangue...

titia disse...

A eleição desse palhaço fascista que nem assumiu e já fez mais cagada que uma comunidade de mendigos com disenteria nada mais é do que a revolta dos machinhos brancos, autoproclamados héteros e cristãos, com um rancorzinho especial por parte dos que são ou se consideram ricos; estão com crise de piroca porque as mulheres não querem mais a imensa honra de serem as substitutas das suas mamães e parir seus filhos, os homossexuais tacaram o "foda-se" pra opinião deles e saem de mãos dadas na rua, e os negros chegaram nas universidades e aeroportos. Por isso estão tentando a todo custo sumir com o "EleNão", calar as vozes das mulheres, dos LGBTs, dos pobres e dos pretos, acham que se todo mundo se calar eles podem voltar a fingir que o mundo gira ao redor dos seus pauzinhos sifilíticos e sujos. Estou só esperando a surpresa e o choro.


12:47 ué não eram 60 mil? Engraçado, sabe, quando Lula e Dilma estavam no poder ninguém se preocupava com esses 60 mil mortos, já que eram todos pretos e/ou favelados... e agora elegeram não só um governo federal quanto governos estaduais e municipais que são totalmente a favor do extermínio desses 60 mil pretos/favelados/ambos... hipocrisia isso que chama, né?

Unknown disse...

Essa conversa de que o movimento #elenão impulsionou Bozo enche o saco. Não tem nada a ver.

Anônimo disse...

Tbm gostei mto desse texto, li e reli e vi mtas coisas importantes nele.

Anônimo disse...

Perfeito, titia!!!

Anônimo disse...

O texto original da Eliane Brum no El Pais é longo mas vale muito a leitura.

Anônimo disse...

O que impulsionou foi o movimento evangélico, bando d e teleguiados e a massive fake news promovida pelo WhatsApp, campanha ilegal promovida por esse Bozo.

E foi tb o medo de certas camadas da sociedade de mudanças, que já chegaram e não voltam atrás, por mais que os idiotas desejem voltar 50 anos no tempo isso não vai acontecer.

E vejo que o movimento ele não incomoda ainda, por isso querem desmerece-lo. Problema deles, a gente tem que parar de se importar com a opinião dos bolsominions, eu garanto que não dou a mínima. E ninguém que eu conheço dá.

titia disse...

Obrigada, 16:28 :) O melhor é que depois da eleição do nazipalhaço já vimos uns mascus em choque aqui no blog porque eles juravam que se o mico deles fosse eleito, no dia seguinte a Lola iria embora do brasil e todas as feminazis lolistas daqui estariam se jogando aos pés dos mascus e venerando suas rolas mal lavadas. E ainda bem que eles vieram, as risadas que dei nesse dia foram muito necessárias xD Mal posso esperar pra ver o choro generalizado dessa macharada quando levarem o desgoverno Bozo no rabo e depois ainda verem que as mulheres, LGBTs e negros continuam cagando e andando pro que eles querem.

Anônimo disse...

"Ela foi presa e torturada durante a ditadura militar. Seu crime? Ela mantinha uma gráfica clandestina do PCdoB."

PCdoB? Lembro dele sim.
Esse partido não era ilegal na época?
Não foi este partido que defendia a implantação do modelo soviético que exterminou milhões?
Sei também que foi esse mesmo partido, que na China de Mao, exterminou outros tantos milhões?

Acho que REGISTRAR PARA INVESTIGAR E JAMAIS ESQUECER o regime que Amelinha defendia também é valido.

Anônimo disse...

Bem, eu apóio Jair Bolsonaro e discordo integralmente do texto publicado.

Anônimo disse...

Movimento totalmente irrelevante, nem se quer chegou a fazer coscas na campanha do Bolsonaro.
Mas admiro sua tentativa de fazer disso um "ato histórico".

Anônimo disse...

Qual é a prova que você tem de que o PC do B aqui no BRASIL exterminou milhares? Qual a prova que você tem de que Amelinha defendia o extermínio ou crime contra alguém. Não se pode punir uma pessoa por SUPOR que ela cometerá violência contra alguém. Neste caso o estado militar foi o criminoso por colocar na ilegalidade um partido. Só que não era apenas o partido comunista que era ilegal. Todos os partidos foram postos na ilegalidade. O criminoso era o estado militar. Que moral um jumento como você tem para falar sobre extermínio quando defende a tortura de alguem só porque ela é comunista mesmo que não exista a menor prova de ela pretenda exterminar alguém. Ou melhor, que moral você tem para falar sobre exterminio de alguém quando defende a tortura em qualquer hipótese. Entendo porque vc comenta no anonimato. Não se identifica para não passar vergonha e porque sabe muito bem que pessoas normais consideram gente como você pior do que esterco. Vai lavar o seu cu sujo ou procurar o que fazer, monte de merda.

Anônimo disse...

Não houve tentativa nenhuma de fazer disso um ato historico. Foi um ato histórico por mais que isso seja para o seu cu como uma trolha entrando com cerol. A mobilização continua e a oposição contra bonoro também, você gostando ou não, tá ok, troll fedorento?

Anônimo disse...

Isso é esperado de alguém como você. Seu cérebro limitado só permite dizer que discorda do texto. Dizer porque não concorda apresentando fatos e argumentos é demais para o seu cérebro limitado de ameba bolsominion

Anônimo disse...

Não só fez cócegas como tirou muitos votos. Os mesmos que fizeram o #EleNão tambem fizeram a campanha vira-votos no segundo turno. Eu mesmo consegui tirar uns votos do bonoro de pessoas que votaram nele no primeiro turno porque estavam descontentes com o PT. Sem o movimento a vitória de bonoro seria próxima a vitória do Lula graças também as fake news de mamadeira de piroca. Agora vou me engajar para tirar muito votos do bonoro nas próximas eleições enfiando um trolha com cerol no cu de vcs.

Anônimo disse...

Fato histórico igual aos protestos de 2016 e os atos pró Impeachment. Só que como a esquerda quer desmerecer esses a direita quer desmerecer o #Elenão, no fundo os dois lados são iguais.

Anônimo disse...

Na real, o "#Ele não" não deu em nada. Foi uma manifestação burguesa que não buscou identificação com as camadas mais populares. Além disso, o que deveria ser um movimento apartidário, foi usado pelos outros candidatos de forma oportunista como palanque.

O principal problema da esquerda atual, como disse Mano Brown, é que ela perdeu a conexão com as bases. Se transformou num movimento comandado por uma elite intelectual que usa um discurso inacessível para as massas e prioriza pautas da classe média.

Quando a maioria dos moradores das periferias de grandes cidades votam em Bolsonaro e Dória, é sinal que algo de muito errado está acontecendo com a esquerda.

Anônimo disse...

O movimento ele não com a campanha vira-votos conseguiu impedir um avanço maior do crescimento de Bolsonaro e até tomou votos dele. Analisar o movimento do ponto de vista de quem foi pras ruas é uma análise rasa. Muita gente que estava contra Bolsonaro era pobre mas não foi às ruas. Da mesma forma os que estava nas campanha do imptima também eram pessoas de classe média alta e ricas. Não havia muitos pobres nas ruas pedindo a saída de Dilma. A renda dos manifestantes nas ruas não diz muito sobre quem apoia o movimento. O povo votou contra o PT porque o responsabilizou pela corrupção, pelo desemprego, pela saúde precária. A turma de Bolsonaro de pobre não tem nada. Apenas parece aos olhos do povo ser a solução para os problemas que assolam o país. A campanha de Haddad focou em resolver os problemas de desemprego, saúde e educação e mesmo assim caiu em ouvidos moucos. Porque a imagem do PT está queimada.
Agora se com falar a linguagem do povo vc esteja se referindo a falar as grosserias de Bolsonaro então é melhor que a esquerda não aprenda mesmo a se conectar com o povo. A esquerda não tem que descer o nível só porque parte do povo é imbecil

Anônimo disse...

Se você olhar bem qual é a identificação gerada com os mais pobres em uma manifestação pro-impitma onde os manifestantes, todos de classe média alta chamam de vagabundos e preguiçosos os que recebem bolsa-familia? O povo não se identificou com eles. O povo só estava contra a corrupção do PT e a grave crise econômica do governo Dilma. Não estou falando do povo que votou em Bolsonaro apenas porque são um bando de nojentos preconceituosos, é claro.

Anônimo disse...

Fora que a esquerda teve perdas pequenas, na verdade uma recuperação enorme diante de todos os escândalos de corrupção e da cada campanha das fake news. Só daria pra vencer essas eleições presidenciais com um milagre.

Anônimo disse...

👏👏👏👏👏👊👊👊👊👊👊👊👊👊👊👊

Felipe disse...

O anônimo das 11:41 disse tudo: a falta de autocrítica sobre os escândalos do PT, essa superioridade moral ao falar pras massas e a ilusão de que elas já estavam alinhadas moralmente com a Esquerda, fizeram com que muitos depositassem confiança no primeiro conservador "moda antiga" que apareceu. E enquanto não baixarem a bola, pararem com coisas burguesas com boicotar rock rio e começar conversar olho no olho com o povo, a Manuela e o Fernando não serão nossos presidentes. Infelizmente...

Anônimo disse...

Bla bla bla de vcs temos que falar dos mortos no regime militar porque nao queremos que ele volte sinto muito que os machos sensiveis nao querem

Anônimo disse...

Sai fora, mascu nojento. Você nem é petista. E eu concordo com anon 13:40 que fez uma análise sensata.

Sergio Costa disse...

Sou um homem cristão e primeiro-anista no curso de Direito.No entanto ao contrário do eixo opinativo comum sei dialogar com os diferentes horizontes sociais, incluindo as minorias, uma vez que minha noiva é mulher e foi contra a campanha do presidente eleito,por conseguinte o nosso diálogo superou quaisquer questões políticas. Em outrora já fui esquerdista, contudo sou averso a servidão política-ideológica,tendo em vista o livre servir perante a democracia brasileira,de maneira ética,cívica e constitucional.
Uma democracia pura deve preservar os valores da liberdade individual e coletiva, pactuando com a constituição e o seu Estado Democrático de Direito.
O movimento ele não, jamais precisará de um apoio maioritário para ter força sócio-política. A democracia ganhou ainda mais vastidão na voz das mulheres e na era virtual,as mulheres demonstraram o espírito conjugado
da República Democrática.Sendo assim um agente político deve lutar pela sua causa, zelando pelo direito coletivo e individual daqueles que não coadunam,e coadunam com a mesma causa.

titia disse...

02:21 o capitalismo mata milhões todos os dias nos cinco continentes, então o argumento de que "matou milhões" é inválido, uma vez que o SEU regime do coração matou milhões também, e continua matando milhões até hoje - não só num único país, mas em absolutamente todos. NEXT!

Anônimo disse...

Gente como vc (17:35) é quem mais ajudou a eleger o bolso.

Ceci disse...

O #elenão não impulsionou. Mas o antipetismo sim, e e esse antipetismo que foi subestimado

Ceci disse...

O PT tá queimado. Mas o PT ao mesmo tempo, no alto de soberba, a todo custo impediu que um novo líder comandasse a esquerda. A megalomania de Lula não admitiu isso, tinha que ser ele e blablabla. O PT quis ir até o fim mesmo que isso significasse entregar o pais a um fascista. Foi o que aconteceu no fim, né?

Ceci disse...

Aí é que tá. O novo presidente bao é muito chegado em liberdades individuais

Anônimo disse...

Já havia lido está Matéria no el país. Gosto muito dos textos da Eliane Brum, sugiro procurá-los.