EM JOINVILLE, A DIREITA ESTÁ DE SAÍDA

As coisas estão fervendo aqui em Joinville, uma das duas únicas cidades catarinense onde haverá segundo turno (na realidade, há apenas três que têm mais de 200 mil eleitores e, portanto, estão aptas a ter um outro turno. Na terceira cidade, Blumenau, o nojentinho do DEM ganhou já no primeiro). Sei que meu relato aqui é muito regional, mas mostra o que pode estar acontecendo em várias cidades do país.
Joinville tá muito mal das pernas. Temos um prefeito super corrupto, Marco Tebaldi, que foi cria do governador Luiz Henrique. No momento ele tá filiado ao PSDB. É sério, gente, há montes de escândalos por aqui. A gente pode falar do que conhece mais de perto. O maridão, que é jogador profissional e professor de xadrez, trabalhou um tempo dando aulas pela Fundação Municipal de Esportes. Insistiam direto pra que ele (e todos que trabalhavam ligados à prefeitura) se filiasse ao PSDB, mas ele se recusou. Ele via o “desvio de verbas” sempre. No xadrez, por exemplo, o coordenador recebia dinheiro da prefeitura pra contratar jogadores de outras cidades e reforçar a equipe pros Jogos Abertos... só que ficava com a grana pra ele. Não repassava pros atletas. Isso é tão generalizado que, após uma atleta ameaçar entrar na justiça pelo calote que recebeu, e a Fundação ter que pagar novamente (porque o coordenador já havia torrado o dinheiro), o carinha ainda trabalha lá numa boa. E isso que xadrez é uma modalidade barata, com poucos recursos.
Houve um dia em que o maridão, que odeia essas politicagens, foi obrigado a ir a um jantar de confraternização. O presidente da Fundação Municipal era candidato a deputado estadual pelo PSDB, e seu filho era o articulador de sua campanha. Durante esse jantar, ele foi à mesa onde estava o maridão e falou: “Não dá pra confiar em pobre. Pobre é uma desgraça! A gente compra o voto, e eles vão e votam em outro”. Assim, pra todo mundo ouvir! Felizmente, Toninho (o Toninho Malvadeza de Joinville?) não foi eleito deputado. Em outubro último concorreu a vereador e perdeu de novo. Mas continua presidente da Fundação.
Joinville nunca, em sua história, teve um governo de esquerda. Agora finalmente pode ter. O deputado federal Carlito Merss é o candidato do PT. Na sua quinta tentativa à prefeitura, ele teve 37% dos votos no primeiro turno e agora, de acordo com as pesquisas, está com mais de 70% no segundo turno. Seu adversário é Darci de Matos, do DEM, que tem o apoio do atual prefeito, do governador, e de uma ampla aliança. Ele já não ia bem das pernas antes do último escândalo, que pipocou semana retrasada. A trama é instigante. Segundo o Ministério Público, que investiga um dos casos e conta com vários telefonemas gravados, em dezembro Darci ligou do seu celular pessoal pro então Secretário da Saúde de Joinville, Norival Silva. E disse pra Norival que precisava de dinheiro pro “nosso projeto”, já que o deputado estadual Nilson Gonçalves (PSDB) precisava liquidar uma dívida de 55 mil reais junto à prefeitura. Nilson é um podre total. Tem um programa na TV local, onde imita o Ratinho. É nesse nível. Quando eu tava nos EUA, até estranhei que Nilson não se candidataria à prefeitura. Afinal, ele é “popular”. Agora entendo por que: Darci e o atual prefeito o compraram pra que ele não fosse candidato. Poucos dias depois do tal telefonema, em janeiro, Norival teve que deixar a Secretaria. É que foi descoberto um escândalo. Ele ficava com 1 a 2% de cada pagamento feito a fornecedores. Mas, generoso, dividia a fortuna com seus aliados, entre eles o prefeito e Darci. Ele ia ser candidato a vice-prefeito do Darci! Era isso ao que o “nosso projeto” se referia. Agora está com a prisão decretada. Já admitiu que recebia dinheiro, mas disse que isso não é crime. Não, né? É o quê? Festa?
O jornal A Notícia publicou uma matéria sobre isso. Curiosamente, o título online era “Justiça eleitoral investiga Darci e Carlito”. Falava do escândalo envolvendo a gravação do telefonema do Darci pro Norival - e o nome de Carlito não era nem citado na matéria! Mas Carlito tava lá, na manchete. É que, na mesma semana, Darci decidiu entrar com uma ação contra Carlito, Kennedy Nunes (do PP, que teve 18,5% dos votos) e um outro jornal, a Gazeta de Joinville. Eu adorei a justificativa da ação: o jornal não trata Darci com imparcialidade. Segundo ele, o semanário escolhe sempre as “fotos feias” pra ilustrar as matérias, publica os escândalos, e não é imparcial. Parece familiar, né?
Desesperada, a situação pra lá de corrupta apela pro cinismo, puro e simples. Num debate, Darci implorou para que Carlito fizesse "jogo limpo" (como se Carlito tivesse algo a ver com a investigação!). No horário eleitoral desta semana, a locução do DEM dizia que "Foi tudo uma armação" e "Está tudo esclarecido" (sem que eles esclarecessem absolutamente nada). Nilson também apareceu no programa dizendo que "Tudo acabou, bola pra frente", como se eles, e não a polícia, decidissem o encerramento do inquérito. É muita cara de pau.
Até agora, Darci não conseguiu chegar a 30% das intenções de voto. Mas, andando pela cidade, é só ele que a gente vê: ruas inteiras tomadas por moças uniformizadas agitando bandeiras do 25 (porque quem precisa acompanhar partido, propostas, ficha na polícia, qualquer coisa? Basta votar num número). É legal saber que o meu dinheiro fá financiando a campanha dele. Só espero que seja a última coisa que meu dinheiro de contribuinte pague pra esses ladrões.