sexta-feira, 16 de maio de 2008

CRÍTICA: EFEITO DOMINÓ / Nostalgia do walkie-talkie

Não me lembro tão bem quanto gostaria de The Bank Job, que aqui recebeu o sofrível título de Efeito Dominó. Mas lembro que é um filme agradável, cheio de tramas políticas, com dezenas de personagens – ou seja, um tiquinho complicado demais pra minha fuça em algumas partes -, sobre um assalto a banco em Londres, nos anos 70. É baseado em fatos reais, o que significa, na prática, que os roteiristas tomaram enormes liberdades com o que aconteceu. Mas é interessante, porque inclui sósias de celebridades, como o John Lennon e a Yoko (que estavam envolvidos com grupos políticos de liberação dos negros, como o Free Angela Davis), princesas e lordes britânicos pelos quais não dou a mínima, e o Malcolm X. O mais bacana, sem dúvida, é a reconstituição dos anos 70, com a revolução sexual, Swinging London, black power, Panteras Negras...

Efeito não traz atores conhecidos, a menos que você considere conhecido o Jason Statham, ator inglês dos filmes do marido da Madonna, Guy Ritchie. O Jason só tem uma expressão, mas aqui ele até que vai bem, dentro de suas gigantescas e intransponíveis limitações. Ele é o líder do bando. Em geral, quando uma gangue entra num cofre de um banco, pega tudo logo e dá no pé. Aqui não. Aqui eles comemoram com vinho, dormem antes, ficam vendo fotos, e transam (não, não tem suruba. Tô falando do Jason com a única mulher do grupo). Pra mim, assalto classudo é como faz o George Clooney no início do ótimo Irresistível Paixão. Ele vai até a caixa e, simpático e desarmado, pede dinheiro pra moça (e lógico que a moça dá. Quem não daria pro George?). Em Efeito é bem mais complicado. Qualquer trabalhinho que envolva cavar um túnel por baixo de uma loja não pode ser fácil. O que eu não entendo bem é por que, após um assalto bem sucedido a um banco, a pessoa não deixa o país e vai prum paraíso tropical no mesmo dia. Tipo, sai do banco direto pro aeroporto e só desembarca no Rio. (Ok, nada a ver, mas a frase me lembrou uma esquete do George Carlin que vi outro dia. Ele comenta como todo mundo quer que sejam construídas mais prisões, desde que não na vizinhança, claro. E ele não compreende a apreensão do pessoal. “Mesmo que algum criminoso fuja da prisão, o que ele vai fazer? Hang around? Ficar por ali? Fazer amizade com os vizinhos?”).

Pois é, difícil entender por que os assaltantes hang around em Efeito. Mas o filme é bom. Mostra que atuar em filmes pornôs pode ser perigoso pra saúde (você vai ter que assistir pra sacar essa referência, porque nem eu sei do que tô falando). A parte mais bacana é quando a polícia, que tá ouvindo a transmissão via walkie-talkie (é anos 70!) entre o vigia do bando e o líder (e não tem a menor idéia de qual banco está sendo assaltado), decide mandar a mesma viatura pra cada localidade, esperando que o vigia avise o grupo. Só essa cena de suspense já vale o ingresso. E eu posso estar amnésica, mas não fui a única que aprovei o filme: o Rotten Tomatoes dá 77%, e o Metacritic, 69%. Embora esteja longe de ser um clássico, Efeito deve ser muito superior ao Melhor Amigo da Noiva. Quer apostar quantos milhões de libras?

- Acho que não nasci pra protagonizar um filme...

6 comentários:

Liris Tribuzzi disse...

Lola, é off tópico total, desculpa, mas você não quer cri-criticar o trailer de 'A Múmia: Tumba do Imperador Dragão'? Puuuurrr favoooorrr.. :D

Suzana Elvas disse...

Policial inglês anos 70 pra mim é "Life on Mars", nas cabeças... :o)

Por falar nisso, outro dia estava assistindo "The officer and the gentleman" com o Richard Gere e lá pelas tantas comecei a sentir um troço esquisito (na parte quando o amigo dele se mata) e aí me dei conta que minha impaciência era porque ninguém tinha um celular pra tentar achar a criatura... :o)

lola aronovich disse...

Li, seu desejo eh uma ordem pra mim. Quer dizer... Esse eh o Mumia 2 ou 3? Sabe que eu nao vi nenhum dos dois, ne? (e, se depender de mim, nao vejo esse). Mas o trailer eh curtinho, posso fazer. Por que o interesse todo?

Puxa, Su, nao conheco esse filme. Outro dia pensei em vc quando vi o "Soylent Green" (que ainda nao vi!) numa lista de melhores filmes de todos os tempos.
Isso que vc fala da Forca do Destino da um post legal: filmes que mudariam totalmente se o pessoal tivesse celular na epoca. Pena que eu nao tenha memoria pra isso. E tambem, se minha vida fosse um filme, nao mudaria muita coisa, porque a gente so comprou celular aqui nos EUA, nao usa quase nunca (so pra atender ligacao), e nao pretende continuar com a moda no Brasil. Mas se eu estivesse num filme de terror seria muito util...

Liris Tribuzzi disse...

É o terceiro, com o Jet Lee (que eu não suporto) e com a Maria Bello no lugar da Rachel Weisz. O Stephen Sommers, diretor dos dois primeiros, também foi pra glória e no lugar dele colocaram o Rob Cohen.

Eu já vi umas 30 vezes os dois primeiros filmes, e vou ver esse mesmo que seja uma bela duma bomba!

Suzana Elvas disse...

"Life on Mars" é uma série inglesa (teve somente duas temporadas, e não foi por falta de sucesso; foi porque só caberia ter mesmo duas temporadas) sobre um policial inglês que sofre um acidente de carro em 2007 e acorda nos anos 70. É simplesmente hilário porque ele efetivamente tem um cargo numa delegacia e tenta trabalhar numa polícia dos anos 70 nos moldes no ano 2000.

Uma das cenas mais marcantes e engraçadas é quando ele convence uma testemunha a contar o que viu e identificar o assassino, dizendo que ele não será visto pelo meliante porque ficará numa sala especial (aquelas com espelhos falsos). A cena seguinte aparece a testemunha no refeitório da delegacia, de frente para o assassino, todo mundo falando e fumando - sim, todo mundo fuma feito doido, como se não houvesse um amanhã.

Não há computadores, não há celulares, perícia é coisa de ficção científica e a burocracia é de matar. Muito bom. Se não me engano, a TV americana está fazendo uma versão - que, obviamente, não terá aquele humor fino britânico.

Bjs

lola aronovich disse...

Puxa, Su, parece muito interessante mesmo! Onde eu posso pegar essa série? Vou tentar ver se tem no Netflix, mas duvido. Pô, acho que na década de 80 (início!) eles já tinham os espelhos especiais, não? Pelo menos me lembro deles nas discussões em grupo. E é verdade: todo mundo fuma. Na ótima série Mad Men essa é a marca registrada: o pessoal fumando o tempo todo. O maridão até formulou a hipótese que estão fazendo mais e mais filmes e séries passadas em outras décadas pra fazer mais merchandising de cigarro...