terça-feira, 30 de setembro de 2008

BUSH, O GRANDE LÍDER

Já falei que a colunista de direita Ann Coulter deve ser a maior cheerleader do Bush. Ninguém, nem a mãe, pode gostar tanto do Bush quanto a Ann. Desta vez ela publica uma coluna dizendo que o grande mérito do Bush foi manter os EUA sem ataques de “terroristas islâmicos” durante sete anos. Ela diz que, quando Bush estava sendo alvejado por todos, ele podia ter ido embora, mas não foi, porque é um grande homem. E o compara a Gary Cooper em Matar ou Morrer. Nesse clássico de 1952, a população toda fica contra o xerife, que no entanto se mantém firme e enfrenta os criminosos forasteiros que vem atormentar a sua cidadezinha. “Por que ele faz isso?”, pergunta Ann. “Porque alguém precisa fazê-lo,” ela mesma responde. E termina:

Este é o Bush. Diga o nome de outra pessoa em Washington que enfrentaria os vilões sozinhos, porque alguém tem que fazê-lo. Ok, existe uma, mas ela ainda não está em Washington. Apropriadamente, no final de Matar ou Morrer, Cooper é cercado pelos dois últimos criminosos quando, de repente, sua mulher (Grace Kelly) aparece do nada e mata um dos assassinos! O xerife maduro é salvo por uma linda mulher que adora armas”.

Ah, que lindo! Pena que a Grace Kelly vivia em Mônaco e já morreu. Senão, McCain podia ter escolhido ela pra vice.

Há centenas de comentários de leitores enfeitando a coluna de Ann. A maioria é como esse:

Ann, você está absolutamente certa, Bush tem mantido esta nação segura! Ele é um grande presidente. Não ligo pra quem diga o contrário, ainda assim é verdade. Se ele concorresse novamente eu votaria nele, como votei nas últimas duas vezes”.

Ou esse: “Há apenas duas forças maiores que já se ofereceram a morrer por você: Jesus Cristo, e as forças armadas dos EUA. Um morreu pela sua alma, o outro pela sua liberdade”.

Entres os poucos americanos que votam, metade deles escolheram o Bush. Não há por que pensar que eles se bandeariam pro lado dos democratas agora. Apesar da recessão e do preço do petróleo, é uma questão de princípios.

Update: depois a Ann escreveu que a culpa da grande crise do momento é dos democratas. Foram o Clinton e demais liberais que, segundo ela, na década de 90 forçaram os bancos, tadinhos, a emprestarem dinheiro pra pobres, negros e latinos. E como esse pessoal não tem caráter e não pagou, a crise estourou. Essa mentalidade não é muito diferente da de uma revista de enorme credibilidade que temos por essas bandas. Sua capa do dia 24/9 merece um prêmio do jornalismo. Os EUA não estão provocando uma depressão como a dos anos 30. Não! Eles estão é nos salvando de uma! Tão bonzinho, o Uncle Sam. Pena que ainda ontem o congresso votou contra o plano do Grande Bush de abrir as torneiras pra dar dinheiro pra bancos privados. Agora o negócio vai ficar feio. Puxa, isso quer dizer que eles não vão mais nos salvar?

RESULTADO DA ENQUETE: MELHOR CAVALEIRO DO VERÃO AMERICANO

Batman sai pra um passeio

Ontem fui dormir às cinco da matina pra poder entregar um capítulo da minha tese hoje. Agora vou viajar prum outro país. Mas, antes, felizmente, irei pra Floripa ver Ensaio sobre a Cegueira. Torça pra que eu não durma durante a sessão. Se minha vida fosse um filme, hoje seria Matou a Tese e Foi ao Cinema.

Mas vamos ao resultado da última enquete, que foi bico. Eu listei os vinte filmes com a maior bilheteria do verão americano deste ano, e pedi pra você escolher o melhor. Das 79 pessoas que votaram (só?!), 51% escolheram O Cavaleiro das Trevas, lógico. Em segundo Homem de Ferro, com 15%, e em terceiro Wall-E, com 10%. Em quarto, Mamma Mia (que deve ser o meu segundo preferido, depois de Cavaleiro), com 7%. Sex and the City e Viagem ao Centro da Terra conseguiram 3%. E teve até alguém de gozação que votou em Zohan, o Agente Bom de Corte.

Por falar em votar, como as eleições já estão aí, quero saber o partido que honrará a sua confiança. Eu só incluí os seis maiores do Brasil, com mais de um milhão de filiados. Ou seja, se você for do Rio, vai ter que votar em “Outro”. Não dá pra eu incluir todos os partidos nanicos que o carioca gosta, desculpe.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

PESSOAS QUE ATIRAM EM ANIMAIS NÃO SÃO MINHAS AMIGAS

Ah, por que restringir ao Alasca o genocídio desses bichos tão diferentes dos cães?

Sarah Palin, governadora do Alasca, incentiva que os caçadores matem lobos e ursos usando aviões (leia o artigo inteiro aqui, em inglês). Ofereceu recompensas de 150 dólares por cada pata esquerda de lobo. Chama isso de “controle de predadores”. Algumas pessoas no Alasca, como os nativos, comem o que caçam. É a subsistência deles. Mas a maior parte caça por esporte e diversão. Para Sarah, os lobos estavam matando alces demais, e tirando esse alimento da mesa das pessoas e esse troféu da parede dos caçadores. Então, gastou 400 mil dólares em panfletos educativos mostrando como, no fundo, é ecológico atirar em lobos.

Enquanto isso, pesquisadores afirmam que lobos mais se alimentam de carcaça do que propriamente matam suas presas. Até alguns caçadores dizem que atirar de avião é anti-esportivo (ainda mais porque, como tem neve, os alvos são muito fáceis de ver) e não tem muita graça. Mas o genocídio dos lobos no Alasca continua. Aparentemente, dois mil deles são assassinados todo ano. A intenção declarada da governadora é inclusive reduzir a população de lobos em 60% a 80%.

Espero que PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), Greenpeace, e outras associações ambientalistas se envolvam muito, mas muito mesmo, nesta campanha presidencial.

E como não dá pra chorar o tempo inteiro, melhor rir mesmo. Este esquete do Saturday Night Live que a Andie recomendou é ideal (droga! Já foi tirado do YouTube. Ainda dá pra ver um pedacinho aqui). A Tina Fey tá igualzinha a Sarah! A parte em que ela diz “Posso ver a Rússia da minha janela” é hilária. Esse é justamente o argumento que os republicanos usam pra defender Sarah da acusação de não ter a menor experiência com política externa: ela mora pertinho do Canadá e da Rússia. Sei. Os lobos moram do lado da Sarah, e nem por isso compreendem direito a loucura da direita cristã americana.

A SUBJETIVIDADE DE UM MÉTODO MUI OBJETIVO

Há quem use um cálculo ligeiramente mais objetivo que o olhômetro pra decidir quem está magro, “normal”, ou gordo. É o Índice de Massa Corpórea (IMC). Chega-se a esse cálculo dividindo o peso pela altura ao quadrado (calcule aqui). Segundo esse índice que existe há cem anos e é aceito pela Organização Mundial de Saúde, as pessoas com IMC menor que 18,5 (ou seja, todas as top models) estão abaixo do peso considerado normal. Entre 18,5 e 24,9, a pessoa está no peso normal. Entre 25 e 29,9, a pessoa está acima do peso. Entre 30 e 39,9, a pessoa está obesa. E, acima de 40, obesa mórbida (um termo que alguns médicos mais humanitários estão tentando banir, por causa do caráter freak show da palavra). Claro que nenhum método dito objetivo consegue deixar de ser subjetivo, e que dividir as pessoas em categorias não funciona direito. O IMC considera grávidas e boa parte dos atletas todos obesos, por exemplo. Vários astros (homens) de Hollywood, como o Brad Pitt, pelo IMC estão com sobrepeso. E não sei se sou só eu, mas quando olho pro Brad não consigo ver nada de errado...

As pessoas que acham que “só é gordo quem quer”, que é só fechar a boca e mexer o esqueleto pra emagrecer, e que os gordos têm um pé na cova (magros não morrem), quando pensam em uma obesa, pensam logo na mulher gorda do circo. A maior distinção que conseguem fazer é entre gordas e gordinhas. Mas não é bem assim. Kate Harding tem o site mais popular de Fat Acceptance (Aceitação dos Gordos) dos EUA. Às vezes eu discordo do radicalismo das moças (são três que fazem o site), e não gosto de como elas censuram os comentários. Porém, elas fizeram algo muito válido: coletaram fotos de pessoas (a maior parte mulheres) e as classificaram de acordo com o IMC (nos EUA, Body Mass Index, ou BMI, em inglês). Dê uma olhada nas fotos e repare na sua reação. Talvez você diga: “Puxa, essa moça nem é gorda! Como que o IMC dela a qualifica como obesa?”. Ou: “O quê? Essa mulher é obesa mórbida?! Pra mim ela é só gordinha!”. Ou talvez você seja do time de quem acha a Mulher Melancia obesa mórbida, e considere que todas as moças nesse BMI Project são gordas e precisam emagrecer, inclusive você mesma(o). Mas não dá pra negar que fotos assim nos fazem pensar. (Pra quem não fala inglês direito, cada pound é mais ou menos meio quilo. E quando elas dizem “fulana is 6 pounds shy of obese”, querem dizer “fulana está a 3 quilos de ser obesa”).

A última vez que eu, pessoalmente, me pesei para saber onde eu me enquadrava, meu IMC deu 33 (obesa). Eu adoraria fazer um slide show assim com mulheres (e homens) brasileiras. Vocês topariam?

Então vamulá, como algumas pessoas gostaram da idéia: mande a foto pra mim que eu faço um slideshow (se alguma alma caridosa, claro, me explicar como diabo se faz isso). Meu email é lola@lost.art.br Junto com a foto, mande também seu peso, altura, o IMC já calculado (calcule no link acima - ih, agora que eu vi que só tá aceitando via Explorer), e a classificação (abaixo do peso, normal, sobrepeso, obesa, obesa mórbida). Hum, o que mais? Mande apenas o primeiro nome. A foto pode ser sem o rosto, se você ficar com vergonha e quiser permanecer anônima. Mas nada de fotos deprês, como aquelas dos "Antes" das dietas. Sabe quais, né? Mande uma foto com atitude de "Depois": feliz, orgulhosa. Não mande foto nua porque não tenho muita vontade de ver você pelada. Não insista (homens, podemos conversar). Aliás, espero poder contar com a participação masculina aqui. Vou até tirar uma foto do maridão. Ele tá velhinho (faz 51 amanhã), mas eu não o trocaria pelo Brad Pitt. O Brad, o George Clooney e o Tom juntos - aí tem jogo.

domingo, 28 de setembro de 2008

EU SEMPRE AMEI O PAUL NEWMAN

Fico bem deprê com a morte do Paul Newman, ontem. Por mais que ele estivesse velhinho (83 anos) e que parecesse sofrer bastante com o câncer de pulmão, é triste quando um ídolo se vai. Paul sempre foi, pra mim, um dos maiores astros do cinema, no mesmo nível de um Marlon Brando. Desde que eu era pré-adolescente já era apaixonada por ele. Ele foi um dos símbolos sexuais da minha adolescência mas, ao contrário do David Naughton (dá pra comparar? O David fez um só filme importante!), eu o admirava tremendamente como ator também. E, devo dizer, como pessoa. Ele estava casado há cinquenta anos com a Joanne Woodward, uma atriz respeitável. Não deve haver muitos casamentos em Hollywood (ou fora) que durem tanto. Ele era discretíssimo na sua vida pessoal, mas eu lembro quando seu filho morreu de overdose, em 78. Arrasado, Paul fundou uma associação de apoio a viciados. Nunca entendi por que um sujeito como ele não se candidatava a algum cargo público. Quero dizer, tantos astros (Reagan, Schwarzenegger, Clint Eastwood, e o próximo será o Chuck Norris), seguem carreira política, mas eles sempre são de direita. Mesmo que Paul não fosse de esquerda (existe isso nos EUA?), ele era um liberal, e os papéis de rebelde que escolhia refletiam sua ideologia. Sem falar que Paul era um empresário bem-sucedido. Se você visitar qualquer supermercado nos EUA, vai ver montes de produtos de molho pra salada e maionese com seu nome. Ele doou mais de 250 milhões de dólares pra caridade com o dinheiro que ganhou com a sua marca. Sobre seu sucesso, ele tinha isso a dizer: "Quando notei que iria ter que me prostituir e colocar o meu rosto nos produtos, decidi que a única forma de fazer isso seria dar todo o dinheiro que arrecadasse pra caridade. Uma em cada três pessoas que compram a minha marca o fazem porque o dinheiro vai pra boas causas. As outras o compram porque o produto é bom".
Lembro também quando ele finalmente ganhou o Oscar, só em 1986, com um filme do Scorsese que eu amo, A Cor do Dinheiro. Ele foi indicado dez vezes. Acho que seu último papel importante foi Estrada para a Perdição, em que ele fazia um vilão. Mas suas melhores interpretações (além de Cor do Dinheiro) foram, pra mim, O Veredito, Ausência de Malícia (sempre confundo os dois filmes, porque ambos são ótimos, da mesma época - início dos anos 80 -, e têm o Paul), Rebeldia Indomável (mais conhecido como "o dos ovos"), e Gata em Teto de Zinco Quente (1958). Onde ele esteve mais charmoso e sedutor? Golpe de Mestre e Butch Cassidy, fácil. E o incrível é que o Paul é um exemplo de homem que ficou muito mais bonito depois dos 40, 50 anos. Não que ele fosse exatamente feio quando jovem, mas que melhorou com a idade, melhorou.
Ele dizia que não queria ficar marcado apenas por sua beleza (sim, ele sabia que era lindo). Não queria imaginar na sua lápide uma inscrição como "Aqui jaz Paul Newman, que morreu fracassado porque seus olhos ficaram marrons". Pois é, taí um cara que, mesmo daltônico, nunca mudou a cor dos olhos.

sábado, 27 de setembro de 2008

GAYS ATRAPALHAM CASAMENTO DA DIREITA CRISTÃ OU VICE-VERSA?

Lésbicas juntas há 34 anos comemoram a decisão da Suprema Corte. Note o button à direita escrito “Justly married”, um trocadilho com “Just married” (recém-casadas) e “Casadas Justamente”.

Juro que não entendo a oposição que grupos religiosos fazem ao casamento gay. Eles dizem que aceitar um casamento desses equivale a desrespeitar a instituição do sagrado matrimônio, que sempre foi e será vista como a união entre um homem e uma mulher, nessa ordem. Bom, pra começar eu não considero tão sagrada assim uma instituição em que um em cada dois casamentos termina em divórcio. Mas, digamos, eu tô monogâmica há dezoito anos, então é sinal que eu gosto da coisa. Só não compreendo como dois carinhas ou duas minas se casando vão afetar a minha união. Pedro e João se casaram, ooohhh! É o fim do meu casamento! Maridão, faça as malas e caia fora! O disco do Pixinguinha é seu. O resto é meu.
Acho que as pessoas confundem as coisas. Primeiro, uma união civil é diferente de um casamento. Eu pensei que não fosse, passei a vida toda ouvindo que era igualzinho, que não fazia diferença alguma estar legalmente casada ou simplesmente morar junto. Até que descobri que não é igual mesmo. Precisa provar que mora junto, e isso não é fácil. Tenho um casal de amigos (homem e mulher) que declarou em cartório que habitavam o mesmo teto. Eles achavam que isso bastaria, e que não precisariam se casar. Não adiantou. Acabaram se casando. Ainda bem que tiveram essa opção. Se fossem um casal homossexual, não teriam. Eu e o maridão nos casamos ano passado só pra que, no meu doutorado-sanduíche, ele pudesse viajar comigo pros EUA. Se só estivéssemos morando juntos (como estavámos há uns 16 anos), ele não receberia o visto pra ir comigo. Ou seja, imagine um casal de duas moças na mesmíssima situação. Elas teriam que se afastar uma da outra por um ano, porque a lei não aceita sua união. Pra mim, isso é discriminação. E governos não podem discriminar.
Penso que religiões e igrejas têm todo o direito de discriminar. Não concordo nem jamais frequentaria um templo que prega que gays irão pro inferno, mas acho que esses grupos preconceituosos têm o direito de existir. E têm todo o direito de proibir que um casal gay se case dentro do templo deles. Mas é justamente isso que a direita cristã americana não quer ver: que estado e religião devem permanecer separados. Isso quer dizer que o governo não interfere no que uma igreja faz, e, muito importante, vice-versa. Ah, tá na Bíblia que homossexualismo é pecado? Ok, você pode acreditar nisso se quiser, mas não pode querer que um governo baseie as leis nas suas crenças. Porque no país pode haver gente que – sei que é difícil acreditar - não lê ou não crê na Bíblia, e o governo é pra todos, não só pra você. Existem limites que devem ser respeitados: a religião não se intromete com o governo, e o governo não se intromete com a religião. Caso contrário, teremos um país como o Irã... ou como os EUA que os fundamentalistas cristãos querem.
A direita americana seria divertida, se não fosse trágica. Pra combater o casamento gay, inventa que essa é uma questão de perseguição religiosa. São eles, os fanáticos, que estão sendo perseguidos, não os gays, entende? Quer dizer, os fanáticos
ainda não estão sendo perseguidos, mas é só uma questão de tempo. E, segundo eles, aprovar o casamento gay seria o primeiro passo. Em maio deste ano, a Suprema Corte da Califórnia derrubou um referendo popular de 2000 que estabelecia que casamento era uma união apenas entre homem e mulher (sim, até na “liberal” Califórnia o pessoal não queria que gays se juntassem). A corte derrubou porque considerou anti-constitucional limitar os direitos de 5 a 10% da população. Se um negro e uma mulher não podem ser discriminados perante a lei, por que um gay poderia? Pra mim faz sentido, ué. Mas a direita cristã reclama que uma legislação dessas os define como homofóbicos, assim como define quem ofende os negros de racista. E, segundo a direita, eles não são homóbicos! Só porque pregam que os gays arderão no fogo do inferno e que ser gay é sinônimo de molestar crianças não quer dizer que eles odeiem gays, imagina! Eles amam os gays. Jesus ama os gays. Todo mundo ama os gays... desde que os gays se convertam à heterossexualidade ou nunca mais façam o sexo pecaminoso que costumam fazer. A direita cristã também exige que as escolas públicas parem de dizer que tudo bem ser gay, e que um casamento gay é igual a um casamento hétero, só que com pessoas do mesmo sexo.
A mensagem que chegou a mim de um grupo desses diz assim (minha tradução): “Se não lutarmos, nossos filhos e netos receberão mensagens confusas e perigosas sobre casamento, incluindo esta de que não existe diferença entre uniões do mesmo sexo e de sexos opostos e que qualquer um que defende o casamento é um preconceituoso”. Em outras palavras, a direita só pensa nas crianças ao querer banir qualquer menção aos gays dentro da sala de aula. Ela supõe que, se seus filhos crescerem sem saber que os gays existem, os gays talvez automaticamente desapareçam da face da Terra. Num mundo perfeito e ideal, segundo o evangelho da direita cristã, os gays realmente não existiriam. E isso eu consigo entender. Num mundo ideal, segundo o meu evangelho, os preconceituosos também não existiriam.
O cartoon diz: “Eles diziam que nosso casamento era anti-natural! Que iria destruir a sagrada instituição do casamento. Diziam que o próximo passo seria legalizar incesto ou bestialidade. Que nosso amor não poderia produzir uma família saudável normal. Mas eu casei com a sua mãe de qualquer jeito”. Detalhe: a lei que proibia o casamento interracial nos EUA só foi derrubada em 1967.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

ESTRÉIAS MEIO SEM IMPORTÂNCIA, E UMA NOTÍCIA FUNDAMENTAL

Shia corre, mas Lolinha corre mais - pra ver Cegueira antes que saia de cartaz (rimou!).

Gente, isso é super rápido mesmo, porque preciso entregar um capítulo até terça. E depois viajo. Vou pra Argentina participar de um congresso de literatura em língua inglesa. Ficarei lá uma semana, talvez menos. Na realidade, preciso voltar o quanto porque tenho um monte de coisa pra fazer, tipo, sei lá, a tese. Mas não sumam! Vai ter um post por dia, pra variar. Eu não falhei um dia sequer desde que comecei o bloguinho, em janeiro. Já tá tudo agendado. Só não vou poder responder os comentários. Mas não deixem de escrever, por favor. Só não sei se terei acesso à internet durante a semana em que estarei em La Plata e Buenos Aires. Muito provavelmente não.
As estréias de hoje nos EUA não prometem mesmo. Tem Eagle Eye, que chega no Brasil e em todo o mundo, o que excepcionalmente, desta vez, inclui Joinville, com o título de Controle Absoluto. Vou ver hoje à noite, mas só Deus sabe quando poderei escrever sobre ele. Sei que é com o Shia LaBeouf (Indy 4, Transformers) e mais nada, que é como gosto de encarar um filme. Tem também Nights in Rodanthe, um drama romântico com Diane Lane e Richard Gere, marcado pra chegar ao Brasil semana que vem, com o título Noites de Tormenta. Tem The Lucky Ones, que parece menos um filme de guerra do que um road movie sobre veteranos do Iraque (esse tema me dá sono). E tem outro sonífero pra Lolinha, Miracle at St. Anna, sobre quatro soldados americanos negros lutando na Itália na Segunda Guerra. Apesar de ser do Spike Lee, tá sendo muito mal recebido pelos críticos. Prefiro o Spike mais urbano e atual.
Aqui no Brasil, além de
Controle Absoluto, que parece controlar todas as salas, tem Mulheres: O Sexo Forte (o trailer é uma gosma: qualquer comédia que tenha mulher chamando outra de vagabunda e autorização pra bater uma na outra merece a minha reprovação), e Promessas de um Cara de Pau, uma comédia com o Kevin Costner (sim, ele vive!). Mas o que importa mesmo, mesmo é que Ensaio sobre a Cegueira segue passando em Floripa e vou vê-lo na terça, ueba! Quando eu voltar da Argentina escreverei a crítica. Quero voltar dia 5 pra poder votar (adoro votar), mas não sei se vou conseguir. Já tinha comprado a passagem pro dia 6 (aí estaria de volta em casa dia 7). Alguém aí sabe quanto custa trocar a data de uma passagem aérea?

CRI-CRÍTICA DE TRAILER: O VIZINHO


Pra começar, odeio o título original, Lakeview Terrace, que não só não vou acertar em mil anos, como também já confundi com "Plainview Palace" e todas as variações possíveis. "O Vizinho" é realmente uma versão bem mais simples, mas é tão sem graça...
O trailer faz crer que o problema do policial interpretado pelo Samuel L. Jackson é que seus novos vizinhos sejam um casal interracial. Ele aparentemente não gosta disso. Só não sei se isso está claro, se foi o que presumi, ou se li a respeito em algum lugar. Parece ser um bairro chique de Los Angeles, já que há uma bela piscina (sempre um bom indicador: aqui no meu bairro ninguém tem uma piscina dessas, no máximo aquelas de plástico de mil litros). E essa já á a primeira inversão: muitos negros vivem em bairros chiques? Difícil, já que o salário dos negros, nos EUA e no Brasil, é muito menor que o dos brancos (das negras, então, nem se fala. Um dia, quando reclamava disso numa aula de inglês, meus aluninhos adolescentes - brancos, of course - disseram: "Claro! Mas também,
teacher, são todas empregadas domésticas!". Eles nem conseguiam se perguntar por que tantas negras acabam trabalhando como domésticas. Só pode ser porque gostam!).
A segunda inversão é que
brancos costumam se incomodar muito mais com casamentos interraciais que negros. Ou pelo menos têm mais poder pra fazer algo contra. A terceira? Vejamos... há mais brancos racistas ou negros racistas? (Na casa onde vivo, antes de mim morava uma família negra - que nunca conheci, já que adquiri a residência numa imobiliária. Praticamente todos meus vizinhos - brancos - já apontaram esse fato importantíssimo pra mim. Quase sempre é assim: "Sabia que a sua casa era pintada de amarelo? Coisa de preto!". Em contrapartida, pintei as paredes externas de laranja. E o pior é que fica lindo). Quarta inversão: quem costuma atazanar a vida de vizinhos de outra cor, brancos ou negros? Não faz muito tempo que um negro nem poderia se mudar pra uma vizinhança branca. É coisa recente, de quarenta anos pra cá. Ah, sim, e tem a quinta: é corriqueiro policiais brancos destratarem pessoas negras, não o contrário. Aliás, "destratar" é um termo educado pra descrever como a polícia lida com a população negra, tanto nos EUA quanto aqui.

Tudo isso me faz supor que o filme seja racista, mas não posso decidir por conta de dois minutinhos de trailer. O roteiro parece ter consciência de que está mexendo num vespeiro, como mostram algumas auto-referências, como o Patrick Wilson (excelente ator de
Menina Má.com e Pecados Íntimos) dizendo pro Samuel que quase morreu de susto, e o Samuel replicando "Imagine that" (algo como "difícil de imaginar", já que está sendo sarcástico, certo?). Ou seja, ambos sabem que um branco terá medo de um negro se aproximando do seu carro. Ou o advogado falando do "color issue", da "questão da cor" - que, nesse caso, segundo ele, é azul (por Samuel ser um policial). O problema é que, independente da profissão do Samuel, a questão da cor, nos EUA, sempre virá em primeiro lugar. E o trailer, bem no meio, finge que a profissão é o conflito determinante. Isso de "quem você vai chamar se precisar de proteção contra um policial?" não cola, porque o Patrick tem problemas com o Samuel desde o início. E mesmo que o trailer dê a entender que o Patrick se descontrola, quem começa tudo (quem é o vilão da história) é o Samuel. E não por ser policial, mas por ser racista. Portanto, essa mudança de rumo na metade não pega bem.
Tirando o teor racial, o filme me lembra um outro com título estranho, Pacific Heights, que aqui chamou-se Morando com o Perigo. Era um em que o inquilino Michael Keaton jogava baratas no apartamento da Melanie Griffith, não sei se você lembra. Não dá pra negar: essas tramas são interessantes porque estão próximas a nossa realidade (tirando a piscina espetacular com palmeiras). Mas um filme como O Vizinho perigosamente flerta com o racismo. Espero que o Samuel, que é um ator inteligente, não tenha se metido numa sinuca dessas sem querer.
Pra piorar a situação, há todo um contexto: estamos no meio de uma eleição americana histórica, em que a "questão racial" não foi esquecida um minuto sequer. É forte a paranóia de brancos racistas ao redor do cenário "como os negros reagirão a uma derrota do Obama?". Há bastante gente temendo tumultos. Afinal, os EUA têm muitos loucos pensando que haverá uma revolução em que "blackie will kill whitie". Palavras do Charles Manson. Bom, pelo menos o trailer me deixou com vontade de ver o filme (que estréia no Brasil dia 21 de novembro, e que liderou a bilheteria nos EUA na semana passada). Nota 4.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

TRAUMAS DA VIDA, VERSÃO COM CENOURA

Esta crônica já deve ter uns cinco anos, da época que eu fazia mestrado em Florianópolis. Tempo suficiente pra eu superar o trauma. Se minha vida fosse um livro aberto e se chamasse Momentos Traumáticos da Lolinha, o bolo de cenoura teria um capítulo só pra ele.

Eu nunca tinha comido bolo de cenoura, mas este ano tudo mudou. A proprietária da casa que alugo em Floripa fez um bolo e insistiu que eu ficasse com um pedaço. Eu aceitei, mais por educação. Afinal, esse negócio de profanar chocolate não é comigo. Mas não é que provei e gostei? Pra começar, não havia o menor vestígio cenourífico. Gostei tanto que pedi a receita pra tentar fazer o bolo em Joinville.

O maridão e minha mãe me olharam estranho. Agüentei comentários como “Bolo de cenoura? Você?!”. Mandei o maridão comprar todos os ingredientes e limpar quatro cenouras grandes. Não sei, é descascar cenoura que se fala? Você pode perguntar por que eu mesma não fiz esse trabalho escravo. Bom, digamos que eu era o cérebro por trás da receita. Mas não pense que não tive participação no trabalho braçal. Por exemplo, quem ligou o liquidificador? Euzinha. Quem ficou xingando quando o liqui se recusou a se mexer? A própria. Pus a massa numa forma untada (eu que untei!), e provei a colher. Meu primeiro erro. Quando você seguir uma receita, não se deixe levar pelo otimismo exacerbado. Se você provar a massa crua e ela estiver detestável, não prossiga. Imaginei que, depois de assado, o bolo melhoraria. Ledo engano. Pior ainda: se você provar o bolo pronto, só faltando a cobertura de chocolate, e não conseguir encarar nem umas migalhas, por que desperdiçar o chocolate? Na vã tentativa de salvar o bolo, joguei um monte de cobertura nele e levei um pedacinho pro maridão. Sabe quando a pessoa fica mastigando, mastigando, e não se atreve a engolir? Foi assim. O maridão jurou que depois vai tentar de novo, misturando o troço com sorvete e shoyu, pra ver se desce. Eu pedi, pelo amor de Deus, pra que ele dissesse algo que levantasse minha auto-estima, e ele: “Sua habilidade com utensílios domésticos é impressionante”. Experiência culinária semelhante só quando eu, ainda adolescente, fiz uma torta de café que meus amigos gostaram muito. Tanto que jogaram futebol com ela, chuif.

Leia mais crônicas lolísticas antigas aqui: mosquitos, jornal, gafes, sobrenatural, prova de seleção do mestrado, prova de fonética (ui!), linchamento na faculdade, diálogos musicais com o maridão, e beijos.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

TRÁGICO

Gente, estou passada. Dou aula particular de inglês a uma moça muito simpática. Vou à casa dela duas vezes por semana. E, como ainda não comprei um carro ao retornar ao Brasil, vou e volto de ônibus. Pois bem. Minha aluna me contou que, na última sexta, houve um acidente gravíssimo em frente à casa dela. Ela estava chegando do trabalho e viu helicóptero, bombeiros, ambulância e tudo o mais. Um carro tinha atropelado uma mulher num ponto de ônibus. Exatamente no ponto de ônibus que eu uso sempre.Foi um desses acidentes bizarros: a motorista saía de uma seguradora (ironia!) que fica exatamente ao lado do ponto, e estava entrando na rua principal, bastante movimentada, ainda mais às 17:30. Alguém atrás dela buzinou, ela se assustou e, ao invés de brecar, pisou no acelerador. O carro, com direção hidráulica, fez uma curva e voou pra cima do ponto. Havia uma senhora sentada e quatro mulheres em pé (nunca vi um só homem naquele ponto de ônibus). As mulheres em pé conseguiram correr, mas a que estava sentada foi atingida. Morreu no caminho do hospital. Tinha 55 anos.
Isso de pisar no acelerador quando se quer brecar é até comum. A mãe do John Lennon foi morta desta forma em 1958, quando o Beatle tinha 17 anos. Um policial, fora do horário de serviço, viu Julia atravessar uma rua e, na hora de frear, se confundiu e pisou no acelerador. John estava esperando por ela (na foto, John e Julia).
Mas nessa fatalidade horrível de Joinville, é difícil explicar o que aconteceu. Como disse o maridão, "Quem quiser repetir de propósito não consegue". Há uma árvore entre a seguradora e o ponto. O carro não passou nem perto. Tem uma guia alta, não rebaixada. O carro voou por cima dela. Foi uma sensação triste estar nesse ponto de ônibus ontem à noite, vendo o banco de ferro todo retorcido, as marcas do carro, as fitas amarelas de isolamento ainda lá. Aí eu li que foi a terceira mulher morta num ponto na semana passada em Joinville. Muito trágico isso. Só que, claro, mais trágico por ser o "meu" ponto de ônibus.